Não pôde deixar de ser contagiado por seu sorriso. Não pôde MESMO. Com um sorriso de orelha a orelha Jim se aproximou de seus filhos com o consentimento do médico.

Eram lindos, muito lindos mesmo. Os dois tinham os olhos azuis da mãe, apesar dos da garotinha de cabelo branco serem meio verdes por dentro, como os de seu pai. Não que pudesse chamar a pluma branca na cabeça de sua filha de “cabelo” , é claro. Já o filho tinha cabelos negros como os de Jim, contrastando com a pele provavelmente branca (eles ainda estavam meio vermelhos) e os olhos azuis herdados da mãe.

O agora pai encaminhou-se para o lado de sua esposa, que entregou os filhos com cuidado excessivo. Aninhando-os contra o peito, Jim olhou maravilhado as duas criaturinhas que, mesmo curiosas, fechavam os olhos, sonolentos. Elas não eram maiores que seu braço e um sentimento de proteção apossou completamente seu corpo.

Mitsra observava tudo com lágrimas nos olhos, era simplesmente perfeita sua vida, tinha um bom marido, uma boa casa, bons amigos, uma boa empregada e agora dois seres lindos vindos de seu ventre. É como se praticamente todo o amor que ela possuía estivesse enclausurado naquela salinha de hospital.

Foram movidos para um quarto particular, afinal, Mitsra preferiu não fazer parto normal. E parece que não houve problemas com o fato dela não ser da mesma espécie que Jim.

Estabanada e insegura como praticamente toda a mãe de primeira viagem, depois de um pouco de esforço conseguiu amamentar seus filhos, com seu marido ao lado, olhando-a docilmente.

A garotinha em seus braços deu um soluço e caiu no sono, indicando que já tinha se cansado de tomar leite. Enquanto Mitsra se encarregava do garotinho de cabelos negros, Jim colocava a filha no berço, (que Sheila fez questão de preparam com tecidos macios e de tons pastéis, tão acolchoado que quase não caberia nenhum bebê ali) com cuidado, cobrindo-a logo em seguida.

Quando as duas crias já ressonavam no berço, Jim e Mitsra se olharam, cansados e satisfeitos. Concordaram rindo que as missões que faziam até então deviam ser bem mais fáceis do que o desafio de cuidar de uma criança.

Não demorou muito pra que Mitsra saísse do hospital, ela e o marido já entendidos (ou não) de como cuidar de crianças. Com o dia-a-dia de trocar fraldas, ensinar a andar e falar, dar papinha e brincar, (e uma grande parcela da ajuda de Sheila, que se mostrou mais uma vez preciosa) as crianças foram crescendo e os pais ao pouco aprendendo como lidar. Já era óbvio que os olhos azuis e o cabelo branco da garotinha eram algo permanente, não só uma característica de quando bebê. O mesmo podia se dizer do garoto, lindo, esperto e travesso, ah, e como era travesso.

Era difícil dizer se o maior prazer do pequeno era ler Teletubbies ou tirar sarro da irmã. Não tinham nem dois anos e saíam rolando pela casa puxando o cabelo um do outro ou dando pequenos chutes. Já se tornara tão costumeiro que Jim e Mitsra pararam de se importar, constatando que o irmão nunca chegava a machucar a garota e vice-versa.

Não só não a machucava, como a protegia. Podia ser a baratona que fosse, o travesso sempre aparecia com um chinelo do nada resgatar sua irmã, apesar de nunca acertar nada a não ser ele próprio até Jim perceber e matar ele mesmo o inseto.

Mitsra decidiu ficar mais parada, em vez de sair em missões, ajudava e administrava ONGs, não era raro esses dias ouvir o nome Mitsra Chrow associado com serviços comunitários. Jim lecionava em uma pequena escola, sempre tentando surpreender seus alunos, usando sua experiência como arqueólogo a seu favor. Não era raro um aluno do maternal acabar achando uns ossos esquecidos enquanto fazia um castelinho na caixa de areia do parque da escola.

Os dias continuavam felizes, os pais constatavam surpresos como o tempo passava rápido e como os filhos cresciam mais ainda. Já falavam bem,e o fato do mais novo (por dois minutos) ser debochado e esperto se confirmou. A garota era mais doce e inocente em demasia, sempre acabava caindo nas pegadinhas de seu irmão, e nunca se importava, e isso o motivava a fazê-las cada vez mais, era orgulhoso demais pra aceitar que nada a atingia. Era fita crepe na porta, banana no sapato, sumiço no vestido novo... A garota continuava impassível, mas Mitsra nem tanto, depois de uma bronca fenomenal (o moreno tinha passado dos limites ao colocar um pássaro no quarto da irmã) conseguiu acalmar o garoto, que começou a matar tempo subindo em árvores.

Um dia ele gritou para mãe ver como ele tinha chegado alto na árvore, com Sheila desesperada chamando-o pra baixo. Mitsra nem se importou, a árvore não era tão alta, ao contrário, subiu junto dele. Lá em cima percebeu o garoto olhando pro céu sonhador.

– Mamãe!! – Ele chamou atenção, com a cabeça apoiada nos braços continuava olhando para cima.

– O que foi, querido? – Sentou-se ao seu lado.

– O céu não é lindo??? Meu sonho é ir pra lá! – Sorriu.

Mitsra não sabia o quê responder, não seria capaz de mentir pro filho, este, estranhando a demora olhou-a inquiridor.

– Hm... – Mitsra sorriu amarelo, o filho era inteligente, mas esperava que ele não percebesse.

Se percebeu, ignorou, voltou a olhar pro céu.

– Tão azul... – Murmurou.

– Mamãe!!! Maninho!!! – Puderam ouvir uma voz fina gritando lá de baixo. A gêmea acenava os braços, pulando pra tentar alcançar um galho.

Jim apareceu atrás dela e colocou-a nos ombros, da onde ela pôde se pendurar num galho e se juntar com o irmão e a mãe, com o pai olhando em terra firme, protetor.

– Cuidado com suas roupas, querida. – Avisou a mãe.

Foi quando de repente abriu-se uma fenda no céu. A luz pousou sobre o garoto de cabelos negros e o sugou, Mitsra alarmada e desesperada, gritou pra Jim segurar a filha e foi atrás.

Jim, com a filha no colo olhou horrorizado pra cena. Em um segundo havia perdido a mulher e o filho. O que faria sem eles?