Bella estava parada diante daquela porta a mais ou menos vinte minutos , já tentara bater, tocar a campainha mas sempre desistia no ultimo segundo, seu estômago dava saltos olímpicos por dentro, e parecia que estava muito frio já que ela tremia da cabeça aos pés.

Estava na frente do apartamento de Edward nos Estados Unidos, já haviam se passado três meses desde que ele fora embora, o divórcio ainda não sairá, Bella procurava desde muito cedo pretextos para estar ali, mas não via nenhum a não ser o louco amor que sentia por este homem.

Como podia resistir a ele? Como podia se manter distante sabendo o quanto dependia dele emocionalmente?

Desde que ele partira Bella parou de ver sentido no que motivara tudo aquilo, o dinheiro.

Afinal, de que adiantava milhões no banco se toda noite quando ia deitar-se  estava sozinha naquele quarto frio e tão seco que antes abrigara a presença acalentadora dele? Não havia mais ninguém para esquenta-la nas noites frias, nem para acordar do seu lado, cada novo dia era um suplicio ao acordar e perceber que o lugar ao seu lado na cama estava vazio. Não houve um só dia em que ela não tenha acordado e se perguntado onde estava aquele homem que lhe completava não só no corpo, mas também na alma e no coração.

Chegara a Nova York incerta e confusa sobre como aborda-lo, tinha esperanças de que o tempo houvesse desvanecido sua raiva contra ela, mas duvidava muito, Edward poderia ser um doce de pessoa, mas sabia como ele ficava ao ter o ego ferido, ainda mas por ela que jurava ama-lo.

Respirando fundo algumas vezes ela ergueu a mão e com dedos trêmulos apertou a campainha do pequeno apartamento.

Era Janeiro mais uma vez, e a neve caia do lado de fora, Bella se lembrou do dia em que se conheceram ,três anos atrás e retirou forças do acontecimento para se manter firme diante de Edward quando a ultima barreira  física que os separava fosse rompida. Enquanto sua cabeça dava voltas a porta foi aberta trazendo-a de volta pra a realidade.

Ela observou com um prazer interno aquele rosto que já fazia três meses ela não contemplava, viu a expressão passar de indiferente a surpresa em questão de segundos.

Edward ainda mais bonito do que da ultima vez que o vira, embora parecesse meio abatido e cansado.

Por um longo e constrangedor momento eles ficaram apenas se encarando e Bella se deu conta de sua atual situação. Estava parada no corredor de um prédio em Nova York  as dez horas da noite prestes a ter a conversa que seria a sua esperança de um futuro repleto de flores e corações ou um futuro sombrio e solitário longe do homem que amava.

-Boa noite Edward, desculpe o adiantado da hora.- foi a única coisa que lhe veio a cabeça naquele momento, ela tinha a impressão de que não conseguiria dizer mais nada.

-Boa noite Bella.- Se ele não foi amoroso, também não foi ríspido, era um tom neutro, como se ele falasse com a vizinha da frente.

- Se importaria se eu entrasse por um minuto?-perguntou a morena temendo uma repressão por parte do amado, embora as palavras não lhe saíssem seus olhos enviavam uma mensagem clara, “Por favor Eddie, não me mande embora”, era isso o que queria dizer mas não encontrou a voz.

Ele pareceu lera súplica em seu olhar e se afastou um pouco da porta dando passagem a Bella. Ela entrou naquele apartamento com uma altivez e confiança que não sentia, buscava na mente as palavras que viera dizer.

A porta foi fechada com um pequeno “click” e em seguida ela teve de lidar com o olhar questionador do ate então marido.

Deixou seus olhos percorrerem a sala de estar tentando ganhar tempo,os moveis eram simples embora de muito bom gosto, a sala contava com dois sofás pretos , uma mesa de centro de vidro, e uma estante onde se viam alguns livros além de porta retratos  com várias fotos, uma inclusive deles dois juntos no dia em que foram ao Central Park numa tarde ensolarada de verão, algumas semanas antes da briga que os separou.

Ela não sabia, mas parecia que aquela foto era uma das únicas coisas que mantiveram Edward intacto mentalmente falando, nos últimos meses, além do trabalho, ele dedicava-se integralmente ao trabalho no hospital onde estava empregado, passava horas e horas a fio cuidando sem parar de seus pacientes, tinha a impressão de que se parasse para refletir sobre sua vida iria enlouquecer, os piores momentos eram quando ele chegava naquele apartamento à noite, que embora fosse seu, não poderia ser chamado de lar.

