Rosas escrita por Larissa M


Capítulo 11
Capítulo 10 - A Jardineira


Notas iniciais do capítulo

=33 adorei escrever esse capítulo, mesmo! No entanto, acho que o melhor vai ficar para o próximo. Anyway, enjoy!



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Susanna não vira Christopher nenhuma vez sequer por toda a extensão da noite da festa. Sentia-se esquecida, pois o jovem se afastara dela com uma promessa de pegar bebidas para os dois, e nunca retornara ao lugar combinado.

Christopher agira de modo mil vezes mais estranho depois da última dança, na mente de Susanna. Aquilo não era feitio do jovem gentil e amável que a conduzira por uma música inteira, que fizera um passeio com ela pelos jardins, que quase alegara conhecê-la da infância... Parecia mesmo parecido com aquele tal Giusini, frio assim como o pintavam, e arrogante o bastante para deixar uma dama a espera, toda sozinha.

Susanna também não vira sinal de Lucy por toda a festa. A prima dela parecia ter sumido, e quanto mais Suze procurava, menos via sinal dela. Rodou a mansão toda a sua procura, e não viu nem uma centelha de seus cabelos cor de fogo.

Desanimada, Susanna passou a noite do lado de Pauline e Amanda, outras amigas, sem contar em William. Ele também não fazia ideia de onde estava o irmão mais novo.

No dia seguinte, Susanna acordou tarde na manhã. Lembrava-se de que chegara tarde da festa em casa, e que fora William quem dividira um taxi com ela. Divertira-se bastante, a despeito do sumiço de ambos Christopher e Lucy.

Lembrando-se da prima, levantou-se de supetão. Certamente Lucy chegara a casa pouco depois dela mesma, apesar de Susanna não ter ouvido nada depois que se deitou. Adormecera quase imediatamente depois de ter posto o pijama.

Bocejando, a jovem saiu sem nem se olhar no espelho do quarto, a procura de Lucy. Cobriu a curta distância no corredor, pois seu quarto era o vizinho ao de sua prima, e invadiu sem cerimônias o quarto dela.

- Lucy? – ela perguntou, enquanto abria a porta.

Logo viu o volume que havia debaixo dos cobertores, e entreviu as mechas ruivas de Lucy. A moça não tardou a despertar quando Susanna foi chamá-la.

- Lucy, Lucy...

- O que foi, Susanna? – ela perguntou, um pouco mal humorada.

- Você sumiu noite passada.

- Estou aqui agora... Não basta?

Se havia algo que Lucy não gostava de modo algum, é que fosse acordada por uma razão boba. Gostava que a deixassem dormir em paz, especialmente quando só havia tido algumas horas de sono, que não chegavam a nove.

- Deixe de ser preguiçosa e levante logo. – Susanna falou, puxando o travesseiro da prima.

- Porque?? – Lucy perguntou, virando de bruços e tendo sua voz abafada pelo colchão.

- Porque eu quero conversar com você.

Lucy virou-se para cima, completamente desperta. Sorria, a despeito da situação.

- Está sorrindo? – Susanna perguntou, confusa.

- Sim, não é um crime sorrir, é? – Lucy desconversou, e retraiu o sorriso. Queria esconder de Susanna mais um pouquinho as memórias da noite passada, pois tinha vergonha de revelá-las... Sempre fora tão retraída quando o assunto era aquele...

- Bem, arrume-se, e vamos sair para uma caminhada.

Lucy fez um muxoxo de revolta, com preguiça de sair da cama. Geralmente era ela quem ia levantar Susanna da cama, era ela quem sugeria as caminhadas. Agora, porém, sentia-se exausta da noite passada.

- Lucy, que horas você chegou a casa? Está preguiçosa demais.

- É sábado de manhã, Susanna, devem ser...

Lucy se surpreendeu ao ver que já eram dez e meia da manhã. Achava que era muito mais cedo, algo como oito da manhã. Não se dera conta do quanto o sol já estava levantado.

- Dez e meia. – Susanna falou. – Eu dormi o bastante... Vim com William à quase uma hora da manhã... Quando você chegou? – ela repetiu a pergunta.

Geralmente, também, era Lucy quem saía das festas mais cedo, senão levava Susanna junto de si. Lá para meia-noite já estava querendo voltar, em parte por causa do sono, em parte por causa de Isobel. Por sorte das duas garotas, a tia estivera dormindo profundamente e não vira nem uma nem outra chegar.

