Cena Extra.

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Liam Nowland era o típico garoto-problema. O moleque conseguiu inserir-se em várias confusões escolares — desde a envolver-se com membros de uma gangue perigosa a pequenos furtos nas dependências do colégio. Tentada a enviar Liam a algum reformatório, Renée Swan oferecera-se a ceder moradia por um curto período de tempo em sua residência, em Forks. Numa cidade pequena e com poucos índices de criminalidade, as chances de o garoto deixar o passado para trás eram muitas. Agradecida com a oferta de sua amiga, Katherina enviou o filho a cidade norte-americana com a "desculpa" de que a sua estadia era por conta de "férias adiantadas".

A adaptação do rapaz obteve sucesso ao criar um laço de amizade com a filha de Renée, Isabella. O tempo passou-se e o que era uma simples amizade, tornou-se algo maior e mais sério: um namoro. Daqueles típicos da adolescência — assim era para Isabella. Porém, garotos como Liam queriam mais, sempre mais.

— Um pint de tequila não faz mal a ninguém, Bellinha — o garoto provocou, apontando para o copo de vidro estendido em sua direção.

— Eu não bebo, Liam. — Tapou o nariz para evitar que o cheiro forte do álcool adentrasse as suas narinas.

— Apenas um gole — incentivou o garoto, passando propositalmente o copo próximo ao seu nariz. — Eu prometo que é gostoso. Você vai adorar!

— Se eu beber apenas um pouco, bem pouco — começou em uma voz estranha. — você vai me deixar em paz? E nunca mais me oferecerá mais nenhuma bebida?

— Eu prometo — sorriu de orelha a orelha com a aceitação, mesmo que gradualmente, de Isabella.

— Está bem — estendeu a mão para apanhar o copo. —, mas você nunca mais me obrigará a consumir nada ilegal, certo? Não temos vinte e um anos, e, por lei, somos proibidos de ingerir qualquer líquido com teor alcoolico.

O garoto revirou os olhos para a escolha rebuscada de palavras. Em sua opinião, ele acreditava que não carecia articular como se estivesse recitando os versos de um livro científico.

— E nunca mais me chame de Bellinha! — silvou antes de tomar das mãos de Liam o copo com tequila e sorver de um gole. Sentiu a garganta arder, como se uma brasa estivesse adentrando a sua boca. Mordeu o lábio para sufocar a queimação e sentiu os olhos lacrimejarem.

— É horrível! — disse quando encontrou a sua voz. — Nunca mais me faça beber isso, por favor! — Praticamente implorou em tom aflito.

Passaram-se mais algumas semanas desde a desastrosa tentativa de inserir bebidas alcoólicas na vida de Isabella. Não dera certo, pois a menina não tinha tolerância ao álcool vomitando tudo após três minutos no sanitário do segundo andar.

— Você já se apaixonou alguma vez, Liam? — Perguntou Bella enquanto observavam o nada. A rua central de Forks estava deserta àquele horário da noite.

— Eu estou apaixonado — os olhos de Liam estavam perdidos. Bella sentiu algo aquecer o seu coração. — A garota que me prendeu é apenas... bom, ela é boa demais para mim.

— Uau — Bella engasgou-se com a própria saliva. — Ela sabe que você gosta dela?

Uma parte de si — aquela que ainda conservava aspirações infantis almejava que ele confessasse que o objeto de seu desejo e paixão era elae todos os seus defeitos.

— Ainda não. — Piscou um olho para Isabella, que abaixou a cabeça, envergonhada. — Mas saberá em breve.

O breve de Liam era realmente breve. Duas semanas depois recebera o pedido de namoro do garoto que conservava uma paixão platônica. Bella sentiu-se exultante com o feito; era como descobrir-se apaixonada por um ator de Hollywood e ser correspondida, como Rosalee e Tad Hamilton, no filme Win A Date With Tad Hamilton. Não que Nowland fosse alguma espécie de ator, mas no quesito de ser, para a adolescente, alguém inalcançável ao seu toque.

