Não sei como é possível mas eu tive um dos meus ataques de raiva, meus nervos não estavam mais sob o meu controle.Acidentalmente, taquei uma almofada na televisão, por sorte dela estar conectada na parede e bem firme, não caiu.

Entrei no meu quarto pisando com firmeza no chão, agora eu já estava sentado na cama com os cotovelos nos joelhos e a cabeça dentro das mãos. Fiquei com uma raiva tão forte...

Como é que uma garota tão fraca poderia ter tirado um 11? Um ONZE! Mais do que eu, isso é absolutamente ridículo, como ela ousa? Como os Idealizadoresousaram?

Senti alguém me olhando então ergui os olhos, vi Glimmer perto da porta com uma cara de preocupação.

-Eu... eu posso entrar? - abaixei a cabeça e murmurei um "sim".

Ela se sentou ao meu lado, eu não me movi.

-Entendo sua frustração, uma garota daquele nível, daquele distrito... um onze é meio impossível.

-Agora eu acredito quando dizem que o impossível é possível.

-Sempre acreditei, mas achei que isso fosse só com algumas pessoas.

-Hum.

Ela ficou calada por um tempo, mas, como Glimmer tem uma mania de falar, uma tagarela né...

-Olha, quero pedir desculpas por eu ter surtado naquela noite.

-Tá. - me endireitei. - Só isso?

-É. Eu acho.

-Tá bom. - me levantei e abri a porta. - Pode ir.

Percebi que não era só aquilo, ela estava com uma expressão meio triste, não dava pra saber. Só sei que eu queria imediatamente pôr-la pra fora, não quero passar o tempo perto da Glimmer, só posso pensar em vencer os Jogos e mais nada, não tenho tempo para o amor. Dediquei 1/3 da minha vida seguindo ela e correndo atrás mas não adiantou.

-Marvel... eu preciso te dizer uma coisa.

-Fala logo. - falei entediado.

-Eu não quero morrer, eu não quero estar aqui...

-Acha que é só você?

-Não. Mas, eu quero te dizer uma coisa que guardei por muito tempo.

-Glimmer, tá me assustando. - ela se levantou.

-Eu vi que você correu atrás de mim, eu vi, eu sempre quis que você corresse e eu fui idiota em não correr atrás de você.

Ela caminhou na minha direção.

-Eu só quero te dizer que escondi todo esse tempo que eu te amo.

Não. Ela tá brincando comigo.

-Olha, você tá dizendo isso por estar desesperada, você quer o Cato eu sei...

-Não, Marvel, aquilo foi pra te deixar com ciúmes.

-Só que você me deixou com ciúmes toda a minha vida, não já tá bom? - percebi que estava elevando a voz e que Glimmer bateu a porta.

-Eu só fiz isso por...

-Por? - seus olhos se encheram de lágrimas.

-Por medo. Por amor, eu não sabia o que fazer, nunca senti isso antes.

-Então você gosta de mim? - Ela assentiu com a cabeça baixa.

-É.

-Hm, tá.

Ela levantou a cabeça.

-Só isso?

-É.

-Mas... mas... você não pode me rejeitar desse jeito!

Abri a porta e fiz um sinal pra ela se retirar. Havia lágrimas em seus olhos, elas escorriam pelas suas bochechas com rapidez.

-Boa noite.

Ela puxou minha cabeça e me beijou. Eu não queria que ela fizesse aquilo pois eu iria amá-la mais ainda e ela não pode ter todos os garotos a desejando. Eu queria colocá-la pra fora mas ela mesma foi por conta própria.

Estranho.

Me deitei na cama e fiquei um tempo pensando. O que eu vou fazer? Ver Glim morrendo, ou ela me ver morrendo, não tem como sair desse pesadelo. Espero que nós esqueçamos esta noite, não queria que ela me beijasse e não queria de jeito nenhum que ela se apaixonasse por mim. Não agora.  Poderia ter acontecido isso antes... mas será que ela já sentia isso antes? Será que ela agia daquela forma pra eu tentar pará-la mais ainda? Mas ela via o quanto eu corria atrás... é estranho... muito estranho, ela deve ter um plano em mente ou deve estar se fazendo de fraca como a garota de uma das edições passada, do distrito 7, fez.

Dormi, pensando no nada, acordei sem me lembrar do que sonhei.

Só percebo que tenho pesadelos quando vejo que Poltrie está me olhando com preocupação, logo percebo que estou entre as cobertas deitado no chão.

-Marvel... está tudo bem, querido?

-Acho – esfreguei o olho. – que sim.