- Eu cheguei... – Lucy se esforçou para lembrar. – Duas e quarenta, eu acho...

Susanna arregalou os olhos para a prima.

- Duas e... Isso merece uma explicação. Lucy, levante-se logo para a caminhada, senão eu vou tirar a verdade de você a força.

Foi fácil para Susanna saber que a prima escondia alguma coisa dela. Para começar, estava completamente fora de seu padrão usual, e ainda por cima sumira na festa... Suze achou melhor sair para tomar ar antes de exigir qualquer coisa de Lucy. A coitadinha acabara de acordar, a despeito de tudo.

Lucy não retrucou nada, simplesmente se arrumou enquanto a prima seguia para o quarto ao lado.

- Pronto, estou aqui, a seu dispor. – Lucy falou, agora refeita da sonolência, vestida com um vestido branco mais uma vez, e voltando a ser ela mesma. Susanna a levara para lado oposto do Parque das Rosas, seguindo o rio, numa estrada onde as duas sabiam que terminava numa cachoeira. No presente momento, as primas já vinham andando há alguns minutos, e estavam numa parte do percurso em que a estrada era cercada de vegetação. As árvores acima formavam um arco sobre o caminho com seus galhos e folhas. – Pergunte-me o que quiser.

- Onde estava ontem? Sinceramente, eu fiquei preocupada. Só não vá me dizer que se embebedou...

- Suze! – Lucy olhou para ela horrorizada. Susanna sabia que apesar de tudo Lucy ainda conservava uma inocência incomparável, e em hipótese alguma iria beber uma taça de vinho, quanto mais se embebedar. – Eu não fiz isso! – ela continuou.

- Acalme-se, eu sei que não. Estava brincando.

Lucy se acalmou e disse:

- Bem, eu estava dançando com Henry, você viu.

- Sim, eu vi. Até certo ponto. No momento em que fui esperar Christopher e as bebidas... – a voz de Susanna foi morrendo. Ela relembrou tudo da noite passada, desde suas valsas com Christopher até o momento em que ele parecia completamente alterado. O silêncio súbito de Susanna perturbou Lucy, e a fez perguntar preocupada:

- Suze, qual o problema? Houve alguma coisa entre você e Christopher?

- Esse é o problema, Lucy! Eu sei que houve algo, porque ele subitamente ficou diferente... Assim, no meio da dança...

Aos poucos, Susanna explicou a situação a sua prima.

- ...Eu só não sei o porque! – ela concluiu, chateada.

- Susanna, relaxe, você vai se entender com ele. Já pensou que pode nem ser algo com você? Vai que ele avistou alguém que estava evitando, ou sei lá... Só fique calma. Você vão se entender, sei que vão. Não tarda, ele vem com desculpas para o seu lado.

- Ah. – Susanna suspirou – Eu só espero que seja isso mesmo.

As primas caminharam por mais algum tempo, em silêncio. O cenário agora mudava: casas começavam a aparecer, logo na fronteira da cidade de Valliria. Ambas sabiam que a cachoeira ficava fora dos territórios da cidade, mas ainda assim era muito visitada, por não ser tão longe assim. As árvores começavam a rarear, destruindo o arco de folhas que estava sobre as duas.

- Mas você ainda não se explicou. – Susanna falou, exigindo uma resposta dela.

- Oh, verdade... – Lucy falou, convenientemente evitando o olhar de Susanna. – Bem, eu fui para os jardins depois de ter dançado várias vezes.

- Nos jardins? – Susanna se repreendeu por não ter procurado lá. Olhara em todos os cantos menos nos jardins... Até chegara a dar uma olhada da varanda assumindo que Lucy não poderia ir longe, mas não vira sinal da amiga. – E o que estava fazendo lá?

- Bem, eu... – Lucy soava atrapalhada com as palavras, além de ter voltado seu rosto para o chão. No entanto, sorria, o que deixou Susanna preocupada. – Eu estava com... Henry. – ela falou por fim.

- Henry? – Susanna repetiu, sem somar os pontos. - O que vocês estavam fazen... Oh.

Por fim, ela se deu conta do que a prima estava tentando comunicar. Olhou para o rosto de Lucy, todo avermelhado, e caiu na gargalhada logo em seguida.

