Rosas escrita por Larissa M


Capítulo 7
Capítulo 6 - Olhar Fulgurante


Notas iniciais do capítulo

AE, voltei =3 Bem, esse cap está um pouquinho abaixo do meu numero de palavras usual, mas garanto q não está deixando a desejar nada ;D



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William e Susanna percorreram o mesmo caminho de antes, no sentido contrário, e pararam ao chegar ao lugar de trabalho dos irmãos. Henry estava envolvido numa animada conversa com Lucy, e ambos pareciam à vontade na presença um do outro. Quando o La Fontaine mais velho e Susanna entraram de novo no ambiente, eles cessaram a conversa, e Lucy virou-se para trás em expectativa.

– Suze, está bem?

A prima caminhou de encontro à outra, encarando-a com os grandes e brilhantes olhos azuis.

– Ótima. – Susanna respondeu. – Veja o que encontrei: – ela mostrou a câmera que havia pegado no quartinho para Lucy, que estudou o objeto com seus olhos inexperientes para identificar esse tipo de material. – a antiga Polaroid de meu pai. Graças a William e Henry ainda está intacta; talvez eu venha até a tirar algumas fotos...

William sorriu em resposta ao elogio, mas se perguntava por que Susanna já não contara das fotos na parede para Lucy... Talvez fosse necessária uma ambientação mais quieta, um lugar mais reservado para contar-lhe a novidade. Respeitando-a, manteve-se calado, sem comentar nada com Henry. O La Fontaine mais novo nunca estivera no quartinho, e não tinha tanta curiosidade a respeito do fato.

As primas trocaram mais algumas palavras uma com a outra, e logo se despediram dos irmãos.

– Obrigada, William. – Susanna repetiu o agradecimento mais uma vez ao abraçar o jovem. Ele retribuiu com entusiasmo, e quando Susanna viu sua expressão notou que realmente não era algo que ele havia se importado em fazer. Sua preocupação para com Suze era real, e sua gentileza incomparável havia sido algo natural para alguém de sua personalidade.

Retribuindo o sorriso, Susanna igualmente abraçou Henry, que igualmente sorria. Fora uma sorte incrível que logo os irmãos La Fontaine viessem comprar o imóvel de seu pai. Se houvesse sido qualquer outra dupla, decerto não teria essa rara habilidade de ajudar o próximo. Susanna e Lucy se despediram por hora dos irmãos.

Na rua, Lucy tornou a dar o braço a Susanna, e as primas tornaram a caminhar pelas ruas de Valliria.

Em apenas algumas horas, pois havia a pressão de chegar a casa pontualmente para o almoço, as primas circundaram as lojinhas do centro da cidade, fazendo compras para si próprias ou a pedido de sua tia. No geral, Isobel apenas pedia para Susanna passar em lugares como a feirinha da cidade, ou a farmácia do local, certos serviços necessários no dia a dia. Coisas como lojas de roupas, de artigos para casa ou afins, Isobel o fazia por si mesma.

Fora uma agradável manhã passada na companhia de Lucy. As duas primas eram bem conhecidas em Valliria, e por isso sempre esbarravam com um ou outro conhecido na rua, sem contar os donos de lojas. Por azar de Susanna, não daria tempo para dar uma volta pelo Parque das Rosas, quanto menos entrar na doceria Eddie’s. Ficava pouco depois do centro, um tanto afastado da concentração principal, mas ainda assim despontando na borda do que poderia ser considerada a zona comercial de Valliria. Também divergia do único caminho possível para as primas tomarem na volta a casa, e, portanto ficou fora da vista de Suze por toda a manhã.

O que a moça encontrou na sua volta para casa foi o escritório do advogado da família, Sr. Abrans. O pequeno escritório estava no segundo andar de um prédio de fachada um tanto velha, com a pintura desgastada com o tempo. A escadinha de mármore que levava ao segundo andar ficava nos fundos da loja, claramente avistada da fronte acobertada por uma vidraça. No topo, antes da porta de entrada, estava o sinal, em letras gordas e prateadas: Abrans. & Co., Serviços de Advocacia.

Susanna hesitou um pouco na frente da loja, pensando sobre o que o advogado a comunicara logo após o falecimento de seu pai. Só colocaria as mãos na herança quanto viesse a completar vinte e um anos. Nesse ínterim, estaria tudo bem guardado com o próprio. Susanna suspirou e continuou sua caminhada; não havia nada para ela ali, de qualquer modo.

As duas moças chegaram a casa bem a tempo. O relógio de pulso de Susanna marcava apenas dez minutos para a hora que a tia as esperava. Quando subiram as escadas da varanda da frente, Susanna viu pela janela entreaberta da sala de jantar que Isobel ainda não estava sentada na mesa, como era costume seu. Ao adentrar a casa não a achou em nenhum lugar a vista. As primas se separaram; uma levando as compras para cima e a outra continuando no andar de baixo.

Susanna entrou na cozinha sorrindo para a mulher que fazia o seu almoço. Carla sempre fora sorridente com as primas, e gostava muito de Susanna, sempre disposta a fazer que fosse de seu agrado.

