O Único Que Não Posso Esquecer escrita por Machene


Capítulo 1
Nossa Vida em Outra Cidade




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Cap. 1
               Nossa Vida em Outra Cidade


Meu nome é Elie, mas infelizmente é só o que eu posso dizer pros outros. uu Por uma desagradável infelicidade na minha vida, não sou uma garota “comum”. Certamente, só pelo que já me aconteceu até hoje não posso dizer... Mas, fora isso, eu sofro de uma doença séria, que apesar de não ser grave prejudica minha convivência com as pessoas que estão a minha volta.

Meu mal é “Amtésia” (oo eu sei, tá horrível! Passei muito tempo pensando no nome e resolvi fazer uma mistura de Amnésia com Tettai, aquela doença do Kei de Onegai Teacher). Esta doença faz com que eu desmaie todas as vezes que tiver uma emoção forte. Logo quando acordo eu não lembro mais do que houve antes de ter o ataque.

Depois de perder meus pais, no mesmo acidente de avião que me fez ficar assim, minha amiga Melodia e eu saímos de Hip Hop, a nossa cidade natal, para nos aventurar em um lugar desconhecido. Já que sua mãe morreu tem pouco tempo e seu pai sumiu no mundo, ela nunca se importou de me seguir pra onde quer que fosse desde que nos tornamos vizinhas.

No momento, o trem que estava nos levando acabou de parar. Olho pela janela a nova cidade em que iremos morar: Ilha Garage. Posso sentir um sorriso se fazendo presente no meu rosto enquanto Melodia pega nossas bagagens. Não demora até que arranjemos uma casa modesta, paga de início com o próprio dinheiro da minha amiga.


– A casa é pequena, mas eu acho que vai servir.

– Vai sim Melodia, está tudo ótimo! – deixo minhas malas na cama perto da janela, enquanto ela esvazia as suas na cama ao lado – Sinto muito por não te ajudar na primeira mensalidade, mas se trabalharmos juntas nós vamos poder morar aqui definitivamente!

– É isso aí, vamos dar o melhor de nós!

– É! - rimos e batemos as mãos.


Estávamos surtando ainda quando notamos um folheto entrar voando pela janela aberta. O seguro entre as mãos e vejo que um cassino recente abriu. Na mesma hora, trato de puxar Melodia pela mão para irmos visitar o lugar, mesmo sem muita animação por parte dela. (^^ É sim, sou louca por jogos, especialmente por cassinos!)

Chegando lá eu começo a me deliciar com o som da alegria dos jogadores, o barulho dos dados sendo lançados e... Um estranho garoto começa a tocar um violão do nada, encima de um palco próximo das máquinas caça-níqueis. A Melodia se interessa na hora em ficar escutando o cara.


– Mas você prometeu que ia ver os jogos comigo! çç

– Elie, eu sei que você vai torrar todo o dinheiro que te resta em uma dessas máquinas, então eu vou me divertir. ¬¬

– Ah, tá bom. Vai, pode ir ouvir! – sem nem pensar duas vezes, ela sai correndo pra sentar em uma mesa – Eu posso me divertir sozinha... – cruzo os braços.


Arranjo o primeiro banco que encontro pela frente e sento pra começar os lances. Como sempre, os dados estão ao meu favor! O clima tá ótimo, mas é aí, que, do nada, sinto alguma coisa segurando as minhas pernas. Olho pra baixo e vejo um garoto debaixo da mesa, me encarando.


– òó Um ladrão? – sussurro. Ele se assusta e bate a cabeça na mesa: a bolinha entra no buraco errado – Ah, mais que droga! oo Eu perdi! – levanto em um salto – Você me fez perder? ~~ Eu não acredito!

– oo’ Opa, eu sinto muito! – junta as mãos.

– Sente muito? õ/ Não pode me fazer perder meu jogo e dizer que sente muito! – ponho as mãos na cintura.

– Mas foi um acidente!... – de longe já posso ver Melodia e o tal músico, que já tinha sentado junto dela na mesma mesa, parando de conversar pra apreciar a cena.

– Não me interessa se foi um acidente, você vai ter que compensar isso! O que pretende fazer?

