A Organização escrita por carmpuff


Capítulo 7
Numb


Notas iniciais do capítulo

ok muita merda acontece nesse cap então be ready U__U



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            - Oi, December - ele disse com um sorriso sardônico.

            - Queria que tivesse morrido. - ela rebateu acidamente. - O que faz aqui? O que quer?

            - Ah - ele sorriu. - Eu continuo querendo dinheiro. E você, querida? Ainda atrás da sua mãe louca?

            - Filho da mãe. - December cuspiu. Saiu de trás de Harwood e puxou sua pistola. - Não basta o que você fez em Orleans? Você tem que me achar de novo?

            - Você foi embora muito bruscamente da última vez. Estava esperando você aparecer na minha porta; tinha comprado até uísque.

            - Eu te dei um tiro.

            - E eu sobrevivi.

            - Está afim de levar outro?

            - Que bonitinho - ele riu. - Parece até uma adulta. Como você cresceu, neném. Nem parece aquela adolescente que o serviço social deixou na porta do meu orfanato. Ganhou corpo.

            Harwood sacou sua pistola também, com fogo nos olhos.

            - E ganhou um guarda-costas também! - o loiro falou cruelmente. O humano no volante quase chorou de desespero quando ele engatilhou a arma. - Vamos, sejamos racionais. Vocês não quererem esse inocente morrendo porque vocês insistem em seguir com sua missãozinha inútil.

            - Larga a arma. - Harwood avisou.

            - Faça-me.

            Em um milissegundo Harwood desapareceu; Brittany socou a arma do mutante para longe e December puxou o humano para longe do volante. Mesmo assim, o loiro era mais rápido e conseguiu por as duas mãos no queixo de December.

            Na mesma hora, ela sentiu os efeitos de seu poder.

            Uma dor lancinante lhe percorreu o crânio. Todas as vozes, todas em um raio de um quilômetro chutaram a porta de sua mente abaixo; gritavam alto e todas ao mesmo tempo.

            Inteligíveis, as palavras de juntavam numa massa absurdamente dolorosa. December caiu de joelhos no chão, segurando a cabeça nas duas mãos. O grito de Brittany soou mais alto do que deveria e a risada do homem, mais forte.

            Gemeu e puxou as raízes do cabelo em agonia. December viu, com olhos embaçados, Harwood reaparecendo atrás do mutante, furioso; o matou rapidamente com um tiro na espinha. Mas era tarde, o estrago já estava feito.

            A consciência dela explodiu em milhares de constelações, até se recompor e pô-la num estado quase vegetativo; viu o rosto apavorado de Brittany e Simon gritando que a mulher no fundo do vagão morrera graças à batida- mas não sabia que tinham batido, nem que dia era aquele, nem se alguém prestara atenção às informações cruciais sobre ela que o mutante deixara escapar.

            Não sentia seus olhos, não sentia seus membros, não sentia o bater de seu coração. Deitada no meio da salinha, seus olhos estavam vazios e vermelhos de sangue.

            Harwood se ajoelhou do seu lado e a sacudiu. December tentou levantar os olhos para encontrar os dele, mas descobriu que até isso doía demais. Ele desceu o rosto para ficar no seu nível de vista.

            - Ei, ei - falou, demonstrando mais emoção do que ela jamais vira. - Levanta, vem.

            - Você... - ela custou a falar, sua língua pesada como aço. Levantou tentativamente um dedo, apontando para o corte na testa dele. - Se machucou.

            Apareceram lágrimas nos olhos de Brittany na porta. Simon segurava nos braços uma criança envelopada em panos; não devia ter um ano.

            - Acho que ela teve um derrame - veio a voz abafada do ruivo.

            - Merda, merda, merda. - Brittany xingou.

            Harwood afastou os cabelos de December do seu rosto, desesperado por algum sinal de lucidez. A garota cheia de fogo e bom-humor que adentrara seu escritório desaparecera.

            - A gente bateu? - December perguntou, arrastando as palavras. - E o... o... o humano? Ele viveu?

            Uma série de soluços respondeu sua pergunta. O tal humano apareceu atrás de uma estante caída, inteiro mais em estado de choque.

            - Acho que vou dormir. - December disse então. O trem estava parado, a parte desconectada dela descobriu. Ela piscou repetidamente. Harwood tentou acordá-la novamente, porém ela já mergulhara na escuridão total.

-x-

            - O nome dele é Bruce Seay. - ela falou cansada.

            Estava num quarto de hospital, numa cama quente e olhando Harwood passar a mão no cabelo pela sexta vez. Ele olhou para cima, surpreso, ao ouvir a voz dela.

            - December... - ele falou, pegando sua mão.

            Para sua vergonha, ela sentiu vontade de chorar ao ouvir seu nome na boca dele. Olhou para o teto e respirou fundo para se recompor.

            - O mutante - tentou novamente. - Ele é Bruce Seay.