– Oh, Carla, esqueci a rosa de hoje para você levar para sua casa! – Susanna falou, olhando pela janela da cozinha para ver suas pequenas empertigadas nas pontas dos galhos da roseira.

– Não há problema, Srtª Susanna. – a empregada a consolou, ajudando-a com os pacotes de compras que vinha carregando.

– Depois eu providencio uma para você...

Carla sorriu, mostrando as rugas em seu rosto. Já estava com Isobel fazia tempos, e conhecia bem o modo como ela agia, e já havia se acostumado com o jeito de tratá-la. Seus olhos eram tal quais duas grandes e redondas amêndoas, que brilhavam pelo gosto de apenas ver as “meninas” - o modo como chamava as primas - sorrirem ao receberem um mimo ou um agrado seu.

As duas se viraram ao ver a figura altiva de Isobel entrar na cozinha, vestindo um de seus formosos vestidos de veludo em tons escuros e de coque repuxado fortemente, numa meticulosidade invejável. Ela pronunciou sem mais delongas:

– Susanna, venha para o almoço. Carla, pode guardar as compras; logo depois irei sair, então trate de chamar um carro.

Isobel se virou e saiu da cozinha, fechando a porta. As duas restantes no recinto nem sequer se alteraram com a tia e patroa, mas Carla apressou Susanna para esta sair dali e tratar de seguir para a sala de jantar.

Os minutos de almoço foram se arrastando no silêncio entre as três Hayes, que no dia em questão não demonstravam, nenhuma delas, qualquer desejo de manter um assunto, mesmo que fosse frívolo ou curto, entre si. Da parte de Susanna não poderia se esperar sequer palavra para expressar o talento culinário de Carla, dado que a mesma estava tão envolta em pensamentos que mal via o que comia. Lucy se consternava um tanto com o silêncio, mas não o sabia o que dizer. Isobel se mantinha impassível, a expressão estampada em seu rosto ilegível para qualquer um. Apenas ela acessava seus pensamentos, apenas ela sabia como aquele momento iria se desenrolar, após dissesse o que estava pensando...

– Susanna. – a tia falou, colhendo a atenção da sobrinha, que quase pareceu acordar de um sonho.

– Sim? – ela perguntou, sem esperar pelo o que viria.

– Não acha que está na hora de arrumar um emprego? Ao menos resolver o que fará de sua vida?

As palavras da tia pegaram a moça de surpresa. Ela ergueu o olhar, antes voltado para seu prato, a fim de encarar sua interlocutora, atônita, um tanto desacreditada do que havia ouvido:

– Perdão? – disse, largando a tarefa de comer e estudando os olhos de Isobel com atenção. Não transmitia nada mais do que a distância que sempre encontrava neles quando os fitava. Sabia que a tia não estava de brincadeira, isso seria algo incabível, especialmente brincar com algo daquele patamar, para ela. Porém, aquilo não era algo que expressava preocupação. Não, não, a tia de Susanna não estaria interferindo para perguntar se a garota precisava de ajuda; a pergunta ainda não tinha suas razões claras aos olhos de Susanna.

– Isso mesmo, arrumar um emprego, ou mesmo se resolver. Ou você pretende esperar seus 21 anos, Susanna?

– De modo algum! Não vou ficar quieta esperando envelhecer sem nem acumular certo conhecimento! Nem sequer sei a quantia que me aguarda. – ela falou, um tanto chateada por sua ultima frase ser uma verdade imutável. Só tornaria a falar com o advogado Abrans sobre o assunto dali a alguns anos.

– Eu tenho que admitir que determinação seja algo que não falta em você. – Isobel falou no tom costumeiro, no entanto, uma fagulha de emoção perpassou seus olhos. Susanna não notou, e assentiu em agradecimento, sem vontade de verbalizá-lo. A tia ainda mantinha sua postura austera de sempre, e almoçava como se o assunto fosse as flores do jardim. Se bem que, se a escolha de assunto para divertimento fosse de Isobel, certamente não seriam as rosas de Susanna. – Porém, isso não basta. O que fará? Certamente não sou eu que vou ficar te carregando como um peso na vida. – então aí estava a razão daquela falação acerca da vida da sobrinha. – Arrume um marido, um emprego, o que quer que prefira. Ou espere pelo dinheiro.

– Não vou aguardar. Mas também não sei qual emprego arrumaria nas minhas circunstâncias. Não é como se eu tivesse dezenas de habilidades, ou um exímio intelecto. E devo acrescentar que mesmo essas qualidades, se postadas numa mulher, não vão ser analisadas com o mesmo olhar admirado e auspicioso que seria reservado a um homem.

Isobel crispou os lábios, numa careta. Sabia que Susanna estava certíssima a respeito do que dissera, e isso não a agradava. No seu passado, estivera fadada a certas situações que poderiam ser evitadas se não fosse sua dependência a um casamento, ou a delimitação de suas funções como mulher. Por isso, não gostava de mencionar o assunto que envolvia essa questão feminina, e preferia apenas engoli-lo e aderi-lo a parte inevitável de sua vida.