– Ah, eu... – ele começa a gaguejar, e aí Melodia e o outro cara levantam pra andar até a gente.

– Hé, eu, aham... – imito-o, debochando.

– Ok, Elie, fique calma! – Melodia segura meus ombros, imaginando que terei vontade de fazer o “tratamento anti-stress”. O músico fica ao lado dele.

– Haru, você nem tenta e mesmo atrai confusão. – ri.

– Haru? – repito. Ele sorri, acenando – Eu já não te vi? ‘ ‘

– Ah, eu acho que não. Morei minha vida inteira aqui.

– Mesmo? – por um minuto, esqueço completamente que ele me fez perder o jogo – Então deixa pra lá. – aos poucos as pessoas voltam aos jogos.

– Bom, eu sou a Melodia. – ela sorri – Você já deve ter conhecido a Elie, né? – empurra meu corpo pra frente.

– É. Olha, desculpa pela bolinha... ^^’

– Não, deixa pra lá. - - Eu não ia conseguir sair carregada do jeito que eu tava mesmo. – o outro cara ri.

– Nossa, que confusão!... Eu sou Música, amigo do Haru.

– Ah, são amigos?! – aperto sua mão – Muito prazer.

– O que você faz Haru? – Melodia muda o assunto.

– Eu sou veterinário marinho. Gosto de lidar com água.

– Nossa, que engraçado, a Elie também ama a água e tudo que é do mar. – olho com o canto dos olhos pra ela. O sorriso acusa logo que está tentando me jogar pra cima dele – Olha, nós duas somos novas na cidade. Não conhecemos ninguém, e nem mesmo os pontos turísticos! Querem nos mostrar?

– Claro! Será uma honra, né Haru? – bate em seu ombro.

– Ah, é, é sim. – concorda. Acabo me conformando.

– Então... Tem uma lanchonete aqui perto? – pergunto.

– Tem sim. Levamos vocês lá. – o tal Haru começa anda do meu lado, enquanto que Melodia e o cara, Música, vão caminhando e conversando atrás.


Chegando a lanchonete, aparentemente para os dois se conhecerem melhor sozinhos, Melodia e Música sentam em cadeiras de uma mesa ao lado da nossa, nos deixando calados e olhando um pra cara do outro até o pedido (que foi a única coisa que fizemos em conjunto) chegar.


– Então... No que você trabalha? – ele procura quebrar o gelo. Tiro as mãos do guardanapo que estava dobrando por nada e sorrio, me endireitando.

– No momento em nada. Como Melodia e eu somos novas na cidade, não temos emprego fixo ainda.

– Mas por que vocês duas mudaram pra cá? Sabe, esta é uma cidade meio calma demais, não vão achar muita emoção...

– Sabemos disso, foi por isto que quisemos vir. É que os nossos pais já faleceram... – penso em continuar, mas noto que ele está mexendo as mãos.

– Sinto muito pelo que aconteceu. – solto um riso.

– Não tem problema, é sério. – desfaço o sorriso – Você é muito gentil.

– Meus pais também morreram, na verdade. Música quase nunca fala sobre seu passado, mas eu acho que ele só tem um avô, que mora na cidade Hip Hop, e... – seguro seu braço.

– Hip Hop? É a mesma cidade de onde nós duas viemos. **

– Mesmo? – confirmo com a cabeça – Nossa, que engraçado. ^^ – ri – Pois é... Como somos dois amigos solteiros, moramos sozinhos em um apartamento aqui perto desde que nos conhecemos, já faz uns dois anos. Bom... – tosse. Solto seu braço na hora – Então, por que vieram pra cá?

– Ah, é que na cidade onde morávamos ficamos cheias de toda aquela bagunça. Quer dizer, muitos bêbados, gentinha mimada ou dando uma de espertos, e também por causa dos cassinos...

– Ah, então você é uma jogadora. – ergue uma sobrancelha. Rio.

– É, acho que podemos dizer isso. Quer dizer, eu tenho sorte, então gosto de tentar apostar com elas. Mas não se preocupe, não sou viciada! ¬¬

– Não estava pensando que era. – ele confessa.

– ^^ Tudo bem, é só pra deixar claro. – rimos de novo.