— Nós já estamos namorando há algumas semanas, Bella — iniciara Liam, acariciando gentilmente as madeixas castanhas da Swan. — Já está na hora de avançarmos o relacionamento.

Estavam na velha caminhonete da garota, em uma estrada deserta. De um lado havia apenas pinheiros, assim como o outro. À frente uma longa estrada que os levariam às proximidades da reserva.

— Do que você está falando, Liam? — replicou Bella, confusa.

— Estou falando de sexo, gracinha — acariciou o maxilar da morena.

— Eu... eu sou virgem — corou ao confessar. Idealizara entregar a sua virtude a alguém que amasse; gostava de Liam, mas não se sentia preparada para um passo tão grande no relacionamento quanto sexo.

— Sempre quis saber como era estar com uma virgem — aprisionou os lábios avermelhados entre os dentes.

— Liam! — acoimou o namorado, desferindo-lhe um tapa no ombro.

— Somos apenas nós dois, numa estrada deserta.

— Eu não vou perder a minha virgindade em um carro!

— Qual é, Bellinha!

— Não me chame assim — resmungou. — Você sabe que eu odeio. E não farei sexo. Não hoje. Espere mais um pouco, por favor.

Apesar de contrariado, Liam aceitou esperar que Isabella estivesse pronta para entregar-se a ele. O momento oportuno chegara uma certa vez. Estavam ambos pelados no chão do quarto que o rapaz dormia em sua casa. Era madrugada; Os pais provavelmente estavam adormecidos. Bella encontrava-se desconfortável com a dureza e umidade do piso de madeira, mas a cama poderia ranger e acordar Renée ou Charlie — e Liam queria desfrutar da experiência sexual com a namorada naquele instante. No chão ou dentro de um armário.

Quando se preparava para demarcá-la como sua, algo na mente da adolescente trabalhou e ela afastou Liam pelos ombros, fazendo-o cair sentado ao seu lado. Procurou o lençol para cobrir a sua nudez, e tentava desviar os olhos de uma parte excitada da anatomia do namorado.

— Eu não posso — evitara olhar para ele. — Meus pais dormem nesse mesmo corredor, eu não me sinto à vontade para trair a confiança deles. Eu não posso.

— Você vai me deixar assim? — o tom sempre ameno de Liam, agora era agressivo. — Porra, Bella!

— Sinto muito — enrolou o lençol ao redor do corpo, e escapou para fora do quarto do garoto, fazendo o mínimo barulho possível para não ser pega em flagrante.

Desde então, Liam estava mudado. Ele passara a beber e a fumar com mais frequência; não lhe dava mais atenção como antigamente e nem era o rapaz romântico e carinhoso que conhecera e se apaixonara. À noite adotou por hábito chorar debaixo do conforto do edredom, e abraçada à Kenzy tentava suturar a sua dor. Culpava-se de ser uma covarde e não ter se entregado ao rapaz; caso contrário, ele não estaria tão disperso.

— Ei, gracinha! — Liam gritou para chamar a atenção de Isabella. Ao lado dele havia uma garota ruiva, completamente desconhecida à Swan. Ele fez um gesto com a mão, chamando-a. Controlando a vontade de chorar, Bella atravessou o estacionamento da escola para ir até o namorado. — Docinho, quero que você conheça a minha nova amiga, Gia.

— Oi — humilhada, ela cumprimentou a ruiva que estava sob a posse do seu namorado. Seus olhos castanhos desceram em direção à mão pousada próxima ao traseiro de "Gia".

— Meu nome é Gianna — a ruiva apresentou-se. — Você também é amiga de Liam?

Antes que Bella pudesse abrir a boca para corrigir — que não era nenhuma amiga, mas sua namorada, Liam a interrompeu.

— Bellinha é uma ótima amiga, não é, docinho?

— Eu preciso ir pra casa Liam, pode dizer por que me chamou?

— Só para apresentar Gianna a você — puxou um cigarro do bolso. — Estamos indo para La Push com umas amigas da Gia, quer vir junto?

— Não, obrigada — respondeu.

