Os dias arrastavam-se lentamente, em pouco tempo se transformaram em semanas, o quadro de Edward diziam os médicos permanecia estável mas ele ainda estava em coma induzido e pelas previsões permaneceria assim por mais alguns dias ate que ele estivesse completamente reestabilizado.

Mais rápido do que Bella supunha o mês chegava ao fim. Já era início de Outubro, quando os medicamentos foram gradativamente sendo diminuídas as doses ate que ele pudesse recobrar a consciência aos poucos, nesse tempo que passara, Alec insistira diversas vezes em conversar com ela, mas a morena não conseguia esquecer que era por culpa daquele biltre que seu amado marido estava naquela situação.

Aquela altura a imprensa já havia divulgado e feito a cobertura completa do infortúnio que se abatia sobre o teto dos Swan, o que não faltaram foram “amigos” querendo prestar condolências à Bella.

Entre todos eles o único e verdadeiro fora o de Nahuel, que Bella descobriu ser um antigo amigo de Edward, da época de faculdade, ele era uma presença constante no hospital, todos os dias dava uma passada para ver o amigo, ou simplesmente para apoiar Bella, ele mostrou-se um verdadeiro porto seguro.

Era uma tarde nublada lá fora, a janela daquele quarto de hospital estava fechada mais ainda assim dava-se para ver o ceu nublado e as folhas que passavam girando e girando ao ritmo do vento de Outono.

Não houve aviso nenhum, num minuto Bella contemplava o rosto adormecido do marido, e no minuto seguinte um par de olhos verde esmeralda a olhava como um cego contemplando o mundo pela primeira vez, a mão foi diretamente de encontro ao tubo que estava alimentando mas Bella o impediu rapidamente, a garganta estava seca e os olhos nublados pelas lágrimas dessa vez de alegria, Deus ouvira suas orações, seu marido voltara, ele voltara para ela, sua respiração ficou descompassada e ela nada conseguia dizer então esquecendo de tudo lançou-se sobre ele abraçando-o com cuidado enquanto chorava baixinho, Edward nada fez, estava momentaneamente desorientado, se não a abraçou também não a repeliu e para Bella aquilo foi o que bastou.

Passaram-se alguns minutos, ou teriam disso horas? A morena não sabia dizer naquela cena , em seguida ela ergueu-se fitando aqueles olhos que agora estavam vivos e queimavam como brasas, parte da confusão de outrora dissipada, ele avaliava o quarto de hospital em silêncio e Bella manteve-se quieta deixando-o analisar e relembrar de tudo o que acontecera, afinal, ele perdera um mês precisava situar-se no tempo e no espaço, aos poucos com calma ele se acostumaria e então Bella poderia refazer seus votos ditos tão profundamente naquele momento em que ele achava-se desacordado.

–Que lugar é este?- a voz dele não passava de um sussurro seco, como se um bolo na garganta o impedisse de falar, a língua estava pesada e ligeireiramente emboloada.

–Você está no hospital Eddie,-usou o apelido a muito esquecido- Você não se lembra?-perguntou cautelosamente.

–Eu...Eu não sei, lembro da festa...nós...brigamos? Eu ...não...- um grito foi abafado pelo ruivo- minha cabeça doí.

–Eu..vou chamar a médica.

Bella tocou a sineta e uma voz entediada guinchou no alto falante.

–Estaremos enviando as enfermeiras em alguns segundos.

Um silêncio pesado caiu no quarto interrompido apenas pelo gotejar do soro ligado a veia de Edward por um tubo , e pelo tic tac irritante dos ponteiros do relógio.

Ate que Bella decidiu quebrar o silêncio.

–Uh..-começou sem jeito corando ao perceber que Edward a fitava, seus olhos ainda continham muita mágoa e ressentimento mas ele mantinha o olhar firme encarando-a com curiosidade- Você sofreu um acidente de carro, ficou em coma por cerca de um mês.-mastigou o lábio inferior sofrivelmente enquanto torcia pra que ele dissesse algo.

