O Clube 5 escrita por marvinkira


Capítulo 18
Prólogo - Eduardo




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Olhei para aqueles dois, deitados na areia da praia e percebi que já era hora de eu sair dali. Sabia o que viria a seguir, não era preciso ser vidente.

Levantei-me rapidamente, quando ouvi Tiago falando sobre a Blair. Ouvir o nome dela me dava um aperto no estômago. Minhas narinas tremeram quando Tiago contou que diria tudo para ela. O que ele diria? Até sobre mim? Mas o que realmente me deu raiva foi a falta de confiança que Tiago não tinha por ela.

-Blair vai entender, ela é forte. – eu disse – Eu tenho que ir.

Não queria ficar nem mais um minuto perto do casal de horrores, aquele cheiro de carne pútrida dos dois estava queimando os pêlos no meu nariz.

-Mas você está pelado! – Tiago exclamou assustado.

Até parecia que ele nunca tinha ficado pelado na vida. Mas era meio incômodo ficar pelado na frente das garotas, principalmente de uma vampira com cara de tarada, apesar de que eu não devia me envergonhar, Fátima, uma das garotas do meu grupo, disse que eu era um dos mais quentes do bando.

-É. Irei em forma de lobo. – eu disse.

Pelo menos na forma de lobo, aqueles dois não olhariam tanto para o meu corpo Quem gostaria de ver um lobo peludo?

-E não vão ver um lobo enorme andando pela rua? – ele perguntou.

Aquelas perguntas estavam me irritando. Tentei formular uma resposta educada, mesmo sentindo aquele cheiro horrível queimar meu nariz e meus pulmões.

-Humanos até agora nunca viram os vampiros e os transmorfos. Eu irei tomar cuidado, irei pelos telhados. – eu disse me afastando deles rapidamente.

Ainda puder ouvir o que eles diziam, até chegar à frente de um apartamento pequeno. Aquela vampira além de tarada era fofoqueira e contou sobre eu e Blair. Minha vontade foi voltar e meter um soco no meio da cara dela, mas pensei melhor e segui meu caminho. Subi o apartamento rapidamente, mesmo na forma humana, os transmorfos eram habilidosos, talvez, melhores que os vampiros.

Comecei a correr na laje do apartamento, sentindo o vento e o cheiro da maresia atingir meu rosto com tudo. Essa era a parte boa dessa vida. Saltei para um prédio um pouco maior que o apartamento e o escalei como um Homem-Aranha.

Esse prédio era mais largo e comprido que o outro, dava para fazer a transformação numa boa. Meu corpo começou a arder, minha cabeça queimou e, então, minha pele foi rasgando em pedaços e pêlos foram surgindo debaixo dela. Meus braços diminuíram e minha boca alongou, dava para ouvir os estalos dos ossos. Meu corpo foi se formando e um rabo foi surgindo do fim da minha espinha. Eu tinha me transformado em um lobo de quase dois metros de comprimento e um metro e meio de altura, negro, pelos brilhantes e olhos amarelos. Na verdade, o sucesso das garotas do bando.

Agora, nessa nova forma, tudo o que eu sentia como humano e ouvia se ampliaram, parecia como se um megafone estivesse ao lado do meu ouvido, todo cheiro em quilômetros era como se estivesse na minha frente. Nessa forma, eu não me guiava muito pelos olhos, mas sim pelo nariz e ouvidos. E um cheiro familiar de terra estava a poucos quilômetros de onde eu estava. Era o meu lar, meus irmãos, minha família.

Quando pensei nisso, minha barriga peluda roncou de fome. Nem sabia quando foi a última vez que eu comi. Mas esse pensamento também me lembrou de outra coisa, meu irmão mais velho, Marcus, o líder da família e chefe dos lobos. Depois da morte dos nossos pais, ele assumiu a liderança do clã e desde então, qualquer erro meu é punida com bastante humilhação e sofrimento. Ele não é muito carinhoso.

Pensei no que ele faria comigo quando descobrisse que ajudei dois vampiros e fiz com que meu grupo os ajudasse também. Só de pensar fez com que o lobo balançasse a cabeça com medo e nesse exato instante, um alto uivo surgiu mais a frente, em um lugar conhecido por mim, uma antiga igreja abandonada e quase despencando. Era lá que nós tínhamos nossas reuniões dos líderes de bandos.

O uivo era feroz e raivoso e reconheci quem o deu, Marcus. Ele tinha gritado meu nome bem alto. Apressei o passo na direção da igreja. Ouvi alguns cachorros latindo para mim de uma casa que eu passei por cima, mas nem liguei. Eu estava me aproximando da igreja e do pé de um morro. A vegetação cobria um pouco a igreja, mas eu sabia que ela estava lá.