-Humm, ok, qualquer coisa é só chamar, o café vai ser servido.

Ela saiu do quarto enquanto eu me desenroscava dos lençóis. Eu estava com muitas olheiras quando me vi no espelho e pareço um zumbi, logo no dia da entrevista com Caesar.

Espera um minuto. É isso! Ela só me disse aquilo ontem pra eu ficar fraco e confuso logo na entrevista, pra eu me sair mal! Ela é sim persuasiva só que é mais ainda estratégica, sempre soube que por baixo daquelas tacadas no cabelo, risos bobos e beijinhos pra qualquer um havia uma garota inteligente que sabe como armar uma confusão. Mas comigo isso não vai adiantar, eu saquei o plano dela.

Dou de cara com todos se servindo em um falatório, me sento quieto e como quieto. Até a minha estilista me puxar pra dentro do papo.

-Marvel, hoje você terá de treinar comigo e com a Poltrie como será na sua entrevista.

-Tá.

-E depois do café nós iremos treinar, mas treinar muito! Precisamos de patrocinadores pra você, não que seja difícil mas só pra garantir que você é o vencedor.

Glimmer encolheu os ombros.

-Ah, querida, - ela olhou pra Glimmer. – desculpe, eu sei que um de vocês dois vai ganhar. – ela sorriu.

Tão idiota a forma que esses naturais da Capital agem com uma naturalidade incompreensível ao ver adolescentes se matando em um reality show.

Ouvi todo o blá,blá,blá e depois fiz o que me mandaram. Tentei pensar no que eles me mandavam fazer, mas na verdade não absorvi nada.

Na hora de me vestir, Wennie me deu um terno azul, uma roupa totalmente azul, era muito feio.

-Ah qual é Wennie, você quer que eu ganhe patrocinadores com isso?! – ela me olhou com raiva.

-Acha que é fácil ser estilista?

-Sim, eu acho

-Veste e vai embora! – me vesti de mal-humor e fui pra sala, diretamente de lá para o elevador.

Não queria brigar com Wennie, mas as pessoas da Capital estão começando a me irritar.

Nos sentamos e logo que a entrevista começou, Caesar me assustou com seu grito de boa noite, cara ele grita!

Glimmer foi a primeira, acenou e mandou beijos para o público e logo se sentou ao lado de Caesar.

-Então, Glimmer, você parece ser uma garota muito popular. – ele elogiou. Glimmer pôs a mão no peito e olhou para a plateia.

-Ele não é adorável? – ela voltou a Caesar. – E sim, eu sou.

-Ah! Acertei! E com isso me diga, deve ser muito invejada no distrito?

-Com certeza.

-Mas sua beleza não deve ser a única arma, e suas habilidades?

-Bom – ela arrumou o vestido rosa claro. – eu sou muito boa em conseguir o que quero, mas as habilidades são surpresa, só na arena que vocês descobrirão.

-Acho que não descobriremos nunca. – murmurou Clove para Cato e eles riram. Foi engraçadinho, mas não ri.

O alarme tocou.

-Ah, acabou o tempo – Caesar pegou a mão dela e a levantou. – Gimmer Jewelry, Panem, distrito 1!

É a minha vez.

Caminho confiante até Caesar e o cumprimento.

-Marvel, Marvel. Você é um garoto ótimo, é o que parece.

-Isso quem vai me dizer é essa plateia maravilhosa. – todos aplaudiram.

-Claro. E então, ótimo, diga-me o que está achando da Capital?

-A estadia é ótima.

-Apenas isso?

-Não, tudo é ótimo, as pessoas, inclusive minha estilista Wennie, uma ótima pessoa. – olhei pra Wennie e sorri, mentindo.

-Que adorável! Mas então, com certeza não deve ter inimigos, certo?

-No distrito eu devo ter, todos temos, nenhuma carinha feliz pode te livrar de inimigos. Mas aqui, que eu saiba ainda não.

-“Ainda”?

-É, só posso garantir que meus inimigos não saíram vivo, só se for por cima do meu cadáver. – Caesar riu e me levantou ao ouvir o alarme.

-Marvel Willian! Distrito 1!

Logo que voltei ao meu lugar, fiquei atento as entrevistas. Clove era muito irônica e misteriosa, Caesar gostou. Cato era muito sangrento, descrevia suas mortes e algo o tocou quando ele mencionou um garota especial, ele ficou com uma expressão séria mas disse que não gostaria de tocar neste assunto.

Perfeito, caso eu fique contra o Cato, tenho um ponto fraco dele pronto pra usar.