- Lucy, sua indecente! – Susanna ria aos montes da prima. Sabia que ela estava como se fosse a vergonha em pessoa, mas não podia se segurar. Não ria da situação, nem dos dois, mas sim de tudo o que Lucy fizera para “esconder” o acontecimento. A pureza da prima causava risos em Susanna.

- Eu não sou indecente, Suze! – Lucy, mais uma vez, estava surpresa. – Eu só... Nós só...

- Sim, namoraram nos jardins da mansão de Mary! – Susanna ria, mas diminuíra a intensidade. – Espere só quando ela souber!

- Não ouse contar para Mary, Suze! – Lucy soava mortalmente séria. – Eu... Bem, obviamente estou envergonhada...

- Não há motivo para isso, sua boba.

- Suze, você não está ajudando. – ela retrucou.

- Olhe, não vejo problema em você e Henry. Nem sequer sabia que vocês se gostavam, se quer saber.

- Não estava um pouco óbvio? – Lucy perguntou.

- Não para mim. – Susanna respondeu, e continuou – Mas diga-me, porque não posso contar para Mary Jane?

- Você quer dizer contar para Valliria toda? – Lucy retrucou, e com razão. – Por mais que eu goste de Mary, Susanna, a coitadinha é um pouco fofoqueira, não há como negar... Se eu ao menos mencionar o meu caso com Henry ela vai, na mesma hora sair, espalhando por aí, e pode até chegar aos ouvidos de Isobel.

- Você está certa. – Susanna concordou.

As primas continuaram andando lado a lado na estrada até que Susanna se deu conta do quanto o comentário de Lucy havia sido atípico. Escutara mesmo ela dizendo que não contaria a Isobel, sua própria mãe?

- Espere, então está me dizendo que é segredo absoluto? Por isso vocês foram tão discretos ontem, e você não quis me falar hoje mais cedo?

- É, Suze. – Lucy concordou simplesmente, e parou por aí. Parecia absorta em pensamentos, com os olhos voltados para os próprios pés, refletindo profundamente.

- Vai me explicar porque ou preciso perguntar? Não deveria estar acrescentando que Isobel não é uma das mães mais compreensivas, Lucy.

- Eu sei, Suze, eu sei... – ela levantou a cabeça. – Mas Henry me pediu para manter segredo. Absoluto. Ele não especificou exatamente o porquê, mas falou que tinha algo a ver com minha mãe. Achei muito estranho, mas na hora nem o questionei mais... Estava sendo tão bom para eu dizer “não” para o que quer que fosse. – Lucy riu de si mesma.

Susanna a acompanhou, mas não deixou de pensar no que a prima a dissera. Tudo aquilo soava muito estranho para Henry, quem ela pensava que fosse do tipo que pediria permissão para Isobel antes de tudo, e nunca quem namoraria às escondidas. Confirmando suas suspeitas, Lucy acrescentou:

- Mas Henry falou que vai conversar com minha mãe. Só espero que ele saiba o que está fazendo... Mas com certeza ela vai aceitar, não é mesmo?

Olhando bem para o rosto da prima, Susanna teve certeza de que ainda era a mesma garotinha inocente e doce de antes, que acreditava na melhor parte de todo mundo, não importa quem fosse.

Christopher por fim terminara sua obra. Os raios de sol que tanto custara a pintar agora brilhavam com a tinta recém aplicada na tela, ainda fresca. Mais uma vez, o jovem pintor se superara em sua obra.

No entanto, não sabia o que fazer com os quadros que pintava. Agora que retornara a Valliria, experimentara uma grande dose de inspiração, sem contar em horas e horas livres, e todo um cenário quase novo para explorar. Se levar em conta que a pintura profissional de Christopher havia começado na capital, uma cidade do campo seria algo ideal para acrescentar em suas pinturas a riqueza divergente dos cenários ordinários do qual estava habituado na cidade grande.

Christopher deixou escapar um audível suspiro, embora o gesto não se enquadrasse direito no momento. Ainda se recordava da noite passada. Aquelas dolorosas memórias teimavam em retornar ao seu cérebro nas piores horas, repassando cada fala, completamente decoradas, como se estivessem gravadas a fogo em sua mente. “...Arrogante, orgulhoso... Dizem que não é tão simpático quanto o irmão.” Christopher agitou sua cabeça como se pudesse espantar os pensamentos com um movimento físico.

