Algumas semanas haviam se passado desde que fugimos do ministério. Todos concordamos com Rony, quando ele propôs que não ficássemos mais de cinco dias no mesmo lugar, então, estávamos no nosso sexto ou sétimo esconderijo. Estávamos próximos de um vilarejo trouxa, dessa vez. Não era a opção mais segura, mas conseguíamos comida com mais facilidade.

Não estava sendo nada fácil o revezamento da Horcrux. Ninguém conseguia conter o mau-humor e a raiva que vinham para quem estivesse usando. Estávamos revezando com cada vez mais frequência, ao menor sinal de discussões, sabíamos que era a hora de tirarmos o medalhão do pescoço.

— Eu estava pensando… - disse Harry, enquanto jantávamos - Vocês acham que existe a possibilidade de acharmos uma Horcrux em Hogwarts?

— Acredito que Dumbledore teria achado. - disse Mione

— Dumbledore não conheceu Hogwarts inteira. - argumentou Harry - Volde-

— EI! - Rony, como sempre, reclamou

— VOCÊ-SABE-QUEM - exclamou Harry - pode ter escondido em algum lugar. Hogwarts foi o primeiro lugar que ele se sentiu em casa, faria sentido ter um pedaço da sua alma guardado ali.

— Estamos falando dele ou de você? - disse Rony, com um muxoxo

Harry bufou.

— Hogwarts tem esse efeito nos órfãos. - retrucou

— Eu concordo com você, Harry. - eu disse - Mas você não disse que Tom voltou para Hogwarts, pedindo um emprego?

Harry assentiu.

— Como ele não conseguiu, acho que ele não teve como esconder uma Horcrux… - eu disse - Ou até mesmo procurar um objeto que tenha sido de um dos fundadores da escola.

Hermione concordou.

— Certo - disse Harry - Descartemos Hogwarts, então…

— Eu acho que deveríamos ir até o orfanato que ele morou quando era pequeno. - disse Hermione - Talvez ele tenha colocado lá.

— Ele odiava aquele lugar. - Harry disse

— Bom, não é como se tivéssemos outra coisa para fazer, não é? - disse Rony

Harry suspirou.

— Tudo bem, Rony. - disse Harry - Nós podemos ir até lá.

Hermione bocejou. 

— Vocês dois fizeram a janta. - eu disse, me dirigindo a Harry e Mione - Eu e Rony podemos arrumar a cozinha e lavar a louça.

Os dois hesitaram por um segundo, mas concordaram e foram para a sala.

Rony e eu recolhemos os pratos e paramos em frente a pia.

— Tem alguma coisa errada, Ron? - perguntei

Ele suspirou.

— Não. - ele disse - Mas não tem nada certo, também.

Franzi a testa.

— Quero dizer, o ano está chegando no fim. - ele disse - O tempo está passando mais rápido do que gostaríamos e nós não temos nada.

— Temos uma Horcrux! - eu disse

— Que está mexendo com a cabeça de todos nós! - ele disse

Encolhi os ombros e cruzei os braços.

— Não tem nada que possamos fazer, Rony. - eu disse - Talvez nós consigamos achar alguma coisa amanhã, no orfanato.

Ele suspirou.

— Eu só achei que fôssemos ter mais pistas. - disse ele

Assenti.

Ele apontou a varinha para a louça suja, que se limpou em um estalo. Fomos para sala e Rony parou, abruptamente.

Harry e Hermione estavam cochilando juntos no sofá. Hermione estava apoiada em Harry, que a envolvia com um braço. Embora não fosse nada demais, eu quase conseguia sentir a raiva que emanava de Rony.

— Típico dele. - ele disse

  Antes que ele pudesse fazer alguma coisa estúpida, tirei a Horcrux do seu pescoço. A respiração dele ficou mais lenta.

— Ron… - eu disse - Não tem nada acontecendo entre eles.

Ele não respondeu.

— Você não pode deixar esse medalhão tomar conta dos seus sentimentos, é isso que ele quer. - eu disse

Ele assentiu.

