Hermione De Cabeça Para Baixo escrita por Saggita


Capítulo 2
Capítulo 2 - Um velho amigo




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Eles olharam um para o outro, ambos como se tivessem acabado de encontrar uma criatura extraterrestre. Hermione não conseguia muito bem processar as palavras. Abraxas até que era um nome complicado, mas não inesperado para algumas décadas antes, especialmente se tratando de bruxos, porém juntamente com o sobrenome formava uma combinação surpreendente demais para a compreensão da garota. Abraxas Malfoy, ela sabia por que tinha estudado a árvore genealógica dos Malfoy, era avô de Draco. E tinha sido da Sonserina. Bom, pelo menos segundo o livro. Porque o de carne e osso que estava na frente de Hermione era da Corvinal.

“Me desculpe.” Hermione balançou a cabeça, pensando que talvez os narguilés tivessem embaralhado tudo em sua memória. “Como disse?”

“Abraxas... Malfoy?” Ele repetiu cautelosamente. “Sei que o meu primeiro nome não é muito simples de entender, mas foi esse o que o meu pai me deu.”

“Mas o seu sobrenome é Malfoy?” Hermione perguntou.

“Malfoy.” Ele confirmou.

Hermione ia abrir a boca para perguntar se ele tinha certeza, porém ele parecia estar certo do seu sobrenome. Ao invés disso, Hermione perguntou-se se não estava tendo alucinações. Porque tudo parecia surreal de mais para ser verdade. E, no entanto, a inescapável sensação de que aquilo tudo era de fato verdade não podia ser ignorada.

“...Acho que seria interessante irmos na Madame Pince para chegar se está tudo bem com você?” Abraxas sugeriu ao ver que Hermione não ia falar tão cedo.

“Por que iríamos à biblioteca?” ela perguntou, sem pensar.

“Eu me pergunto o mesmo.” Ele ergueu uma sobrancelha. “Porque na verdade a Madame Pince trabalha na Ala Hospitalar.”

Tudo bem, Hermione pensou, só uma leve coincidência de que a enfermeira antes de Madame Pomfrey tinha o mesmo nome da bibliotecária. Só uma coincidência, ela repetia para si mesma como um mantra, como se quanto mais ela repetisse, mais aquilo fosse verdade. Esperança vã, no entanto, porque nada podia afastar o peso em seu estômago, e nem transformar tudo aquilo em um sonho. Os seus joelhos fraquejavam e ainda assim ela continuava a andar, teimosamente. Embora parecesse estar a ponto de desmaiar: “Não quer que eu te arranje uma maca ou algo assim?” Abraxas perguntou após pouco segundos. “Você realmente parece que-“

“Não.” Hermione o interrompeu. “Está tudo bem.”

Bem que ela queria que isso fosse verdade. Abraxas acreditou nisso tanto quanto ela própria, pelo o que ela pode notar. E, no entanto, eles realmente chegaram à porta da Ala Hospitalar, sem Hermione fraquejar – ou pelo menos, ela não caiu inconsciente no meio do caminho. Madame Pince logo apareceu para atendê-los, e ela era uma jovem mulher com os cabelos inteiramente castanhos e viçosos presos em um coque e o seu olhar era atento e afiado como o de uma águia.

Isso tornava a lógica de Hermione implausível, ou pelos menos afinava as possibilidades de Madame Pince não iria precisar de uma substituta ou substituto tão cedo, e certamente que Madame Pomfrey estava em Hogwarts por bastante tempo.

Madame Pince não perguntou coisa alguma. Simplesmente guiou Hermione para um leito e a acomodou lá, fechando as cortinas. “Que aconteceu?” Madame Pince perguntou, já examinando Hermione de todas as formas possíveis com a sua varinha. Hermione lembrou-se então que estava sem a sua, porque a perdeu durante o acidente.

“Eu bati contra a parede.” Hermione respondeu brandamente.

“Ah, certo.” Madame Pince notou, em seus exames, que Hermione carregava o que parecia ser um vira-tempo. Teve a discrição de não falar nada. Certamente ambas já compreenderam o básico da situação e, de certa forma, a seriedade.

A Hermione foi dada uma poção analgésica para aliviar as dores, porque não havia nenhum ferimento sério e ainda outra poção, que a levou em um estado ligeiramente relaxado, e como se toda a tensão tivesse indo embora, ela sentou-se na cama, enquanto Madame Pince abria as cortinas para se retirar. Então Hermione pode, finalmente, observar tudo com atenção.

