Um Mau Acordar escrita por BouvierDesrosiers
Na manhã seguinte, estava um dia ensolarado. Os raios entravam pelas frinchas das cortinas, iluminando totalmente o quarto. Magda abriu os olhos e pestanejou, focando bem o ambiente à volta. Sentou-se na cama e, sorrindo, observou David a dormir. Ele dormia completamente torto e de boca aberta, sentado na cadeira.
- Vai ficar cheio de dores e rabugento. – Disse baixinho para si e bufou. Virou-se e tocou carinhosamente na perna do marido, que deu um salto.
- Que se passa? – Perguntou ele, endireitando-se na cadeira.
- Nada. Desculpa ter-te acordado… Mas estavas a dormir todo torto e tu já sabes como ficas quando dormes assim.
- Ai as minhas costas… – Queixou-se, levantando-se e endireitando as costas. – Tens razão. Eu vou buscar-te o pequeno-almoço.
- Eu posso ir tomá-lo lá. – Refilou a rapariga, começando a afastar os lençóis.
- Nem penses! – Resmungou David, impedindo-a de sair da cama e voltando a arranjar os lençóis. – Tu não sais daqui até estares completamente recuperada!
- Mas…
- Sem mas! – Interrompeu David, beijando-a e saindo do quarto.
Magda suspirou. Já sabia como David era no que tocava à saúde dela. Demasiado preocupado. Encostou-se na cama e respirou fundo, calmamente. Lembrou-se do telemóvel e pegou na carteira.
No edifício da Judiciária, Chuck falava com Jeff e Sebastien sobre o caso em mãos. Pressionava-os para encontrar o culpado, pois tinham uma reputação a manter. Eram considerados a melhor brigada e Chuck queria elevar mais a reputação. Era perfeccionista. Ainda não tinham suspeito e isso era mau. Sebastien revirava os olhos, perante as exigências de Chuck e, quando já encontrava apenas com Jeff, imitava Chuck, em tom de gozo. Jeff ria-se. Na verdade, também não gostava muito do exagero de Chuck, mas não dizia nada, apenas acarretava ordens. Entram no carro e seguiram para a clínica de David.
David foi ao seu consultório e lá encontrava-se Cândida, que se virou atrapalhadamente para o médico e se encostou ao pequeno armário, em cima do móvel.
- Como é que ela está? – Perguntou, Cândida, aproximando-se do médico. – Quando lá fui ela estava a dormir.
- Está estável. Ela vai recuperar bem. – Informou David, sorrindo.
- Claro que sim, David. – Concordou Cândida, colocando as suas mãos suavemente no rosto do médico.
- Eu nem quero pensar no que teria acontecido… – Suspirou David, sobre o olhar sério da cunhada. – Eu não quero nem posso pensar que podia ter ficado sem ela! Eu amo-a tanto que…
- Mas não aconteceu nada. – Disse Cândida, afastando-se rudemente do médico.
- Felizmente. Bem, eu vou levar-lhe o pequeno-almoço! Até já.
- Até já… – Respondeu Cândida num tom quase inaudível.
Magda vasculhava a carteira, à procura do telemóvel. Queria ligar a Cândida. Sabia que a irmã tinha estado lá e precisava do apoio dela. Cândida apenas era mais velha do que ela um ano e uns meses e foi ela quem sempre a ajudou e, acima de tudo, a ensinou a lidar com a doença que tinha. Um papelinho cai-lhe de dentro da bolsa e, de sobrolho carregado Magda pegou nele, abrindo-o e perguntando-se o que aquilo era.
“Eu sei que não me conhece, mas quero que saiba que vou estar sempre aqui. Vou salvá-la.”
Ainda incrédula, Magda abanou a cabeça e elevou a sobrancelha. Não sabia o que aquilo queria dizer e muito menos fazia ideia de quem era. Ouviu os passos de David a aproximar-se. Ia ter problemas se David visse aquele bilhete. Ele era muito ciumento e fazia uma tempestade num copo de água, mesmo não tendo razões para tal. Apressou-se a guardar o bilhete de novo na carteira, mas não foi a tempo e David entrou no quarto.
- O que é isso? – Perguntou David, pousando o tabuleiro na mesinha.
- Não é nada. – Respondeu Magda, pousando a carteira de novo na cadeira.
- Mostra-me! – Exigiu David, sério.
Magda revirou os olhos e bufou. Sabia que vinha aí crise de ciúmes. Pegou outra vez na carteira e tirou de lá o bilhete entregando-o a David. Ao ler o que o bilhete dizia, David arregalou os olhos e ficou ainda mais sério.
- Mas o que é isto, Magda? – Irritou-se, abanando o papel. – Quem é ele?!