— Suponho que você esteja certa. - ele murmurou

— Estou - sorri

Ele deu um sorriso fraco e foi para o quarto que dividia com Harry.

— Bom, acho que o turno é meu. - murmurei 

Percebi que esteva segurando o medalhão. Eu odiava aquele objeto. Rony era, de longe, o mais afetado por ele, inexplicavelmente, mas ele não me fazia bem. Coloquei-o no pescoço e fui para fora da barraca.

Fiquei lá sentada por algumas horas. Não estava com sono algum por estar usando a Horcrux. Eu sabia que se adormecesse, iria ter pesadelos.

Senti um frio inexplicável, de uma hora para outra, e sabia o que isso significava. Eu não sabia se os dementadores eram imunes aos feitiços de proteção, mas me coloquei em pé, com a varinha em punho.

Decidi lançar um patrono, só para garantir, mas ao pronunciar o encantamento, nada saiu da minha varinha. Tentei outra vez. Tentei todas as minhas lembranças mais felizes.

O frio aumentou. Eu conseguia ver dois vultos negros de aproximando da barreira dos nossos feitiços de proteção.

Entrei correndo na barraca e trombei com Harry, que estava em pé, segurando sua varinha.

— Dementadores? - ele perguntou

Assenti.

Saímos da barraca e Harry lançou o feitiço contra eles. O veado correu atrás dos dois dementadores e os três desapareceram.

Suspirei.

— Obrigada - eu disse

— Sem problemas… - ele disse - Mas o que aconteceu? Você produz um patrono excelente.

— Eu não sei! - exclamei - O feitiço não funcionou.

— Você tem que pensar em mim para que ele funcione bem. - sorriu ele

Ri.

— Tenta de novo. - ele disse

— Pesando em você? - perguntei

Ele riu.

— Se eu for sua lembrança mais feliz… - ele deu de ombros sorrindo

Bufei.

— Expecto Patronum… - eu disse

Nada aconteceu.

Harry franziu a testa.

— Não sai nem um fiapo. - ele disse

Assenti.

Ele me observou por um segundo e se inclinou em minha direção. Todos os músculos do meu corpo ficaram rígidos, mas ele só retirou o medalhão do meu pescoço, rindo. Relaxei meu corpo.

— Tenta mais uma vez. - ele disse

— Expecto Patronum… - eu disse

O fiapo de luz branca saiu da ponta da minha varinha e acertou o rosto de Harry.

— Pronto - ele disse colocando o medalhão no próprio pescoço

— Você não precisa usá-lo agora. - eu disse - Eu acabei de tirar de Rony.

— E eu acabei de tirar de você.

— Harry… - eu disse, irritada

— Alice. - ele disse - Eu não vou te devolver.

Ele suspirou e sentou no tapete que havíamos colocado na frente da barraca, para os turnos de vigia. Sentei ao seu lado.

— Você deveria dormir um pouco. - ele disse - Amanhã faremos uma excursão ao orfanato do pequeno Tom.

Ri e assenti.

— Você acha que vai ter algo lá? - perguntou ele

— Não. - eu disse com sinceridade

Ele sorriu.

— Nem eu. - ele disse

— Vocês dois são muito parecidos. - eu disse - Você não deixaria sua alma com os Dursleys.

Ele assentiu.

A presença dos dementadores fez com que eu percebesse que o frio se aproximava com rapidez. Fui até o meu quarto e peguei um dos cobertores da minha cama. Quando Harry viu o que eu tinha ido pegar, sorriu. Sentei ao lado dele, outra vez, e nos cobri com o cobertor.

Harry fez um barulho de contentamento.

— É por isso que eu te amo, Alice. - disse ele rindo

Ri.

— Me poupe de suas declarações de amor, Potter. - bocejei e deitei a cabeça no seu colo - Me acorda se algo der errado?

Ele assentiu e abriu a boca para falar algo, mas eu já havia dormido.