Hesitate To Fall escrita por Anna C


Capítulo 13
Cartas Na Mesa


Notas iniciais do capítulo

Preparem os violinos, o nível de melodrama deste capítulo é equivalente ao de novela mexicana.



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A Mansão Malfoy era sem dúvida uma bela e suntuosa construção, rica em detalhes e com decoração da melhor qualidade. Contudo, eu não podia negar que era um pouco assustadora. Alguns dos quadros dos antepassados daquela família quase milenar não eram muito simpáticos, muitos logo me reconheceram pelos traços típicos de um Weasley. Estes tiveram que ser cobertos para que parassem de proferir seus terríveis insultos.

– Não ligue para eles, Rose – disse Malfoy.

Porém, era uma tarefa um tanto difícil. Talvez eu não fosse tão bem-vinda como me sentira no momento em que fui recepcionada pelo loiro.

Além disso, havia muitos corredores e ambientes escuros, os quais não eram nada convidativos.

"Passar alguns dias ainda tudo bem, mas morar aqui?" pensei, com a ideia me fazendo até estremecer.

Malfoy e Albus me apresentaram os cômodos que tinham alguma importância conhecer – Albus parecia quase entediado, de tão familiarizado com o lugar.

Pouco após o tour, conheci a Sra. Malfoy. Ela era uma mulher muito elegante e fina. Possuía traços delicados e bonitos de rosto, além de um sorriso acolhedor que me fazia ficar mais à vontade. Logo vi que ela era muito carinhosa com o filho.

Quanto ao Sr. Malfoy, fiquei muito apreensiva antes de enfim vê-lo. Todas aquelas histórias antigas me perseguiam. É claro que nós da geração seguinte não tínhamos nada a ver com aquilo, mas nem sempre era assim que os mais velhos pensavam.

– Ele é legal, eu juro – disse Malfoy, talvez tendo percebido que eu estava batendo os dentes de nervosismo.

– É, o Sr. M é gente boa – comentou Albus.

– Você não vai realmente chamá-lo assim, certo? - questionou o loiro, erguendo uma sobrancelha.

– Nossa, me desculpe por tentar descontrair o clima, tá? Só quero deixar a Rose menos tensa.

Malfoy revirou os olhos e bateu numa porta.

– Pai, você está aí? Eles chegaram.

Ouvi algo como um "podem entrar" e então, Malfoy abriu o cômodo.

Era uma espécie de escritório com mais alguns daqueles quadros antipáticos, mas vários objetos fascinantes e muitos livros. Atrás de uma mesa estava um senhor que se parecia muito com Malfoy, porém uma versão mais adulta dele. Possuía a mesma beleza fria e singular que o mais novo. Bom, obviamente, era seu pai.

O homem largou o jornal que lia para nos olhar com mais atenção.

– Você de novo, Albus? Falando sério, acho que passa mais tempo aqui do que na sua própria casa.

Albus deu de ombros.

– Meu quarto aqui é maior.

O Sr. Malfoy não pareceu muito surpreso com a resposta do meu primo. Então, notou-me ao lado do filho e ficou intrigado.

– Hum... Rose Weasley, certo?

– S-sim – respondi, mas logo me repreendi por ter demonstrado tamanha insegurança na voz. "Não gagueje!" ordenei a mim mesma mentalmente. - Muito prazer em conhecê-lo, Sr. Malfoy.

"Assim está melhor."

Ele ficou poucos milésimos em silêncio, analisando-me nesse tempo, e finalmente assentiu.

– Prazer. Já mostrou os aposentos, Scorpius?

– Claro, pai.

– Muito bem, então – pelo seu tom, ele devia estar nos dispensando.

Ao passar pela porta de novo, mas no sentido contrário, eu pensava em como Malfoy tinha um pai rígido e sério, até que...

– Srta. Weasley? - ele me chamou. Olhei primeiro para frente e constatei que nem Albus, nem Malfoy haviam escutado seu chamado.

Voltei-me prontamente para o dono da casa.

– Sinta-se à vontade. - Um sorriso pequeno, mas gentil trespassou seus lábios.

Senti o rubor tomando conta do meu rosto.

– Cer-certamente, Sr. Malfoy – minha voz falhou novamente. "Droga."