Ela o evitava fazer até o momento com medo do que poderia descobrir, mas agora que foi colocada em estado de relaxamento, ela pode notar a Ala Hospitalar. A maioria dos leitos estava vazios, porém dois estavam fora de vista pela s cortinas individuais. Madame Pince e Abraxas trocaram breves sussurros em um canto afastado. Hermione remexeu-se nervosamente em seus travesseiros e engoliu em seco, chamando sem intenção a atenção dos dois.

Eles trocaram uma última palavra e Madame Pince saiu apressadamente da Ala Hospitalar, enquanto Abraxas se dirigiu a Hermione e sentou-se casualmente na cama ao seu lado. “Madame Pince disse que não havia nenhum ferimento sério.” ele avisou. “Mas isso não é importante, não é?”

“Não.” Hermione concordou. “Duas pessoas foram atacadas até agora?”

“É.”

“E vocês não sabem quem é o herdeiro de Slytherin?”

“Não.”

“E Tom Riddle é mesmo da Grifinória?”

“Com certeza.”

Outro momento de silêncio.

“Você é mesmo um Malfoy?” Hermione perguntou.

Abraxas concordou com a cabeça. “Ainda não sei o que é tão difícil de acreditar sobre isso.”

“Ah... Veja bem...” Hermione hesitou. “Sua família não foi toda da Sonserina?”

Abraxas estranhou a pergunta. “Não, claro que não... Toda a minha família foi da Corvinal... Se bem que um ou dois já foram da Sonserina, se eu não me engano. Não entendo como isso é relevant-“

“Você é puro sangue?” Hermione perguntou, franzindo o cenho e não escondendo mais as suas suspeitas. Ele não podia saber, é claro, que suspeitas Hermione tinha.

“Estou mais para traidor do sangue, se é que me entende.” ele explicou. “Tenho certeza que se Salazar estivesse aqui agora, eu seria mais uma das estátuas.”

A conversa foi interrompida pela abertura da porta da Ala Hospitalar. Madame Pince estava de volta, nos calcanhares de um homem velho e frágil, que andava vagarosamente. Abraxas levantou-se de sobressalto: “Diretor Dippet.” ele saudou o velho homem respeitosamente.

 “Sr. Malfoy.” Dippet respondeu e então os seus olhos pousaram em Hermione. “Soube que está em grande confusão, Senhorita...”

“Granger.” Hermione disse.

“Veja, não acho que seja sábio que tenhamos uma conversa agora.” Dippet falou. “Deve estar confusa, suponho eu, e que precise de um descanso. Arranjarei um quarto privativo para você e falaremos amanhã, quando estiver mais bem preparada.”

Hermione achou isso uma boa idéia. Ficar sozinha em um canto reservado e ter o resto do dia para arrumar os seus próprios pensamentos eram algo que ela precisava. Logo estava às portas de onde deveria ficar. Apesar das boas intenções de Dippet, isso não ajudou muito. Porque Hermione encontrava-se de pé, sozinha, em uma câmara nas masmorras, em um andar ainda mais baixo que a sala comunal da Sonserina.

Era uma câmara esculpida direto na rocha, com uma só janela consideravelmente que dava para as águas do lago que ainda estavam claras o suficiente para ver a sombra da lula gigante, nadando muito distante dali. Não havia decoração, e os móveis eram feitos de madeira escura. Os candelabros estavam acesos, e mesmo assim Hermione achava que não havia uma quantidade de luz que pudesse deixar tudo aquilo bem iluminado. E aquele lugar macabro pertencia – ou iria pertencer algum dia -- à Snape, sem dúvida alguma.

Ao pensar nisso, Hermione começou a pensar no tinha conseguido evitar pensar até aquele minuto. Que nunca mais ia voltar à Hogwarts da forma que conhecia. Nunca mais iria ver Harry, Ron ou os seus pais... Ou talvez, sim, iria, mas não da mesma forma de antes. Lembrou-se de Bichento, que também nunca mais veria – e isso, sim, era verdade. Gatos não vivem tanto assim...

Recordou-se de Umbridge. Dela, Hermione não sentiria falta, porém havia deixado Harry e Ron para enfrentá-la sozinhos, sem falar que o mundo bruxo parecia estar às portas de uma guerra. Ela perguntou-se como tudo iria ser para a Armada de Dumbledore dali em diante...

Subitamente, algo lhe veio à memória que lhe deu uma pontinha de esperança. Se estava em Hogwarts na época que Tom Riddle estudava, estava também na época em que Dumbledore era professor. Talvez ele pudesse ajudá-la de alguma maneira, visto que Hermione conseguisse dizer a ele que o conhecia do futuro. Ainda assim, havia o problema de que ninguém nunca viajou para o futuro, somente de volta.