Dois vultos surgiram ao meu lado. Eram Jefferson e Lucas, dois dos meus subordinados, eram do meu bando.

-Chefe, seu irmão está furioso. O Fernando contou para ele que você nos fez ajudar os vampiros. Você sabe que ninguém falaria só o Fernando, ele quer roubar seu lugar faz tempo. – Lucas falou depressa e sem fôlego.

-Desgraçado. – resmunguei – Mais alguém está lá?

-Sim. Todos os líderes de bando. – Jefferson respondeu.

Parei na hora assustado. Marcus iria me castigar feio dessa vez. Pensei em fugir, mas seria pior. Os outros dois lobos, um cinza e branco e o outro marrom pararam também e me olharam surpresos.

-Você pode fugir Chefe. Nós dois diremos que nem te achamos. – Lucas disse.

-Nesse ponto, Marcus já deve ter ouvido tudo e sabe que estou indo. Melhor terminar isso de uma vez por todas. – respondi sem emoção. Sabia que iria sofrer, mas era melhor sofrer do que fugir por medo.

Entramos no meio das árvores ao pé do morro e vimos à igreja. Era antiga e tinha cheiro de queimado, mas ainda tinha as quatro paredes em pé. O teto estava desabado e agora era chão e o cheiro que os outros lobos exalavam estava forte também, uma mistura de terra molhada com capim cortado, era até bom.

Quando entramos na igreja, sem portas, vimos um círculo de lobos. Enquanto avançávamos, o círculo se abriu para nos dar passagem. Os olhares que os outros lobos me davam eram frios e perfuradores. Eu avistei Marcus sentado sobre as patas me olhando, na ponta superior do círculo e em cima de uma pedra que caíra dentro da igreja faz tempo. O olhar dele era uma mistura de vergonha e raiva e quando vi seu olhar, fiquei triste e abaixei a cabeça, fazendo um som de choro.

-Depois de tantas besteiras, você consegue se superar, irmãozinho tolo. – Marcus começou a falar, levantando-se sobre as quatro patas e descendo da pedra.

-Me desculpa irmão. – pedi sinceramente – Mas eles me...

-ELES O QUE? – um latido forte saiu da boca do lobo branco que era o meu irmão. Esse latido quase me fez cair no chão, mas continuei em pé, mesmo com as patas tremendo.

-Eles me salvaram. Os vampiros que matamos nos capturaram. E nos ajudamos para sairmos do local. – eu respondi – Não somos amigos, só que o inimigo do meu inimigo é meu amigo e foi só por essa noite, eu nunca mais vou ajudar aqueles dois. Eu prometo.

-E você acha que por falar isso você será perdoado por desrespeitar nossa raça e ajudar nosso principal inimigo e o que é pior, envolvendo seus homens nisso. – Marcus me acusou, olhando friamente – Depois disso, eu acho que não me resta escolha a não ser mudar o líder do seu bando. Alguém que respeite nossa cultura e que tenha liderança.

Um lobo cor de caqui ria e reconheci ser Fernando. Aquele filho da mãe, se eu não fosse morto pelo Marcus, eu mataria esse desgraçado.

-Eu entendo irmão. Não mereço ser do bando. – eu disse abaixando a cabeça mais ainda.

-Não merece, mas por mais que você erre você é do bando e não pode sair dele. Uma vez no bando sempre do bando. Esse era o lema do nosso pai, isso que unia nossa família. E é por isso que vou nomear a Elena como a nova líder do seu bando. – Marcus anunciou. Um lobo cinza fez uma reverência, abaixando a cabeça, enquanto o lobo caqui grunhia de raiva.

Os outros lobos começaram a comentar entre si e então Marcus teve que gritar de novo.

-SILÊNCIO. Todos de acordo? – ele perguntou.

-Mas, líder, até quando seu irmão precisará errar para você perceber que ele não pertence a esse bando? – um dos líderes de bando perguntou, era um lobo amarelo, seu nome era Cedrico.

-Como eu falei uma vez no bando, sempre do bando. Eu sigo as regras do meu pai e sua filosofia, se não gosta, vai querer me desafiar para um duelo? – Marcus perguntou mostrando os dentes. O lobo amarelo recuou e abaixou a cabeça – Muito bem. Acho que esse caso está encerrado. Eduardo, você receberá seu castigo de sempre.

O castigo de sempre era ficar amarrado em uma árvore por três dias, pelado e sem comida. Só de pensar nisso me fazia querer fugir. Marcus virou as costas e foi se afastando.

