Rosas escrita por Larissa M


Capítulo 20
Capítulo 19 - Melancolia


Notas iniciais do capítulo

olha, gente, eu mudei quase completamente esse cap, entao eu sugiro que o leiam de novo... Eu havia postado de um jeito, mas não gostei. Porém, saibam que oq havia acontecido n mudará, só será mais tarde... desculpe pelo inconveniente...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/232001/chapter/20

Rio de Janeiro – 1956

Na belíssima paisagem da praia de Ipanema ao por do sol, Lucy Hayes relaxava ao lado de seu noivo, Henry. O céu agora estava de completo pintado de laranja, com rajadas de luz que vinham desde o Sol até se perder no horizonte, sem mais força para brilhar com tanta vida. A noite foi caindo, e o casal ainda permanecia um junto ao outro, a beira da maré. O movimento incessante das ondas calmas chegava a molhar as pontas dos pés de Lucy, que se deliciava no prazer de estar entregue a letargia e ao descanso daquela tarde de domingo.

- Sem querer quebrar o prazer do momento, – sussurrou Henry para ela, ainda com os olhos pregados no céu. – mas já está quase completamente escuro.

Ela fez um muxoxo de insatisfação, suplicando-lhe com os olhos para que eles se mantivessem na mesma posição. Henry, com um suspiro, acatou à sugestão. Era impossível resistir aos apelos daquela que segurava em seus braços.

Retomando o assunto inacabado que haviam começado mais cedo naquele mesmo dia, Lucy hesitou um pouco, mas disse, torcendo para que a reação de Henry fosse positiva:

- Você sabe que precisamos voltar a Valliria. É o aniversário de Susanna o dia depois de amanhã.

- Eu sei. – ele respondeu apenas. Já havia sugerido que só Lucy retornasse. Ela negara mais de uma vez.

- Vamos, Henry, nós dois. – ela o convidou.

Ele suspirou, sem mais conseguir arrumar desculpas para adiar o inevitável. Nem sequer conseguia pensar num modo de desviar a atenção de Lucy do aniversário de Susanna. Sabia o quanto a prima era importante para ela, e por nada ela perderia o aniversário de Suze. Porém, também sabia das intenções de Lucy por trás daquela súplica para que ele a acompanhasse para sua cidade natal.

Após o encontro com os pais de Henry, dois anos antes, no casamento de George e Vivian, Lucy vira a gravidade da situação formada por eles dois tanto em sua própria família quanto na dele. Em especial, era o senhor La Fontaine que se lamuriava pela escolha do filho. Em contrapartida, sua reação fora um tanto diferente da de Isobel: ansiava por falar com o filho, mas por nada admitiria tal coisa. Lucy pudera ler em seus olhos naquela noite o seu desejo e falta de Henry, mas não fora isto que ele lhe dissera verbalmente.

- Como você consegue ser persuasiva quando quer... – ele lamentou. – Mas confirme: não é só pelo aniversário de Suze que você quer que eu esteja presente em Valliria, não é?

Ela se limitou a assentir.

- Seu pai está te esperando. Ele pode ter me dito que desaprovava completamente o seu comportamento, mas ele queria mesmo era vê-lo.

- Não entendo essa reação tão complicada de meu pai. Sinceramente, eu temi mais que minha mãe fosse atribular-se. Porém, foi ele que a despeito de sua calma e sensatez de sempre, saiu dos eixos com minha partida. Nossa partida. – ele se corrigiu.

- Quem sabe o problema não sou eu? – ela arriscou.

- Não, Lucy, não pode ser você o problema. – ele falou, rindo da hipótese oferecida por ela. – Como é que uma moça tão doce e educada como você iria causar tanto rebuliço?

Lucy sorriu perante o elogio dado por seu noivo, e buscou os lábios dele para um beijo antes que por vim sugerisse:

- Vamos? Discutimos o resto ao chegar em casa.

- Não há o que discutir. – ele retrucou. – Sei que de um modo ou de outro você vai acabar indo para Valliria por Susanna... E eu vou te seguir pelos meus pais...