Desta vez, saí de verdade do escritório e corri para alcançar os outros dois. Entretanto, estava milhares de vezes mais aliviada. Aquele último comentário fora quase uma aprovação ao meu ver.

Eu imaginava como aquela situação toda devia ser estranha para o Sr. Malfoy. Nossas famílias se odiavam havia muitos e muitos anos, por isso, ter que repentinamente deixar aquilo de lado pelo bem de um filho devia ser uma árdua tarefa. Ele provavelmente já estava mais acostumado com a ideia agora, mas percebi um leve choque atingi-lo ao me ver ali. Albus podia ser metade Weasley, mas em nada lembrava um. Eu, porém, era um exemplo perfeito de Weasley em mais aspectos do que podia negar.

Acabava por supor que o Sr. Malfoy só conseguia considerar a ideia de nos receber em seu lar, porque Malfoy, seu filho, era daquele jeito. O mais jovem era quase um anti-Malfoy, tratando-se de sua personalidade. Devia ter sido difícil se acostumar com um filho tão diferente das expectativas, porém, é claro que o amor paternal sempre triunfaria. Aquilo devia ter feito do Sr. Malfoy um homem mais tolerante com o passar dos anos.

x-x-x-x-x

Pelo resto do dia, nós três apenas ficamos percorrendo os extensos corredores da mansão, falando sobre quaisquer bobagens. Na hora do jantar, conheci a Sra. Narcissa Malfoy, avó de Malfoy. Ela já era idosa, devia ter uns setenta anos de idade, e até que fora bem simpática comigo. Contudo, acho que ela já estava ficando senil, pois me chamou de "Ruby" umas cinco vezes seguidas.

Eu e os dois sonserinos ficamos conversando em frente a lareira por mais algumas horas, até que resolvi me deitar. O caminho para meu quarto fora um pouco assustador, mas aguentei firme para não entrar em pânico.

– Enfim, uma boa noite de sono – exclamei ao fechar a porta atrás de mim.

Foi quando notei um embrulho sobre a cama. Era reluzente, mas possuía um discreto laço e um bilhete preso a ele. Examinei-o, já tendo uma ideia do que poderia ser. Peguei o bilhete anexado.

"Pensei em dar uma joia ou algo assim, mas isso aqui era mais barato.

Brincadeira." eu ri, rolando os olhos. "Eu espero que aprecie, pois escolhi especialmente para você. O cara era americano, mas até que sabia o que estava fazendo...

S. M."

Desembrulhei o presente de aniversário e me encontrei segurando um livro.

"Hum... E.E. Cummings." Li o nome do autor. "Deve ser bom."

Eu tinha planos de ir direto dormir, mas um agrado inesperado daqueles não poderia ser tão facilmente deixado de lado. Deitei-me na cama numa posição confortável e decidi que começaria a ler naquele momento mesmo. Porém, não parti da primeira página, pois havia um marcador escondido entre as páginas 40 e 41.

– O que será isso?

Então, li para descobrir.

Eu Carrego seu coração comigo
(Eu o carrego no meu coração)
Eu nunca estou sem ele
(onde quer que eu vá, você vai, minha querida;
e o que quer que eu faça sozinho, eu faço por você, minha querida)

Eu não temo o destino
(porque você é o meu destino, minha vida)
Eu não quero o mundo por mais belo que seja
Porque você é meu mundo, minha verdade.
E você é o que a lua sempre significou
o que o sol sempre cantou

Eis o maior dos segredos que ninguém sabe.

(Você é a raiz da raiz, e o botão do botão
e o céu do céu de uma árvore chamada vida;
que cresce mais alta do que a alma pode esperar
ou a mente pode esconder.
Este é o milagre que distancia as estrelas

Eu Carrego seu coração
(carrego no meu coração)

Antes que que eu pudesse sequer refletir sobre o que havia acabado de ler, vi algo escrito no rodapé da página 41.

"Escadaria principal, corredor à direita, segunda porta com ornamentos prateados. Onze horas. Por favor, apareça."

Todo o sono se esvaiu, enquanto eu abraçava o pequeno livro contra o peito.

Eu estava incerta se ele havia escrito aquilo naquela página aleatoriamente, ou se queria que eu lesse aquele poema em específico antes de chegar a sua mensagem. Já conhecendo-o melhor, era mais provável que fosse intencional.

