“Eu estou bem.”

Era agora o meu mantra, as palavras que eu mais dizia todos os dias para quem quisesse saber, era a mais dolorosa mentira que eu contava a todos e principalmente a mim mesma.

Eu não estava bem.

Essa era a verdade e eu sabia disso. Mas entre o saber e o crer acreditar vai milhas de distância e eu era orgulhosa, não queria admitir que alguém a quem eu me entreguei totalmente, foi capaz de me magoar, e de me tornar alguém que eu não reconhecia.

Havia passado cinco meses desde que ele tinha ido embora, e eu nunca mais ouvira falar dele. Por vezes eu ansiava por uma mensagem, talvez uma chamada, ouvir a sua voz quente e rouca perto de mim mais uma vez.

Mas o que eu mais queria era uma explicação, um porquê dele ter feito o que fez, ter colocado no lixo todo o que passamos. Eu nunca percebi.

Talvez a carreira dele fosse o mais importante para ele, talvez ele nunca tivesse tido o suficiente de mim, talvez eu não fosse o suficiente…Talvez eu nunca seria o suficiente. Afinal quem me diria o contrário, quem me asseguraria que sim, eu era o suficiente?! Quem me faria acreditar nisso, quando só ele, o podia fazer?!

Eu via os dias correr em piloto automático. Vi a vida passar por mim e não me levar com ela. Eu sentia-me parada no tempo, presa a sentimentos só meus, era impossível escapar daquela sensação de abismo debaixo de mim, uma sensação que me perseguia. Eu estava simplesmente presa a um passado que eu sabia que não voltaria, presa a algo que me escapou e que nunca me tinha pertencido verdadeiramente.

Apesar de nunca ter estado só durante todo este tempo eu sentia-me mais solitária de que nunca.

Vi, contente, os meus amigos avançarem na vida, Monique casou finalmente com Thomas que parecia viver num sonho perfeito e infinito, Sophie parecia mais feliz que nunca e até mesmo Dick tinha alguém importante na sua vida.

Eu sentia-me de parte, excluída.

–Vais ficar bem.

Foi Monique que o prometeu e penso que nunca tinha ficado tão zangada com ela por me ter mentido como naquele momento. Eu sabia que enquanto eu não encerrasse aquele capítulo com ele nada ficaria bem, nada iria curar a dor que me mantinha acordada durante a madrugada, amarrada a memórias dolorosas que pareciam tão distantes.

E por esse motivo no sexto mês eu estava num avião para Paris, depois de tanto pensar no assunto eu tinha a certeza de que era aquilo que eu devia fazer para poder continuar eu mesma, quando tudo tivesse acabado.

Eu iria encontra-lo, saber o porquê de ter acabado daquela forma e estaria de volta a casa, esse era o plano. E eu estava agarrada a ele com unhas e dentes.

Mas quando o vi novamente nunca pensei que fosse doer tanto. Foi como se não houvesse seis meses entre nós. Era como começar tudo de novo.

Foi como um passo atrás depois de tanto tempo.

Vi-o ao longe e foi o bastante para me fazer voltar atrás, pegar a minha força de vontade e ir embora, virar as costas ao que me trouxe lá e apenas não me importar mais. Desliguei simplesmente uma parte de mim.

E foi como renascer para o mundo, sentir-me leve, como se algo me tivesse sido devolvido.

Foi também, quando soube que eu podia continuar em frente, eu não precisava de encerrar aquela parte da minha vida, muito menos esquecê-la, eu só tinha que torná-la parte de mim.

Um sorriso viajava no meu rosto enquanto voltava para casa. Eu sentia-me bem comigo mesma, sentia-me segura e por mais incrível que pareça sentia-me agradecida por ele me ter deixado ir, e assim eu pude descobrir-me novamente.

Abracei Monique, agradeci a Thomas a paciência, pedi desculpa a Dick, e tornei-me mais amiga dos meus amigos.

Abracei o cheiro da minha cidade, da minha casa, o meu cobertor de cama e abracei o meu pai. Comprei um gato, comprei uma flor, fiz-me mulher por mim, sozinha e comigo. E voltei a sorrir, sorria por todo e por nada. E encontrei em outras pessoas coisas para levar comigo para sempre. Ele deixou-me, mas não sozinha. Deixou-me lembranças, sorrisos e choros, conquistas, perdas e acima de todo deixou-me a mim mesma. Deixou-me alguém que eu pude fazer crescer e tornar uma melhor pessoa.