Eu estava esperando Damon ansiosa, ele me falou que viria depois do almoço e assim ele fez, quando chegou na minha casa Caroline e eu estávamos assistindo a um filme juntas, e nossa, que filme!

Ele entrou na sala de vídeo do nada e nos assustou, estávamos focadas numa parte linda...

- O que estão vendo? – ele falou se sentando do meu lado e Caroline e eu o encaramos irritada - Que filme é esse amor? – Droga! Ele
não vai parar...

- Ai amor, cala a boca, não atrapalha o momento, você...

-Shh! – Caroline me interrompeu irritada. – Calados!

Era a cena mais linda, bem na hora que a Jamie cantava na peça da escola, foi neste dia que o Landon se descobriu totalmente apaixonado por ela, lindo demais. Damon nos encarava impaciente, ele estava por
fora de tudo e meio irritado com a falta de atenção, mesmo assim ele ficou
conosco assistindo e bem quieto.

Logo os mocinhos começaram a namorar e era tudo tão puro e natural, ele era um ex-bad-boy e ela uma garota inibida e meiga. Era tão
lindo ver pessoas tão diferentes se dano tão bem. De repente chega a parte ruim do filme, ou o começo dela, Jamie fala pra Landon que está seriamente doente. Não sei se foi impressão minha, mas posso jurar que neste momento em diante Damon ficou muito mais focado no filme e também tenso.

No final da história toda, quando o filme estava perto do fim Caroline me cutucou e me fez olhar pro meu namorado que estava deixando uma lágrima escapar de seus olhos, totalmente emocionado com o filme. Isso foi bem estranho Damon não era do tipo que se envolvia tanto assim, fosse o filme que fosse, ele não chorava. Eu apenas fiquei o olhando, já estava nos minutos finais do filme, e eu esperei Damon me olhar, depois de uns minutos foi isto o que ele fez, limpando quase que desesperadamente as lágrimas.  Eu soltei um riso para ele, uma mescla de afeto e curiosidade e antes de dizer qualquer outra coisa, respondi a pergunta que ele me fez quando chegou:

-“A Walk To Remember”, “Um Amor Pra Recordar”. – Eu sorri outra vez ao vê-lo sorrir com o que eu disse e meio sem jeito com o seu “choro”. – Own meu amor, você chorando por um filme? – eu falei melosa, o abraçando, ele estava tão fofo. – Você deve realmente estar passando por algo ruim, está tão fragilizado... – Então do nada ele se afastou de mim, meio hesitante.

-É uma história bonita, triste, mas bonita, uma pena que na realidade nem tudo seja tão romântico assim. – ele falou num tom tão sombrio que me causou até arrepios. Eu fiquei inexplicavelmente com lágrimas nos olhos e ele ao ver minha reação mudou sua feição e sua fala. – Vamos dar uma volta amor, aproveitar o resto da tarde! – Damon me propôs, Caroline estava tirando o DVD e eu aceitei me despedindo dela.

...

Estávamos de mãos dadas passeando, Damon me perguntou dos meus pais, já que não os viu em casa.

-Minha mãe foi para o club, havia uma reunião lá com umas amigas e meu pai só estará em casa lá pela hora do jantar ou talvez depois, o de sempre. –ele estava calado demais, pensativo demais, isto estava me incomodando e me deixando mais curiosa ainda. – O que foi meu amor? – eu falei e pareceu que eu o trouxe de volta pro planeta, ele me encarou meio confuso e perdido e logo em seguida me puxou pra sentar com ele em um banco bem na nossa frente.

-Eu pensei em ti falar de tantas formas diferentes. – ele começou sem me encarar, olhando pro jardim a nossa frente e hesitante, eu apenas ouvia tudo atenta. – Daí eu chego aqui hoje com um texto em mente, mas
ele desaparece completamente ao te ver assistindo o filme de hoje, completamente envolvida e emocionando-se tanto quanto eu. – ele soltou um riso fraco e encarou o chão ainda sem me olhar.

-Damon... – ele estava me assustando, sério!

Damon me encarou e então ele procurou as minhas mãos, ele tinha as mãos extremamente geladas e trêmulas, isto era estranho vindo dele, ele era sempre quente, quente demais. A profundidade do olhar dele me
causou um nó na garganta e meu coração disparou, eu estava angustiada e nem sabia o porquê, o olhar dele me dizia tudo sem ele dizer nada. Ele fechou os olhos e respirou profundamente baixando a cabeça e voltando a me encarar devagar.

