Got My Heart In Your Hands escrita por Julia


Capítulo 81
Pesadelo




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Brisa refrescante que atingira os cabelos. Água do mar batendo nos pés. O sol refletindo nos óculos. Um céu com poucas nuvens. Dia perfeito para uma praia. Eles foram até o mar para tomar um banho e direcionarem novamente para o hotel, pois tinham show para ir. Vinte minutos se passaram, e eles saíram do mar, contentes por estarem vivendo uma nova vida.

POV: David

Confesso que estou em uma nova fase. Parece estranho, mas tenho mudado. Não que alguém tenha me imposta essa condição, ou me feito esse pedido. Não... Longe disso! Mas é claro que algumas pessoas com suas atitudes demonstram que a mudança é necessária para nosso crescimento. E só depende da nossa boa vontade, da credibilidade de saber que podemos gerar bons resultados e melhorar como ser humano, sem alterar nossa essência. Abrindo aqui um parêntese. Alguns amigos conseguem nos fazer entender isso, pois querem o nosso bem, e gostariam que déssemos tudo que dispomos, o que de bonito vive dentro da gente, e nem sempre doamos, já que bem poucos conseguem arrancar de nós essa porção de alegria, de paz, de afetos inigualáveis que podemos ofertar. Fecha parêntese. A mudança não é ruim, embora o processo muitas das vezes seja doloroso, cansativo, e sem vantagens aparentes. E aí surge aquela velha pergunta: mudar por quê? Quando a pergunta deveria ser: pra quê?! Para que esse processo cheio de apertos e ajustes vá nos quebrando, moldando, modificando, e amaciando a dureza dos dias pesados que ficamos saturados com as asperezas da vida e precisamos mesmo de um tratamento onde a lixa do despertar esteja refinando a sensibilidade e a trazendo de volta à flor da pele, fazendo com que sintamos de novo o quanto nosso coração é amoroso. E para que esse amor seja visto em nós, precisamos usar o gerúndio de nossos sentimentos, 'estar amando' sempre, mesmo quando é preciso re-amar, re-viver, re-começar! Toda mudança é válida se for pra melhor, se nos dispomos a cooperar. E eu estou disposto a mudar. Mudar por mim, mudar pelo Pierre, mudar por meus amigos... Mudar pelas pessoas que se importam comigo, e até mesmo o Joel. Quis me prejudicar no início, mas agora, não vejo mais a minha vida sem ele. Depois que ele fez amizade conosco, o meu carinho por ele aumentou, e eu pude ver que as pessoas merecem uma segunda chance. Quem diria que ele um dia seria o meu melhor amigo, como é hoje? Ele me escuta, ele me entende, me dá conselhos, assim como todos os meus outros amigos. Não sei o que seria de mim sem eles, e sem o meu cunhado. E agora a Marie Lee, que fará parte da família. Tudo estava perfeito.

Voltamos para o hotel e nos arrumamos para um show do Green Day. Eu estava empolgado demais, e tinha muito que agradecer aos caras por terem dado uma chance ao Simple Plan, que graças a Deus, está fazendo sucesso mundialmente. As músicas estão sendo tocadas nas rádios, e os clipes executados em todos os canais de música. Isso realmente me enche de orgulho. Saímos do hotel e fomos até a casa de show, que não ficava tão longe. Fomos para a fila dos VIPS, pois éramos uma banda, e então conseguimos entrar antes e ficar na grade. Todos gritavam o nome da banda, e eu comecei a lembrar do nosso show... O público ficou eufórico, alguns gritavam o meu nome, outros gritavam Pierre, outros Seb, outros Jeff e outros Chuck. Foi uma energia e tanto, principalmente no Brasil. Os fãs têm mais energia.

