Duo Reality escrita por Warfighter


Capítulo 6
Capítulo 5 - Fuga pelas rochas


Notas iniciais do capítulo

Agora é que realmente a história -narrada- começa. As informações sobre o mundo em que os protagonistas vivem serão reveladas aos poucos, e serão coisas que eles desconheciam ao contrário do que estava acontecendo antes, que era Daniel que narrava. Enfim, aproveitem a leitura.



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Capítulo 5

Fuga pelas rochas


–Acorda- uma voz me dizia – Acorda! - abri os olhos e vi o rosto de Millicent – Vamos! Rápido!

Me levantei, e senti uma enorme dor nas costas. Dormir na pedras realmente não era para mim.

–O que houve? - falei com a voz embriagada.

–Eles estarão aqui- pela primeira vez ouvi bem a voz de Pablo.

–Eles?- indaguei.

–O governo!- berrou Millie.- temos que sair daqui! Rápido!

Puxei-a para o lado:

–Como vocês sabem?- sussurrei.

–Pablo me disse.- respondeu ela no mesmo tom.

–E de onde ele tirou isso?

–Não sei.- falou ela com um suspiro.

–Está confiando nossas vidas a um garoto de doze anos que tem um pressentimento de que o governo estará aqui? - falei com raiva.

Millie me olhou intensamente, e tenho certeza que vi chamas no lugar de suas pupilas.

–Eu sei que você também vê algo nele, não negue. Mas se você quiser ficar aqui e morrer, a escolha é sua.

Ela tinha razão. Eu via algo nele. Talvez o mesmo algo que eu vira nela. Precisava arriscar.

–Vamos. - disse eu. E Millie sorriu de satisfação.

Peguei as minhas coisas rapidamente. Quer dizer, ajudei-a com suas coisas, porque Robert e eu fomos sem nada. Tentamos apagar o máximo possível dos rastros de que estivemos ali. À primeira vista parecia um bom trabalho.

Robert lera meus pensamentos:

–Parece bom – comentou ele.

De repente eu percebi que tudo o que fizemos ali fora em vão. Estávamos lidando com o governo, não com uma vizinha rabugenta. O governo tinha equipamentos de ponta e um monte de objetos que ninguém fazia ideia de sua existência, não podíamos competir com ele.

Mas talvez podíamos contorná-lo.

Apesar de todos esses pensamentos, eu não quis afligir ninguém.

–É, ficou ótimo. Talvez segure eles aí por um tempo- o que não era totalmente mentira, afinal. Apesar de todos os equipamentos eles teriam que ficar por ali um tempinho, enquanto nós fugiríamos. Para onde, não sei.

–O que estão fazendo parados aí? Contemplando? O governo vai fazer isso por nós! Vamos! - gritou Millicent. Eu não ia discutir com sua fúria. Caminhei a seu lado para fora da caverna.

O sol do lado de fora cegou meus olhos. Não haviam árvores ali, o que o deixava ainda mais forte.

Começamos a andar e paramos.

A vista era linda.

As rochas cor de cobre formavam um enorme cânion, no qual um caudaloso rio passava no meio. Eu sei que já descrevi essa cena, mas fora à noite. De manhã, tudo ganhava vida.

–Eles vão chegar a qualquer momento- disseram Pablo e Millie ao mesmo tempo.

–Tarde demais- ouvi Robert dizer.

Olhei para cima.

Uma nave grande, cinza e até um pouco magnífica se você pensar bem. A nave do governo.

Não sabíamos o que fazer. E no final, o menino, Pablo, estava certo mesmo. Mas como?

De repente, a porta de nave se abriu. Então eu a vi.

Ela estava diferente dessa vez. O vestido medieval tinha dado lugar a um traje meio prateado e ela segurava em suas mãos uma metralhadora a laser.

A pior dor de todas” dissera meu pai.

Estremeci. Apesar de tudo isso, seu rosto continuava o mesmo. Uma grande mistura de emoções: serenidade, raiva, desespero. Eu não sabia o que pensar.

Ela apontou para nós.

–Vamos pular- disse eu. Eu a desejava, mas não podia morrer, muito menos levar outras vidas comigo- no três- falei com segurança- um...- comecei – dois...- já podia ouvir o barulho da arma esquentando – TRÊS!- gritei. No mesmo momento ouvi o som abafado da metralhadora. Achei que ela tinha errado. Talvez de propósito.

Pulamos. Mas antes de cair consegui escutar:

–Já os eliminou Sarah? - uma voz masculina lhe perguntou.

–Positivo.- mentiu ela. Será que ela estava nos ajudando? Não sabia. Mas já sabia seu nome: Sarah. Um nome realmente lindo. Mas eu duvidava que eu um dia eu encontrasse algo feio nela. Era estranho, e ao mesmo tempo, surpreendente.

Caímos na água gélida do rio. Ele era fundo e com pouca correnteza, ainda bem. Nadei até a margem e fiquei aguardando os outros.

O primeiro foi Robert. Apesar de molhado, seu cabelo continuava completamente loiro, quase branco. Eu conseguia ver o medo em seus olhos.

–Calma. - disse eu. Mas eu escutei minha própria voz: eu estava tremendo também.

Depois veio Millie. A garota fazia pose de durona, mas quando se sentou na margem colocou o rosto entre as mãos e conseguimos ouvir alguns soluços. Mas ela parou rapidamente, se levantou, e parecia que nada havia acontecido. Eu e Robert concordamos com o olhar que não iríamos falar nada.

Faltava Pablo. Não conseguíamos vê-lo.

–Ele deve nadar mais devagar.- falou Millicent tentando ser otimista.

Esperamos.

Esperamos.

E nada.

–Ali!- gritou Robert horrorizado.

Então eu o vi. Pablo, deitado, e uma enorme e assustadora poça de sangue em volta da sua cabeça. Parece que Sarah não errara o alvo, afinal.

Corremos e eu me sentei ao seu lado.

–Calma! - disse eu a ponto de chorar – minha mãe é cirurgiã e eu sei dar uns pontos! - falei com desespero.

–Não... vai... adiantar...- falou ele devagar- era uma metralhadora a laser. Mas não culpem a Sarah.

–Não culpá-la? Ela... ela te matou!- disse Millie amedrontada e raivosa.

–Tem um chip...- ele estava ficando mais fraco.- tirem ele de mim. - foi culpa minha o governo vir, ele me rastreou pelo chip. Eu estava aqui para fugir deles. Consegui me desvencilhar da escravidão que ele me colocou desde os doze anos. Continuo com este rosto, eu sei. Vocês vão descobrir mais depois, sozinhos. O caso é que o rastreamento ainda funcionava, não previ isso desculpe. O mesmo acontece com Sarah. Mas ela está conseguindo se libertar aos poucos. O chip dela é mais moderno que o meu, mas difícil de driblar. - ele se virou para mim- Daniel, salve-a. Eu sei que é isso que você quer. Salve todos.

Foram suas últimas palavras.





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