Save Me escrita por Lena


Capítulo 2
Let your warm hands break right through


Notas iniciais do capítulo

Não ia postar agora, mas vi os comentários e fiquei muito feliz.
Então, está aí o capítulo.



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Os dias na Sword&Cross eram cada vez mais cansativos para os anjos caídos que ali estavam. Embora soubessem com certeza que seria por pouco tempo. Gabbe, contudo, não tinha certeza se aguentaria aquilo por mais tempo, ou melhor, se aguentaria aquele demônio alto, de cabelos escuros e olhos verdes rodeando-a. Quando pensava nele, sentia-se tão suja, imoral e profana. Mas não pensar era impossível tendo o próprio como vizinho de quarto.

― Tudo bem, Gabbe. Não precisa falar comigo, pode me ignorar, sem problemas. ― falou Ariane em seu tom sarcástico que lhe era característico.

― Oh, me desculpe, Ariane. Eu estava... ― Gabbe tentava defender-se, até ser interrompida.

― Viajando. ― O outro anjo completou. ― Como sempre nos últimos dias. Eu gostaria de um bom bate papo enquanto sobrevoamos os prédios, sabe? Mas você não escuta uma só palavra que eu digo. Você ao menos ouviu o que eu disse sobre o seu rosto estar se enchendo de acnes? ― Ariane concluiu, ainda com o nariz escondido por trás do livro que lia, sem desviar um segundo sequer as orbes do mesmo.

Gabbe arregalou os olhos assim que ouviu a última frase da amiga. Colocou as mãos nas bochechas com o coração disparado.

― Estou mesmo cheia de acnes? ― ela indagou, ignorando qualquer outra afirmação por parte da outra.

Ariane riu em resposta.

― Sabia que isso chamaria a sua atenção. Já mencionei que seu cabelo está oleoso? ― Ariane disse assim que se recuperou do ataque de risos ao ver a expressão da loira quando esta entendeu que era apenas uma brincadeira.

― Não achei nada engraçado, Alter. ― O anjo retrucou, após rir falsamente.

― Eu achei. Sua expressão estava hilária. ― Cam manifestou-se. Ele estava postado atrás da cadeira em que Gabrielle estava sentada. A garota manteve a expressão surpresa ao reconhecer a voz que vinha de alguém atrás de si, com os olhos fixados na mesa recém lubrificada da biblioteca.

― De onde é que você saiu, Cameron? ― Ariane alarmou-se com a aparição repentina do demônio, demonstrando o que passava na cabeça de ambas em suas palavras. ― Quer saber? Não importa.

― Eu sei que vocês “bonzinhos” gostam de uma má companhia. ― Cam ignorou a pergunta, se sentando em frente à Gabbe. Suas habilidades em se esconder nas sombras e fazer aparições surpresas deviam-se ao fato de ser um ser divino, não exclusivamente de sua condição demoníaca, como também de sua personalidade. Cameron era quase um felino.

Ariane bufou e Cam sorriu em resposta.

― Você já provou ser chato o suficiente, tanto que foi expulso do céu. A pergunta é: O que você quer aqui? ― A garota retrucou com as sobrancelhas arqueadas. Sua aversão era genuína.

― Não sejamos tão grosseiros. Temos, afinal, uma trégua enquanto estamos aqui, não é? ― O demônio respondeu, não deixando que as palavras rudes o atingissem de forma alguma. Mais uma característica de um felino, um gato: Ignorava fatos e situações a seu favor.

― É, não podemos matar uns aos outros, no entanto, isso não impede a loirinha de desfigurar sua cara com alguns golpes. ― a garota falou sorrindo.

Gabbe repreendeu Ariane com os olhos, achando que não precisava ser notada. E estava, de fato, tendo algum sucesso até a amiga mencioná-la na conversa carregada de ameaças dos dois.

― Ah, mas Gabbe não faria isso, faria? ― Cam se dirigiu a Gabrielle, que com relutância, não o encarou nos olhos. Porém, foi inevitável. Era como se os olhos dele chamassem os dela. Como imas. Ela começou a juntar suas coisas antes que fosse tarde demais, quando tivesse que falar. Pois, com certeza, sua voz sairia falha e fraca. E fraqueza era a última coisa que pretendia demonstrar para ele. Tinha um propósito ali, afinal.

― Qual é o problema dela? ― Cam perguntou à Ariane, quando Gabbe estava longe o suficiente para não escutar.

― Tirando você, ― Ariane começou, mal sabendo da verdade das palavras que acabara de pronunciar ― vejamos...

Cameron revirou os olhos, e com o cenho franzido, disse:

― Estou falando sério, Alter.

