Atashi To Tenshi To Akuma escrita por Mel Devas


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Eu queria fazer outro capítulo com 1.000. Mas acabou com apenas 800 mesmo eu tendo enchido muita linguiça, bem, me desculpem. E como sempre: Boa leitura!!!



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Ah, que momento de tensão, quando eu era pequena, minha mãe (e consequentemente minha mãe alternativa, Lion) viviam falando que a curiosidade matou o gato.

Mas sabe, hoje eu decidi mudar minha opinião (e provavelmente por apenas um tempinho, só até olhar o bendito caderno), gato eu não sou (nem gata, desculpe a piada podre, mas foi mais forte do que eu) e posso/vou me arrepender profundamente dos dois jeitos: vendo ou não o caderno. Decidi dar uma bisbilhotada, vou me ferrar de qualquer jeito, que pelo menos eu mate minha curiosidade.

Ahh!!  Cérebro maldito! Pare de fazer esses malditos flashbacks aparecerem!! Memórias das vezes que fui curiosa e me dei mal, e não foram poucas vezes, não MESMO. Ah, pare, pare, pare!!!!

Enfim, depois da minha “briga” com meu cérebro, sentei no beliche e encarei o caderno. Estava com um sentimento agridoce, não sabia se devia mesmo. Balancei a cabeça. Não!! Não devo hesitar, já decidi, quem decide e não faz não tem o direito de querer nada.  

Peguei a almofada e ajeitei-a entre a parede e o beliche. Encolhi minhas pernas e peguei o caderno. Ele tinha folhas macias, incomuns, o lápis que Dan tinha usado ainda estava jogado. Peguei e olhei, grafite macio, próprio pra sombras, um 6B provavelmente. O incrível é que mesmo eu tendo decidido ver o caderno eu continuava enrolando, mesmo com a constante ameaça do Dan perceber que esqueceu seus desenhos e voltar. Será que no fundo eu não queria ver?  Tinha algo de estranho nas últimas coisas que aconteceram. Não consegui conter um temor que foi se espalhando no meu peito, sufocando. Com os olhos fechados, virei o desenho em direção a mim, e lentamente abri os olhos.

Numa alva folha estava desenhada uma garotinha, não tinha mais que três anos. Usava vestido rendado e marias-chiquinhas. O rosto dela estava banhado em lágrimas, a boca retorcida, as mãos limpando as lágrimas. Mas não era só uma garotinha chorando. Em volta dela havia chamas, negras, totalmente escuras, consumindo tudo, sorrisos diabólicos no meio delas. O desenho pulsava, como em vida própria, dava pra sentir o calor avassalador, dava pra ouvir o aterrorizante crepitar das chamas, dava pra ver a garotinha perdida e trêmula no meio daquele cenário de maldade. Dava pra ouvir as ensurdecedoras risadas dos sorrisos.

Fui passando os desenhos. Todos eles estavam repletos de cenas malignas, a da garotinha era a mais repetida. Em um deles tinha uma mulher com ela, com cara indignada, precipitava-se pra frente enquanto a criança se segurava em suas saias, aterrorizada. Era difícil achar uma parte em branco no desenho, já que parecia que toda a folha havia sido consumida pelas chamas negras. Outros desenhos mostravam demônios, de sorrisos cruéis e olhos frios, dançando, pulando, humilhando pessoas jogadas, tentando se proteger.

Enquanto eu observava todos os detalhes dos desenhos, imersa, senti algo tocando meu ombro. Dei um pulo, meu coração bateu a mil e desejei não ter nascido. Obriguei meus olhos a irem pro lado, para encarar um Dan melancólico. Ele se sentou delicadamente ao meu lado:

- Sou um idiota – Ele suspirou. – Me assustei tanto com uma garotinha que acabei me afundando.

- Desculpa – Envergonhada, continuei olhando pro chão, apertando minhas mãos uma na outra. – Eu não devia ter feito isso, mas...

- Eu também teria feito – Deu uma leve risada e olhou pro teto, pensativo. – Agora nem sei mais o que fazer...

Baixou um silêncio tenso, um clima tão pesado que chegava a ser cômico.

E ficamos assim, eu olhando pro chão, ele pro teto, igual dois retardados. Eu em geral sou o tipo de babaca que quebra esses climas com uma piadinha idiota, mas hoje, pela primeira vez na minha vida, pensei que o silêncio seria melhor. O silêncio é de ouro. Eita, agora me lembrei do Lion e suas lições de moral, mas isso não vem ao caso.

- ...

-...

-... Sabe? – Dan quebrou o silêncio com a voz baixa, ainda olhando pra baixo – Você acredita no Inferno? – Pronto, vou dar pra ele o troféu de pergunta mais “entrega jogo”, porque né... Bem, vou ser boazinha e responder como se estivesse boiando.

- Não sei, nunca parei pra pensar. Sempre encarei minha vida como se estivesse com um cabresto. Só olho pra frente e pra frente, sem parar pra refletir, olhando pra trás e só conseguindo distinguir um vulto do que já passou. Vivo minha vida como uma louca. Mas agora nem sei mais o que pensar. – Olhei pra ele significativamente, agora é rezar pra ele morder a isca.

- Por que? – Ele me olhou de volta, os olhos negros calmos e sinceros. Deu pena me aproveitar desse momento de sensibilidade, tristeza e lerdeza. Mas ele mordeu a isca. Ah, Dan, bom garoto, deve ter sido um sushi na outra vida.

 Eu observei-o por mais um tempo, me inclinei em sua direção e estendi minhas mãos para seu cabelo. Ele corou, e olhou pra baixo, mas não me deteve. Procurei, e lá estava, em meio de seus cabelos macios haviam duas pequenas protuberâncias pontudas. Pra ter certeza, me levantei sobre os joelhos e olhei entre os fios dourados. Chifres. 


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Notas finais do capítulo

Bem, não sei se o capítulo ficou bom, espero que sim, qualquer crítica a fazer, deixe um review *-----*