–Um mês?-repetiu como se refletisse, um longo mês se passara, pensou Edward, perdera um mês e nem sequer conseguia lembrar-se do que acontecera antes. Franziu a testa tentando lembrar , esforçando-se ao máximo, lembrava de ir a uma festa com Bella, e depois a deixar sozinha na mesa, eles tinham discutido, jogara uma partida de pôquer com Emmett e outros senhores, não foi? Então viera Nahuel e eles conversaram, a partir daí suas lembranças ficavam turvas , não conseguia lembra-se com clareza, lembrava de gritos e palavras duras girando girando girando em sua mente sem parar, imagens desconexas, um carro, vindo na estrada, a escuridão, o rosto de Bella.

Desistiu.

O esforço era grande e sua cabeça começava a latejar.

–Não me lembro muito bem de nada,está tudo...muito confuso.

–Imagino que sim, mas as enfermeiras estão a caminho, e então você vai ficar melhor, poderemos ir pra nossa casa...

–Sua casa.-enfatizou ele interrompendo-a. Bella prosseguiu imperturbável embora as palavras tivessem rasgado seu peito duramente.

–Então explicarei tudo a você, todos nós ficamos muito preocupados, Nahuel também, ele está la fora. Talvez possa vê-lo daqui a pouco.

Ela segurou na mão do marido , que disfarçadamente tratou de desfazer o contato, não sendo nada sutil em seu intuito.

Bella reprimiu a pontada de dor que aquilo lhe causou.

Paciência, advertiu sua consciência, está lidando com as consequências de seus atos.

Não era que Edward não a amasse mais, falou pra si mesma, ele só estava se resguardando, já entregara tantas vezes o coração à ela e ela o quebrara , despedaçara, dera faltas esperanças só pra jogar em sua cara o quanto ela desprezava. A reação de Edward era mais que natural.

Sua linha de pensamento foi interrompida com a abertura abrupta da porta, duas mulheres uniformizadas com calças e blusas brancas entraram na sala dirigindo-se rapidamente ao paciente.

Uma série de testes rápidos foram realizados, e ambas chegaram a conclusão de que era um sinal muito bom, a médica veio algum tempo depois chamando Bella num canto fora da sala, enquanto Nahuel se colocava ao lado de Edward, explicou a situação.

–O quadro do seu marido é estável Sra. Swan, e o fato dele ter acordado é muito bom, realmente excelente, mas ainda pode ser complicado, acho que ele precisara ficar em observação por mais alguns dias e se o quadro permanecer como está não vejo porque não manda-lo para casa , isto é claro, com alguns medicamentos, a perda de memoria é temporária e em breve ele irá se recuperar, gradativamente.

–Obrigada doutora, sei que a senhora tem se esforçado muito, e estou muito grata por ter salvo a vida de Edward, eu amo este homem.

–Nota-se Sra. Swan, fica tranquila , o pior já passou, em breve terá seu marido totalmente curado.

Bella agradeceu mais uma vez e aproveitando que Nahuel estava no quarto com o marido resolveu ir ate a cantina fazer um lanche, a dias não se alimentava corretamente e já sentia o corpo protestar.

Enquanto isso no quarto do hospital Edward e Nahuel colocavam em dia a conversa.

–Cara você me deu um baita de um susto, não faz mais isso não, num minuto você ta la conversando comigo, e a próxima noticia que eu tenho sua é que você ta em coma? Calma garotão, já vi muita gente querer viver a vida intensamente, mas desse jeito é a primeira vez.

Edward riu fraco encarando os olhos castanhos do amigo.

–É cara fazer o que não é? Nem todo mundo tem vida fácil como você, gosto de viver perigosamente.

Foi a vez de Nahuel rir.

–Mas agora sério, você deixou a todos nós preocupados, principalmente a Bella, não sabe como está sendo difícil pra ela, Emmett tem cuidado da empresa junto com Rosalie,ela não sai daqui pra nada, todos esses dias ela passou ao seu lado, era muito raro ela sair , só em casos extremos, você tem sorte Edward, essa mulher te ama demais.

Edward riu amargamente, deixando vazar de seu coração todo ressentimento que estava acumulado em seu interior.

–Você não sabe da missa um terço Nahuel, tudo o que ela tem feito não passa de fingimento, você não conhece esta mulher como eu conheço, houve um dia no passado em que eu acreditaria verdadeiramente em suas palavras, mas hoje? Não, hoje eu conheço a verdadeira face de Isabella Swan e jamais vou me deixar enganar novamente.- as palavras foram tão amargas que Nahuel foi surpreendido, jamais ouvira o amigo falar assim.

