21.12.12 - A Invasão escrita por Padalecki


Capítulo 3
Sonhos que atribuem à realidade


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde! Sim, eu consegui fazer o capítulo em um dia só, que maravilha, não é mesmo?!
Sim, é.
Bom, acho que vocês vão ficar mais confusos ainda com esse capítulo, e aposto que então saberão o que Gwen esta, de fato, sentindo. Toda a loucura que esta passando na cabeça dela vai passar nas de vocês também!
Outra novidade, esse capítulo tem música, sim!
Aqui vai o link:
http://letras.terra.com.br/ed-sheeran/1964248/traducao.html



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Imagem do capítulo: Amizade assim não se encontra em qualquer esquina, porém Clark vai ter várias ocasiões para provar à Gwen sua fidelidade.

O restante de meu dia fora tão estranho quanto o começo dele.

Eu me pegava, de quando eu quando, divagando sobre um lugar escuro e barulhento. Era mais como se fosse uma sensação, era como se eu soubesse que lugar era esse, porém algo me fizesse não poder lembrar-se dele de fato.

Peguei Josh me observando durante as aulas, olhando para mim de forma estranha, mas eu ficava envergonhada demais para retribuir seu olhar, de modo que fiquei superconcentrada na aula de história.

Eu amava história, era minha matéria preferida.

Mas, graças aos cinco meses malditos dos quais eu não me lembrava, estava indo de mal a pior nessa matéria. Estávamos vendo sobre a Guerra do Peloponeso, guerra essa que eu já estudara muitas vezes em minha vida, mas agora não me lembrava de nada.

Mais que droga de amnésia era essa, afinal?

O engraçado era que todos os meus colegas de classe, inclusive os novos, pareciam se lembrarem de mim durante os cinco meses. E quando eu olhava para alguns deles, simplesmente não sabia dizer quem era.

Fui expulsa da classe na aula de Química Quântica, porque não estava prestando atenção na professora Mafalda, uma mulherzinha obtusa que usava óculos de tartaruga e que jurava ter me conhecido no inicio das aulas. Ela me dissera que eu estava diferente hoje, que estava mais dispersa, como se algo de importante estivesse a ponto de acontecer e eu tivesse que ficar sentada numa maldita sala de aula estudando uma matéria chata como aquela.

O que posso dizer? Era a mais pura verdade. E como você já deve saber, eu não fazia ideia de quem era à professora Mafalda.

Eu sentia uma necessidade absoluta de falar com Clark sobre o que estava acontecendo. Não só porque ele era meu melhor amigo e me conhecia como mais ninguém, mas também porque sua mãe era uma famosa psiquiatra da região. A doutora Benson já curara, por meio de hipnose, gente que sofria de alucinações psíquicas ou coisas assim. Ela era incrível. E o melhor, estava ensinando Clark sobre seu ofício, e devo dizer que ele era tão maravilhoso quanto à mãe.

O problema era que uma parte considerável de meu cérebro tinha medo de dizer. Eu tinha medo de me taxarem de louca e me mandarem para um hospício. Quer dizer, lembro-me vagamente de quando eu era criança e só falava em vietnamita. As outras crianças, as professoras e os pais das outras crianças olhavam para mim como se eu fosse uma aberração. Mesmo com todas as explicações plausíveis que mamãe dava, elas me olhavam como se eu fosse um monstro que precisasse ser caçado. Porém eu nunca achei que fosse pelo fato de eu falar em outra língua, eu acho que elas sentiam algo estranho quando ficavam perto de mim. Sem falar que elas me achavam louca, é claro.

Acho que foi por isso que fiz amizade com Clark. Ele viera da Inglaterra com a mesma idade com que eu viera de Lousiana, e gritava para quem quisesse ouvir sobre sua abdução alienígena aos cinco anos de idade. As pessoas o achavam maluco até hoje, e acho que era por isso que ele não tinha amigos, apenas eu, que, covenhamos, não tinha amigo nenhum além dele.

Certo, ele também fora amigo de Samantha, mas ela era uma idiota.

Demorei meses, anos para conseguir ser uma garota normal e se agora eu contasse sobre isso para alguém, mesmo que essa alguém fosse meu melhor amigo, todo o trabalho que eu, mamãe e Oliver havíamos tido seria jogado por água abaixo.

Certo, você deve estar pensando: Conte, é melhor contar. Clark é seu melhor amigo, você deve confiar nele.

Sim, eu sei que deu devo confiar nele, mas... entenda, é algo maior do que eu. Isso tudo que esta acontecendo é maior do que eu. E me sinto impotente, uma inútil que não serve nem para se lembrar de alguns meses atrás.

– Ei, Gwen! – Sussurrou Clark para mim. Ele se sentava ao meu lado agora, e tenho certeza de que ele me observava tanto quanto Josh. Bom, eu estava me esforçando muito para fingir que nada estava acontecendo, mas o garoto era, de fato, meu melhor amigo. Ele me conhecia. Parei de escrever sobre como Alexandre, o Grande, conseguira fazer seus grandiosos feitos e virei à cabeça para olhar Clark. – Tudo bem?

