Purity escrita por gaara do deserto


Capítulo 4
Percepção - A Colisão de Nosso Sangue


Notas iniciais do capítulo

Eba, até que enfim VK voltou com tudo!
Depois de um ano e sete meses esperando, pude ler VK, pude ter o Kaname e tomei vergonha pra escrever de novo!



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PURITY

 

IV. PERCEPÇÃO - A COLISÃO DE NOSSO SANGUE

 

Em algum lugar fora daquela sala uma campainha soou alta – a ultima aula do dia. Crianças e adolescentes saíam aos berros de suas salas, correndo ou sendo atropelados pelos alunos maiores.

- Até amanhã, Yuuki-sensei! – uma garotinha de não menos de seis anos pendurou-se no pescoço da professora.

Vários outros aluninhos amontoaram-se ao redor de Yuuki, enquanto uma minoria saía acompanhada de apressados pais de relógios de ouro e horários curtos.

Aos poucos o lugar esvaziou-se, deixando uma Yuuki que arrumava calmamente suas coisas. Havia um triste sorriso em seus lábios, resultado de suas diárias reminiscências... Haruka e Juuri, os pais que nunca vieram buscá-la...

- Hunf... Que bobagem – acabou dizendo pra si mesma.

- O que é bobagem...?

Yuuki sobressaltou-se. Fora surpreendida por Zero.

- Quando você chegou? – perguntou ela, de modo reprovador.

- Agora mesmo... Mas já vamos sair, espero – Zero fez uma cara esperançosa, encarando a vampira, sentado em uma pequena carteira.

- Hai, hai – resmungou Yuuki, colocando alguns papéis em uma pasta vermelha com as iniciais “Y.K.” gravadas na borda – Seu apressado.

Zero olhou o relógio no pulso. 6 da tarde. “A propícia hora dos vampiros...”, pensou com desprezo.

O hunter decidiu levantar-se e se espreguiçou. Algo prateado brilhou em sua cintura. Bloody Rose. Yuuki deteve sua atenção por alguns instantes na “arma-que-só-feria-vampiros”. Zero procurou contornar a situação abotoando o casaco.

Com esse gesto ela pareceu despertar das desagradáveis lembranças.

- Hm... Por que decidiu vir até aqui hoje? – perguntou, quando os dois saíram da sala de aula número 17 – Geralmente você me espera lá na portaria Zero...

- Do que está reclamando, hein? – o hunter mostrou-se indignado com aquele descaso. Yuuki riu.

- Nada não, só estou comentando – e jogou repentinamente sua pasta no colo dele – Ah... Tem alguém me ligando.

Zero fez uma cara mais indignada ainda. Então ouviu passos e olhou pra trás. Dois aluninhos pararam ao vê-lo.

- Humpf... O que estão olhando, pirralhos?

Os garotos retrocederam diante da figura medonha daquele adulto de aura roxa.

-... E quando você vem? – Yuuki conversava alegremente até perceber o mau horário pra conversas: Zero a observava de cara amarrada – Hai, Y-yori-chan! Ligo pra você depois, tem gente meio apressada por aqui...

E desligou o aparelho, suspirando.

- Você tinha que assustar aqueles meninos, Zero? – repreendeu-o – Achei que era por isso que me esperava lá fora. né?

Mas ele ficou calado, porque lhe custava muito dizer o que o incomodava.

Uma sensação estranha vinha acometendo-lhe há dias.

Uma angustia irritante.

Por isso viera correndo até a sala de aula número 17, certificando-se de que sua Yuuki ainda estava lá.

- O que Yori-san queria? – seus passos quase não faziam barulho em contraste do salto de agulha ao qual a namorada aprendera a se acostumar. Ela o olhava de forma indagadora, como se estranhasse o comportamento dele.

- Ah... Ela resolveu procurar um apartamento por aqui, queria minha ajuda...

- Sei... – resmungou ele, indiferente.

- Você tá bem, Zero?

Era quase como se ela soubesse...

Antes que Zero respondesse qualquer coisa um grupo de bobas garotas entre 13 e 15 anos apareceu, aos risinhos.

- Ei, vocês já deveriam ter ido pra casa! – exclamou Yuuki em tom autoritário – Onde estão seus pais?

- Eles ainda não chegaram, Yuuki-sensei...

As garotas olhavam de Yuuki para Zero, divididas entre a aura maligna que o ele desprendia e sua incrível beleza.

- Hm, então suponho que deveriam esperar lá na portaria e não ficar perambulando pelo prédio – recomendou a vampira.

- Vamos logo, Yuuki. – sibilou Zero, louco para ir embora.