Valliria – Mansão Giusini


O reflexo tremeluzente de Susanna perdurou por alguns segundos, antes que a agitação na água se fizesse presente pelo próprio toque dela. A moça, sentada na borda da fonte na entrada da mansão Giusini, se distraía olhando a própria imagem. Quem dera o meu reflexo fosse profundo o suficiente para alcançar minha própria alma... ela pensou. Olhar sua imagem física não bastava. Queria mesmo saber o que se passava em seu coração, decifrar os mistérios de seus sentimentos, que agora mudavam tão rápido quanto as vibrações da água da fonte.

Susanna se virou para o outro lado, dando as costas para a fonte. Era um dos raros momentos em que não estava na mansão Giusini para trabalhar. Na realidade, esperava George depois de ter terminado a manutenção no jardim aquele dia.

Ela ainda continuava como jardineira, mas seu trabalho já estava muito reduzido, pois George a considerava mais como uma irmã do que como sua empregada. Susanna insistia em fazer o trabalho bem feito, e trabalhar todas as horas necessárias, mas George sempre lhe dava folgas, mesmo que não fossem requisitadas.

Susanna deu um longo suspiro. Pensou em pegar o seu diário, bem guardado em sua bolsa, mas não estava com ânimo o suficiente para escrever. Já colocara no papel aquela manhã tudo do dia anterior. Virou-se novamente para a água parada da fonte, e tornou a observar seu reflexo.

Sua aparência quase não mudara em um ano, desde o casamento. Susanna estivera se lembrando da ocasião apenas momentos antes. Com um suspiro, ela ajeitou uma mecha e teimava em cair frente ao seu olho, e decidiu que iria dar um novo corte ao cabelo. Porque não uma mudança? Depois de tanto tempo, Susanna tinha a impressão de que quase tudo estava a mesma coisa. Não chegara a essa assustadora conclusão logo; pelo contrário, demorara muito para perceber isso. Assustava-se com a mesmice que era a sua rotina diária.

Por fim, completaria seus 21 anos, dali a uma semana, mas não do jeito que por algum tempo no passado sonhara. Aqueles meses passados com Christopher pareciam tão distantes que ela mal conseguia imaginar como seria seu presente se ele houvesse ficado em Valliria. Tudo estaria tão diferente... Porém, determinada a não lamentar os acontecimentos passados, Susanna rapidamente afastou aqueles pensamentos. Precisa se concentrar no presente, e assim o faria.

Com alívio pela espera ter acabado, Susanna viu que George acabava de sair pela porta da frente da mansão, e fechá-la logo depois de Vivian ter passado. O marido estendeu o braço para a sua esposa, e juntos vieram ao encontro de Susanna.

- Boa tarde, Suze. Porque esse sorriso no rosto? – Vivian perguntou. Era raro ultimamente ver Susanna sorrir sem motivo aparente.

- Provavelmente já ouviram isso diversas vezes, mas não canso de repetir: vocês dois formam um lindo casal... Estava admirando vocês. – ela respondeu.

- Obrigado. – George respondeu, tentando esconder das duas mulheres o rubor que se formava em suas bochechas. – Então, vamos indo?

Susanna estava esperando pelo casal para pegar carona com eles até o centro da cidade. Como a mansão ficava no topo de uma colina, era mais cômodo que esperava um veículo para levá-la. Os dois passariam em frente ao escritório Abrams, serviços de Advocacia, o destino de Susanna. Ela esperava conversar com o antigo advogado de seu pai, o que havia cuidado de sua herança até então. Ela teria direito a ela quando completasse 21 anos, e já tinha em mente aonde investiria o dinheiro.

- Uma floricultura, é? – Ed Ferguson perguntara, quando Susanna lhe expusera sua ideia, há certo tempo.

- Isso mesmo. – a moça mordeu o lábio, temendo que a opinião de Eddie fosse negativa.

- Não é uma ótima ideia, Ed? – May perguntou ao marido. – Eu acho que não há nada melhor para Susanna agora.