Oh Deus, que sensação mais estranha era aquela que me atingira tão de repente? Minhas mãos tremiam, a garganta secara, meu estômago parecia dar saltos mortais para trás... Por que eu não poderia apenas rir daquela história toda e voltar para o travesseiro?

"O que tem de errado comigo?" e não só aquilo. O que havia acontecido conosco? Quando é que chegamos àquele ponto? E, principalmente, por que eu estava tão inclinada a aceitar aquele encontro no meio da noite?

"Não posso ir, não posso... Senão... Senão..."

Senão se tornaria oficial. Aqueles sentimentos crescentes seriam confirmados.

Ele revelou o que sentia com tanta facilidade e sutileza, mesmo sabendo que eu poderia recusar. Como ele conseguia, enquanto minha cabeça apenas se enchia de dúvidas? Por Merlin, teria Malfoy realmente acabado de se declarar, ou eu estava exagerando? Podia ser apenas um poema bonitinho qualquer, sem mensagem subliminar nenhuma.

"Francamente, Rose, era um poema de amor. Você não pode ser tão tapada..." ouvi uma voz em minha mente que lembrava a de Albus. Provavelmente, porque era algo que Albus diria para mim numa ocasião daquelas.

Estava tão, tão errado. Eu deveria apenas criar coragem e rejeitá-lo. Mas, é claro, eu não conseguiria, pois coragem não era o que de fato me faltava. Era vontade.

Enquanto aquele conflito interno me consumia, o tempo passava e logo já era a hora do tal encontro. Precisava me decidir agora, sem mais tempo para pesar os dois lados.

Inspirei fundo e peguei a varinha de cima da cômoda.

Lumos!

E eu estava do lado de fora do quarto.

x-x-x-x-x

O caminho até aquela porta havia sido escuro e também aterrorizante, mas não somente pelos corredores ficarem medonhos durante a noite. O que eu mais temia era o que poderia acontecer lá dentro.

"Acabe com isso."

Sem bater, eu adentrei o cômodo, fechando a porta a seguir.

Ali estava ele, tocando algo em seu piano. Malfoy era melhor do que dissera ser, na verdade. Ao notar que eu havia chegado, deu um leve sorriso e mudou de música.

Reconheci as primeiras notas quase que instantaneamente. Seus dedos tocavam de forma delicada as teclas do piano, como se estivessem as acariciando. Era apenas uma canção de ninar, mas eu gostava da sensação que me causava. Tão suave, tão melancólica... Não pude evitar quando as palavras começaram a sair da minha boca no ritmo da melodia.

Carry my soul into the night
May the stars light my way
I glory in the sight
As darkness takes the day

Malfoy continuava a tocar, porém seu olhar se fixara em mim quando comecei a cantar. Ele parecia impressionado e, ao mesmo tempo, tranquilo. Fiquei um pouco confusa e tentada a parar, entretanto, a segunda estrofe havia chegado. Não consegui conter minha voz.

Sing a song, a song of life
Lived without regret
Tell the ones, the ones I loved

Ele retirou as mãos do piano cautelosamente e as repousou no colo. Então, eu finalizei.

I never will forget

Never will forget

Foi isso. Ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas nos encarando. As coisas haviam mudado tanto... Antigamente, aquela situação estaria me incomodando, mas agora era confortável de uma maneira incomum.

Então, Malfoy sorriu.

– Eu sabia que era boa.

– Não, eu...

– Foi incrível – o sonserino me cortou no meio da frase. - Definitivamente, é um dom. Não devia desperdiçar.

Permiti que um sorriso se espalhasse em meu rosto.

– E você também não é nada mau, senhor modesto.

Malfoy levantou-se, passando uma mão pelos cabelos, enquanto ria e ficava um pouco sem graça. Então, começou a andar em minha direção. Mordisquei o lábio inferior, graças ao nervosismo que me tomava.

– Não se preocupe, nada nesta sala pode ser ouvido de fora – ele disse.

Apenas vinte centímetros nos separavam naquele momento. Minha respiração estava irregular.

– Sabe - eu iniciei. -, é a primeira vez que eu canto qualquer coisa em cinco anos e meio.

Malfoy pareceu surpreso e eu entendia o porquê. Ele não sabia daquela história do passado. Bom, não importava agora.

O sonserino me observou por alguns segundos, estudando meu rosto.