Olhei-o por um segundo. Eu sabia que, se mentisse, Clark saberia e iria ficar extremamente magoado. Ele odiava que mentissem para ele, fora por isso que eu conseguira “roubar” a amizade de Clark com Samantha para mim. Ela mentia descaradamente na cara dele. Quando os dois estavam juntos, parecia tudo perfeito, mas era só Clark dar as costas, que Samantha dizia para todo mundo o quão doido o garoto de cabelos cacheados era. E que todos estavam certos ao quererem mandá-lo a um hospício com psiquiatras melhores do que sua mãe.

Mesmo assim, senti que ainda não era a hora nem o lugar certos para lhe contar o que estava acontecendo comigo, por isso apenas sorri e assenti. Eu precisava descobrir o que havia acontecido antes de contar qualquer coisa a ele.

– Tem certeza? – Ele perguntou, provando mais uma vez o quanto me conhecia.

– Tenho. – Confirmei. Eu odiava estar mentindo para ele, mas era preciso.

Clark não pareceu muito convencido, mas virou-se e continuou a escrever sua redação.

Eu terminava a minha quando o sinal para o intervalo soou pelo colégio inteiro. Entreguei minha redação para o professor de história, o professor Rodriguez, e esperei Clark no batente da porta.

Ele, é claro, pegou seu enorme livro sobre civilização de além mar e me ofereceu o braço. Quem quer que olhasse para nós dois, pensaria que éramos namorados. Não vou mentir para você, eu já havia cogitado sobre isso há uns anos atrás. E agora que Clark estava ficando em forma, forte e cada vez mais atraente, essa era uma ideia muito boa para mim, mas olhando para o jeito que Clark me tratava... não acho que eu teria alguma chance com ele. Afinal, mesmo com todas as coisas ruins que Samantha fizera para ele, o garoto permanecia apaixonado por ela.

E eu por Josh. Certo, namorar Clark seria ótimo, tínhamos muitas coisas em comum, mas havia algo em Josh que me atraia. Ele era misterioso em relação a muitas coisas, assim como eu. E a sensação de reconhecimento que havíamos compartilhado na sala de aula mais cedo...

– Quer ler sobre Plêiades comigo? – Perguntou-me Clark ao sentarmos no pátio. Ele abriu o livro na página 163 e olhou esperançoso para mim.

Estaquei.

O ar sumiu de meus pulmões e eu quase tive um infarto. Uma dor alucinante de cabeça me invadiu e... eu desmaiei.

“Era um lugar escuro, barulhento. Os seres iam e viam de todos os lados, alguns carregando pedaços grandes de arenito, outros, coisas estranhas que pareciam pizza, só que englobadas em gosma branca. Todos eles olhavam para mim com uma espécie de curiosidade, até que uma voz grave e impotente falou algo, era uma língua conhecida para mim.

Vietnamita.

– Tránh xa những cô gái.Nào, em yêu, cô ấy cần chỗ để thở. – Disse a voz, algo que poderia ser traduzido como ”Afastem-se da garota. Ela precisa de espaço para respirar.”

Levantei-me da maca prateada em que eu estava deitada com certa curiosidade. Eu reconheci aquela voz. Era... familiar. Extremamente familiar.

O ser que se aproximou de mim em nada se igualava aos outros seres que percorriam o local que eu me encontrava de um lado para o outro. Ele era... humano.

Os outros serem não tinham forma, eu só conseguia ver o brilho vermelho de seus olhos. Um brilho que, se eu olhasse muito, poderia cegar-me por completo.

Esse homem que se aproximara de mim me era tão familiar quanto sua voz. Ele tinha os cabelos e os olhos como os meus, e seu semblante era terno, amoroso.

– Olá, Gwen. Suponho que saiba falar inglês agora, não é?

Senti que apenas fiquei olhando para ele, confusa demais para poder fazer qualquer outra coisa. O homem sorriu, e seu sorriso fez todos os meus músculos retesados se relaxarem.”

***

Quando voltei a abrir meus olhos, eu me encontrava em um local escuro e barulhento.

Ah, de novo não, pensei. O sonho que eu tivera fora muito confuso, eu não precisava revivê-lo.

Foi quando notei que havia alguém sentado em uma cadeira ao meu lado, era Clark. Ele dormia profundamente e roncava de quando em quando. Peguei-me olhando carinhosamente para suas feições amigas. A boca levemente torta, o nariz alongado, os olhos fechados, o cabelo cacheado bagunçado... Ele parecia uma criança dormindo. E ainda estava com o livro nas mãos.

Então resolvi deixá-lo dormir mais um pouco, para depois pensar em que lugar eu estava. Se Clark estava comigo, eu não sentia medo.

Olhei para o teto e comecei a pensar no... sonho? Não, algo me dizia que era mais para uma visão do que para um sonho. Era real demais para ter sido algo que saiu de minha cabeça.