— Era o que eu imaginava — fingiu pesar. — Vamos, Gia — desferiu um tapa no traseiro da ruiva. — Nos vemos mais tarde, docinho.

Isabella acompanhou o namorado colocar os braços ao redor do ombro de Gianna enquanto a mesma puxava o seu rosto com brusquidão para atacar os seus lábios. Bella desviou o olhar para não presenciar mais da cena que era exposta gratuitamente.

Na noite daquele dia, ela adormeceu após passar algumas horas chorando a frustração para fora de si.

Por uma semana tentou evitar contato com Liam, mas no café da manhã era impossível ignorá-lo quando o tinha bem ao seu lado. Charlie, ainda vivo, era desconhecedor da natureza do relacionamento entre os dois jovens. E se soubesse, teria chutado o traseiro de Liam até Nova York.

— Eu não aguento mais essa cidade medíocre, Bella. — comentou. A fumaça do cigarro que ele tragava era de um odor insuportável. Bella mantinha a cabeça apoiada nos joelhos, prendendo a respiração. — Estou acostumado com a agitação da cidade grande. Isso... — apontou a área ao redor. — está me sufocando aos poucos. Eu preciso de novas aventuras, sentir a adrenalina correndo solta em minhas veias.

Bella permaneceu quieta. Percebendo que estava dialogando sozinho, Liam descartou o maço do cigarro, virando-se até encontrar a namorada.

— O que você tem?

Olhou-o de soslaio, e balançou a cabeça negativamente. Liam sentou-se ao seu lado, virando-a até que a menina ficasse de frente para ele.

— Você está diferente, docinho. — tocou a testa dela com o dedo, afastando uma mecha da franja. — Eu acho que sei do que nós estamos precisando! — ergueu-se bruscamente.

Liam estava descontrolado, provavelmente drogado. Andando de um lado a outro, o rapaz tateava o bolso do jeans em busca de mais um cigarro. Xingou ao encontrar o bolso vazio.

— Nós vamos embora!

Erguendo-se do asfalto, em poucos segundos estava ao seu lado. Segurando-a na cintura, Liam riu enquanto afogava o rosto no regaço da morena para aspirar seu perfume.

— Eu digo ir embora de Forks. Fugir. Apenas eu e você. — explicou com a voz rouca. — O que você acha de embarcar nessa aventura comigo, gracinha?

— Não é uma boa ideia.

— Eu acho que é uma ótima ideia!

— Você não entende que eu não posso sair de Forks? E os meus estudos? Os meus pais?

— Vamos para a casa. Depois conversamos sobre isso. — Finalizou a conversa.

Pressionada, não durou muito para que Isabella cedesse ao convite de Liam em ir embora e deixar a família, os poucos amigos e o que era a sua "vida", para trás, em Forks, e viajar pelo país sem nenhum destino. Sem nenhuma fonte de sobrevivência, apenas para "curtir a juventude" como dois jovens rebeldes e inconsequentes. No dia marcado para "o início da liberdade" — como Liam salientava sempre que surgia alguma oportunidade —, estavam esperando que Gianna viesse os buscar com o carro dos pais. Com uma pequena mochila nas costas, com roupas suficientes para três dias, no máximo, Bella assistia o namorado conversar, abraçar e beijar a loira — Chloe —, que estava pendurada em seu ombro. Sussurrando algo em seu ouvido, Liam gargalhava estrondosamente ao ouvir o que a loira segredava.

Distribuindo o peso de um pé para o outro, vistoriando a área em que estavam com os olhos, Bella observou assustada a figura de Jessica Stanley passar do outro lado da pista. Havia uma distância entre as duas garotas, mas Bella ficou apreensiva que algum conhecido estava lhe vendo fugir. Sem dar nenhuma palavra de aviso a Liam, apertou a mochila em suas costas e correu o mais longe possível do conversível de Gianna que acabara de estacionar. À distância podia ouvir o chamado de Liam, mas ignorava o rapaz. As lágrimas já incidiam a sua face, e não demorou muito para que começasse a chover, misturando o pranto às gotas da chuva. Chegou a sua casa, e sem nenhuma palavra, foi de encontro ao pai que estava sentado no sofá assistindo o jornal local, abraçando-o forte e manchando a sua camisa azul-marinho com suas lágrimas. Acalmou-se apenas quando adormeceu.

