PDV Bella

–“Bella, não quero que você venha comigo”.

–“Você... não... me quer? – experimentei dizer, confusa pelo modo como as palavras soavam, colocadas nessa ordem”.

–“Não”.

(...)

–“Prometo que essa será a última vez que vai me ver. Não voltarei. Você poderá seguir com sua vida sem qualquer interferência minha. Será como se eu nunca tivesse existido”.

Essas foram as exatas palavras de Edward Cullen no dia em que ele me abandonou. Elas se repetiam constantemente em minha mente, não conseguia esquecê-las. Desde o dia que ele partiu, foi como se uma parte de mim tivesse sido arrancada brutalmente. Não consegui lidar com isso, minha vida passou a ser somente uma ilusão. E ele cumpriu sua promessa, a única coisa que me fazia ter certeza de que Edward um dia existiu era a dor que ele havia me causado.

Percebi o sofrimento que trazia a Charlie com minhas atitudes, mas eu simplesmente não consegui mudar. Realizava todas as atividades mecanicamente, só tinha animo para dormir, e nem isso conseguia fazer direito, já que pesadelos me atormentavam constantemente.

Depois de mais ou menos uma semana vivendo somente trancada no quarto, resolvi que era hora de retomar minha rotina normal, ou pelo menos parte dela, voltei a frequentar as aulas e notei que Charlie se animou com isso, então decidi continuar com a farsa de que minha vida estava uma maravilha, se não por mim, ao menos por ele.

Hoje seria mais um dia terrível como todos os outros, peguei minha mochila, joguei sobre os ombros, e resolvi ir caminhando para a escola, já que estava um dia “ensolarado” ou o mais próximo que podia chegar disso em Forks.

Ir para a escola era o maior tormento de todos, além de todas as lembranças de Edward naquele lugar, ainda existiam os malditos olhares de pena. Não suporto que me encarem daquela maneira, como se eu fosse uma coitadinha digna de pena, na verdade não me importava o que falassem de mim, contanto que não me olhassem daquela maneira. Não poderia passar mais um dia assim, trancada entre as paredes daquela escola, pelo menos não hoje.

Já fazia meses que Edward havia partido e mesmo assim não havia conseguido me adaptar a sua ausência, ele foi uma grande parte da minha vida, mas parece que eu não tinha tanta importância para ele como ele tinha para mim. Eu jamais seria capaz de abandoná-lo, principalmente da maneira fria como ele o fez.

Decidi não ir para a aula, não tinha amigos lá, ninguém sequer notaria minha ausência, todos pareciam ter medo de mim, como se eu tivesse alguma doença contagiosa ou algo assim, falava poucas palavras com algumas pessoas, mas com a maioria nem isso. Jacob Black era o que eu tinha mais próximo de um amigo, mesmo assim não poderia considera-lo assim, ele foi algumas vezes com Billy visitar Charlie, e nossas conversas se resumiam a eu respondendo algumas perguntas feitas por ele, usando o mínimo de palavras possíveis, mas ele se esforçava para me tirar daquele estado em que me encontrava, porém era um esforço em vão.

Caminhei até um pequeno lago onde Charlie me levava quando era criança, e como estava relativamente quente, retirei minha jaqueta, estiquei-a embaixo de uma árvore, sentei-me ali e coloquei meus tão preciosos fones de ouvido. Música era a única coisa que fazia com que eu me desligasse desse mundo, nem que fosse por poucos minutos. Fechei os olhos e deixei que meu subconsciente fosse tomado pela melodia.

Não tenho ideia de quanto tempo fiquei ali, ouvindo música, olhando a paisagem, poderia passar o resto da minha vida aqui que não me incomodaria, provavelmente seria até mais agradável do que a vida que eu levo atualmente. Se não fosse a sensação incômoda de que eu não estava sozinha, esse seria um dos melhores momentos dos últimos meses.

O barulho de passos que se seguiu, fez com que eu confirmasse minhas suspeitas, alguém estava ali. Antes que pudesse refrear, o pensamento surgiu em minha mente, será que pode ser ele? Ele finalmente voltou, voltou por mim. Não queria criar ilusões e me decepcionar novamente, mas minha mente e meu coração não estavam de acordo.

Porém, logo surgiu a visão que destruiu todas as minhas esperanças, assim que coloquei os olhos no homem que estava parado a minha frente, a dolorosa verdade voltou a me atingir: Edward não voltará, nunca.

O homem que estava parado devia ter uns vinte anos talvez um pouco mais, ele era alto, musculoso, tinha incríveis e profundos olhos azuis, um cabelo preto perfeitamente desalinhado, e como característica mais marcante, um sorriso irônico que transformava suas feições perturbadoramente sedutoras em algo um pouco... assustador.

Fiquei encarando-o por alguns minutos sem encontrar palavras para descrevê-lo, ele era realmente lindo, e a combinação da expressão confusa e um pouco interessada em seu rosto, misturada ao sorriso sexy que mantinha, o tornavam uma figura que dificilmente faria alguém desviar o olhar.

Ele resolveu então, quebrar o silêncio perturbador que tinha se instaurado ali na floresta.

–Você não acha que esse é um local um pouco perigoso para uma garota sozinha? – Perguntou ele com uma voz rouca e sedutora.

–Não... Na verdade, ninguém vem muito aqui. – Falei. Ele me olhou, como se me analisasse.

–Hm, e se ninguém vem muito aqui, posso perguntar o que você faz aqui? – O sorriso incrível que mantinha me deixava completamente desconsertada e ele parecia perceber e se divertir com aquilo.

–Acho que não lhe interessa. Não falo sobre a minha vida com estranhos. – Respondi um pouco ríspida. - Mas bem que poderia lhe fazer a mesma pergunta, o que faz por aqui? – Continuei, com outra pergunta.

Minha mente me alertava, insistindo para que eu mantivesse distância daquele estranho, porém todas as células do meu corpo me mantinham estática, e insistiam que eu deveria continuar exatamente onde estava.

Ele me olhou novamente com aqueles olhos profundos e depois de alguns segundos disse:

–Eu sou novo na cidade e estava apenas caminhando um pouco, pensando na vida. E que não seja por isso, se o problema é só por eu ser um estranho, apresento-me agora mesmo. Sou Damon Salvatore. E você é? – Perguntou ele.

–Sou Isabella Swan. – Respondi automaticamente.

–Bonito nome, Bella. – Ele comentou e olhou para o relógio. – Você não deveria estar na escola à uma hora dessas?

–Novamente, acho que não é dá sua conta.

–Tudo bem, tudo bem. Vejo que alguém não está de bom humor, nos vemos por aí então, garota. – Ele insistia em me chamar de garota, mesmo sendo somente um pouco mais velho que eu, porém a forma como ele pronunciou tal palavra, foi incrivelmente sedutora.

Vi o estranho misterioso sumir na floresta do mesmo modo que apareceu, repentinamente. Fechei os olhos, tentando voltar à tranquilidade que me encontrava antes daquele diálogo, porém foi impossível, Damon Salvatore, não me saia da cabeça, nem sabia que minha mente era capaz de lembrar tantos detalhes, as imagens dele em meu subconsciente eram incrivelmente reais.

Decidi então que já estava mais que na hora de voltar para casa. Charlie se preocuparia se eu demorasse além do tempo de aula, que provavelmente já devia ter acabado. Com certeza tomei a decisão correta ao não ir à aula hoje. Esse tempo na floresta realmente me fez muito bem.