Dumbledore estando em Hogwarts ou não, Hermione estava presa. Ficar sozinha para pensar melhor sobre o que aconteceu já não era tão bom, então... Ela se pôs a inspecionar o lugar, e viu que tinha uma camisola e materiais básicos de higiene para a noite no guarda roupas e fora isso, nada mais.

 Algumas horas de várias voltas pela câmara, que era grande o suficiente para conter várias prateleiras vazias e até mesmo um sofá, uma poltrona e uma mesinha de centro, e na mesinha se materializou um jantar completo, com pequenas porções de vários pratos, um prato, um talher e um cálice com suco de abóbora. Uma representação minúscula do jantar que acontecia níveis acima, no Salão Principal.

Hermione olhou a comida por alguns instantes e logo soube que não estava em condições de comer. Pela primeira vez deixou-se cair no sofá, então, sentindo-se exausta, entretanto incapaz de descansar. Assistiu a fumaça sair em espirais da comida, com um olhar vazio e distante. Até que escutou toques na porta: “Senhorita Granger...?”

“Entra.”

Ela não perguntou quem era, pois já sabia quem era... Não sabia se ficava ou não aliviada por não estar mais sozinha, no entanto. Ouviu o som da porta se abrindo, e depois o clique da maçaneta fechando.

“O Diretor Dippet me mandou checar se você estava-“

“Eu estou bem.” Hermione interrompeu Abraxas na metade da frase.

Mas aparentemente não o convenceu, e pode escutar o som de passos vindo em sua direção, até que Abraxas apareceu do lado da mesinha de centro, perto do sofá onde Hermione se encontrava sentada com as pernas esticadas no espaço restante. “Não sabe mentir muito bem, não é?” ele perguntou.

“Acho que não.” Hermione concordou. “Pode se sentar.” ela disse, então. Pouco importava se ele fosse um Malfoy ou não, naquele ponto. Ele era um dos poucos que sabia o que aconteceu a Hermione. Se ela não pudesse confiar nele, em quem mais poderia?

Abraxas sentou-se na poltrona, e ficou em silêncio por uns instantes até que lhe passou algo para perguntar: “O Diretor Dippet me disse que já está fazendo os acertos necessários para lhe aceitar na escola. Já fez os seus NOM’s ou...”

“Ainda não.” Hermione respondeu. “Estava me preparando para eles... Estou no quinto ano.” Uma pausa. “E você?”

“Eu estou me preparando para o NIEM’s. Meu sétimo e último ano.” Abraxas disse.

Hermione considerou a situação por um momento. “Posso perguntar algo?”

Abraxas deu de ombros. “Sou todo ouvidos. Se tiver algo que eu possa fazer, também...”

“O que está acontecendo?” Hermione questionou. “No mundo bruxo...?” Nem todas as aulas de História da Magia que pudesse ter iriam prepará-la para de fato estar no passado. Havia muitas coisas para saber, então, se era o destino de Hermione prosseguir com a sua vida na época em que estava.

“Grindelwald é o que está acontecendo no mundo bruxo.” Abraxas fez uma leve careta. “Ele acha que os bruxos não deveriam se esconder dos trouxas, e de que os trouxas deveriam ser subordinados aos bruxos.”

“E o que ele pensa sobre os nascidos trouxa, então?” Hermione achou interessante perguntar.

“Ah, ele não é um elitista de sangue. Pelo menos ainda não.” Abraxas explicou. “A rixa dele é contra os trouxas, mas os seus seguidores todos são elitistas. Não vai demorar muito tempo até que ele seja um também, especialmente agora que está a pleno vapor e parece que está tomando o Ministério, pouco a pouco.”

Hermione guardou silêncio, esperando que Abraxas continuasse com a explicação.

“Veja, existem até dois deles aqui, ensinando em Hogwarts.” Abraxas disse calmamente, porém com certo veneno na voz.

Hermione sentou-se da forma como deveria ser e se inclinou para frente, para então dizer: “Mesmo? Quem são...?”

“Temos o nosso velho amigo Dumbledore, é claro. E...”

Hermione não conseguiu registrar o restante da frase.


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Notas finais do capítulo

Então... Pois é. Estarei postando um ou dois capítulos por semana, depende do meu horário porque eu estou trabalhando em três projetos paralelamente e vou te contar: é bem trabalhoso.