Duo Reality escrita por Warfighter


Capítulo 16
Capítulo 15- O salvamento veio de baixo


Notas iniciais do capítulo

REALITYCS! Como vão?
5 RECOMENDAÇÕES! Obrigada ao Mateus, um leitor super antigo!
Já disse que amo vocês? Se um dia publicar essa história - vai sonhando - vou por o nome de TODOS vocês lá!!
Boa leitura!!!
PS: na verdade, o capítulo se chama: "Estranhamente, o salvamento veio de baixo." Mas é muito grande e não me deixaram fazê-lo. Então, finjam que é XD (e, sim. Ele vai ser salvo. Eu não ia matar o meu personagem não é?)



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Capítulo 15

Estranhamente, o salvamento veio de baixo


Aquilo era um pesadelo. Tinha de ser.

Achei que eu tivesse que morrer mesmo. Desde o primeiro dia, quando comprei Duo Reality, na pequena loja de artigos eletrônicos de Seb.

Talvez eu só estivesse adiando o inevitável.

– Essa aqui. - Steven se aproximou de Sarah – é um dos meus melhores investimentos.

Não queria ouvir o que ele tinha para dizer. Mas não haviam opções, a não ser permanecer calado.

– Rápida, bonita e forte. Um cérebro jovem. Tudo o que um verdadeiro combatente precisa. - ele prosseguiu.

Tentei ignorá-lo.

– No início, queríamos apenas pegá-lo e saber a localização de seu pai. - disse – maldito traidor.

– Iriam me matar, desde o início – não resisti a sua provocação.

Steven suspirou.

– Na verdade, não. Mas agora, - ele retirou do bolso o que parecia ser um cartão de memória – eu tenho suas lembranças e posso descobrir sozinho onde ele está.

– E vai descobrir que está morto. - murmurei.

– Contudo, - ele continuou alheio a minha resposta – você vem trazendo uma vasta quantidade de problemas para nós.

O vilão revelou seus planos. Dei uma risadinha, não imaginava que isso acontecesse de verdade.

Era a minha última risadinha.

– É, em parte, você estava certo, Dessman. Nós vamos te matar.

Então, várias pessoas entrando na sala. Rapidamente reconheci seus rostos.

Feather, Jackson e Thomas.

Iria morrer com as pessoas que mais odiava na Terra.

Que lindo.

– Tudo bem, senhor? - a prateada perguntou.

– Quer ajuda? - Jackson indagou quase ao mesmo tempo, sorrindo e destravando sua arma.

O governante se virou para seus lacaios.

– Não, obrigado soldados. Mas podem assistir à cena. Quero que Daniel veja bem: a dona de seu coração, literalmente o destruindo. - falou com satisfação.

Trocadilhos. Eu iria morrer ouvindo um trocadilho.

Se houvesse mesmo uma pós-vida ou algo do gênero, não queria ter essa lembrança. Sarah, a garota dos olhos esmeralda, me exterminando.

Fechei as pálpebras devagar e esperei. Esperei por dor, sofrimento, agonia, um vulto negro vindo me pegar. Esperei por minha mãe, meu pai ou até mesmo Pablo. Qualquer um.

Porém, nada aconteceu.

Subitamente, o chão começou a tremer. Era assim a sensação de morrer?

Haveriam também gritos?

Eu estava no inferno. Só me faltava essa.

Decidi então, abrir os olhos. Estava na Terra, e vivinho.

Com uma perfuradora gigante na minha frente.

Robert e Millie.

Uhull! - a garota gritava, tomada pela emoção. - Nós temos que fazer isso outra vez!

– Ainda temos o caminho de volta. - era Robert, na direção com o maxilar tenso.

Todos na sala estavam meio caídos, como se tivessem saído ébrios de uma festa. Sentiram dor? Surpresa? Preferia não investigar.

– O que seria de você sem nós? - Millicent se dirigiu a mim.

– Um corpo sem vida. - respondi com um sorriso.

– Ei, não estamos aqui para ficar de papinho, não. - Robert apontou com desdém para Steven. - Entra aí.

Caminhei com considerável pressa até a parte de trás da perfuradora e me acomodei em um dos bancos.

Robert ligou a máquina e uma espécie de vidro cobriu todas suas aberturas.

Uma guinada. E quando notei, já estávamos no subterrâneo.

– Eles não vão nos seguir? - perguntei um pouco apreensivo.

Robert deu uma risadinha.

– Nem se quisessem. Tem uma espécie de tubo frontal que capta qualquer partícula...

– Ah, não venha de novo esse papo tecnológico. - Millie cortou. Ela olhou para mim. - ele pega a terra e joga atrás.

– Ou isso. - murmurou Robert.

Relaxei. Como estava cansado. Não me importei para onde estávamos indo, talvez para a casa de Robert, se nada nos impedisse. Iria tomar um bom banho e...

– Sarah! - falei em um tom mais alto do que gostaria.

Robert deu uma freada brusca e seu olhar se afixou em mim.

– Cara, o que você tem com essa garota assassina?

Assassina? Por mais que fosse verdade, ele não poderia chamá-la assim!