 Nem ele mesmo sabia ao certo de onde é que tirara inspiração para terminar aquele quadro. Na verdade, atribuíra os propósitos da atividade a necessidade que estava sentindo de desviar sua mente do delicado assunto da noite passada. Não tivera sucesso, para sua infelicidade.

Virando para trás e carregando o quadro consigo, Christopher cobriu a pequena distância entre o seu cavalete e a porta de seu quarto, chegando ao quartinho do lado rapidamente. Era ali que estavam guardadas todas as obras que fizera desde que pusera os pés em Valliria.

Para sua infeliz surpresa, o quadro que estava em destaque no ambiente, por mero acaso, era também sua última obra antes do quadro que carregava em seus braços. Era “A Rosa Solitária”.

Christopher deixou seu mais novo quadro de qualquer jeito no quartinho, apenas para logo depois cobrir o mais rápido possível as pétalas brancas que tanto o lembravam de quem tentava esquecer. Cobriu o quadro com um pano branco, a medida que pensava em levar aquela mesma obra para leiloar o mais rápido possível na capital. Sim, era isto o que faria, estava decidido.

Não longe dali, Susanna se esforçava para achar o caminho correto para a mansão que agora iria trabalhar. Carla dera o endereço correto para ela, e falara horas sobre como o dono estava sendo gentil, dando aquela maravilhosa chance para Susanna. Segunda Ilina, a empregada daquela mansão, Susanna teria muito o que fazer quando chegasse lá. Os jardins eram imensos, e recheados de suas flores favoritas.

É claro, Susanna não podia ignorar que os donos da mansão eram os Giusini. Na realidade, apenas se recordara da noite passada, de quando mencionara aquele tal de Christopher Giusini para o Christopher que conhecia, mas não chegou a fazer a conexão entre essa menção de um Christopher ao motivo da súbita reação negativa do outro.

Susanna imaginava que o anfitrião gentil fosse o irmão, George. Queria evitar encontrar o Giusini mais velho, mesmo porque tinha certeza de que a lembraria de seu Christopher.

Suspirando pela noite passada, mas ainda assim um tanto nervosa pelo momento, Susanna bateu ao portão de ferro da mansão, a espera de alguém para atendê-la. Para seu alívio, foi uma mulher quem foi a seu encontro, quem Susanna achava que fosse Ilina.

- Susanna Hayes? – a empregada perguntou simpática.

- Sim, sou eu.

Abrindo o portão, a empregada a convidou para dentro, se apresentando e confirmando as suspeitas de Susanna.

Ilina Troy era uma simpática moça, alguns anos mais velha que Susanna. De estatura baixa e cabelos longos e cacheados em cachinhos pequenos, era uma mulher bonita.  A empregada trabalhava ali há anos, e conhecia muito bem os empregadores que tinha.

Animadamente conduziu Susanna do portão até a mansão em si, atravessando os longos jardins, agora já sem flores pela falta de cuidado, enquanto ia explicando a situação pela qual estavam passando:

- Carla deve ter te explicado, pequena, que desde que a dona Jane adoeceu, não mais pôde cuidar das coitadinhas das plantas, forçando os irmãos a procurarem uma jardineira... Não que isto seja algo negativo. – ela acrescentou depressa. – Tenho que confessar que Jane já estava velha demais para fazer qualquer coisa.

Susanna ia assentindo a medida que ouvia Ilina, para indicar que prestava atenção. Ao mesmo tempo, estudava tudo ao seu redor com atenção, surpresa. Não imaginava que os jardins fossem tão grandes daquele modo, e ainda suspeitava que a casa tinha terrenos de fundo.

Quando adentraram a casa, Susanna viu um jovem de cabelos castanho claros, que logo assim que a viu foi de encontro a ela.

- Você deve ser a nova jardineira, estou certo? – ele perguntou, estendendo a mão para Susanna. – Prazer em conhecê-la, sou George Giusini.

A nova jardineira se apresentou corretamente a ele, aceitando o aperto de mãos. Susanna não pôde deixar de reparar o quanto os olhos de George eram parecidos com Christopher... Poderia ele ser um Giusini...?

- Bem, Susanna – George chamou-a pelo nome, iniciando uma série de pedidos que gostaria que fossem realizados. Tudo dito como se fosse uma conversa com uma antiga amiga, o que fez Susanna ficar muito mais a vontade do que estava se sentindo.