- Mas...

- Vocês aí! – gritou o vampiro para as garotas, que se agruparam imediatamente – Se não forem agora mesmo para aquela porcaria de portaria, eu...!

Elas nem precisaram que ele terminasse; saíram correndo desesperadas.

- Zero! – mas o corredor voltara a ficar vazio, exceto por uma Yuuki perplexa e um Zero satisfeito.

- Até que é simples lidar com crianças, não? – disse ele sarcasticamente, continuando sua caminhada.

- Baka...

Naquele pequeno intervalo antes que a Kuran alcançasse-o, os lilases olhos do Kiryuu adquiriram uma coloração rubra que só poderia ter um significado.

 Ele estava faminto.

Mas algo lhe corroia com mais intensidade que a sede.

 

***

Diferente das calmas ruas da cidade que rondava o Colégio Cross, as ruas de Tókio eram largas ou estreitas, com grandes cruzamentos e torrentes de pessoas por todos os lados.

Mas o que chamava fortemente a atenção de Ichijou era a explosão de cores que se chocavam pelo caminho. Desde simples anúncios de festivais até outdoors gigantescos nos arranha-céus, nada escapava dos olhos dele.

No entanto, Kaname parecia insensível comparado ao estardalhaço que seu amigo fazia.

Quando o carro fez uma curva em uma grande e movimentada avenida, o loiro quase deu um berro e, comprimindo o rosto contra a vidraça, exclamou.

- Kaname, Kaname, é a Rima e o Shiki! – ele começou a apontar freneticamente para fora, em direção a um outdoor bem iluminado.

O puro-sangue inclinou-se para ver também.

Era o anuncio de um perfume caríssimo, de alguma empresa norte-americana que Kaname não lembrava o nome. Em letras inclinadas havia a frase: The Lovers’ Magic... Glass Seduction e em um cenário outonal os dois vampiros que ambos conheciam muito bem – Shiki Senri e Tooya Rima – entrelaçados em um abraço apaixonado e intenso.

- Nossa, eles estão lindos! – comentou o loiro com um sorriso – O que achou hein, Kaname?

O moreno olhou-o, em dúvida. O carro entrou em uma rua estreita e ele continuou calado. Ichijou tomou seu silencio por emoção e não fez perguntas.

“Será que você não percebeu nada, Takuma?”, pensou quando as sombras dos arranha-céus foram deixadas para trás e substituídas por fachadas grandiosas das casas tradicionais e luxuosas;

- Ichijou – disse à guisa de resposta – Não quero demorar muito na casa dos Souen... Acho que vou ficar com dor de cabeça.

O loiro assentiu sorridente.

Kaname se perguntava que reação teria se visse Yuuki e Zero naquela mesma floresta outonal.

Com certeza não sorriria.

Fazia uma semana desde sua conversa com Aidou e ele não fora procurá-lo em busca de resultados.

Kaname queria encontrá-la por acaso, mas se não soubesse dos passos dela, de que adiantaria tal esperança?

Porque ela era seu mundo e o consumia inteiramente.

Sua Yuuki. Aquele pequeno ser de olhos febris por quem daria a própria vida.

E também tiraria a de outros pelo mesmo propósito.

 

* Flashback Kaname On*

 

- Você parece inquieto, Kaname-kun.

- Eu estou bem – respondi ainda mexendo os pés descompassadamente – Não se preocupe, Ichijou-san.

- Cuidado com o professor.

- Cuidado você, para que ele não o ouça – repliquei, ajeitando-me na carteira quando a porta da sala rangeu e foi aberta. Um velho alto e magro de barba aparada e óculos centrados no rosto entrou na sala e depositou seus pesados livros em cima da mesa, dando um pigarro em seguida.

Olhava de cinco em cinco minutos para o relógio, desejando que o tempo corresse em vez de se estender e desdobrar naquelas inúteis aulas de latim que eu nem sabia por que tinha.

Os alunos eram poucos – só Ichijou e eu – O professor era realmente chato, pois defendia veementemente o teor de sua aula e nos bajulava entre intervalos por nossa “prestigiosa condição social”, desfiando comentários depreciativos sobre os humanos entre uma lição e outra.

Como eu detestava aquele cão do Conselho de Anciões! E justamente hoje, quando eu visitaria Yuuki. Era o fim mesmo.

Mas esse pensamento de que eu veria minha Yuuki foi a única coisa que me fez suportar uma hora e meia de um idioma do qual nunca precisaria.

Assim que o velho vampiro saiu, dei um salto da carteira, contente com minha perspectiva.