– Boa noite, Havaí. – Disse Billie Joe entrando no palco depois de trinta minutos ouvindo músicas diversas. Simplesmente dei um grito junto com ele, e senti meu corpo arrepiar. Pierre, do meu lado, olhou para mim e sorriu de maneira fofa e empolgada. Ele sabia o quanto eu era fã do Green Day. Lembro-me de quando ele encontrou o meu bótton autografado perto da cabana onde eu havia sido seqüestrado. Foram as piores horas da minha vida, mas naquele momento, eu me senti realizado. Pierre ainda não era meu, e quando ele me apoiou em seu ombro, eu nem tive vontade de sair de lá. Sei que eu estava desidratado e não tinha forças para ficar em pé, mas confesso que me aproveitei do momento... Só um pouquinho. Bem pouquinho. Não dá pra acreditar? Ok, vocês venceram... Eu me aproveitei muito do momento. Mas quando o amor reina em nossos corações, é impossível não se aproveitar quando a pessoa que você mais desejou na sua vida inteira está ao seu lado.

– Está se divertindo, amor? – Pierre me olhou com aquele olhar doce e aquela voz grossa, o que me fez sorrir de forma boba. Como ele pode ser tão lindo e me fazer tão feliz?

– Estou sim, amor. – Disse perto do ouvido dele, em um sussurro, já que o som da bateria e da guitarra estava alto.

Eles começaram o show tocando American Idiot, a primeira música que eu escutei deles, mas não era a minha preferida. A minha preferida era...

– Boulevard Of Broken Dreams! – Pierre disse como se estivesse adivinhando o meu pensamento. Eu me assustei um pouco, pensei que estivesse falando em voz alta, mas quando olhei para o palco, assim que American Idiot havia se acabado, eles começaram a tocar Boulevard Of Broken Dreams. Essa música tinha um significado muito forte para mim, pois já fui muito maltratado, então eu me sentia em uma avenida dos sonhos quebrados literalmente. Mas agora são sonhos que eu não gostaria de acordar nunca. Aliás, agora se transformou em realidade.

I walk a lonely road
The only one that I have ever known
Don't know where it goes
But it's only me and I walk alone

I walk this empty street
On the boulevard of broken dreams
Where the city sleeps
And I'm the only one and I walk alone
I walk alone I walk alone
I walk alone I walk a....

{Chorus}
My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart is the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
Till then I walk alone
ah - ah - ah - ah - ah - ah -aaah - ah - ah -ah -ah


I'm walking down the line
That divides me somewhere in my mind
On the border line of the edge
And where I walk alone

Read between the lines of what's
Fucked up and everything’s alright
Check my vital signs to know I'm still alive
And I walk alone
I walk alone I walk alone
I walk alone I walk a...

{Chorus}
My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart is the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
Till then I walk alone
ah - ah - ah - ah - ah - ah -aaah - ah - ah -ah -ah

I walk alone, I walk a...

I walk this empty street
On the Boulevard of broken dreams
When the city sleeps
And I'm the only one and I walk a...

{Chorus}
My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart is the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
Till then I walk alone

– Que música perfeita. – Disse olhando para Pierre assim que a música acabou.

– Só está faltando irmos a um show do Good Charlotte, Paramore e da Avril.

– Nós iremos, com certeza. Assim que confirmarem um show.

– Estamos pensando em fazer uma turnê. E vocês vão cantar conosco. – Disse Joel em um tom empolgado.

– Nós? – Pierre e toda a nossa banda falaram em coro.

– Claro. Lembra da turnê que eu fiz com vocês? Será uma forma de agradecer por tudo o que fizeram e fazem por mim.

– Joel, que isso, cara... Você é nosso amigo. – Eu o abracei.

– Mas eu não costumava ser, lembra?

– Deixe o passado no passado, o que importa é que você é nosso melhor amigo agora. – Tentei acalmá-lo.

– Está bem, muito obrigado.

Sorri e logo saí da casa de show, depois de duas horas ouvindo o Green Day tocando seus maiores sucessos. Voltamos para o hotel e eu preparei a minha cama... Aliás, não só minha, mas também do Pierre. Deitei sobre a mesma e fechei os meus olhos, pronto para dormir.