― Sinceramente, eu não sei. ― Ariane disse, por fim. Definitivamente notara atitudes estranhas na amiga divina, mas não possuía qualquer suspeita em relação ao que a deixara naquele estado distinto. Ela olhou para Cameron e notou a mesma expressão entre os olhos que ela provavelmente estava fazendo. Pensativo. Como se tivesse culpa ou deixara alguma coisa passar. Mas não. Estivera com Gabrielle por tanto tempo que a conhecia muito bem para que notasse algo que fosse súbito.

O anjo que possuía as asas brancas e cintilantes como característica, permitia que as lágrimas transbordassem de seus olhos, Gabbe abraçava os joelhos com a cabeça entre os mesmos, sentada sobre uma lápide qualquer do cemitério pútrido da Sword&Cross. Estava tarde, ― muito tarde ― portando não havia perigo de alguém vê-la ali, nem mesmo desconfiariam que estava fora da cama. Pelo menos, era isso que ela pensava e esperava.

Bem acima, um demônio ― que antes sobrevoava a floresta, agora a observava com um misto de pena e culpa. No entanto, ele não sabia o porquê. Não havia feito nada para machucá-la, nem nunca tentara, na verdade. Ao menos não particularmente. Isso lembrava-lhe sobre o episódio na biblioteca.

O rapaz foi planando, batendo as asas negras com a mesma leveza que de uma pluma. Ele pousou majestoso há alguns metros da garota ― que estava de costas, portanto não o viu. Silencioso como um felino, Cam se aproximou só parando quando finalmente ficou de frente à ela.

Gabbe se assustou com a presença e se levantou rapidamente, enxugando as lágrimas com as mãos ágeis.

― Sei que não sou a melhor companhia do mundo, mas... ― Cam dizia, até ser interrompido.

― Como me encontrou aqui? ― A loira o cortou grosseiramente, cruzando os braços. ― E você podia parar de aparecer subitamente? É assustador.

― Quando se tem asas não é muito difícil e, bem, eu não estava te procurando. ― Cam não se intimidou com a grosseria passageira de Gabrielle, estava acostumado a ser sempre recebido assim, apesar de não se incomodar, de fato. ― E você sempre vem para cá quando está chateada, não que eu fico observando ― ele continuou. Ela estava oscilante. Passava o peso do corpo de um pé para o outro, mostrando ansiedade. Resolveu se sentar novamente, quando percebeu que, em pé, definitivamente a coisa era muito pior e a entregava demais. Era quase como falar, “Cameron, você me causa nervosismo, meu coração palpita de uma forma incomum e você parece, de umas semanas para cá, muito mais atraente do que sempre foi. Isso que nos conhecemos há séculos, literalmente!”

― Gabbe, se não me quiser aqui, se não quiser conversar, tudo bem. Eu posso ir embora. ― Cameron murmurou, dando um passo para trás para provar seu ponto. Iria embora se ela quisesse, não era de seu feitio ser tão compreensível, contudo, não queria estar ali sem ser desejado.

Tudo o que Gabrielle pensava agora, era o nome dela sendo pronunciado pela boca perfeita e bem delineada dele. Era como música aos seus ouvidos, um cobertor que lhe aquece, ou um abraço de mãe. Gabbe. Cada sílaba sendo dita de uma forma terna, em um sussurro. Ela quase fechou os olhos de prazer com a lembrança. Queria que ele fizesse de novo. Nunca antes notara como a boca dele encostava-se sutilmente para pronuncia a última sílaba. Ela se sentiu boba imediatamente com o pensamento.

Então, de repente, ela não se sentia mais nervosa pela proximidade de Cam, como estava há apenas dois minutos. Muito pelo contrário, se sentia aliviada. Com ele ali, ao lado dela, não havia o que temer, pois o medo já não existia. Nem nada mais no mundo. Nem o céu, nem o inferno, ou o que quer que fosse que os separassem de uma forma quase brutal. Tudo que havia no mundo, eram os dois. Se encarando nos olhos, com um fogo ardente se formando no interior de ambos, em momentos de insanidade. Em momentos como este. Mas estava tudo bem, eles estavam juntos.

― Por favor, fica. ― Quando Gabbe voltou a raciocinar tudo que fez, falou o que parecia certo dizer, notando o passo que ele dera para longe dela. Cameron assentiu.

― Podemos apenas ficar em silêncio? ― Gabrielle perguntou. Cam, deu seu melhor sorriso de lado, e como se tivesse lido os pensamentos dela, puxou-a para mais perto de si, em um abraço reconfortante. Ela deslizou a mão para o peito nu dele, pensando em como era bom estar ali. Onde queria estar. Apertou-a mais contra si, com os braços fortes a envolvendo, um abraço quente, que apenas um demônio poderia dar. Na verdade, de uma forma que somente Cameron Briel sabia fazer.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?