Mas o sorriso não durou muito tempo. Eu estava preocupada com ele. O que quer que ele estivesse fazendo, estava o consumindo por inteiro. E, bom, o que eu estava sentindo não era preocupação, não por um Malfoy. Eu estava curiosa – sim, essa era a palavra – para saber o que estava lhe causando tanto cansaço.

                - O que aconteceu? – Perguntei.

                - E isso lhe interessa? – Ele revidou. – Desde quando devo satisfações para uma sangue-ruim como você?

                Suspirei.

                -Desde quando você está tão acabado ao ponto de não conseguir nem me humilhar direito.

                Ele também suspirou.

                - Que tal darmos uma trégua? Não precisamos brigar o tempo todo – Ele sugeriu – E essa trégua poderia durar até eu estar bom o suficiente para acabar com você. Que você me diz?

                Esse era um daqueles sonhos loucos que eu normalmente tinha? Isso seria realmente possível? Ele estava pedindo uma trégua? Esse era um pedido implícito de ajuda? Eu estou louca? Ou estou tendo um caso de surdez? Ainda estava na opção do sonho.

                -O que você me diz? – Ele me tirou de meus devaneios. – Não é todo dia que você recebe um pedido de trégua de um Malfoy.

                Isso foi uma tentativa de brincadeira? Vinda do Malfoy? Estou louca?

                - Anda, nós temos aula juntos agora.

                Nenhuma piadinha.

                - Você deve estar muito mal. Nenhum xingamento, nenhuma piadinha, nada. – Eu tive de dizer. – Estou começando a pensar que você está prestes a morrer.

                - Talvez esteja – Ele riu. – E dar uma trégua a você está no topo da minha lista de cem coisas a fazer antes de morrer.

                Acompanhei a risada dele.

                - E qual seria o próximo item da lista?

                - Beijar Harry Potter.

                Tive um ataque de risos. Ele disse isso tão sério, que chegava a ser cômico. Rir era uma definição não muito certa para o que estávamos fazendo. Estávamos gargalhando, como se fôssemos amigos fazia tempo.

                -Então vamos fazer com que isso seja feito também.

                Ele riu junto comigo. Chegamos perto da casa de Hagrid e a turma inteira já estava lá. E quando ouviram nossas risadas, se viraram para nos ver. Chocados, eles abriram a boca em um perfeito “O”. Consegui ler seus pensamentos gritantes: Granger e Malfoy Juntos? É isso mesmo?

                Ri ainda mais. Dei um sorriso para Draco e fui para o lado de Rony e Harry. Ao ver a cara do menino de óculos me deu ainda mais vontade de rir. Olhei para onde estavam os alunos da Sonserina e Draco me deu uma piscadela.

                -O que você pensa que está fazendo? – Rony estava sibilando. – Tá namorando com ele agora?

                -Não sabia que branquelos filhotes de comensal com cara de fuinha faziam o seu tipo. – Essa foi a vez do Harry de falar.

                - Não é nada disso que os dois estão pensando – Tentei me justificar. – Ou que todos aqui estão pensando. Ele me pediu uma trégua e eu cedi. Afinal, todos merecem uma segunda chance.

                - Tá curtindo com a nossa cara? – Rony ainda me encarava, sério.

                - Eu poderia – Sorri. – Mas não, não estou. E eu que pensava que vocês não eram tão ciumentos.

                -Não estamos sendo ciumentos –Harry disse com uma calma que não combinava com a expressão dele.

                - Estamos tentando te proteger –Rony continuava a me olhar.

                - Olha, acho que eu posso escolher com quem eu falo. Não deixei de gostar de vocês. E vocês continuam sendo meus melhores amigos. Mas ele merece uma segunda chance, talvez assim, ele mude o modo de pensar. Por favor, entendam.

                Eles me olharam como se eu fosse louca, mas assentiram.

                - Você sempre foi a mais inteligente de nós três, talvez tenha razão – Harry deu de ombros.

                Então os dois arregalaram os olhos para algo atrás de mim. Me virei e deparei com o Malfoy sorrindo e se aproximando.

                - Olá, Potter e Weasley. Hermione, Hagrid disse para que formássemos duplas a fim de chegarmos mais perto dos hipogrifos. Quer fazer par comigo? – Ele disse e logo se virou para os dois que estavam na minha frente. – Vocês se importam se eu roubá-la por um tempo?

                Harry deu de ombros, mas Rony continuava de cara fechada. Draco entendeu aquilo como um sim, porque sorriu para mim, e me levou para o outro lado.

                Devo admitir que ouvir ele dizer o meu nome pela primeira vez me fez sentir um calafrio. Aquele era um novo começo, eu tinha certeza. O modo como ele sorria estava diferente, até como ele falava com as pessoas.

                Ao contrário do que eu pensava, ele não me levou para perto dos Sonserinos. Me levou para perto do Hagrid, a fim de ouvirmos as instruções para a aula. Hagrid, por sua vez nos olhou como se fossemos explodir a qualquer segundo. Falando nisso, dei uma olhada para trás, Rony nos encarava com raiva, e Harry estava tentando fazê-lo se mover. Forcei a eles o meu melhor sorriso.

                Eu apostaria com qualquer um que esse seria um novo começo perfeito. E que, talvez, só por um talvez, minha amizade com o Malfoy iria durar, e muito.