– O que está fazendo aqui? – Perguntei assustado logo que abri os olhos e me deparei com Nemours.

– Sentiu a minha falta?

– Por que você continua me perturbando?

– Ah, porque eu gosto...

– Você já era, Nemours. Lachelle fez você desaparecer. Suma daqui!

– Então eu vou matar o seu namoradinho...

– É o que?

Antes que eu pudesse terminar de falar, ele estava com um punhal na mão, ameaçando acertar o coração de Pierre.

– Não, não, não! – Disse levantando da cama depressa e suando frio.

– O que foi, David? – Perguntou Pierre afagando meu cabelo.

– Nemours... Não mate o Pierre. Eu o amo. Faça qualquer coisa comigo, mas por favor, não o machuque.

– David... – Pierre insistia, preocupado.

– Ele está atrás de você.

Pierre olhou para trás, mas não havia nada.

– Amor, não tem ninguém aqui. Só nós dois.

– Ele está com um punhal.

– David, do que está falando? Nemours desapareceu, ele não está mais entre nós.

– Ele vai te matar. Ele quer te matar.

Nesse momento Pierre me olhou com piedade, e começou a conversar sobre tratamentos terapêuticos, pois segundo ele, minha mente estava sendo perturbada devido as minhas visões estranhas. Escutei uma conversa ao longe, logo que Pierre saiu do quarto.

“- Precisamos arrumar um psicólogo para David.

– Mas pra quê?

– Ele está tendo pesadelos, e vendo Nemours por toda parte.

– Já tentou conversar com ele e acalmá-lo?

– Sim, mas ele pensa que Nemours vai me matar... Ele está estranho, não para de repetir isso.

– Lamentável... Eu vou telefonar para um psicólogo.

– Você acha que isso é caso de internação?

– Não, vamos por partes... Primeiro vamos falar com o psicólogo, ele vai conversar com David. Se isso continuar, infelizmente ele terá que ser internado até as coisas voltarem ao normal.

– Eu estou muito aflito.

– Imagino, Pierre... Mas se piorar, internação será a melhor solução.”

A conversa parecia ser entre Pierre e Avril, pois eu pude escutar a voz doce dela. Não acreditei no que ouvi e fui até o corredor, gritando.

– Eu não estou louco!

– David, calma... Você precisa de um tratamento. Esses pesadelos e visões estão se tornando freqüentes, você precisa conversar com um psicólogo. Sua mente está conturbada pelas trevas.

– Avril, eu não estou louco... Ele está atrás de você.

Avril também olhou para trás, mas não viu nada também.

– David, não tem ninguém. Está tudo bem.

– Tem sim! Por que vocês simplesmente não acreditam em mim? Será que é tão complicado? – Eu disse chorando.

– David, acalme-se. – Laurence também afagou meu cabelo.

– Eu não vou ficar calmo! Não me peçam para ficar calmo! – Alterei o meu tom de voz, deixando-o mais alto.

– Nós vamos chamar um psicólogo pra você, está bem? – Disse Hayley.

– Eu não quero psicólogo! Eu não preciso disso! Ele está por perto, acreditem. – Continuei alterando o tom de voz.

Pierre e Avril se olharam, balançando a cabeça negativamente e olharam para mim, piedosamente. Eu não estava louco! Não estava! Por que é tão difícil acreditar em mim? Claro, eu sou estranho, esquizofrênico, minha mente está conturbada... Há mais adjetivos para descrever-me? Eu já perdi as contas de quantas vezes eu fechei meus olhos, esperando que o sono viesse, só pra que eu pudesse esquecer um pouco, mas tudo que aconteceu foi sonhar com ele. E isso, que antes era horrível, acabou se tornando insuportável, porque a cada sonho que eu tenho com ele, eu acordo e percebo que eles um dia se tornarão realidade. Eu estou ficando com medo, minhas mãos estão frias como cadáver... Acho que nem tenho mais lágrimas nos olhos, mas sim sangue. Eu só queria que esse pesadelo acabasse. Estou deitado novamente em minha cama, tentando esquecer-se desse tormento. De repente tudo faz silêncio. Olhei para o relógio e já eram 3 da manhã. Dormi de novo e tive mais pesadelos. Só poderia ser castigo. Foram dois pesadelos na mesma noite, e eu já estava assustado.