Liam esteve distante da cidade por quase um mês completo. Preocupada, Renée sempre questionava a filha onde o garoto estava e quando voltaria, mas Bella não possuía respostas a nenhuma das perguntas. Tentou colocar a sua vida desorganizada de volta aos eixos, sempre evitando esbarrar com Jessica em algum canto da escola, fugindo de ser questionada sobre as suas razões em querer deixar a cidade. Quando o segundo mês se iniciou, Liam regressou à Forks. A face angelical do rapaz não mais existia; ao seu lado, como sempre, estava Gianna e Chloe. Metade do braço de Liam estava coberto por violentas tatuagens e ele parecia ser alguma espécie de terrorista com todo aquele ar sinistro sobre ele.

— Bellinha. — Liam disse o seu nome com ironia. — Essas são Gianna, que você já conhece, e Chloe.

Isabella engoliu em seco ao encarar as duas garotas que eram abraçadas por ele. Abaixou a cabeça e encarou os próprios sapatos; se continuasse a encará-lo de frente, desabaria.

— Você voltou? — conseguiu perguntar.

— Só para ver você — estalou um beijo para ela. — Estava com saudades do meu docinho favorito.

— Isso é... bom. — mantinha a língua presa entre os dentes.

— Disponível para sair hoje à noite?

— Amanhã eu tenho prova — negou rapidamente. — Hoje eu preciso estudar. Muito. Álgebra.

— Uma pena.

Liam desfez-se do abraço, pedindo para que ambas se afastassem. Estavam sozinhos.

— Qual o seu propósito em voltar para Forks? Não era você quem odiava a cidade? Voltou por que Liam?

— Para mostrar que eu não preciso de você, docinho — segurou o maxilar de Bella, fazendo com que a cabeça da menina arcasse para trás. — Você me deixou na mão, Isabella. Nem ao menos deu a porra de uma explicação, apenas fugiu. Mas, até que foi bom. Você mesmo se autodescartou. Então, vim pessoalmente agradecê-la por isso.

(...)

"Eu me corto porque me sinto bem. Sinto um alívio imediato; é como uma pessoa que está em chamas depois de receber um jato de água; alívio. Uma felicidade passageira; como saber que está em seus últimos dias de vida, mas recebe o amor de um pai, de uma mãe, um filho... de um amor. Eu me corto porque quero esquecer; quero fugir. Hoje eu o fiz pela primeira vez. Não ia realmente me machucar, porque sempre tive medo de agulhas, facas e aversão a sangue. Mas eu necessitava de alívio; como alguém que está no deserto por cem dias necessita de água. Eu não pensei muito bem no que estava fazendo, mas agi no desespero. Na segunda gaveta do banheiro de mamãe, ela guarda um canivete butterfly, que eu sei que pertence a papai. Não tentei no pulso porque temi a morte. Primeiro, foi a barriga. O ferimento ainda está doendo, mas eu posso suportar. Não dói como antes. É como ser cortada ao meio, sem direito a anestesias, e depois ser drogado com morfina. Machucar-me é a minha morfina. Aquele garoto, cujo nome começa com a letra "L", já está fora da cidade há exatos três dias. Ele me machucou, me feriu, deixou-me sangrando enquanto estava curtindo com aquelas duas garotas depravadas. Ele está feliz? Meu coração foi pisoteado por um exército de elefantes. Estou esmagada. Decepada. Destroçada. A lâmina brilhante está olhando para mim, eu estou a encarando. Meu propósito era fazer apenas uma vez, e depois nunca mais. Mas eu preciso, necessito sentir novamente aquela sensação de torpor. De que não existe preocupação para mim no mundo. Que não tenho um coração esmagado em meu peito e que o meu corpo não está ardendo em feridas. Quero novamente aquela sensação. Eu não posso resistir. Eu anseio por um alívio."

Diário de Bella Swan.