Minha cabeça começou a borbulhar com perguntas. Perguntas que só faziam com que ela doesse ainda mais, pois eu não tinha as respostas. Que lugar era aquele? Que tipo de seres eram aqueles? O arenito e a gosma branca... seriam os mesmo que eu havia vomitado mais cedo? E o homem, porque ele me parecia tão familiar? Quem era ele? E porque eu desmaiara ao ouvir o nome Plêiade? Porque esse nome me era tão importante?

Clark se mexeu durante seu sono, e inevitavelmente eu sorri. Foi quando senti...hã... não sei bem o que eu havia sentido. Era mais para uma presença... e era quase familiar. Como se fosse a presença de um parente seu que morrera e, de algum modo, você pudesse senti-lo observando você.

Vou admitir: Sou uma medrosa.

Comecei a chacoalhar meu melhor amigo até ele abrir seus olhos e seu precioso livro cair no chão. Clark mal ligou para seu precioso objeto, quando ele me viu olhando para ele, sorriu e me abraçou.

Ficamos abraçados pelo que me pareceu uma eternidade. Clark era três cabeças maior do que eu, e eu me senti profundamente protegida com ele ali, me abraçando como se a qualquer momento pudesse me perder. Sorrimos, corados (coisa que eu podia ver, mesmo no escuro, mas não me pergunte como.), um para o outro e nos separamos.

– Puxa, pensei que você ia dormir para sempre. – Disse Clark, pegando seu livro do chão e o olhando de maneira estranha.

– Quem lhe deu ele? – Perguntei.

– O livro? – Eu assenti e Clark deu de ombros. – Não sei, estava na nossa caixa de correio, e estava endereçado a mim. – Seus olhos brilharam. – Será que Samantha...?

Revirei meus olhos.

– Aposto mil dólares que não foi ela quem lhe deu este livro, Clark.

Agora que Clark conversava comigo, pude sentir a presença quase familiar se dissipar por completo e fiquei agradecida pela presença sólida e visível de Clark ao meu lado.

Meu melhor amigo pareceu desapontado.

– Clark. – Suspirei. – Onde é que eu estou, exatamente?

– Ala hospitalar da escola. – Suspirou ele de volta. – Estou matando minhas três aulas de astrologia avançada para ficar aqui com você até seus pais chegarem.

Sorri e peguei em suas mãos absurdamente grandes comparadas as minhas.

– Obrigada Clark, obrigada mesmo. – Nos olhamos por alguns segundos, deixando que os olhos falassem o que não precisava ser ouvido. Até que o rubor nas bochechas de Clark o fizeram desviar o olhar e retirar as mãos das minhas para colocá-las no bolso de sua calça caqui. – E, só diga mãe. Quer dizer, pais não parece certo. Eu não tenho um pai.

Ele me olhou de modo estranho e acendeu a luz. Continuei olhando-o, mas a verdade é que eu fazia uma força hercúlea para me esconder na escuridão do cobertor.

– Ué, não foi você mesma que me disse que agora Carson seria como um pai para você?

Franzi meu cenho. Claro que eu não me lembrava de ter dito isso, mas pensando bem... Carson sempre fora como um pai para mim.

– Ah, é. Eu... havia me esquecido disso. – Sorri. – Deve ser por causa da dor de cabeça. Clark, você poderia pedir uma aspirina para mim, por favor?

– Claro, Gwen. – Disse Clark, se retirando por alguns instantes.

Aproveitei isso para pegar seu livro e abri-lo na página 163, porém eu não conseguia ler nada. Era como se o inglês descrito naquela página não fosse traduzido pelo meu cérebro. Eu começava a achar que havia algo, ou alguém, fazendo de tudo para que eu ficasse louca.

Seja quem fosse, estava conseguindo.

Clark voltou com um copo d’água e uma aspirina, e eu os tomei. A dor de cabeça começou a passar rapidamente, e pedi para que Clark lesse o que estava escrito na página 163, sobre os plêiades. Meu melhor amigo assentiu, mas quando ele abriu a boca para falar, Oliver e minha mãe esmurraram a porta.

Clark deu espaço para que os dois me beijassem e afagassem meus cabelos. Mamãe deu um longo abraço em Clark também, ela simplesmente o adorava.

Oliver pediu explicações para mim e para Clark enquanto minha mãe brigava comigo por ter insistido tanto em vir para a escola. Eu e Clark explicamos tudo, e é claro que eu omiti a parte de meu “sonho” sinistro, mais para poupar-me do que para qualquer outra coisa.

Descobri que, segundo a doutora Frya, eu estava tendo um caso de virose, mas percebi que ela me olhava de um modo esquisito demais para que eu acreditasse se tratar somente disso.

Depois de outro check-out da médica, pudemos sair. Clark veio conosco, afinal ele morava à apenas dez minutos de minha casa.

Foi uma viagem silenciosa, em que eu apenas fiquei olhando pela janela, repensando em minhas perguntas. Eu precisava achar minhas respostas.

Eu precisava achá-las logo.



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