Lar é o lugar onde você se sente bem, onde à noite depois de um dia de trabalho você pode sentar-se no sofá ao lado da esposa e conversar sobre o seu dia, é o lugar que te acolhe e te aquece, definitivamente ali não era seu lar. Mas ele não deixaria que a morena soubesse disto.

-É um bom apartamento. – Mas uma vez Bella quebrou o silêncio começando o diálogo com algo tão superficial para que não tivesse que ir direto ao ponto, estava girando e girando para não chegar ao ponto que viera debater mas não podia evitar.

Edward começava a aborrecer-se com toda aquela conversa superficial.

-Duvido muito que tenha vindo ate aqui para falar sobre meu apartamento Bella, eu agradeceria muito se fosse direto ao ponto.

Ela engoliu em seco mais uma vez. O que poderia dizer?

Sentiu a confiança esmorecer diante do homem imponente que a olhava daquela forma tão seca, buscou naquele olhar o antigo Edward, aquele em quem ela pisara alguns meses atrás e se chutou por dentro lembrando o quanto fora idiota.

- Realmente, eu não vim para falar sobre seu apartamento Edward, vim para falar sobre nós .- Ele nunca saberia o quanto custou para a bela morena dizer tais palavras, ela estava tão nervosa que a língua parecia grudar no céu da boca e travar.

-Nós? Não existe nós Isabella, na verdade nunca existiu. – a dor transpareceu naquelas palavras e naquele olhar, a voz dele não passava de um sussurro como se doesse demais falar aquilo em voz alta.

Ela deu alguns passos aproximando-se dele inconscientemente, tudo o que queria fazer era abraça-lo e conforta-lo como fora antigamente, antes da dor, da humilhação e da riqueza.

- Não é verdade  e você sabe disso.- as lágrimas escorriam, ela não podia mais se conter, os últimos meses foram um verdadeiro teste ao seu auto controle e nada a impediria de desabafar  agora, precisava contar a Edward o que se passava la no intimo de seu ser, o que doía no fundo da sua alma, algum vez alguém disse que a separação fora fruto de coisas que ficaram enterradas no porão, e foram juntando....juntando...juntando. Ate que as coisas não ditas se fizeram necessárias de dizer e a ausência das palavras  foi o estopim para o fim. Quando acaba o dialogo entre um casal nada mais fica a não ser lembranças.-Eu vim aqui Edward para tirar as coisas do porão. Tudo, cada palavra não dita, cada emoção escondida, eu quero tudo, eu quero a verdade.- dizia isso aproximando-se lentamente ate poder tocá-lo.- Eu quero o amor, eu quero você Eddie.

Ele foi pego de surpresa, mas quem era aquela estranha? Sem sombra de dúvidas não era a mulher que entrou naquele avião com ele na lua de mel. Tão pouco a mulher que fizera pouco caso dele e de seus sentimentos na Grecia.

Não! Aquela era a sua Bella, a garota dos quadros do Central Park, a garota que corria sem medo, sem frescuras, sem pensar em dinheiro e convenções sociais.

Que corria na chuva e participava de guerras de bolas de neves...a mesma garota que ele trocara por Tânya.

O amargor deste ultimo pensamento fez com que ele entendesse a que a morena estava se referindo quando disse que veio atrás das palavras não ditas.

Era uma situação delicada, provavelmente a mais complicada  que ambos viviam juntos. Não haviam mais máscaras, fingimentos, pessoas, família, dinheiro. Nada entre eles.

Eram apenas Edward e Bella, lutando desenfreadamente para restaurar o que se tinha perdido.

Será que ele poderia confiar nela mais uma vez? A ultima vez que fizera isso quebrara a cara e o coração, poderia ele arriscar novamente?

Coração batendo no peito a ponto de estourar, lábios que tremiam, pernas bambas e borboletas no estômago, esse era o estado de ambos. O silêncio pesado, tendo, repleto de palavras não ditas, sentimentos escondidos e uma eletricidade que liberava grandes faíscas entre os dois.