- Sim, sim, absolutamente. – ele respondeu depois de parar um tempo para refletir. Eddie se preocupava com Susanna mais do que a moça poderia imaginar, e sempre estava dando conselhos a ela. – Acho que está sozinha demais ultimamente, Susanna. – ele falou, taciturno.

- Eu também partilho dessa opinião. Definitivamente você sorri menos, querida. – May igualmente expressou sua preocupação.

- Não tem a ver com aquele maldito jovem que a deixou, tem? – Eddie perguntou, cruzando os braços, sem perceber que os dois mal estavam dando espaço para Susanna responder.

- Não, não tem nada a ver com Christopher. – Susanna sentenciou, desviando os olhos do olhar inquisidor de Eddie.

O velho arqueou uma sobrancelha, duvidoso. Relaxou a postura na poltrona, mas não o olhar.

- Tem certeza disso?

- Não. Nenhuma. – Susanna admitira, seguindo-se de um longo suspiro.

Agora, meses depois, a mesma dúvida perdurava. Ao menos à mesma ideia da floricultura Susanna se ativera, e isso a fazia relaxar um pouco. Quando Vivian perguntou a ela o que planejava exatamente, ela ficou alegre em lhe contar os detalhes.

A nova Sra. Giusini vinha lhe dando o maior apoio, e acabara se tornando uma de suas principais amigas. As duas conviviam boa parte do dia, e o faziam numa harmonia agradabilíssima. Por vezes Vivian convidava Susanna para um descanso de seu trabalho, e as duas passavam a tarde conversando a sombra de um bolo ou um café como desculpa. O assunto variava entre as complicações que Susanna vinha enfrentando, as mudanças na vida de Vivian ou assuntos mais imediatos do que acontecia em Valliria. Vivian logo percebeu a frequência com que Susanna mencionava Lucy, e que esta era proporcional a saudade que sentia de sua prima.

O encontro com Isobel poderia ter corrido às mil maravilhas, mas Lucy ainda assim escolhera retornar ao Rio de Janeiro. Afinal, era uma via de mão dupla: a decisão não cabia só a ela, mas também a seu noivo. Ele havia feito uma promessa de que cuidaria dela, e ela havia feito uma de que sempre estaria ao lado dele. Os dois se mantiveram firmes às suas palavras, com paciência e perseverança. Os pais de Henry ainda consistiam uma sólida preocupação, sem contar que os dois não poderiam largar tudo na capital do estado e voltar para Valliria. Portanto, Lucy só fizera três visitas à sua cidade natal no tempo transcorrido desde o casamento. A saudade de Susanna era compreensível, ao ver de Vivian. Ela mesma já começava a notar a ausência do pai e da irmã, mesmo que essas não fossem as companhias mais agradáveis; eram família.

O carro dirigido por George fez uma curva a direita, saindo da lateral do Parque das Rosas e entrando diretamente na rua principal de Valliria. O destino de Susanna estava um pouco mais além.

Parando logo em frente ao escritório do advogado, George virou-se para trás para despedir-se de Susanna.

- Até logo, Suze... Tem certeza de que não haverá festa? – ele perguntou, desanimado com a perspectiva de nenhuma comemoração no aniversário dela.

- Sim, George. Prefiro manter desse jeito, discreto, no máximo eu irei a mansão visitar vocês...

- Sim, por favor, venha. – pediu Vivian. Ela conseguia ver que a própria Susanna não estava feliz com seu aniversário. – Terá presentes a sua espera. – ela sorriu.

Retribuindo o sorriso sem muito entusiasmo, Susanna prometeu que iria, e saiu do carro de George, acenando-lhes. Ele acelerou e ela perdeu o carro de vista.

Olhando para o nome da empresa em letras gordas e prateadas, em caixa alta, e a ausência de cores do lado de dentro, Susanna esperou encontrar um advogado sério e recluso, centrado em seu trabalho. Marcel Abrams não se encaixava naquela descrição.

