POV Gina.

—Giinaaaaaaaaaa! - Foi o grito estridente que me acordou.

Olhei ainda sonolenta para o relógio: 09h14min. Ainda era quase madrugada e quem mais poderia ser essa hora?

—No quarto. - respondi me sentando na cama - Praticamente ainda dormindo, Hermione. - Falei emburrada enquanto ela escancarava a porta e já se sentava aos pés da minha cama.

—Bom dia, amiga. - Ela disse sorridente.

—Bom dia! - Respondi cruzando os braços. - Francamente, o que Rony tinha na cabeça quando deu a chave da nossa casa pra você, sua louca? O que você está fazendo acordada em um sábado, às nove da manhã?

—Ai credo, eu só queria conversar um pouco. - Me respondeu com os olhos marejados.

Eu mole como sou me compadeci de seu estado e fui até ela, abraçando-a.

—Desculpa, Mi. É que você sabe como eu fico quando estou com sono. - Falei abraçada a ela. - Aquele assunto de novo? - Ela assentiu. - Ai amiga, não fica assim. Vou escovar os dentes e já volto para conversarmos.

Me levantei e corri para o banheiro, cinco minutos depois já retornava ao meu quarto.

—Pronto, cheguei. - Ela estava agora deitada na minha cama. - Já te falei que intimidade estraga as relações, não é? Eu não me lembro de ter dito que você podia deitar ai.

—Para de ser chata, criança. - Me respondeu rindo.

Eu ri também e me sentei ao seu lado.

—Acordou triste de novo? - Ela assentiu baixando os olhos. - Mi, eu entendo que seja difícil e nem quero imaginar quando for minha vez de passar por isso, mas já faz seis meses, tente superar.

—É que não da pra se acostumar com isso, Gi. - Ela disse sem chorar, mas com os olhos marejados. - Eram meus pais naquele carro, e eu nem pude ir vê-los. Também nem sei se queria, prefiro me lembrar deles vivos, alegres.

—E eu acho que você está certa. - acariciei sua mão. -Ainda se sente sozinha, não é?

Por incrível que pareça ela abriu o maior sorriso.

—Não mais! - Disse se sentando. - Quer dizer, não depois de sábado que vem.

—Ai meu Deus, meu irmão vai morar com você? - disse com os olhos arregalados - ele vai me abandonar? Mamãe e papai disseram que matariam ele se me deixasse morando sozinha!

—Calma, furacão. - Falou rindo. - Ron não vai morar comigo. Ainda! - me deu uma piscadinha. - Meu irmão resolveu voltar pra casa, vai vir morar comigo, chega sábado a tarde.

—As vezes eu me esqueço que você tem um irmão, fala tão pouco dele. Mas ele vem morar com você assim do nada? Vocês se dão bem pelo menos?

—Nos damos mais do que bem, eu diria que ele é o homem da minha vida. - Me falou rindo. -É que não temos nos falado muito desde o acidente, ele ainda se sente culpado. Mas resolveu que é hora de parar com o intercâmbio.

—Então nesse caso que bom. - Respondi sorridente também. - Mas ele não era namorado ou noivo, sei lá?

—Era namorado a dois anos de uma japonesa que estudava com ele. Mas como ele quer voltar e ela disse que não viria, acabou. - Disse isso com um gesto de “finalmente”. - Ele disse que escolhe a irmãzinha dele. - Falou revirando os olhos.

—E você nem ficou convencida, imagino, não é? - Falei enquanto jogava um travesseiro nela e ela gargalhava pra mim.

—Eu fiquei muito feliz, isso sim! - Disse sentando-se e cruzando as pernas. - Harry é homem demais pra ela.

—Mas Hermione, você nem a conhecia! - Disse incrédula.

—E nem queria conhecer, muito obrigada! - Eu ri da cara de óbvio que ela fez. - A menina se achava dona dele, toda vez que eu ligava e ela atendia querendo saber quem era, o que eu queria. Harry me disse que ela morria de ciúmes porque ele sempre me tratava com apelidos carinhosos e falava que me amava, francamente, Gi, ele é meu irmão! - Ela respirou um pouco e continuou. - Por isso eu tenho muitos motivos para não gostar dela!

Eu ri, o que mais podia fazer?

—Mi, mudando de assunto. - Me ajeitei melhor e continuei - Dino me ligou ontem. - Ela abriu a boca surpresa - E Ron viu. - Ela tapou a boca com as mãos em expressão de surpresa.

—Me conta, o que aquele cara de pau queria? E qual a reação do Ron?

—Dino queria dizer que se arrependeu, a mesma coisa de sempre. - Fiz um gesto de indiferença com as mãos. - Ron quase surtou, claro! Me falou um monte, que eu não ia voltar com ele, que ele não aprovava isso, e tal.

