Alvo Severo PVD

– Do quê você ta falando? – tentei enrolar.

– Não se faça de trasgo! Por que escolheu a Grifinória!? – obviamente, não consegui.

Ele estava ficando bem nervoso. Tinha que fugir daquela situação rapidamente:

– Eu? Escolher? – nem fiquei vermelho – Não, não, foi o Chapéu que decidiu! Eu até queria ir para a Sonserina e tudo mais...

– Nós dois sabemos que você escolheu! O Chapéu não pode selecionar um descendente de Peverell e...

– Como é que é?

Meu irmão paralisou. “Como assim não pode escolher? Quer dizer que ele optou pela Sonserina então?”:

– Nada! Não mude de assunto! – e apontou sua varinha para mim. O medo foi me tomando como a velocidade de um centauro – Escute aqui, se você...

– Escute você! Deixe-o em paz!

Era Teddy. Acompanhava Victoire Weasley, sua namorada. Ambos eram da Grifinória e tinham nas vestes um pingente com um reluzente “M” ornamentado:

– Não se meta cabelo de céu! – referindo à cor turquesa do penteado de Teddy – Só porque é monitor acha que pode se intrometer?

– E só porque tem treze aninhos acha que pode ameaçar seu irmão de onze?

Eu e Vic abafamos o riso. A expressão de desgosto do meu irmão nos acompanhou até ele virar o corredor frustrado:

– Brigado primo! – virei para agradecer.

Mas os dois estavam se beijando. Saí de fininho para não atrapalhar. Toda a vez que eu via um casal assim eu me lembrava das histórias sobre meu tio Rony na infância. Ele uma vez achou que meu tio Gui estava ‘preso’ pela boca com a namorada dele. Dizia que foi travessura de meus tios Jorge e Fred. Como eu queria ter conhecido aqueles dois no tempo de juventude. E... pelas barbas de Merlin! Eu estou preso do lado de fora!

Notei que tinha ficado para trás quando o primeiro ano entrou com os monitores. “Que vergonha de voltar e falar com o Teddy. Ah, vou tentar pedir a senha para aquele quadro ali” - a pintura de uma moça gorda:

– Desculpe, a senhora sabe para onde fica o Salão da Grifinória?

– Ora, aqui mesmo pequenino!

– Que bom! E você podia me dizer a senha para eu entrar?

– É claro... – um sorriso se abriu no meu rosto -... que não.

E com a delicadeza de um elfo doméstico, a moça virou de costas e voltou a seus afazeres. “E agora? Como vou fazer para entrar? Vamos Alvo, diz alguma coisa aleatória”:

– Bomba de bosta!

Não fui eu quem tinha dito. Olhei a minha volta e avistei um rosto familiar, coberto de bolo:

– Lysander! – e o abracei – Como você sabe a senha?

– Ora, porque o monitor me disse lá no Salão. Fiquei um pouco mais para apreciar minha primeira de muitas sobremesas em Hogwarts – dizia com o olhar cintilante.

– Então, você está...

– Na Grifinória é claro!

Não poderia ter recebido notícia melhor. Embora o Malfoy tenha ido para a Sonserina, eu ainda tinha os gêmeos e a Rosa para começar as aventuras.

A Sala Comunal fora esvaziada. A maioria já havia subido para seus dormitórios. Nas poltronas próximas ao fogo, residiam Rosa e Lorcan, olhando atentamente para nós:

– Alvo, onde você se meteu? – perguntou uma Rosa preocupada, ao mesmo tempo em que um Lorcan preocupado indagava – Lysander, onde você se meteu?

E começamos a contar o que tinha acontecido naquela noite. Eu disse sobre o Chapéu e também de James Sirius tirar satisfação comigo; e Lysander contou que ele se escondera atrás de uma pilha de bolo de chocolate com pedacinhos de abóbora.

 

A semana que se seguiu foi sem aulas. Perdemo-nos muitas vezes na escola e quase fomos à Ala Oeste – fugimos por pouco do inspetor Goyle (um ex-comensal que perdeu a riqueza e virou empregado porque nem saber ler, sabia). Mas tivemos tempo de visitar o Corujal e o amigo de meu pai, Hagrid. Só faltou o meu preferido, o Campo de Quadribol:

– Hoje o visitamos de qualquer jeito! – disse no café da manhã de domingo.

Lorcan e Rosa concordaram com um aceno. Lysander estava ocupado demais devorando seu diabinho de canela:

– A primeira aula de amanhã é vôo. – Rosa apontou no horário.

– Estou um pouco acuado. E se eu estourar a vassoura no ar? – deprimiu-se Lorcan.

– É bem simples! Você vai ver! – tentei animá-lo.

– E a outra aula é de...

Minha prima baixou a cabeça. Li o escrito – a aula era de Encantamentos. Rosa nunca havia conseguido fazer um feitiço até então. Sempre se sentiu encabulada com isso. Eu tentava deixá-la feliz dizendo que a varinha só podia escolher uma verdadeira bruxa como sua dona:

– Ei, não fique assim, você vai se sair bem! – e ela encostou sua cabeça no meu ombro.

– Hum-hm. Tomara não é, afinal, eu sou da família de Peverell...

PUMBA. Levantei tão depressa que empurrei minha prima e meu copo de leite para o chão. O estardalhaço só não foi maior devido ao nosso atraso para o café – nos perdemos de novo. Por isso o Salão estava um pouco vazio:

– Desculpa Rosa. – disse, ajudando – a se levantar – Vocês dois, esqueci de contar uma coisa ontem à noite.

– O quê? – perguntou Lorcan.

– Sirius me disse uma coisa esquisita. Contou que o Chapéu Seletor não pode mandar nenhum Peverell para uma das casas. Só o aluno deve escolher.

– Que, estranho... – bufou Rosa.

– Peverell era ancestral de Harry Potter não é? – concordei de imediato para Lorcan.

– Vocês acham... – ficamos mais próximos – que devemos investigar?

– Claro! – afirmou Rosa e Lorcan – Lysander não conseguia falar por estar cheio de torrada na boca.

– Mas como? – perguntei.

– Podemos começar pela Ala Oeste! – tentou Lorcan. Estava maluco para ir burlar as regras.

– Isso pode ser perigoso. – retrucou Rosa. Concordei. Lysander ainda querendo se pronunciar.

– Que tal a Seção Restrita da Biblioteca? – arrisquei. Mas nem mesmo sabíamos ‘o que’ procurar.

– AH! – berrou Lysander, que finalmente engolira o melado – Porque não perguntamos para algum quadro da Sala Comunal?

Sua idéia foi a mais interessante de todas. Tão interessante que até Scorpius apareceu.