- Não sei! Não sabes ler? Não vês que aí diz que eu não o conheço? – Resmungou Magda, chateada e cruzando os braços.
- Eu dou cabo dele! – Gritou David, rasgando o bilhete.
Magda encolheu os ombros, despreocupada. Era mais uma de tantas crises de ciúmes de David. Já estava habituada. Era só deixá-lo berrar, espernear, que acabaria por lhe passar. Pelo menos, até à próxima vez. Por vezes, sentia-se cansada de tantos ciúmes. David não podia ver nenhum homem olhar para Magda, mesmo que a intenção não fosse a que ele pensava, que o médico passava-se. Magda apenas o deixava falar e respirava fundo.
Jeff e Sebastien tinham chegado à clínica e encontravam-se na porta de entrada, quando ouviram David aos gritos e correram até ao quarto onde o casal estava.
- Eu mato este gajo! Eu vou dar cabo dele, estás a ouvir?! – Continuou David, a gritar e a desfazer o bilhete em mil pedacinhos.
- Doutor, os seus gritos ouviam-se na entrada! – Disse Jeff, sério, entrando no quarto e encarando David.
- Mas afinal o quê que se passa aqui? – Perguntou Sebastien, de mãos na cinta e olhando o casal, com os seus olhos azuis atentos.
- É a minha mulher, que anda a receber cartinhas de amor. – Revelou David, deitando os pedaços de papel ao chão e olhando Magda.
- David! – Reclamou Magda.
- Tu não dizes mais nada! – Disse David, irritado.
- Doutor, tenha calma. – Aconselhou Jeff, calmamente.
- Magda, você está bem? – Perguntou Sebastien.
- Estou. Ele é maluco. – Respondeu Magda, revirando os olhos e virando a cara para o lado.
- Bem, Doutor, vamos conversar melhor para outro sítio? – Pediu Jeff. – Aliás, eu passei por aqui porque gostaria de fazer uma visita ao seu consultório, pode ser?
David acenou com a cabeça afirmativamente, ainda chateado com o que se tinha passado.
- Sebastien, ficas aqui? – Perguntou Jeff.
- Fico. – Respondeu Sebastien, aproximando-se da cama para se certificar de que Magda estava bem e também para não a deixar sozinha.
Jeff saiu do quarto seguido por David, que lhe mostrou o caminho do seu consultório. O médico respirou fundo, tentando acalmar-se.
- Eu sei que exagero um bocado mas fico doente com estas coisas! – Revelou David, sentando-se na sua secretária.
- Pois, mas tem de ter calma. – Aconselhou Jeff, acabando de calçar as luvas.
- Pois tenho… Mas… Eu gosto tanto da Magda, sabe, que só de imaginar que um homem qualquer possa olhar para ela… Fico doido! – Confessou David, calmamente.
- Bem, eu vou precisar dum minuto aqui, pode ser? – Perguntou Jeff.
- É claro, esteja à vontade. – Consentiu David, levantando-se e encaminhando-se para a porta. – Eu estou ali fora. Vou beber um café.
- Beba antes um chá… De camomila. É bom para os nervos. – Aconselhou Jeff, dando um sorriso e ajeitando as luvas.
David sorriu como se acatasse o conselho e saiu do consultório. Jeff aproximou-se da secretária, procurando algo que o pudesse ajudar na investigação, quando olhou para um móvel em que havia um pequeno armário. Dirigiu-se ao mesmo e tentou abri-lo, mas constatou que estava fechado à chave. David voltou, com um copo de chá na mão e observou Jeff, a tentar abrir o armário.
- Passa-se alguma coisa?
- Ahm… Este armário está fechado… Pode abri-lo, por favor? – Pediu Jeff.
- Com certeza! – Prontificou-se David, pousando o copo na secretária e tirando as chaves do bolso. – Esse armário é onde eu guardo os medicamentos mais importantes.
O médico abriu o armário e afastou-se, esticando o braço, dando licença a Jeff, para observar o conteúdo do armário.
- Ora, aqui está.
- Obrigado. – Agradeceu Jeff, aproximando-se do armário, observando os medicamentos e procurando enquanto David continuava a beber o chá, descansadamente.
Jeff ia lendo os rótulos dos medicamentos até encontrar um pequeno frasquinho, que não sabia o que era. Pegou no mesmo e virou-se para David, apontando para o suposto medicamento.
- O que é isto? – Perguntou Jeff, elevando o objecto.
- Não sei. – Respondeu David, com ar confuso, observando o frasquinho. – Eu juro-lhe que não sei.
- Bom, vou ter de levar para o laboratório para analisar e pedia-lhe que viesse comigo.
- Claro, com certeza. – Respondeu David. – Mas eu juro-lhe que não sei que frasco é esse…
- Então, vamos descobrir os dois.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!