O lobo cinza se aproximou de mim e bateu a cabeça lentamente no lado do meu corpo. Era Elena.

-Ânimo. Daqui a alguns meses você volta a ser o líder. – ela disse com um tom maternal. – Seu irmão, apesar de tudo, te ama. Ele sempre fala de você, às vezes coisas boas. – ele completou ao ver me olhar irônico – Bem, temos que reunir o grupo inteiro e dar a notícia e vou deixar morderem o Fernando um pouco.

Quando ela falou isso eu fiz um som de risada e a segui indo na direção para fora da igreja. Jefferson e Lucas nos acompanharam. Fernando estava mais atrás de gente. Elena era uma garota legal, tinha uns 27 anos e era noiva do Marcus. Marcus tinha 30 anos e desde que nossos pais morreram, ele tem cuidado de mim e realmente, apesar de ter que agir como um líder, ele é um bom irmão, pelo menos até quando eu tinha 13 anos, depois que aprendi a me transformar e me tornei líder de grupo. Nossos pais morreram havia seis anos, mortos por vampiros.

Enquanto eu pensava nisso, um uivo alto, talvez do outro lado da cidade, vinda do sul, pedia por ajuda. Reconheci a voz. Era Fátima. O uivo continuou e ela disse “Ataque de vampiros”. Elena me olhou e falou.

-Vamos. Fernando vai chamar o resto do grupo. Edu, Jefferson e Lucas, venham comigo. – ela disse e começamos a correr.

O sol já estava nascendo. Enquanto nós corríamos em forma de lobos, eu podia ouvir o barulho de carros nas ruas, movimentos e conversas. A rotina matinal humana estava começando. Pessoas indo trabalhar, mal sabendo do perigo que correm. Esse era o motivo pela qual lutávamos por eles.

Podíamos sentir o cheiro da Fátima e a do vampiro agora. Estávamos pertos. Parecia estranho, mas eu tinha a sensação de que conhecia esse lugar.

Paramos em cima de um edifício. Fátima estava afastada da beirada, na forma humana e fez sinal para que fizéssemos o mesmo e fizemos.

Todos tinham voltado a forma humana, pelados. Tentei não olhar muito para as curvas da Elena e da Fátima. Na forma humana, Elena era magra, com um corpo bonito, cabelos longos e negros, lisos e os olhos castanhos. Fátima era dois anos mais velha que eu e tinha um corpão também, cabelos mais curtos, batendo nos ombros, castanhos e encaracolados, olhos negros e a pele morena clara.

-Está ali, naquela casa da frente, tem uma humana com ele e arrombaram a casa. Antes eram três e tinha um num carro preto. Levaram dois vampiros que estavam dentro dessa casa aí com a humana. Parece que eles são Vigilantes. – Fátima disse e apontou para frente.

-O que os Vigilantes querem aqui nesse bairro? – Elena se perguntou, alto – Talvez isso não seja assunto nosso.

-Os dois vampiros que estavam ali antes, pareciam não estar fazendo mal à humana, na verdade estavam conversando. – Fátima disse – Depois que esses chegaram de surpresa e os levaram. Só um ficou como falei.

Andei curioso até a beirada do edifício. E na hora parecia que uma panela atingira minha cabeça. Eu conhecia aquele lugar. E quando eu me lembrei, meu coração gelou com a mistura de medo e preocupação. Era a casa da Blair e do Tiago.

-Eu conheço essa humana, estudo com ela. – disse para Elena – Temos que ajudá-la.

-Isso é verdade? – ela me perguntou.

-Sim. Eu reconheci o lugar agora. Temos que agir depressa. – eu disse desesperado.

-Certo, acalme-se. Fátima, o Fernando vai chegar aqui com o resto do grupo, oriente-os e fale o que houve. Lucas, precisamos de um plano de ataque, circule o lugar e ache um ponto fraco, desprotegido. Esse vampiro já sabe que estamos aqui. Jefferson vai com ele. Edu, eu e você vamos atacar primeiro. Lucas e Jefferson vão nos cobrir. Ou seja, fique atrás de mim e fique atento aos movimentos do inimigo. Hoje nós vamos fazer churrasco de vampiro. – Elena terminou a frase sorrindo maldosamente, enquanto se transformava em lobo.

Transformei-me também e olhei de novo para a casa. Um par de olhos nos observava. Era o vampiro e ele sabia da gente, como Elena falou. Senti o cheiro de Blair, estava na sala e minha maior preocupação era de salvá-la.

-Eu vou salvá-la. Nem que custe minha vida. – eu murmurei. Elena afirmou com a cabeça e saltou na direção da casa.


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