-Por que eu confiaria em você de novo Bella? O que pretende com tudo isso? É mais um de seus joguinhos sórdidos? Hein? Não quer admitir perante seus poderosos  sócios que o casamento fracassou? Que não é tão boa esposa quanto eles pensavam? É por isso que veio aqui?.- Ele falava baixo, compassado.  Ela podia jurar que vira as palavras saindo da boca dele e  rondando-a antes de atingi-la. Aquela boca, sim, aquela boca que tantas vezes beijou, que tantas vezes mordeu e sentiu deslizar pelo corpo quente, ardendo por beijos, beijos dele, num fogo que so ele poderia aplacar.

Perdeu o controle. As lágrimas escorreram a voz alterou-se , era pressão demais e ela já não tinha estrutura para suportar tudo aquilo.

-Não ,droga! Vim porque não aguento ficar longe de você, vim porque precisava te ver, saber que está bem,  vim porque precisava olhar dentro dos seus olhos e saber se ainda me ama tanto quanto na primeira vez em que nós vimos. Porque eu não te amo tanto quanto naqueles dias Edward, eu te amo mais. Muito mais. Tanto que chega a doer. Meu coração dispara cada vez que te vejo, sonho com você, vejo você pelas ruas e ouço sua voz mesmo você estando longe. Eu precisava vir aqui pra te dizer tudo isso. Para olhar nos seus olhos e saber se ainda existia esperança para nós dois. Confie em mim Edward, eu amo você, Amo! E se fiz tudo o que fiz foi por não suportar te perder.

Eu quis sim me vingar. Quis porque não suportei  saber que tinha me trocado por outra. Pior ainda! Pelo dinheiro de outra.- um soluço esganiçado saiu da garganta da morena, ela não queria ser agressiva e muito menos fazer acusações mas não conseguiu segurar todos os anos de mágoa e rancor que guardara.-  Você me fez promessas, disse que me amava, falou que ia cuidar de mim. E me trocou pelo dinheiro da primeira fulana  que apareceu, me abandonou a ver navios.  Você foi embora!

-Alto lá! Você me mandou embora Bella! Eu voltei, voltei pra te ver, pra esclarecer, você não me deu ouvidos, não quis saber, tentei explicar a situação mas você não deu bola, jogou tudo o que tivemos fora. Eu errei , mas você também errou então seja mulher e assuma sua parcela de culpa.- Ele já gritava, pouco importava que os vizinhos ouvissem. Dane-se! Que nova York inteira escutasse.

Era um momento tenso, a raiva palpável no ar preenchia o ambiente , os dois olharam-se como dois oponentes, imbatíveis , nenhum queria ceder, perder sua razão.

Isabella foi a primeira a desviar o olhar , enxugou as lágrimas e respirou fundo, não foi assim que planejou este momento, queria que as coisas fosse feitas com calma e delicadeza, mas sempre perdia o controle ,quando se tratava de Edward era tudo muito intenso, tanto o ódio quanto o amor que no fundo eram os dois lados da mesma moeda.

Ele foi ate o aparador e se serviu de uma boa dose de Whisky, precisava disso agora. Bella viera ali para esclarecer tudo, dizendo que o amava e pedindo uma segunda chance.

Era isso que ele queria? Amava essa mulher, mas era realmente isso que queria? Bebeu um gole  do whisky  sentindo queimar e arder a medida que descia por sua garganta, mas nada queimava mais que a ángustia e a indecisão em seu peito.

As coisas não estavam indo bem, não mesmo, aquilo estava mais para outra separação do que para uma reconciliação. Tinha que ser rápido e decidir o que queria. Se decidisse manda-la embora a hora era agora.

Abriu a boca tentado a dizer isso, manda-la embora para sempre, para longe dele, da sua vida e do seu coração.

Mas quando falou as palavras não eram o que seu cérebro mandava,mas sim o que dizia seu coração.

- Eu não quero brigar Bella, você veio aqui querendo tentar de novo. Eu também quero, quero resolver esta situação de uma vez por todas.- não passava de um sussurro mas ela o compreendeu.

-Também não quero brigar Edward, então me conta ,me conta porque me trocou por ela, por aquela garota que você mal conhecia!

-Tânya estava com câncer Bella.- ele encarou firmemente os olhos da morena, perdendo-se naquela imensidão.