O advogado era esbelto, bem mais alto do que Susanna, e era um tanto mais novo do que o esperado, como também animado e sorridente. Parecia apenas alguns anos mais velho do que Susanna, porém já trazia uma aliança de casado ao redor de seu dedo anelar da mão esquerda. Marcel usava óculos de aro grosso, com lentes igualmente largas, que teimavam em escorregar por seu nariz. O advogado os ajeitava regularmente, assim como seu cabelo castanho claro e encaracolado. Apesar das mechas serem curtas, Marcel mexia-as sem trocá-las de lugar.

O seu escritório era decorado com diversos quadros expressionistas, e nada ali parecia seguir uma ordem correta. Os arquivos de seus clientes estavam empilhados a um canto, numa estante, ou em gavetas, preenchendo-as por completo.

- Bom dia. Meu nome é Marcel Abrams... Em que poderia ajudá-la, senhorita... Hayes? – ele cumprimentou-a, estendendo a mão, e fazendo certo esforço para lembrar do nome anunciado pela secretária.

Depois de apertá-la, Susanna sentou-se a frente da mesa do advogado, no lugar indicado.

- Sou filha de Reymond Hayes, o fotógrafo. – Susanna se identificou.

- Ah, sim, sim, o fotógrafo... – o advogado se lembrou. – Era um ótimo homem, ótimo homem... – o advogado pareceu um tanto tenso ao falar do pai de Susanna, mas relaxou ao completar – Então, deixe-me procurar os arquivos do senhor Hayes...

Marcel Abrams começou a procurar em sua estante com gavetas etiquetadas, as quais Susanna viu estarem organizadas por letras do alfabeto. Marcel se dirigiu a gaveta de letras H-L, puxou-a e começou a procurar em seu interior.

- Eu esperava encontrar a herança de meu pai com o senhor. Certamente a administrou depois de sua morte, não?

- Sim, com certeza. Vou achá-la em um minuto, se fizer a gentileza de aguardar...

Susanna fez como o advogado sugerira, aguardou, estudando-o com cuidado. A despeito de sua falta de organização eminente, parecia ser um homem de respeito e crédito. Susanna confiava no julgamento de seu pai, e, portanto, confiava em Marcel.

- Aqui está! – Marcel exclamou, retirando uma pasta recheada de papeis que Susanna não sabia interpretar o significado. Ele tornou a se sentar na mesa, e passou de um a um os papeis.

Por fim, achou o que estava procurando. Tentou esboçar um sorriso para Susanna, mas ela achou que Marcel o estava forçando.

- Então... – ele voltou a sua atenção para o papel, propositalmente evitando o olhar de sua interlocutora. – Segundo consta, a herança deverá ser passada adiante, ou seja, para a senhorita, quando completar 21 anos... Oh, semana que vem. – ele falou nervosamente, dando-se conta daquilo apenas naquele momento. – Sim, sim, tudo está correto. Terá de assinar alguns papéis, mostrar-me a identidade... A mesma burocracia de sempre. – ele a informou. – Mas apenas na próxima semana.

- Sim, estou bem ciente disso... Só queria me informar do processo, e talvez saber dos detalhes do que meu pai deixou para mim... Eu pretendo investir o dinheiro em um novo negócio, e quanto mais cedo, melhor. Além do mais, não queria ter de me preocupar com tais coisas logo no dia de meu aniversário. Logo daqui já vou passar a outros assuntos e ir a outros lugares que preciso. – Susanna fez uma pausa. – Também pretendo continuar filiada a você, assim como meu pai fez.

O advogado meditou por alguns segundos, exibindo o cenho franzido. Deu de ombros momentos depois, e sorriu.

- Não vejo mal algum. – Marcel respondeu. – Aqui, dê uma olhada no contrato...

Susanna analisou os documentos cuidadosamente. Ficou desapontava com o que encontrou, mas manteve-se calada. Marcel nervosamente batia os dedos na mesa de madeira.

- Muito obrigada, eu tornarei a voltar na semana seguinte.

Os dois se despediram, cada qual com seus pensamentos irriquietos. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Reviews?