-Elena, eu quero que você preste muita atenção ao que eu vou te falar, mas antes eu preciso muito saber algo. – eu assenti apenas, estava morrendo de aflição e queria que ele falasse logo. –Como eu te disse, eu
tinha um texto ensaiado, mas ver este filme hoje, ao seu lado. – ele parou
soltando um riso sem graça e tirando seu olhar do meu, outra lágrima escorreu de seus olhos, apenas uma que ele fez questão de limpar bem rápido.

-Meu amor o que... – ele me interrompeu fazendo um sinal para que eu não falasse nada.

-Escuta, eu vi a sua reação assistindo o filme, provavelmente você já o viu um milhão de vezes – ele estava certo, eu vi muitas vezes. – E mesmo assim ele te emociona toda vez, porque eu acho que você se
coloca no lugar do Landon, não é? – ele perguntou meio hesitante quanto ao nome da personagem e minha resposta.

-Na verdade me coloco no lugar da Jamie. – ele me olhou meio confuso. – Imagina só você estar na flor da idade, com uma doença da
qual você não tem mais chances de cura, você está conformada já, aceitou sua condição, no entanto do nada aparece um rapaz e ele se torna o amor da sua vida e você fica tão perdida, você não quer contar pra ele, mas também não acha justo com vocês dois e ainda mais com ele, toda a situação, você não quer que ele fique ao seu lado, não quer que ele te veja definhar, você não se sente segura o bastante, não é forte o bastante pra vê-lo sofrendo por você e realmente não quer sentir raiva de Deus por fazer isto com você. – Damon estava apenas me ouvindo extremamente calado, depois de tudo ele assentiu minha opinião e continuou.

-Eu entendo o porquê dela querer o afastar também, sabe quando ele fala que é impossível, que ela é jovem e saudável, é tão surreal de se crer, ele tem razão, não faz sentido, essa doença não faz sentido algum. Eu não ia querer ver ninguém no lugar dele nunca. – Damon voltou a chorar agora, sem conter as lágrimas, um choro meio desesperado e eu por puro instinto o abracei.

-Shh! Meu amor, o que é isso? Você está me assustando Damon, foi apenas um filme meu amor. – eu o senti relutar em negação e ainda
abraçado a mim ele perguntou:

- O que você faria no luar dele? Se ponha no lugar dele agora meu amor. O que faria? – ele me abraçou mais forte e eu respondi sem pensar duas vezes.

-Faria o mesmo meu amor. Ficaria ao lado de quem amo até o fim, o fazendo feliz até onde fosse possível, vivendo intensamente cada minuto que nos fosse dado. – ele me abraçava cada vez mais forte e chorava demais, eu estava me apavorando. – Meu amor por Deus se acalme! Ei! – ele estava começando a ficar ofegante e tremia demais.

Do nada Damon ficou transtornado diante de mim e eu não sabia o que fazer, aos poucos como se estivesse tomando o controle de volta ele respirou fundo e me encarou.

-Não sei qual foi o jogo do destino ao fazer você colocar este filme justo hoje e ainda por cima me fazer ver ele ao seu lado, mas absorvendo e esperando o melhor de tudo isto, se é que tem algo de bom, eu quero que preste atenção no que eu vou dizer e que não pire. – ele enxugou as
últimas teimosas lágrimas e eu apenas assenti. – Eu dizendo agora vai até
parecer mentira... – ele respirou fundo. – Elena... eu... Vamos lá Damon... – ele fechava os olhos e abria se repreendendo. Ele me olhou nos olhos, profundamente. –Eu tenho leucemia.

Pare mundo, Elena vai descer! O que? Ele estava estático esperando uma resposta e eu paralisada, mentalmente bloqueada, era isto que ele não podia me contar de imediato? Era isto que ele me escondia? Eu gelei.

-Elena?!

A minha respiração estava vacilando e eu comecei a tremer.

-Hey! Amor... Elena... Ei! Respire! – eu não ouvia muito bem, eu não estava mais no chão.

-Ai meu Deus! – foi só o que me lembro de dizer depois ficou tudo escuro.

...

Elena estava desmaiada em meus braços. Ótimo Damon! Seu idiota! Eu a levei para dentro da mansão e a deitei no sofá da sala Caroline veio pra cima de mim atordoada.

-O que houve?

-Ela passou mal, Caroline, por favor, tem essência de absinto no banheiro da cozinha, pegue pra mim!

-Claro!

-Vamos meu amor, abra os olhos. Elena! – eu dava leves batidas em seu rosto, ela estava pálida, eu ouvi um carro chegar e segundos depois a senhora Gilbert entrou na sala se espantando com a cena.

-Meu Deus! O que aconteceu com minha filha?