—E você?

—Eu não falei nada, deixei ele se acalmar, depois sentei do lado dele no sofá, como a boa irmãzinha que sou - nós duas rimos - e falei pra ele que não precisava se preocupar, que eu não sentia nada por ele, e que por mim ele poderia insistir a vida inteira, não ia adiantar. Você sabe como Ron exagera, não sabe?

—Ah Gi, ele é diferente comigo, você sabe. Mas do jeito que ele fala de você não nega, você sempre vai ser criança pra ele!

—Hermione, eu vou fazer 20 anos, ele tem que se tocar que eu cresci amiga!

—Eu sei, Gi, no fundo ele também sabe. Mas tente entender, ele te ama muito, e se sente responsável por você. - Falou como se explicasse a situação a uma criança mimada. - Imagine-se no lugar dele como seria, você saiu da casa dos pais de vocês no interior porque queria morar na cidade grande e ele te aceitou aqui com o maior prazer e todo feliz, acha mesmo que ele não vai se sentir responsável?

—Eu entendo, claro que entendo, e até gosto desse cuidado dele. Só acho que as vezes ele exagera. Nossa diferença de idade é grande também, isso piora as coisas um pouco.

—Não é tão grande, Gi, são seis anos, é só que ele sempre teve uma predileção absurda por você, quando ele veio morar aqui você tinha doze anos e essa foi a imagem que ele trouxe.

—Quantos anos seu irmão é mais velho que você, Mione?

—Ele é mais novo, tem vinte e três.

—Aah, é por isso que você fala. aposto que ele não fica pegando no seu pé.

—Engano seu, ele morreu de ciúmes quando e Ron começamos a namorar.

—Rony nunca me falou essas coisas. - Falei com falsa indignação. - Nem sabia que eles se conheciam direito.

—É que nunca paramos para falar sobre isso, não é? - Assenti. - Ele e Rony trabalhavam juntos, Harry era estagiário na empresa que Ron trabalha, e os dois eram super amigos. Um dia Harry disse que ia trazer um amigo pra almoçar em casa, era seu irmão.

Eu olhava pra ela com aquela cara de boba, quando ela me cortou.

—Não faça essa cara, eu odiei seu irmão na primeira impressão. - Nós duas rimos. - Demorou quase um ano para eu aceitar sair com ele, mas eu já estava apaixonada e não tinha mais volta.

—E seu irmão quando soube?

—Quis matar o Rony, falou que ela um aproveitador de irmãs. - Rimos de novo. - Mas depois se acostumou. Eles continuam muito amigos, mas hoje se falam mais por e-mail, telefone é meio difícil por causa da diferença de horário.

—Ron não costuma falar muito dos amigos dele, ele acha meio gay ficar falando de homem. - Gargalhamos enquanto Hermione concordava comigo. - E quando seu irmão foi pra Nova York?

—Um mês antes de você chegar, faz quase dois anos. - Me disse e depois suspirou. - E então no começo do ano meus pais foram pra lá visitá-lo e sofreram o acidente. Decidimos não trazer os corpos, era tarde demais pra tomar alguma atitude.

Olhei para ela triste, porém não disse nada, eu não sabia o que dizer. Decidi mudar o rumo da história.

—E o que ele foi fazer lá?

—Foi fazer especialização em finanças internacionais, terminou o curso no final do mês passado.

—Uhnn, que chique! - Falei em tom exagerado. - Até imagino: seu irmão, economista, especializado em finanças internacionais. Deve ser aqueles nerds, com uns óculos enormes, que gagueja quando tenta falar de outra coisa que não seja trabalho.

Terminei a frase já gargalhando e Hermione riu junto comigo, antes de me dizer.

—Então se prepare para ser surpreendida, amiga! - Disse de modo enigmático.

Eu ia responder de modo bem sarcástico quando o telefone dela começou a tocar e eu aguardei que ela terminasse a conversa. Cinco minutos depois desligou rindo e se virou pra mim:

—Ron acabou de receber uma mensagem do Harry dizendo que está voltando pra cá. Está eufórico.

—Aaai, já vi que quando esse cara chegar eu vou sobrar. Hermione só vai ter olhos para o irmãozinho e Ron para o amiguinho. - Falei emburrada me jogando de costas na cama e cruzando os braços. - Eu vou ser abandonada!

—Aai, como ela é ciumentinha! - Falou rindo e já se levantando. - Preciso ir ao mercado, vamos comigo? Vou comprar algumas coisas que eu sei que ele gosta.

Rolei os olhos e me levantei.

—Viu o que eu disse? Se eu não for comprar minhas coisas o Ron não faz isso pra mim. - Ela riu. - Me dá cinco minutos, vou me trocar.