Cada Um Escolhe Sua Paixão escrita por Pseudonerd


Capítulo 3
Sentimento destruído




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Já havia chegado a hora de intervalo, e os alunos estavam espalhados pela escola. No refeitório havia dois garotos, um deles, ruivo que usava um band-aid no rosto, e um outro, mais alto de cabelo todo penteado para cima.


– Ei, Momo, dá uma olhada naquela garota. Ela é nova não é? – Eiji cochichava e cutucava Momo, que devorava um sanduíche estupidamente.


– Noffa gue garofa bonifa. – Momo falou espantado e com a boca cheia de comida mastigada.


Miyuki andava perdida, procurava as quadras de tênis, mas a escola era tão grande que tinha medo de se perder. Assim que percebeu os dois garotos olhando para ela, começou a caminhar até eles, que desesperados, se atrapalharam:


– Vocês poderiam me dizer onde ficam as quadras de tênis? – Miyuki perguntou, usando um tom de voz calmo e simpático.


Horio apareceu de súbito e empurrou os dois mais velhos, posicionando-se de pernas abertas na frente da garota, com o peito cheio de ar.


– Eu tenho 2 anos de experiência no tênis! Venha comigo que vou te mostrar onde ficam as quadras.


Uma grande gota aparece na cabeça de Miyuki, esta, começava a franzir as sobrancelhas, assustada. Momo e Eiji acabaram por puxar Horio e novamente ficarem cara a cara com Miyuki:


–Você joga tênis? – Os olhos de ambos brilhavam. Momo cuspiu um pedaço de pão na maçã esquerda da jovem.


– A...Aham... – A voz de Miyuki falhou enquanto limpava a bochecha com um guardanapo que roubara de alguém da mesa ao lado, logo devolveu o pedaço de papel com pão e saliva, e a pessoa roubada a olhou enojada. Miyuki aflita com tanta euforia por parte daqueles alunos estranhos.


Eiji passou o braço por sobre os ombros de Miyuki, que seguia andando com ele, deixando-se levar pela situação.


–Eu te levo para lá! - Eiji sorria e saltitava ao lado de Miyuki, que apresentava uma expressão confusa e cheia de perguntas. Isso não durou muito, visto que Horio e Momo o puxaram e começaram a cochichar num canto, Miyuki aproveitou essa pausa para fugir. Quando os garotos se viraram para informar onde ficavam as quadras, ela já havia sumido:


– Seu idiota! Você assustou ela! – Momo deu um leve soco no braço de Eiji.


– EU?! Você que espantou ela com sua cara feia! – Ele devolveu o soco, mas numa intensidade maior. Logo se formou uma bola de poeira e ambos brigando dentro dela. Horio saiu do local com pequenos passos lentos.


Na adrenalina da fuga, Miyuki acabou num corredor silencioso que não tinha ninguém. Andou por um tempo até conseguir ouvir, ao longe, duas vozes femininas, resolveu correr até elas e, ao chegar à curva, trombou com Echizen e ambos foram ao chão. Uma garota de cabelos longos e castanhos presos por duas tranças ajudou Echizen a se levantar, enquanto outra rapariga, de cabelos castanhos ondulados presos numa maria-chiquinha, ajudou Miyuki.


– Vocês estão bem? – Perguntou a menina de tranças, cheia de preocupação e ternura ao olhar mais para Echizen que para Miyuki.


Era linda a menina, os olhos caídos davam uma expressão doce e meiga, o sorriso acolhedor que tinha a qualidade de trazer calma ao mundo inteiro, era esbelta e um tanto desajeitada, o que lhe dava um certo charme engraçado, quase fofo.

A pergunta não foi respondida, pois a silenciosa rixa de olhares era intensa, tornando o clima do local cheio de pressão e frieza. Já era possível ver as faíscas. Miyuki desviou o olhar e começou a bater em suas roupas.


– Me desculpe, ok? – Ela, na verdade, só pediu perdão por educação, pois o tom de voz já indicava que não era isso que ela realmente queria dizer.