-Ela passou mal. – eu disse sem encarar Miranda, Caroline chegou com o absinto.

-O que houve Carol? – Miranda perguntou a ela.

-Não sei! – ela sussurrou.

-Hey! Minha linda... – eu estava colocando Elena para respirar a fragrância do frasco em minha mão e também esfreguei um pouco dele
em seu peito, massageando. – Meu amor, por favor, abre o olho. – mais alguns segundos e ela estava recobrando a consciência, bastante atordoada, parecia não saber onde estava e procurar alguém.

-Damon... – ela falou manhosa e com os olhos ainda fechados meio desequilibrada por uma tontura.

-Estou aqui! – eu a segurei a trazendo pra meu peito. – Estou aqui!

-Querida o que houve? – Miranda perguntou apreensiva e Elena começou a chorar, era como se ela tivesse se dado conta de que de fato eu disse o que disse e que não foi um pesadelo. – Minha princesa, por que está chorando? – Miranda estava aflita, Caroline paralisada vendo tudo sem nada entender.

-Meu amor me diz que não é verdade, por favor, pode dizer que é brincadeira, não vou ficar brava, mas, por favor, retira o que disse. – ela me abraçava com força, tremia e me dizia isto entre soluços.

-Pelo amor de Deus, alguém me explica o que está acontecendo! – Miranda quase gritou em desespero. Eu olhei pra ela desesperado, não sabia o que dizer. Elena estava agoniada em meus braços, se agarrando a mim como se eu fosse uma boia em alto mar, num mar onde ela estava prestes a se afogar.

-Ele está doente mãe, Damon está doente...- Elena falou pra Miranda chorando demais e Miranda me olhou confusa.

-Meu amor, fique calma, ele está bem, vai se cuidar.... – Miranda tentou acalmar Elena que relutou agoniada, sua mãe não estava entendendo.

-Não mãe! – ela gritou em meus braços.

-Shh! Calma amor... – eu pedi.

-Leucemia, ele tem leucemia. – Elena concluiu e então voltou a chorar e eu senti Miranda tremer, Caroline sentou-se no sofá, ou melhor, desabou no sofá a nossa frente.

-Meus Deus! – Miranda falou com a mão no peito, enquanto Caroline cobria sua boca com as mãos.

-Por favor, não passem mal também. – eu pedi aflito.

Três mulheres estáveis na minha frente, emocionalmente alteradas. Meus alertas mais íntimos apontavam perigo Damon! Faça alguma coisa!

-Meu querido... – Miranda começou. – Como foi isto? – Elena então se soltou de meu abraço, tentando limpar as lágrimas de seu rosto um tanto mais calma, eu acho.

-Caroline, porque não vai pegar uma água? Pra todos nós! – eu sugeri e ela apenas me olhou paralisada. – Caroline?! – eu insisti. – ela saiu do transe e foi em direção a cozinha, Miranda me encarava esperando minha resposta e Elena estava sentada ao meu lado numa posição meio fetal, envolvendo seus joelhos com os braços.

-Por que não me contou logo Damon? – Elena me perguntou sem mudar sua posição ou me encarar. – O que estava esperando? Piorar e deixar eu perceber por mim mesma? – eu a encarei e então comecei a falar.

-Eu descobri esta semana. – eu me virei para Miranda, ia responder ela enfim. – Eu já estava suspeitando de algo mais sério, mas eu não queria falar nada sem uma confirmação, já é horrível comprovar, mas fazer os outros sofrerem com a suspeita... – eu parei pra respirar um pouco. – Não me pareceu certo.

-Eu entendendo... – Miranda me falou encarando o chão e logo depois Caroline surgiu na sala com a água, serviu a todos deixando Elena
por último, ela recusou se virando pra mim meio irritada.

-Certo, e como vamos fazer agora? – eu confesso que não entendi. A olhei confuso e ela continuou. – Quando vai começar seu tratamento? Terá um tratamento não?

-Sim. Ah... Começo... No final da próxima semana. – ela me olhou seriamente focada.

-Quimioterapia? – Miranda perguntou.

-Sim! – eu respondi.

-Bom, eu creio que tempo é algo importante, porque esperar até semana que vem? – Elena estava bastante nervosa, mas era um nervosismo de irritação, ela parecia com raiva de mim.

-Bem, é mais complicado Elena. Eu tenho que me preparar antes, mudar minha alimentação, fortalecer meu organismo, os efeitos da químio são...

-Eu sei quais são os efeitos Damon, eu convivo com crianças doentes também, sou voluntária esqueceu? – definitivamente ela estava
irritada, revoltada definia melhor.