– Ei. Ela não é assim porque quer. - repreendi-o com firmeza.

– Robert. Volte lá. - era Millie, suspirando.

Ele bufou.

– Só porque você gosta dela. Se fosse eu já a teria quebrado há muito tempo.

Agradeci-o e me acalmei novamente. Ri comigo mesmo. Ele não poderia quebrar Sarah mesmo este sendo seu sonho e desejo mais profundo.

Um radar holográfico apitou e mostrou um pequeno círculo vermelho.

– Se morrermos lá em cima, culparei você e sua namoradinha. - Robert falou de mau humor, e virou a máquina para cima.

Ignorei-o. Ele era a vigésima pessoa que chamava Sarah de minha namorada. Contudo, não me importei. Não estava me importando com mais nada. Se estivesse vivo, já era lucro.

Emergimos e ele rapidamente pressionou um botão rubro com o punho.

Pude ver o que realmente acontecia. Partículas viajavam pelo ar e todos ali caíram em um estado estranho de embriaguez.

– Como eu não fui afetado por isso? - indaguei ainda meio hipnotizado com o efeito daquela coisa.

– A porta de entrada são os olhos. Pelo o que me lembro, estava com os seus fechados.

Incrivelmente, a sorte também vinha me visitar, ás vezes.

Pulei da perfuradora e percebi que Steven, Feather, Jackson e Thomas já haviam saído dali. Só via corpos que mal se mexiam por conta do gás.

Sarah estava no centro de todas aquelas pessoas. Parecia estar dormindo, mas eu tive certeza de que não era nada assim quando vi a profissão de todos ali.

Programadores.

O sistema dela fora afetado.

Iria salvá-la porque prometi a Pablo. Porque prometi a mim.

Peguei-a facilmente em meus braços. Ela era menor e mais leve do que parecia. A pele clara e livre de imperfeições fazia a garota se parecer com uma criança.

– Daniel! - a voz impaciente de Millie chamava – vai ter tempo de admirá-la no caminho!

Ela tinha razão. Quanto mais tempo ali dentro, mais chances eu tinha de perder Sarah e minha sanidade.

Se ambas já não estivessem acontecendo.

Minha mochila e minha arma estavam perto. Devia ter largado-as quando percebi que iria morrer.

A de Sarah também não estava muito longe.

De alguma forma inexplicável consegui carregar tudo – duas armas de grande porte, uma mochila, e uma garota – até a perfuratriz.

Agora nós podemos ir? - Robert inquiriu. Não sabia o que tinha acontecido para ele estar naquele humor péssimo. Talvez a visão do provável assassino de seu pai havia sido assustadora. Também sentia que ele não gostava nem um pouquinho de Sarah.

Podia apenas ser um dia ruim.

Me dei conta de que não podia descobrir o que se passava na mente de meu amigo, enquanto observava o rosto imóvel de Sarah.

Tentei me agarrar a ideia de que tudo ficaria bem.

O que é meio difícil quando você está literalmente debaixo da terra.

– Para onde estamos indo? - me inclinei e perguntei a Millie.

– Para onde devíamos ter ido, desde o início. - foi sua resposta.

– Ou seja, minha casa. - intrometeu-se Robert.

De relance, dei uma olhada em Sarah.

Ela estava pálida.

– Precisamos ir até Jared. - disse eu.

– O eremita? - interpelou-me Robert.

– Esse. - respondi curto. - Vamos.

– Daniel, a casa dele é no centro, estamos há quilômetros de lá... - a voz de Millie agora estava calma e suave.

– Ele é médico! - explodi – Sarah vai morrer! - Estava com os olhos repletos de lágrimas. Porventura eu não aguentasse perder mais alguém.

A garota percebeu o meu desespero – que estava bem aparente – e pulou para trás em um rápido movimento.

– Millicent. O que pretende fazer? - Robert perguntou com os olhos fixos no painel holográfico.

– Eu iria me tornar médica. - foi só o que ela disse.

Isso era quase óbvio. Como eu não havia percebido antes? Millie era moradora do centro. Eu, como alguém que nasceu no sul, devia me tornar algo relacionado a agropecuária. Todavia, com dez anos decidi: iria ser programador.

Pelo menos eles nos davam escolha, nesse aspecto. Mas avisavam antes de passarmos para o software: se escolher algo que não seja natural da sua divisão, também estará escolhendo correr riscos. Não iriam te executar ou nada assim. Porém, talvez você ficasse sem emprego.

Eu, particularmente, gostava de riscos.

E era por isso que estava na situação na qual me encontrava.

– Robert? Você tem Diripio Cerebrum na sua casa? - Millie perguntou um pouco apreensiva.

Diripio Cerebrum? Conhecia isso. Mas não me lembrava de ter visto nada igual nos estoques de minha mãe.

– O que é isso?

Isso, – Millie se virou para mim. - vai ser o que vai manter sua amiga viva até o chalé de Jared.

A frase me acalmou e me alarmou ao mesmo tempo.

Iríamos até Jared. Mas iríamos porque a situação de Sarah era tão grave que Millie – uma garota que quase havia terminado seus estudos – não conseguiu resolver.