– Do que você está falando?

Então Edward narrou todo seu trajeto, desde o primeiro momento em que pôs os olhos em Isabella, contou sobre Tânya, tudo, inclusive seus motivos, falou sobre o contrato que assinara e toda a humilhação a que fora submetido por Isabella, terminando seu relato com a noite da festa cujo final não se lembrava,mais sabia que tivera um forte motivo para brigar com a esposa.

Nahuel parou por um segundo achando difícil demais aceitar tudo aquilo, afinal de contas não batia, como pudera se enganar tanto com aquela mulher? Não, tinha que ter uma explicação razoável, não conseguia acreditar que aquela mulher a quem Edward se referia era a mesma Isabella que passara dias e noites ao lado do leito do marido esperando pacientemente ate que Edward abrisse os olhos.

Nahuel conversara com Bella diversas vezes e notara ate mesmo pela forma como seus olhos brilhavam cada vez que ela falava de Edward que aquele era o único homem que ela amava.

–Edward tem certeza do que está me dizendo? Porque essa sua descrição em nada bate com a mulher atenciosa, amorosa e carinho que tenho presenciado cuidar de você dia e noite sem descanso, perdi a conta de quantas vezes entrei nesse quarto e vi Isabella prostrada sobre você derramando lágrimas e mais lágrimas implorando para que você voltasse,voltasse para ela Edward! Não posso acreditar que estejamos falando da mesma pessoa.

–É como eu te disse, é puro fingimento.

Nahuel passou a mão nervosamente pelos cabelos como se estivesse prestes a tomar uma decisão que viria a salvar o mundo.Suspirando pesadamente ele falou.

–Edward tenho a solução para o seu problema.

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7 dias depois.

Edward já estava de volta a casa de Isabella aquela altura, em sua mente rondavam todas as decisões que tomara junto com Nahuel, Bella estava trabalhando na empresa, pela primeira vez depois de todo aquele tempo, durante esses dias algo muito estranho aconteceu, na concepção de Edward.

Ela não o humilhara uma vez sequer, nem falara nada sobre ser sua dona, ou sobre ele ser um objeto, talvez fosse consciência pesada, por ele estar doente, é tinha que ser isso, Edward estava incomodado neste dia,esperava ansiosamente Bella chegar do trabalho, precisavam ter uma seria conversa, uma conversa definitiva.

Já estava devidamente recuperado e pronto para ter aquela conversa, estava mais do que na hora , nos últimos dias fizera de tudo para se livrar da morena, não suportava nem estar no mesmo ambiente que ela, pois isso significava uma imensa vontade de abraça-la, beija-la e dizer que a perdoava por tudo, e pedir perdão também, tudo isso motivado pelos estranhos acessos de carinho, Bella se tornou outra pessoa, era uma esposa carinhosa e dedicada, cuidava dele com carinho e sempre queria estar perto, perguntava como havia sido seu dia e coisas do tipo, o que o deixava ainda mais confuso.

Bom mudada ou simplesmente fingindo era hora de dar um basta nisso, Edward ouviu quando o carro da morena estacionou na garagem e quando a porta da frente foi aberta com um barulho mínimo.

–Boa noite Eddie.- ah sim, ela voltara a chama-lo pelo apelido da época em que namoravam o que sem duvida era bastante estranho, invocava lembranças de um outra época, lembranças felizes.

–Boa noite Bella, será que podemos subir um momento? Precisamos conversar.- seu semblante era sério deixando a morena receosa.

–Você está se sentindo bem?

–Estou ótimo, na verdade, acho que não estive tão bem em todos esses últimos meses.- disse ele com um sorriso amargo e uma expressão dura, os lábios fecharam-se numa linha fina como se ele estivesse reprimindo certas palavras.

–Claro.-ela concordou sem forças, gostaria tanto que Edward estivesse mais maleável, durante esses três dias tentara se aproximar dele e conversar, aparentemente ele não se lembrava de sua declaração apaixonada no hospital e Bella já planejava uma maneira de lhe dizer novamente, talvez fizesse um jantar romântico em comemoração ao aniversario de três meses de casamento, que estava se aproximando, e então poderia se declarar, ultimamente Edward estava escorregadio, sempre esquivando-se dela, não permitindo que ela se aproximasse.