Faço parte dos 2 a 6% da população mundial que tem pesadelos recorrentes, mais de uma vez por semana (no meu caso, quase todos os dias). Mas sou apenas o exemplo extremo de algo que todo mundo tem: sonhos ruins - que têm lógica, importância e significado próprios dentro do delirante mundo dos sonhos. Ter muitos pesadelos, na verdade, não é coisa extraordinária.

Um dos maiores estudos já feitos sobre conteúdo dos sonhos, que analisou 500 homens e 500 mulheres, mostrou que é muito mais comum sentir medo, ansiedade e apreensão durante a noite do que alegria ou felicidade. E que, em um terço dos sonhos, a pessoa passa por algum grande "infortúnio": doenças, ameaças, morte. Elementos sobrenaturais são comuns. Durante a infância, quase metade das crianças tem pesadelos todas as semanas. Na vida adulta, as mulheres sofrem mais com eles do que os homens, e fortes emoções são mais freqüentes nos sonhos delas - 57% contra 41%. (Isso faz sentido porque, ao longo dos milênios, mulheres foram vítimas mais freqüentes de ataques e violência.) Pesadelos fazem parte da vida noturna de qualquer pessoa, o que indica que talvez tenham alguma função evolutiva, e sejam pouco mais do que apenas um capricho do cérebro dormindo. Procurei tudo no Google, antes que alguém ache que David Phillippe Desrosiers é um nerd assumido. Mas, se existe um fator que os sonhos ruins realmente prevêem, é a personalidade. Quem tem pesadelos plausíveis, como não conseguir terminar uma prova a tempo, por exemplo, costuma ter grande capacidade de concentração e habilidade para separar o pensamento racional do emocional. Já as pessoas no outro oposto de personalidade têm dificuldade em distanciar a razão da emoção, são mais vulneráveis a situações de estresse, e passam boa parte da vida (acordada) viajando em pensamentos distantes. Mas nem tudo é ruim. "Quem passa a vida tendo pesadelos tem tendências artísticas e criativas que não são encontradas nos outros grupos”.

Na teoria, não faz muita diferença se os seus pesadelos são banais ou esdrúxulos. O que importa é a sensação desagradável que eles causam. Mas, no limite, se os pesadelos forem recorrentes ou muito extremos, eles podem ter conseqüências negativas para a vida acordada (poucas coisas são piores do que sonhar que está sendo enterrado vivo, acredite). Pesadelos já foram associados à depressão, ansiedade crônica, esquizofrenia e até tendências suicidas. Por isso, não faltam métodos para ajudar a diminuir os sonhos ruins em casos crônicos. Uma das maneiras mais polêmicas - e que tem cara de ficção científica - é ensinar à pessoa que sofre de pesadelos recorrentes a ter sonhos lúcidos. Em outras palavras, é fazer com que o sonhador reconheça que está sonhando, entenda que todas aquelas ameaças não passam de criações da mente e tente modificar o enredo do sonho racionalmente.

O problema do sonho lúcido é comprovar sua existência. E o que isso significa para quem sofre de pesadelos constantes? Bem, que daria para afastar os perigos imaginários enquanto o pesadelo está acontecendo.

Ok, eu confesso que pesquisei no Google algumas coisas sobre pesadelo, pois isso estava martelando a minha cabeça. Eu não quero ter que ser internado por causa disso. Eu não quero mais ter pesadelos. Eu quero viver em paz comigo mesmo, sem prejudicar os outros que estão por perto. Eu quero poder dormir tranquilamente. O que eu faço?

Somewhere I Belong - Linkin Park


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Notas finais do capítulo

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