- Ah, você já vai? – perguntou Ichijou, que guardava com zelo seus cadernos, sorridente como sempre.

- Não ficaria nem por mais um minuto, Takuma – disse, correndo até a porta e afrouxando a gravata – E diga ao Ichiou que dispenso o tal baile de amanhã.

- Hm, ele não vai gostar nadinha – comentou Ichijou baixinho.

- Dane-se – retruquei abrindo a porta -, amanhã é aniversário da Yuuki.

Sai desabalado, pois nada me impediria. No jardim, ensaiei um pedido educado ao motorista para que ele me levasse até a casa de Kurosu Kaien.

Ele nem sequer pensou em me contestar. Às vezes me espantava o senso de servidão que os vampiros para comigo. Mas ainda por eu ser o “pobre sangue-puro órfão”.

Sorri internamente quando o carro parou há alguns metros da casa de Kaien, em uma estrada ladeada por grandes árvores. Tentando não denunciar muito entusiasmo em meu rosto, disse friamente ao motorista que retornasse à tarde, depois do crepúsculo e saí do carro, afrouxando mais aquela gravata desconfortável. Não andei muito para começar a ouvir passos pequenos, como de um animalzinho assustado. Ela sabia que eu estava ali e eu sentia-a antes de vê-la.

- Kaname-sama! – ela desistiu de se manter escondida e veio ao meu encontro, atirando-se em meus braços. Levantei-a do chão, girando-a no ar, a sensação de morbidez que geralmente me acompanhava sumindo, fugindo daquele calor que só ela me proporciona.

- Como está, Yuuki? – perguntei, colocando-a no chão e me agachando para ficar na mesma altura dela – Senti sua falta – Ela costumava dizer que eu era o mundo dela, mas nem fazia idéia do quanto dominava o meu.

- Fiquei preocupada porque você não apareceu na semana passada, Kaname-sama – sua expressão era de fingido choro, fazia bico – Pensei que você não queria mais vir me visitar por alguma coisa que eu fiz...

- Yuuki não fez nada errado – expliquei-lhe, acariciando seu rosto – E nem se fizesse eu deixaria de vir.

Um sorriso aflorou em seus lábios, me enternecendo.

- Verdade, Kaname-sama?

Sempre... Eis ali meu único refúgio em toda aquela loucura.

- Verdade – confirmei, encostando minha testa na dela.

Yuuki corou com a aproximação e ficamos nos encarando por um bom tempo. Percebi que os batimentos cardíacos dela estavam mais rápidos e fiquei curioso em saber o que ela estava pensando.

Mesmo que não fosse a hora dela descobrir meus pensamentos.

Por quê... Como reagiria ao saber que o laço que nos liga é muito mais profundo?

O que faria se soubesse... Que é minha irmã?

E seu passado sangrento, coberto pelo sacrifício de nossos pais...

Eu a protegeria daquilo.

Ainda que no fim...

- Você é capaz de me perdoar, Yuuki?

Não pretendia fazer aquela pergunta em voz alta. Ela simplesmente escapara, alimentada por meus temores.

Será que ela desconfiaria?

- É claro, Kaname-sama! – respondeu minha pequena – Não consigo ficar zangada com você por nada nesse mundo.

Sorri-lhe, feliz com a resposta, mesmo que não tivesse me referido ao que ela estava pensando.

- Vamos até o lago, Yuuki? – convidei-a, andando ao seu lado a caminho da casa de Kaien.

- Sim, Kaname-sama! – concordou ela com um aceno – Lá não tem muito sol e Kaname-sama não se machucará!

- É verdade – Como ela poderia saber?

O quanto significa para mim desde seu nascimento?

Contornamos a casa grande e colonial de Kaien para encontrá-lo plantando mudas de flores num canteiro do jardim. Ele veio ao nosso encontro com o rosto um pouco sujo de terra e um ar satisfeito.

- Ora, olá, Kaname-kun! – cumprimentou jovialmente – Yuuki já estava ficando desesperada com sua ausência, hein?

- Otou-san!

- Tive alguns imprevistos... Coisas de sempre, Kurosu-san.

- Já disse que aquele lugar é um ninho de cobras...

- Não é realmente o que eu chamaria de lar.

- Kaname-sama? – ela puxou minha camisa, querendo atenção. Vi nela uma expressão indagadora e chateada, como se aquela conversa dos mais velhos estivesse excluindo-a.

- Gomen, Yuuki – disse Kaien, limpando as mãos no avental – Não pretendia roubar o Kaname-kun de você.

E voltou ao trabalho, cantarolando uma velha cantiga de guerra.