Ilina deixou os dois e retornou a seus afazeres. Logo que George terminou seu discurso, Susanna se pôs a trabalhar.

Assim como previra, os jardins dos fundos da mansão Giusini eram tão longos quanto os da frente. Poderia se transformar num belo lugar, mas apenas depois dos cuidados devidos. Susanna viu das mais diversas flores, com suas árvores ou arbustos espalhados pelos terrenos. No entanto, a minoria apenas estava florida.

No segundo andar da mansão, Christopher atravessava o corredor apressado. Sabia que tinha que tratar de mandar aqueles seus quadros para a capital o mais cedo possível. Mentia para si mesmo, dizendo que suas razões eram meramente monetárias.

Ao passar por uma larga janela, escancarada, a deixar a luz entrar, Christopher dirigiu seu olhar para fora, após notar algo avermelhado que chamara sua atenção. O alvo de seu olhar fulgurava ao sol, cor de fogo, se destacando entre a maioria verde que compunha a paisagem do jardim. Para a surpresa de Christopher, reconheceu os cachos brilhantes daquela a qual ela conduzira por duas danças na noite passada.

Christopher estacou no corredor, se aproximando da janela. Franziu o cenho diante da cena, duvidoso. Quem sabe aquela não fosse outra ruiva, convidada de George, talvez? Não. Não era possível. Os cabelos ruivos de Susanna eram inconfundíveis.

Somando os pontos, Christopher se deu conta de que Susanna era sua nova jardineira.

Agora que percebera o fato, notava que a moça se agachava próxima a terra, quase sorrindo, mexendo nas plantas. A imagem era tão bela que Christopher teve ânsias de correr para pegar seu pincel, armar seu cavalete, e copiar a cena. No entanto, os nós brancos de seus dedos, que apertava impiedosamente a janela, traduziam a mágoa que ainda preenchia os sentimentos do jovem Giusini. Ela ofendera a sua pessoa, e isso ele não podia admitir.

Largando a janela e deixando a cena para trás, Christopher saiu a procura de seu irmão. Mal notou que os cabelos ruivos, lá embaixo, se mexiam em busca do seu misterioso observador, flagrado no ato.

- George, o que é que ela está fazendo no nosso jardim?

Confuso, o irmão mais novo se virou na cadeira a fim de observar melhor Christopher.

- Ela? Quem?

- Susanna, quem mais?! – Christopher retrucou com raiva infundada.

Ilina, que estivera servindo George o seu café, falou, entendendo o que Christopher queria dizer:

- Susanna Hayes, a jardineira?

Christopher se sentou pesadamente numa cadeira, deixando seu punho cair fechado sobre a mesa.

- Qual o problema, irmão?

- O problema, George, é que eu conheço Susanna... E não guardo boas memórias dela. Na verdade, é algo meio confuso. Eu vou poupar vocês de qualquer explicação...

George parou por alguns segundos, relembrando.

- Então era ela a moça ruiva da festa de Mary?

- Sim.

- Era ela a que você largou esperando sozinha?

- George, não me culpe! – Christopher retrucou indignado. – Ela fez por merecer, e agora está no meu jardim, cuidando de flores como se nada houvesse acontecido! Cuidando de rosas! – ele frisou, e logo em seguida acrescentou. – Despeça-a.

George tomou um gole de seu café, tranquilo. Agradeceu a Ilina, e não se esqueceu de comentar o quanto seu café estava sempre do jeito que ele adorava. Apenas depois, o irmão mais novo se virou para o mais velho, e respondeu:

- Mas é claro que não, Chris. Aquela moça sabe o que faz.

- Você não pode estar falando sério...

- Na verdade, estou. E se meu palpite está certo, você tem assuntos inacabados com ela, importantíssimos para vocês dois. Eu é que não vou me meter no meio. Se quiser despedi-la, que o faça você mesmo.

Christopher não parou imediatamente para refletir as palavras de seu irmão; nem sequer ficou mais algum momento sequer na cozinha. Levantou-se num salto, iniciando uma rápida caminhada raivosa. Quanto mais aumentava o seu ritmo, menos adiantava para sua indignação cessar.

Sem querer, os pensamentos de Christopher eram dirigidos ao problema que o irmão o apresentara. O que não pensara antes na quietude da cozinha, certamente estaria agora pensando na agitação de seus passos.


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Notas finais do capítulo

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