Ele olhou desconfortavelmente para mim, enquanto entravámos no carro de modo célere. Sua correria para deixar o local, me cheirou mal, tão mal que eu nem pude experimentar meu próprio medo, pois o dele esparramava-se no espaço anatômico, me deixando sem fôlego, ele arrancou com o carro.

" O que era? O que era aquilo, Locke? Do que estamos escapando? Anda me diz."

" Não tenho que responder, não agora."

" Eu sou a garota designada pelo Conselho, não pode se dar ao esplendor de me esconder os fatos. Há algo acontecendo aqui, não tem como negar. Não pode fazer isso comigo, não agora, preciso saber se estou correndo riscos e que tipo de riscos é."

O efeito foi o silêncio. Meu coração martelava.
" Por favor, me diga."

" Está andando com vampiros agora, risco é o habitual quando se tem esse tipo de relação." Um sorriso fraco e desafiador curvou os lábios dele.

" O que quer dizer? "
" Me diga Roc, até onde vai sua lealdade por nós?"

Essa pergunta me fez ocultar, fechar minha boca, olhar a nebulosa escuridão daquela noite a minha frente e ponderar os últimos acontecimentos. Eu não sou uma garota normal, não mais, bem, acredito que a normalidade sucessivamente ficou distante de mim, mas diferente dos filmes, não era legal ser diferente, era uma tarefa árdua. Eu agora andava com vampiros, com pessoas taciturnas, perigosas e de afiados caninos. A escola tinha se findado, mas uma parte de mim ainda estava lá, grudada no colegial. Eu olhei para o lado e vi meu tenso e temperamental irmão, aliás, ter um irmão não era maneiro como eu pensei, sinto falta de ser filha única muitas vezes, essa coisa de ter um irmão não tinha muito haver comigo. Ainda mais quando seu meio-irmão é um vampiro insurgente.

A normalidade e eu nos distanciamos quando os vampiros chegaram a minha vida, e pensar que tudo começou com aquelas olheiras arroxeadas e aquele cabelo cinzento, tudo começou quando Lucas entrou no colégio, quando ele entrou na minha vida. Aliás, Lucas tinha me abandonado quando eu mais precisei, claro, ele tinha que salvar sua vida, mas agora que ele tinha retornado, pensei que de alguma forma, bem, fossemos retornar de onde tínhamos parado. Contudo, ele preferiu Anabela, talvez ela pudesse dar coisas a ele que certamente eu não daria, seguramente era isso. Pensei no quão rápido ele me substituiu e pensei no fato de isso me magoar. Senti uma dor no meu peito ao lembrar os dias que eu fiquei sem sua presença e do quando senti sua falta. Havia tanta coisa que eu queria compartilhar, mas em vez de cumprir suas promessas, ele preferia fornicar com Anabela. Droga. Mil vezes droga.

Os pneus frearam, firmemente. Após alguns segundos, Locke abriu o portão e entrou com o carro em minha garagem. Até que, por fim, o motor morreu. Ele me lançou um longo olhar, por alguns segundos eu vi um misto de carinho e cuidado, mas depois seu olhar voltou a ficar duro.

Se você quiser ser uma de nós, será capaz de romper as correntes. Existem escolhas que precisam ser feitas.
O que vocês querem? Eu repeti friamente.

Ele riu, mas não tinha qualquer resquício de graça ali.

Eu fiquei sabendo que você ainda o vê, vez ou outra. " Descobri que você ainda está namorando com Anthony, esse namoro está bom para você?"

" Eu não sou nenhuma traiçoeira, não contei a ele sobre vocês, e o que tivemos ficou no passado" Eu havia tentado contar, mas Anthony não acreditaria em mim.

"Aliás, com quem você esteve falando, vocês estão me vigiando?

"Ele está andando com os caçadores." Ele afastou o olhar de mim.
" Que caçadores? " De repente liguei os pontos

" Era um deles que estava atrás de nós? Não era?"

" Sim, princesa. Os caçadores estão na cidade, e seu namoradinho talvez seja o trunfo deles"