Puxei Yuuki pela mão.

- Vamos?

Ela me acompanhou, segurando firmemente minha mão fria.

Ah, Yuuki...

Ninguém vai me roubar de você.

Uma vez que foi a única a invadir meu coração adormecido, não existe a probabilidade de haver outro que conseguirá tal feito.

Por isso, eu espero.

Atravessamos um pequeno bosque onde era possível ouvir barulho de água correndo no fim.

Nosso esconderijo.

Em um mês, haviam florescido lírios e hortênsias perto das árvores. Uma sombra grande e fresca se estendia pela grama aparada.

Sentei perto de uma árvore frondosa e tirei o casaco que eventualmente me protegia do sol. Queria viver em um lugar daqueles pra sempre e o tempo poderia girar lentamente, mais útil do que em uma aula de Latim.

 Aos meus treze anos, eu já estava decidido do que queria.

Observei Yuuki tirar os sapatos e chutar água na margem do riacho. Minha pequena havia crescido tão bem...

Será que você já sabia, Yuuki?

Você é realmente capaz de me perdoar?

- Kaname-sama, eu nunca me canso desse lugar! – exclamou ela, vindo sentar-se ao meu lado – Aahh, você virá amanhã, Kaname-sama?

- Claro que sim – envolvi-a pelos ombros – Darei um jeito de escapar e vir para cá, está bem?

- Vou esperar, então – acrescentou, solenemente.

Difícil dizer o que chama tanta atenção em você, Yuuki.

Felizes seriam meus dias se desde o inicio...

- Você gosta de ficar perto de mim, Yuuki?

- Hã...? – ela parecia surpresa com a pergunta.

Cheguei mais perto, segurando-a pelo queixo.

- E então? – olhei bem dentro de seus olhos.

- Kaname-sama é tudo do meu mundo.

Sim, eu sabia e queria ouvir aquelas palavras. Fitava seu rosto em transição... Estava há tão poucos centímetros...

Aproximei-me mais.

- K-kaname-sama...?

Eu tinha que retomar o controle, não podia assustá-la. Aquela não era a hora.

Mas eu sentia o que pulsava dentro daquele ser.

A minha Yuuki adormecida.

Esperando-me também.

Como explicar que estive prestes a beijá-la?

Preferi deixá-la confusa. Apenas ali, estática.

Quando por fim ela se recuperou do susto passamos a tarde toda conversando sobre estudo e coisas triviais.

Sob meu atento olhar, merecendo todas aquelas horas...

Quando a inocência já traça planos tão maléficos, graças aos meus pecados.

Meias-verdades e pureza infantil.

Tudo para proteger minha rosa ainda em botão.

 

- Flashback Kaname Off –

***

- Acabou dormindo...

Zero desvencilhou-se aos poucos dos braços adormecidos da vampira que envolviam sua cintura. Levantou-se e desligou a televisão.

Ao voltar, contemplou a Kuran adormecida.

- Hm... – resmungou consigo mesmo – Serra que eu te deixo aqui?

Ele sorriu com a idéia, mas decidiu carregar Yuuki até o quarto. Depositou aquele corpo leve na cama, ajeitou alguns fios de cabelo para longe do rosto dela.

-... Zero...?

- Acordou, né?

- Ah, gomen ne! – disse ela, sonolenta – Estava tão cans... Zero?

Ele tentou se recompor antes que ela percebesse.

Mas ela sempre percebia.

- Você está com sede, Zero? – ela se levantou e ficou olhando para os olhos do hunter, que haviam ficado rubros.

- Yuuki... – ele tentou se movimentar, mas caiu de joelhos. A vampira correu para perto dele, ajoelhando-se também.

- Vá em frente – ordenou, afastando os cabelos do pescoço – Não seja teimoso.

Zero obedeceu, agarrando-a.

E imediatamente a dor cruciante que sentia tornou-se um prazer culposo.

Cravara as presas no pescoço dela com uma velocidade impressionante. O sangue começou a invadir sua boca, aliviando-o e saciando-o como água.

Um sangue tão... Puro. De um sabor que muitos matariam para provar.

Um tabu. Sangria.

Como Zero pudera ser descuidado dessa vez?

Do outro lado da cidade, Aidou farejou no ar a resposta que procurava há uma semana.

Sabia exatamente onde o sangue de Kuran Yuuki se escondia.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Não sei o quanto vai demorar pra postar outro, uma vez que me arrependi de ter passado pro Convênio, que eu já acho uma merda, mas vou ter aguentar até enlouquecer... Ou não.
 
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