Nesta hora o garçom chega com os pedidos. Vejo de relance Melodia piscar com um dos olhos, mexendo no canudo do sorvete enquanto conversa com Música. Solto um riso maldoso pelo canto da boca: com certeza ela está tramando algo, se não nós não estaríamos comendo em uma lanchonete com dois caras lindos no primeiro dia em que chegamos à cidade nova!


– É verdade que você gosta de animais marinhos? – volto minha atenção pra ele, que está enrolando uma porção de macarrão com uma mão e com a outra apóia o queixo. Está me encarando.

– Bom, sim. Eu gosto sim. – abro um largo sorriso, seguindo rumo às intenções da Melodia – “Conhecer ele não pode me fazer mal!” É até um dos pontos que eu queria visitar, o zoológico da cidade.

– É lá que eu trabalho. – diz, após tomar um gole de suco – Eu cuido do aquário. É de início, a cidade é pequena, mas dá pro gasto... Olha – ergo os olhos pra vê-lo -, já que eu tenho crédito com o dono, posso levar você e sua amiga pra uma visita grátis.

– Mesmo? – começo a me animar, esquecendo até do simples sanduíche – Eu adoraria! Mas por que está nos convidando? ‘ ‘

– Eu até convidaria o Música se eu conseguisse, mas ele não é chegado a esse tipo de programa e eu não tenho mais amigos. – dá de ombros.

– Então eu aceito seu convite. E pode me considerar um membro da sua lista de amigos, ok? – estico a mão sobre a mesa. Ele aumenta o sorriso.

– Ok, Elie... – prolonga meu nome, como se estivesse tentando guardar na memória, e aperta minha mão – Posso ser um na sua também?

– Claro. Eu também não tenho tantos amigos assim.


No fim da tarde, porque ainda fomos passear depois de comermos, eu e a Melodia voltamos pra casa. Não tínhamos feito nada, nem arrumado as malas e muito menos procurado emprego. Socamos as poucas roupas que tiramos de manhã dentro das malas de novo e deitamos juntas depois de tomar um banho e nos trocar. Ela começa a rir e aí viro a cabeça pro lado.


– Que foi? – estranho – Ah, é claro!... Está se gabando por seu plano.

– Você gostou dele, admita. – vira a cabeça também.

– Gostei, mas você sabe que eu não posso me relacionar, Melodia! uu

– Ai não Elie, não vem com essa de novo não!... ¬¬

– Mas o que quer que eu diga? A minha doença me impede de ter uma vida normal. Como você quer que eu chegue pra um cara e diga: “Oi, eu aceito ser sua namorada, mas se de repente eu não lembrar mais quem você é, por favor, não se assuste!”? õõ

– Está sendo dramática. Ninguém disse que isso vai acontecer.

– Mas e se acontecer do nada? O que eu faço?

– Faz meses que você não tem uma recaída Elie.

– E daquela vez, com o último cara que você também me arranjou? ¬¬

– Ele te traiu, tá certo, foi um acidente! uu

– E o penúltimo, neto do padeiro da Rua Punk? ¬¬

– O que eu posso fazer se o cara já tinha prometido outra em namoro? õõ

– Mas é o que eu tô dizendo, nunca se sabe o que pode acontecer. Se esse cara pra quem você quer me empurrar não prestar também eu vou sofrer! uu

– Ok, ok... Mas não pode se dá uma chance? Faz tempo que você não sai com ninguém, chega a ser triste. - -

– Tudo bem, mas só vamos sair uma vez. Não quero me envolver demais.

– Feito. – vira o corpo de lado, rindo – Boa noite.

– Boa noite. – suspiro e desligo a luz do abajur.


Quando nos encontramos com os rapazes no dia seguinte, Melodia faz questão de me jogar pra cima do Haru e vai bem à frente com Música vendo qualquer tipo de animal só pra não dar uma de “estraga-clima”. Por outro lado, nós dois também não temos tanto assunto quanto ela deve ter imaginado pra conversar, então ficamos calados só observando a paisagem.


– Você deve adorar cuidar deles. – resolvo abrir a boca, andando ao seu lado um pouco mais atrás do outro casal pelos corredores iluminados de azul pela claridade dos tanques em volta.