Ambos subiram as escadas lentamente como se temessem pelo que estava prestes a acontecer.

Ao chegarem no quarto que dividiam Edward dirigiu-se imediatamente a cômoda de onde retirou uma série de papeis e os deu para Bella, a morena parou por alguns segundo analisando aquela papelada e então a ficha caiu, o ar faltou em seus pulmões e sua cabeça girou.

Edward estava...estava quebrando o contrato, estava...pagando a multa, multa que rescindia o contrato.

Suas mãos estavam trémulas e seu rosto mais pálido do que habitualmente.

–Como..?-sua voz não passava de um sussurro, que ela mau pode ouvir.Olhou para Edward procurando algum consolo mais so encontrou uma expressão dura.

–Nahuel, -disse o ruivo lembrando-se da visita do amigo alguns dias antes quando ele ainda estava no hospital.

“-Edward tenho a solução para o seu problema.-dissera Nahuel.

–Do que você esta falando?

–Lembra quando estávamos conversando na festa e aquela loirinha chegou interrompendo? Então, estava prestes a dizer a você que você está milionário Edward!

Edward estava embasbacado, sua boca abriu e fechou-se um monte de vezes antes que ele olhasse feio para o amigo e dissesse:

–Se isto é uma piada saiba que é de péssimo gosto.

–Que piada o que é Edward , eu tenho cara de quem está brincando?-ele suspirou dramaticamente.- Veja bem, lembra quando passamos na faculdade e apostamos com Collin e Braddy que conseguiríamos comprar ações melhores que a deles e ter mais sucesso por pura sorte, e aí nos compramos as ações daquela pequena empresa? Então...a empresa deu lucro , e as ações ficaram super valorizadas, cada pequeno pedaço, como nossas ações estavam em conjunto recebi uma proposta, precisava da sua assinatura é claro , mas como ninguém te achava em lugar algum os caras deram um jeito la, burlaram a lei ou sei la, conseguiram uma assinatura sua , sendo falsa, a questão é que recebemos 5 milhões de dólares por aquela quantia, 5 milhões Edward! Peguei a minha parte e abri uma conta no banco pra você, sua parte está la, intocada, guardada há cerca de uns três anos, na época procurei você por toda parte, depois desisti.

O ruivo olhava o amigo sem acreditar!

–Isso quer dizer...quer dizer...

–Que essa é a sua chance de tomar o controle de sua vida de novo Edward”

–Na verdade foi mais um golpe de sorte, quando passamos no vestibular fizemos uma aposta idiota com uns veteranos que estagiavam na bolsa de valores e dissemos que teríamos mais sucessos que eles por pura sorte, então compramos uma pequena parte de ações de uma empresa e adivinha? Deu certo. Agora Isabella Swan , tens aí teu pagamento e eu a minha liberdade.

Foi só então que Bella notou as malas todas prontas ao lado da cama, seus olhos encheram-se de lágrimas.

Não podia ser!

–Você está indo embora?-perguntou com um nó na garganta.

–Sim! Finalmente, estou indo embora, e pra nunca mais voltar.

–Mas eu te amo Edward!-disse desesperada sentindo as lágrimas escorrendo.

–Amor? Você não sabe o que é amor Bella, poderia saber antes, quando você ainda era humana, quando você ainda era você, hoje procuro a garota que namorei e não encontro só vejo uma mulher fria, amarga e incompreensiva. E não posso estar com alguém que me faz tão mal, tenho vergonha da pessoa que você se tornou Bella,você trás a tona tudo de ruim que tem nas pessoas.

Eu tenho pena de você! Pena de quem você é.

E dizendo isso o ruivo pegou as malas e partiu, Bella não conseguia reagir, ouviu quando a porta fechou-se atrás dela sentiu as pernas fraquejarem e o rosto molhado de lágrimas que caiam sem parar, um grito rasgou seu peito e explodiu por sua boca enquanto seu mundo se despedaçava em milhões de pedaços, agora mais do que nunca estava consciente de tudo o que fizera de errado, caiu de joelhos ao lado da cama afundando o rosto no edredom , edredom que cheirava a ele, cheirava a Edward, os papeis jogados ao chão eram a prova viva de que ele partira e entre aquela bola de papeis o cheque de dois milhões de dólares preenchido.

Era o fim.