– Ainda tem muito que aprender. – Echizen deu de ombros e saiu andando com as mãos nos bolsos, cheio de si.


Miyuki fez um biquinho, sentia vontade de pular no pescoço do garoto e estapeá-lo até ficar com o rosto igual a de uma bolacha, aliás, essa era a cena que imaginava naquele momento. Respirou fundo e puxou as duas garotas pelas mãos, que pelo visto seguiam o garoto por todo lugar.


– Me ajudem, por favor, eu preciso saber onde ficam as quadras de tênis. – Miyuki clamava por ajuda.


– Ah, você joga tênis! Que legal! – A garota de tranças sorriu feliz e continuou. – Você pode nos esperar no refeitório, eu e Tomoka acompanharemos você.


– Aliás, o que aconteceu agora pouco... Você e Ryoma já se conheciam? – Tomoka perguntou, desconfiada, mas ainda assim simpática.


– Ryoma... ? – Demorou um pouco até Miyuki perceber de quem Tomoka havia se referido. – Ah, não, não conheço. Bom, precisamos ir para a aula não? Espero vocês no refeitório. – E ela saiu correndo.


Miyuki não era assim normalmente, do tipo que evita longas conversas e procura dar respostas práticas e rápidas. Mas nesse momento, passava pelo momento mais difícil da sua vida, mais do que antes, tudo parecia lembrá-la de seu pai. “Esperar no refeitório” era sempre assim, quando saía da escola no Brasil, ia para o restaurante de comida caseira e esperava seu pai para comer. Ela levou a mão direita ao pescoço, acariciando suavemente o pingente de seu colar.



Era um dia relativamente frio, Miyuki caminhava ao lado das novas amigas, conversava e ria, estava feliz que finalmente iria jogar depois de quase 4 dias seguidos. A garota parecia agora, mais atlética com as roupas apropriadas para o treino, caminhava elegantemente, com a raquete azul royal apoiada no ombro esquerdo. Prendeu a atenção da técnica que foi até ela, apresentar-se.


– Miyuki, não é? Avisaram-me que você viria. Bem vinda a equipe, eu serei sua técnica a partir de agora, pode me chamar de Sumire. – Falou sorrindo, exibindo as rugas que o tempo deixou, ainda assim, tinha um rosto bonito e a mostra, com as madeixas castanhas puxadas todas para trás.


“Miyuki”, incrível... Foi a primeira pessoa no Japão que a chamou pelo nome... De todos naquela escola, as únicas pessoas que sabiam sobre a frágil situação de Miyuki eram ela mesma e Sumire.


Recapitulando.

O telefone tocou na sala dos professores, era um homem do Brasil procurando pela técnica Sumire:

“Bom dia. Aqui é... Um amigo da aluna transferida, eu gostaria de conversar com o técnico de tênis da Seishun Gakuen.”

Sumire pega o telefone, sem entender muito o motivo de tudo aquilo.

“Pois não? Técnica Sumire falando.”

O homem não esperou muito para começar a falar, e revelar a história da aluna transferida.

“Miyuki Nishimura Azzi... Peço que chame-a de Miyuki, é assim que ela prefere, não gosta de formalidades. Convivi com ela por longos anos, conheci seus diversos temperamentos e a vi passar por várias situações. E esse momento, acredito ser o mais difícil... Ela se desligar de sua equipe de tênis, sua segunda família, foi terrível... Servíamos para completar o espaço vazio de sua família de sangue, de pais separados. Todos nós éramos muito próximos. O conforto de uma família estável foi um sentimento que ela teve por pouco tempo, até ser destruído com a separação dos pais. Demorou até conseguir reconstruí-lo com a equipe, e, agora, isso foi tirado dela, novamente. Esse vazio agora é ainda maior... Ela perdeu essa segunda família, desligou-se do país em que viveu por anos, e até mesmo, o pai.”

Houve uma pausa, tensão. Silêncio...

“As perdas, dessa vez, foram muitas, e o trauma ficou ainda maior. Quero dizer... Peço que faça tudo, tudo que puder para reviver esse sentimento destruído no coração de Miyuki.Obrigado.”


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