Meu nome é Shin Tadao, tenho 20 anos e uma vida um tanto difícil, quanto qualquer um nessa cidade. O que me faz ser especial? Sinceramente nada, não sou muito bonito e nem tão inteligente como gostaria, e desde que escrever poemas baratos seja um grande talento, eu não faço nada de tão surpreendente. Mas eu sei amar. Sei amar de uma maneira que as mulheres não estão acostumadas a serem amadas, sou a droga do que resta dos homens românticos nessa face deste planeta.

— Você é um homem perfeito. Eu conheci o céu com você, você me mostrou o que é ser amada de verdade. Mas infelizmente, Shin, eu já não sinto o mesmo por você...

Se você algum dia amou você sabe o que é ouvir uma frase dessas. Queria se baleado na hora para comparar qual das dores seria mais forte: se seria o buraco da bala ou meu coração despedaçado.  Mas infelizmente a dor do coração é crônica. A sentimos enrolar no coração como uma serpente constritora de escamas espinhosas, que aperta a cada lembrança.

— Porque diabos tudo nessa cidade lembra ela?

O shopping, o clube, o cinema a faculdade, qualquer coisa trás na cabeça as lembranças que quero esquecer. As memórias que fazem a dor voltar. E dói tanto, o peito vai sendo comprimido, esmagando o coração. Faço uma careta como se tivesse alguma doença, e acho que na verdade tenho, a doença de amar demais.

—Shin, eu não deixei de te amar. O sentimento apenas mudou, agora sou sua amiga e você pode contar comigo para tudo. Não quero que você vá embora da minha vida.

Eu quero que você vá embora da minha, vá e leve as lembranças, os sorrisos e todas aquelas suas promessas malditas, todas aquelas que fizeram meu sentimento por você crescer de forma incontrolável. Como podemos ser enganados tão facilmente, meu Deus? Como amor pode ser, ao mesmo tempo, tão benéfico e tão maléfico?

—Alô, Shin? Cara onde você estava? Estamos te procurando há dois dias! Ficamos sabendo da sua namorada. Cara que barra, você movia os céus por aquela garota.

Os céus, a terra, mares, oceanos, invertia cachoeiras, semeava florestas, debulhava montanhas, seria capaz de contar os grãos de areia de uma praia ou as estrelas do céu. Mas de que isso adianta? Nenhuma mulher no mundo sabe dar valor ao esforço que eu faço. Foi assim das três vezes que tentei, e assim foi nesta quarta vez.

—Eiji-kun, eu não vou voltar para casa.

— Onde você está, cara?

— Não interessa. Arrume as minhas coisas e mande de volta para meus pais.

— Por que isso Shinji? Cara, você não precisa passar por isso sozinho, vamos sair para conversar.

—Me desculpe Eiji-kun, me desculpe por tudo.

—Shinji? SHINJI! ...Alô, Shinji? Responde cara, responde, por favor...

Desculpe-me amigo, meus olhos estão cansados de tanto chorar, mas derramei algumas lágrimas por você. Vou tarde desse mundo e é mais fácil acabar logo com essa dor, abaixo de mim só há 20 andares do frio e poluído ar da cidade grande e uma sólida calçada de concreto. Para mim será a o fim do sofrimento, das noites de insônia, da dor agonizante, da vontade louca de abraçá-la, de beijá-la de sentir seu corpo mais uma vez no meu, de fazer poesias para ela, de cantar no ouvido dela, de dizer que ela é o grande amor da minha vida. Ela foi o grande amor da minha vida.

—Shinji, por favor, me esqueça. Você é um cara incrível, qualquer mulher do Japão vai ter uma sorte absoluta se te encontrar.

Mas é você quem eu quero, você quem eu amo, será tão difícil de entender? Ou tudo que eu fiz foi inútil? Foi sim, tudo que ela fala são mentiras para me conformar. Como sou perfeito se ela não me quer?  Que sorte é essa que ela dispensa como se fosse um pedaço de lixo? É isso que sou, um pedaço de lixo que ama incondicionalmente. Que ama muito e por muito amar sofre. E por muito sofrer, não agüenta mais. Hoje, vendo o céu escurecer de cima desse prédio, vejo que essa foi a última gota para esse coração cansado. Hoje é o ultimo dia da minha vida e eu estou feliz por isso. Não deixarei grandes obras, nem herdeiros como gostaria de ter feito. Não serei um bom pai, um marido exemplar, um trabalhador invejado. Não passarei férias de verão no Havaí, e nem dançarei sob flores de cerejeiras onde faria juras eternas de amor, nunca mais.

— Nunca é muito tempo Shinji, se está nos nossos destinos que vamos ficar juntos, você não precisa se preocupar com esse fim.

Futuro, você fala do futuro, mas e  meus planos? Você pensou neles, por um acaso? Eu confiei no futuro, confiei em você e nada mais. E todo que consegui foi mais uma vez ser jogado na sarjeta com um brinquedo velho, aquele que toda menina quer ter, mas depois de um tempo cansa.

— Não serei mais o brinquedo de ninguém, hoje essa tortura acaba.

Um último suspiro, o coração acelera, o medo me faz tremer as pernas. Eu tenho muito tempo, ninguém lá em baixo vai olhar pra cima e me ver tentando pular. Eu penso em todos os passos. Já tenho um pequeno testamento das poucas coisas que tenho. Tem uma carta de desculpas no meu bolso, para evitar que os policiais percam horas trabalhando nesse caso e uma carta para ela lhe perdoando por tudo que ela me fez passar e desejando a felicidades. Ela ficará arrasada. Mas no fim eu não vou ver nada disso.

—E aqui acaba vida de Shinji Tadao. E você já vai tarde seu baka...