– Estou ciente disso. No entanto, o meu aviso está dado, Susanna: arranje-se. Logo. – os talheres que Isobel segurava fizeram um “claque” metálico ao bater na louça branca. Ela continuou inalterada – E não se esqueça de me avisar assim que se decidir.

Susanna recebeu as últimas palavras em silêncio. Refletia sobre as palavras da tia, a despeito da relação negativa que possuía com ela. Encontrara nelas um fundo de verdade, e uma irresponsabilidade de sua parte por não vir dando a atenção devida ao assunto como deveria. Os assuntos que permeavam sua mente não diziam respeito a sua própria vida, mas sim a de seu pai e sua tia, sem contar nas outras personagens envolvidas nessa trama em questão, fossem elas do passado, ou que partilhassem da curiosidade de Susanna no presente, como Lucy, William, Henry, May e Ed.

Não fora o próprio pai de Susanna que lhe pedira para deixar o passado no passado, certa vez quando ela lhe questionara sobre sua mãe?

– Mas Isobel, eu não posso decidir assim na pressa. – Susanna falou, depois de passar um tempo na reflexão. – Tenho que ter tempo.

– Creio que não possa desfrutar de tanto tempo assim. – Isobel respondeu. – Já tem dezoito anos.

Lucy, que se mantivera calada até então, alternando seu olhar entre sua mãe e sua prima, se manifestou, dizendo simplesmente:

– Também tenho dezoito anos, sou um mês mais nova que Susanna.

Sua mãe demorou certo tempo para notar onde a filha queria chegar. Quando viu suas intenções, retrucou indignada:

– Lucy, não há necessidade de perturbar a si mesmas com esses pensamentos agora! Não está na mesma situação de Susanna.

Lucy mantinha a mesma expressão de determinação no rosto que antes. Não se deixara levar pela afirmação da mãe, e ainda persistia no assunto:

– Mãe, não faria sentido Suze se preocupar com coisas desse modo se eu, moça da mesma idade, também não estivesse.

– Lucy, o seu caso é bem menos complicado; arrumaremos um marido e está ótimo!

Lucy, como sempre fizera, não deixara o seu semblante calmo, e até então retrucara com lógica e serenidade. Porém, quando a mãe veio mencionar casamento, a moça deixou a serenidade um pouco de lado, e exclamou, pois sua perspectiva era completamente diferente que a de Isobel:

– Mãe, não quer dizer que a única função que vou desempenhar é a de esposa, não é mesmo?

– Não, não só esposa...

– Pois a senhora sabe que eu me interesso por música, por piano...

– Lucy, essas artes não rendem dinheiro! – Isobel exclamou, tendo a voz carregada de preconceito. Não era de seu gosto nada que envolvesse qualquer tipo de artes. – Bem, se quiser seguir sua prima na procura de um emprego esteja livre para fazê-lo, mas espero minha filha bem empregada em algum lugar de respeito, e não como uma empregada qualquer ou como alguém que “entretém” os outros com o piano...

Lucy se retraiu um tanto ofendida com as palavras de sua mãe, e não retrucou mais nada. Por mais que Susanna tentasse colocar as palavras de Isobel por trás de um contexto em que defendesse sua filha com lógica, não conseguia. Sempre tinha sentido, quando se tratava de Isobel, que ela deixava sua vida e suas ideias interferirem na vida dos outros.

– Lucy, façamos o seguinte, ambas pensaremos numa solução. – disse Susanna num tom consolador, estendendo a mão por cima da mesa para encontrar a da prima. Os dois pares de olhos azuis se encontraram, um reconfortando o outro.

De súbito, Lucy exclamou animada:

– Susanna, você poderia tentar achar emprego como jardineira! Cuidar de rosas!

O sorriso de Susanna foi espontâneo, mas não pôde deixar de ficar surpresa por não ter pensando no mesmo antes. Talvez a pressão feita por Isobel a houvesse impedido de enxergar a solução mais óbvia para ela. Seus olhos fulguraram em alegria, pois, além de ser algo que levava muito jeito, ela já era conhecida nas redondezas por suas rosas.

– Que ótima ideia, Lucy! Como foi que não percebi antes? – Suze ainda segurava a mão da prima, apertando-a em emoção.

A única ali que não partilhava do mesmo sentimento era Isobel. A tia mantivera a boca crispada e a postura austera de antes, porém não se expressou quanto às ideias que as primas trocavam.

Numa animação recém-adquirida, e esquecendo-se das palavras duras de Isobel, Susanna e Lucy terminaram o almoço ainda discutindo o assunto, e se retiraram da sala do mesmo modo. Porém, momentos antes de sair porta afora da sala de jantar, Susanna se virou para trás, e num gesto esforçado, mas gracioso, disse para sua tia:

– Obrigada.

Vendo que Isobel não sustentava o olhar que ela lhe lançara, Susanna se retirou, sabendo que as palavras haviam chegado aos ouvidos de sua tia.



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Notas finais do capítulo

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