Restaurante lotado. Véspera de feriado prolongado e eu aqui, servindo mesas. É, apesar de ser menor de idade, sim eu trabalho. Não sei se conta como trabalho ajudar no restaurante dos próprios pais, mas pra mim é um trabalho, muito difícil por sinal.

– Esse povo não vai embora! O que eles estão fazendo aqui até agora?

Rafa disse irritada. Apesar de concordar com sua observação, não pude deixar de rir de seu comentário.

– E você ainda sorri, como se fosse a melhor coisa do mundo! - Rafa me olhou com o cenho enrugado.

– Calma, eles já estão indo embora olhe só. - apontei para um casal que se levantava dos assentos. Era uma quantidade ínfima em relação ao resto das outras mesas ocupadas.

– Me poupe do seu otimismo Bella. - ela disse e foi retirar a mesa agora vazia.

Aos poucos os nervos de minha amiga foram acalmando-se, e o restaurante foi sendo esvaziando. Haviam poucas pessoas no recinto quando me retirei para ir beber água, e Rafaella foi comigo. Mal consegui dar o primeiro gole e meu pai veio as pressas nos chamar.

– Isabella e Rafaella, onde vocês estão? - seu grito era desesperado. Engasguei com a água que ainda se encontrava em minha garganta quando levara um dos maiores sustos da minha vida.

– Calma pai! Parece até que alguém vai morrer se eu não for anotar o pedido.

– Cadê a Rafaella?

– Está no banheiro, acho que vai demorar um pouco.

– Então vai ter que ser você. Acabou de chegar um cliente e você terá que atendê-lo.

– Até parece que eu não fiz isso todos os dias nos últimos meses.

– Se concentre, sei que vai conseguir.

Que conversa estranha era aquela. Por que eu ficaria nervosa ao atender mais um simples cliente como eu havia feito todos esses meses? Meu pai ficara louco, disso eu tinha certeza.
Atravessei a cozinha devagar, até que meu pai me mandou correr e eu me apressei. Seu Carlos devia estar estressado hoje. Cheguei até o jardim que dividia a cozinha do hall do restaurante dava para ver o céu iluminado sobre o tampo transparente que havia por cima. Era um dia lindo. Um desperdício eu ter que ficar servindo mesas.
Abri a porta que dava pro hall, percebi que ele estava quase vazio pois não ouvi muitas vozes no ambiente. Andei olhando para dentro do meu avental, tentando encontrar meu bloquinho e minha caneta para anotar os pedidos. Pelo barulho deduzi agora que só esta mesa estava ocupada, mesmo assim o barulho que eles faziam era ensurdecedor.

– Qual vai ser o pedido? - disse sem olha-los, não estava com ânimos para atender esses últimos clientes.

– Excuse me? Can you speak in English, please?

Analisei a situação um tanto estranha. Por que essa pessoa queria falar em Inglês? Não que a língua fosse um mistério pra mim, mas por que? Olhei para cima para tentar me comunicar melhor com o cliente.

Foi a pior coisa que eu poderia ter feito.

Mesmo não querendo dar razão ao meu pai tive que repetir suas palavras em minha mente: "Se concentre, você vai conseguir."