            - Você não precisa falar disso comigo. - ele a acalmou. Aliviada, ela afundou um pouco mais nos lençóis. - Quer que eu chame Brittany? Ela é bem melhor em conversas comoventes que eu.

            Por alguma razão, December não queria que ele fosse. Queria que permanecesse ali, segurando sua mão e olhando nos seus olhos como se não houvesse nada mais importante do que ela naquele momento.

            - Pode ser. - falou finalmente.

            Ficou mais alguns segundos ali, até se levantar e sair. Um raio de cabelos loiros adentrou a sala, seguido por uma mulher bem mais calma.

            - December! - Brittany gritou de alívio. Estava com olheiras enormes e os olhos frenéticos. - December!

            - Oi.

            - E aí - a mulher nova disse. Seus cabelos eram longos e negros; estava grávida. - Sou Anne, a esposa de Matthew.

            - Ah, oi. - December respondeu, genuinamente feliz por conhecê-la. - Parabéns, by the way.

            Anne riu, feliz. - Você assustou todo mundo.

            Brittany fez uma careta e cruzou os braços. - Falando nisso: ficou louca? Perdeu o juízo? Porque você deixou o cara te tocar?

            - Eu não deixei - protestou. - O infeliz é rápido.

            - Você o conhecia?

            December tentou levar a mão à testa, mas descobriu que as juntas ainda lhe doíam. Limitou-se a acenar para a cadeira. Anne fez menção de sair.

            - Não, fique - December pediu. - Você vai descobrir de um jeito ou de outro.

            - Quem era ele?

            - Minha mãe - ela começou com dificuldade. - Ela tinha o mesmo dom que eu. Era louca; bebia copiosamente e passava o dia doidona, porque não conseguia se livrar do dom. Na verdade, ler mentes é mais para uma maldição que um presente.

            Tomou um golfo de ar.

            - Ela se desculpava para mim todos os dias. Naquela época, eu não sabia por quê; hoje, eu sei que se desculpava por ter me passado a habilidade. No final, era eu quem cuidava dela. Amava minha mãe, mesmo ela sendo meio maluca; quando eu era menor, ela cantava musiquinhas de ninar bem baixinho e meu pai vinha e me embrulhava em vários lençóis. Houve então um dia, onde meu pai desapareceu. Não era porque ele era um humano que descobriu que minha mãe lia mentes, ou porque ele não queria ter uma filha- o governo o achou. Minha mãe nunca superou a sua morte e não me olhava nos olhos porque eu tinha os mesmos que ele. O mesmo governo que assassinara meu pai declarou minha mãe uma má responsável quando eu tinha quinze anos e me jogaram no sistema de adoção.

            December massageou as sobrancelhas.

            - Não é mentira, o que eles falam nos filmes e seriados. O sistema de adoção nos Estados Unidos é um labirinto do qual você jamais sai. Quicaram-me de lugar para lugar até me pôr no orfanato de Bruce Seay. Como todo dono de foster homes que eu conhecera, ele não se importava conosco; queria o dinheiro que vinha com as crianças do estado. Seay não nos dava comida, nem roupas, nem livros escolares. Eu era conhecida como a estranha do colégio. Foi só quando eu fiz dezesseis anos que Seay tomou um interesse em mim. Ele me puxou pelos cabelos imediatamente depois de eu ter entrado na casa e me jogou na parede, perguntando “então, acordaram? Seus poderes acordaram?”. Eu achava que ele estava novamente drogado, então só fiz que não e me encolhi numa bola num canto da sala enquanto ele me batia.

            - O desgraçado te surrou? - Brittany estava indignada.

            - Sim.  - December deu de ombros. - Coisas piores acontecem no sistema. De qualquer jeito, eu me retirei da casa dele sete semanas depois porque ele solicitara.

            - Mas você disse algo sobre um tiro?

            - É. Quando eu tinha vinte e dois anos, me deparei com Seay novamente. Estava em Nova Orleans. Ele me achou num botequim qualquer e me empurrou pro carro dele. Usou os poderes e me deixou tão entorpecida que não percebi quem era; só quando acordei na cama dele, cheia de roxos e sem roupas, eu voltei a mim.

            - Meu Deus... - Anne cobriu a boca com as mãos.

            - Relaxem - December conseguiu falar mais alto. - Eu superei depois de um tempo. Naquele dia eu achei um rifle no armário dele. O desgraçado ainda estava dormindo. Eu peguei um pano qualquer e cobri o gatilho para não deixar alguma digital na arma e meti-lhe uma bala no meio das costelas.

            - E ele viveu?

            - Obviamente. - Anne lançou um olhar incrédulo para Brittany. Ela rolou os olhos atrás de lágrimas.

            - E você não está nem um pouco rancorosa?

            - Qualquer rancor foi apagado quando eu o vi morrer. - December a assegurou. - Agora eu só quero dormir. Preferivelmente para sempre.


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