O garoto confirmou, sim, haviam algumas em seu depósito.

Vasculhei minha memória em busca daquelas palavras que eram familiares.

De repente, um estalo. Fora na enfermaria do governo norte, dentro do Duo Reality.

Em cima da bancada, uma caixinha, com um rótulo negro que dizia: Diripio Cerebrum, pílulas para cérebro.

Pílulas para cérebro.

Não fazia ideia do que faziam, e na realidade, não queria saber.

Desde que elas mantivessem Sarah viva...

Como da última vez, paramos bruscamente. E, quando dei por mim, já estávamos na superfície.

Robert não morava em uma casa. Morava em uma mansão.

Saímos apressadamente e alvoroçados. Eu carregava Sarah – provavelmente não deixaria ninguém carregar – Millie levava a mochila, e Robert, as armas.

Entramos na enorme e enfeitada porta.

A sala de estar era deslumbrante. Lustres pendiam do teto, tapetes pareciam ter sido feitos de nuvens. Os sofás eram grandes e luxuosamente vermelhos. Na frente destes, uma lareira, na qual cinzas e lenha carbonizada jaziam, mostrando que há pouco tempo, fogo havia crepitado.

Tempo.

A palavra acendeu minha mente para o nosso verdadeiro propósito ali: Diripio Cerebrum.

Como se lesse pensamentos, Robert disse:

– É no porão.

Atravessamos corredores e cômodos até chegarmos à um simples quarto de software.

Acho que fizemos o caminho errado... - eu disse, tentando esconder o pânico e a afobação.

Robert segurou meu braço com força, e em seguida, puxou um azulejo do chão, revelando uma escada que me parecia infinita.

Meus companheiros desceram, e em seguida, eu o fiz.

Quando comecei a achar que só havia breu, ouvi o barulho de um interruptor. Uma luz se acendeu. E depois dessa, surgiram duas, três e dezenas de fileiras de iluminação; revelando um enorme laboratório, ou estoque ou...

Se eu fosse dar um nome para aquele lugar seria: sala multiuso.

Deve ser maneiro ser filho do governante. - Millie cortou o silêncio.

– Vamos? - era Robert. Em sua mão estava a já conhecida caixinha do rótulo preto.

Millie abriu a caixa e retirou de lá uma seringa e uma pílula vermelha. Puxou um líquido ébano de dentro desta e injetou com cautela e precisão na veia de Sarah.

– Tão rápido? - não resisti perguntar a Robert.

– Meu pai me mostrava a mapa desse lugar desde quando aprendi a falar. Sei achar as coisas de olhos fechados.

Então puxou uma enorme alavanca – o interruptor.

Estávamos novamente no escuro.

Fizemos o caminho de volta em silêncio. Por cada cômodo que passávamos o relógio zombava: tique-taque.

Paramos em um com uma enorme televisão e confortáveis poltronas. Em cima da mesa de centro estava a causa e a solução de nossos problemas.

Duo Reality.

Todos nós colocamos capacetes – menos, evidentemente, Sarah – e demos nossas mãos por precaução.

– Daniel, juro que se você... - Millie começou uma ameaça.

– Ele não vai. - cortou Robert apontando para a garota em meus braços com a cabeça.

Ligamos o programa e tudo sumiu.

Aparecemos na frente da casa de Jared. Retiramos nossos capacetes e eu bati de leve na porta.

Não demorou muito até Jared aparecer com seu olho esverdeado na portinhola.

– Vocês! Não esperava vê-los tão cedo. - seu olhar se dirigiu aos meus braços. - Oh. -ele abriu a porta no mesmo instante.

Entramos no pequeno chalé de madeira e jogamos os capacetes no fogo que estalava na lareira.

Jared nos guiou até um pequeno quarto, que apesar de simples, parecia aconchegante.

Coloquei Sarah em cima da cama macia e finalmente consegui descansar meu membros já dormentes. Nos sentamos no carpete cor de pistache e esperamos.

Jared a analisou com sábios olhares e toques, típicos dos médicos do centro. Ele o fez em alguns minutos, que pareceram horas, dias.

Foi muito inteligente dar a ela Diripio Cerebrum. - disse por fim

– Obrigada. - Millie sorriu.

O homem sorriu de volta com gentileza, porém, rapidamente voltou a expressão séria.

– Seus sinais vitais estão baixíssimos. - disse. - Teremos que fazer a cirurgia agora.

– Cirurgia? Que cirurgia? - perguntei alarmado.

– A de retirada do chip, o que mais seria? Eles a ativaram para autodestruição. - Jared explicou.

– Você já fez essa cirurgia? - eu estava desumanamente afetado.

– Mas é claro. - respondeu-me com surpreendente calma enquanto buscava instrumentos em uma gaveta de pinho.

– Em quem? - era Robert. Talvez ele não acreditasse que alguém no meio da floresta pudesse fazer uma cirurgia tão complicada. Uma parte de mim também queria saber.

Dessa vez, Jared se virou e nos encarou.

– Em mim mesmo.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? :* Até os reviews!