– É sim, eu gosto muito. Na verdade, eu quero te apresentar um amigo.

– Amigo? Pensei que não tivesse muitos amigos.

– E eu não tenho. – sorri, segurando e me puxando pela mão.


Corremos e passamos por Melodia e Música, que nos seguem curiosos até uma entrada de funcionários. Nem reparei bem onde ficava, mas quando vejo a quantidade de golfinhos e outros bichinhos nadando nos tanques pelo lado de dentro minha intenção de vasculhar a entrada evapora. No meio de tudo, ele solta minha mão e caminha até uma porta menor ao lado de um tanque.


Ele volta em alguns segundos, trazendo consigo um simpático...

– Esse é o Plue. – apresenta o bichinho andando ao seu lado. Ele senta.

– Que graçinha! – sorrio, segurando-o no colo – O que ele é?

– Na verdade ninguém sabe. Foi resgatado de uns tratadores maus.

– Oh, mais que coisa fofa você é! – aperto de leve seu nariz – Ei, Haru, eu posso vir visitar você e o Plue mais vezes aqui? ^^

– Claro! ^^ Nós dois vamos adorar. – sorri – Mas...

– O quê? – estranho o ar malicioso que ele começa a exalar.

– Só se você me deixar ir visitar você também.

– Eu moro com uma amiga, esqueceu? – sussurro, entrando na onda da brincadeira e olhando de relance pra distraída Melodia.

– Eu posso pedir pro Música pra distrair ela.

– Você é engraçado. – rio, apertando num abraço o Plue – Mas eu...

– Eu sei, eu tava só brincando. – põe as mãos nos bolsos.

– Olha... Você pode não ir me visitar ainda, mas eu aceito um café.

– Então eu posso considerar um segundo encontro?

– E quando foi que aconteceu o primeiro? oo’

– Ontem, na lanchonete! Então, eu posso?

– Pode. – solto outro riso – Se me agüentar por mais de um dia.

– Eu acho quase impossível que alguém não queira a sua companhia.

– Está sendo galante, eu não sou tão maravilhosa assim.

– É sim! – ele insiste. Encaro-o um tanto surpresa.

– Como pode falar assim, com tanta certeza? Mal nos conhecemos.

– Mas pelo pouco que eu já conheci de você, acho que posso dizer.

– Sério? Então obrigada, você acabou de aumentar o meu ego. **

– Fico feliz em saber! ^^ - rimos de novo.


Na volta pra casa, perto de entardecer, estamos falando um com o outro muito mais animadamente. Sinto os olhares da Melodia sobre mim lá detrás, mas procuro ignorar. É aí que eu revejo o cassino de ontem.


– Por que estava aqui com Música ontem?

– Ele estava a trabalho: toca violão e canta algumas vezes em todos os tipos de lugares e eventos. Eu aproveitei pra beber alguma coisa, já que estava acompanhando. Mas você estava jogando ontem... – sorri.

– É, e você já sabe que eu adoro cassinos agora. – jogo as mãos coladas pra trás – Da próxima vez você pode me acompanhar, se quiser.

– Vai ser um prazer. Mas você não gasta muito, gasta?

– Eu mais ganho do que perco dinheiro. E você?

– Ah, eu não sou tão sortudo assim. Já me aconteceram muitas coisas ruins pro meu gosto, alías... Começou quando eu fiquei órfão.

– Não posso dizer que minha vida foi maravilhosa também, mas somos obrigados a superar uma ora ou outra. – suspiro. Quando dou por mim, já estamos na porta de casa. Melodia pára do meu lado e nos viramos pra eles.

– Bom... Então obrigado pela companhia meninos. – ela sorri.

– De nada. Toda vez que quiserem, é só marcar! – Música responde. Os quatro riem. Antes que entremos, Haru e eu nos olhamos mais uma vez.

– Até amanhã. – acena. Sorrio em resposta e eles vão embora.

– Já tem um encontro amanhã? ^^ Pra quem não queria se envolver...!

– Ah, cala a boca. uu – sorrio, suspirando. Mas devo admitir: estou feliz!

Continua...


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