-Sabe que pode contar conosco certo querido? – Miranda me falou, vindo sentar-se ao meu lado e segurando minha mão, ela era como minha
segunda mãe.

-Claro que sei. Obrigado! – eu sorri sinceramente.

-Bem já que você tem que se alimentar bem, vou providenciar um jantar mais caprichado, vamos começar a te fortalecer de agora. – ela sorri enquanto falava, Elena a encarava com cara feia e Miranda fez um sinal para Caroline a seguir até a cozinha nos deixando a sós.

Elena não me olhava, ela se livrou de sua posição afinal, soltando os joelhos e sentando bastante ereta e começou:

-Você vai me afastar também? Como no filme? Seu próximo passo é dizer que não me quer nisso com você? – ela me encarou finalmente esperando minha resposta.

-Na verdade, eu creio não ser tão altruísta quanto a Jamie, eu acho que tenho mais chances se me mantiver ao seu lado, a menos é claro que você não queira estar e...

Elena colocou a mão em minha boca, e eu vi em seus olhos um sentimento que me confundiu, ela estava feliz?

-É claro que estarei com você. Meu medo agora era você do nada inventar que não queria seguir adiante com nosso relacionamento, era o
que eu estava esperando, você sendo você. – ela falava entre risos.

-Eu sei que posso fazer isto Elena, ficar bom, mas também sei que com você ao meu lado, me dando força, você e todos os que me importam, será mais fácil, mais fácil ignorar as dores, as recaídas, as
provações. Eu preciso de você. É duro admitir isto, mas se tratando de nosso amor, de lutar por ele, eu não posso ser teimoso e muito menos orgulhoso. Quero lutar por nós dois, por uma vida juntos. Você e eu.

-Vamos fazer isto juntos então certo? Sem separações, eu não vou a lugar algum e você não vai me afastar. Até a sua respiração se extinguir, lembra?

Eu sorri, ela tinha as mãos em minha face enquanto me lembrava da promessa que a fiz.

-Até ela se extinguir. – ela me beijou fortemente, e em nossas faces havia lágrimas, as minhas eram de alívio, conforto, as dela talvez do mesmo, eu não sei, só sei que eu estava enfim, nesta semana maluca,
em paz. Em paz comigo.

...

Eu nunca imaginaria um dia estar dentro de uma situação como esta, Damon e eu apenas estávamos começando um relacionamento, nem sequer tivemos tempo para planos ou algo assim, tudo parecia tão prematuro e injusto, mas meu amor por ele era algo já muito forte, vinha de minha infância. Este sentimento foi maturado e se entranhou em meu coração e seria nele que eu encontraria a força para estar ao lado dele neste momento e principalmente seria por este amor que eu não recuaria, nem iria me render. Acontecesse o que acontecesse eu estaria ao lado de Damon. Eu o amo e sempre será assim.

...

Damon passou o resto da tarde conversando com Elena e Miranda sobre tudo o que estava para acontecer. Ele dava todos os detalhes possíveis, explicava como se daria o tratamento, suas chances, as possíveis complicações. Eles jantaram sem a presença de Grayson, que ainda estava na empresa. 

Depois do jantar Damon se despediu, ele estava bastante cansado o dia havia sido bem longo e tenso o bastante. Amanhã ele teria uma nova rotina, novos hábitos, ele estava meio frustrado, mas bastante motivado a começar. Ele iria agarrar essa luta com vontade, pretendia sair dele vitorioso e tinha tudo para tanto. Esperava em silêncio que isto continuasse assim.

-Amanhã bem cedo eu vou ao hospital tirar minha licença, assinar alguns papéis. – Damon falou já de dentro do seu carro para Elena que estava debruçada na janela ao seu lado.

-Posso ir te ver e passar o resto do dia com você? – perguntou Elena um tanto sem jeito.

-Você deve! Adorarei sua bela e estimulante companhia. – Damon falou meio cético e Elena revirou os olhos se inclinando e lhe dando um
selinho.

-Até amanhã!

-Até minha linda! Te ligo quando eu chegar em casa certo?

-Por favor... – Elena sorriu ainda acariciando a mão que Damon preservava em seu rosto. – Eu te amo!

-Te amo mais... – Damon soltou seu riso torto e Elena apenas fez uma negativa com a cabeça e o beijou novamente. Depois se afastou e Damon ligou o carro e se foi buzinando ao passar pelo portão da mansão.

Amanhã seria um novo dia, uma nova fase pros dois, um novo desafio, eles iriam sair dele vitoriosos ou não, mas a única coisa de que
tinham certeza é que juntos eles poderiam vencer qualquer coisa a que se
propusessem.