– Você achou que eu não viesse? - perguntei para quebrar o silêncio, que começava a me enlouquecer.

– Dessa vez, eu realmente tive dúvidas – admitiu. - Eu sabia que encontraria minha nota, mas você é muito imprevisível.

Tentava me controlar para não fitar sua boca, porém, a tarefa vinha se mostrando cada vez mais difícil conforme os segundos passavam.

– Me chamando de desequilibrada novamente, Malfoy? - ergui uma sobrancelha.

– Não, só um pouco instável – ele sorriu e logo eu estava rindo.

– Suponho que esse seja o momento em que eu me zango e lhe dou uma resposta ácida, certo?

– Se não quiser quebrar os velhos hábitos...

Antes que eu pudesse formular alguma frase, o loiro prosseguiu.

– Mas acho que podemos criar novos costumes, caso prefira – Malfoy inclinou-se levemente em minha direção.

– Espere! - os resquícios de bom senso me obrigaram a dizer.

Ele recuou o rosto ligeiramente.

– Eu entendo – Malfoy falou, seu sorriso se dissolvendo.

Minha inquietação apenas dobrou de tamanho.

– Ca-calma! Não foi o que eu quis dizer! Ou talvez tenha sido... E-eu não tenho tanta certeza!

De repente, o olhar de Malfoy se perdeu em algum ponto aleatório da sala. Ele estava atento a algo que não era eu.

– O que foi? - questionei, olhando por cima do ombro, mas não encontrando nada fora do normal.

– Ela está gritando de novo.

– Gritando? Quem está gritando?

– Minha avó.

– Não que eu tenha a melhor das audições, mas você não havia dito que essa sala era à prova de som?

– Sim, mas só para quem está do lado de fora. Desculpe, Rose, mas preciso ir checá-la. Fique aqui, que eu voltarei.

Malfoy se dirigiu à porta e a entreabriu. Então, consegui escutar bem nitidamente os lamentos em forma de berros daquela senhora. Era de angustiar qualquer um e eu fiquei imaginando se aquilo era tão frequente quanto o loiro pareceu insinuar.

– Por favor – ele dizia antes de sair. Seus olhos estavam suplicantes. -, não vá embora.

Quando dito daquela maneira, era impossível fazer o contrário.

Acomodei-me num sofá que havia ali para o meu conforto, enquanto minha mente se contraía em reflexões.

Havia sido por tão pouco. Estávamos a meros centímetros de legitimar aqueles sentimentos. Os mesmos sentimentos que eu queria tanto poder repelir, mas que se tornaram tão entranhados em meu peito em tão pouco tempo... A verdade irrefutável era que eu de fato os sentia. Era inútil negar agora. Entretanto, ser correspondida transformava as coisas em uma verdade não apenas incontestável, mas também aterradora.

Como tal destino podia ter sido traçado para mim? O único garoto pelo qual não deveria me apaixonar – argh, estava apaixonada, como me doía afirmar aquilo -, era o único pelo qual eu poderia ter me apaixonado. Parecia tão evidente naquele momento que até me fazia querer rir. Tudo pelo que passamos, havia nos levado àquela situação. E, quem sabe, Malfoy fosse até demais para mim.

Eu fora tão rude, tão insensível com aquele sonserino nos últimos anos... Eu simplesmente sabia que não merecia sequer uma palavra gentil vinda dele. Porém, ele era demasiado bom para retribuir minha indelicadeza.

O que meses atrás pareceria uma maldição, eu só conseguia considerar uma benção naquele instante. Oh sim, eu tinha tanta sorte. Mas, com ela, vinham tantos receios...

Ainda não me permitia seguir em frente, algo estava me mantendo na fronteira. Seria mais uma vez meu terrível orgulho, que se recusava a ceder? Ou, será que, em algum canto dentro de mim, eu sabia que não era digna daquela felicidade?

"Como, na mais louca das hipóteses, ele poderia ser feliz com você, Rose? O que ele viu nessa sua cabeça dura?"

Era uma pergunta mais que válida. O que poderia tê-lo atraído? Por maiores que fossem os esforços de Albus, elogio algum conseguiria mudar a imagem que eu criara para mim. Contudo, tinha que reconhecer, uma vez que algo lhe chamava a atenção, Malfoy captava todos os detalhes escondidos atrás de uma ação, ou uma expressão. Talvez ele só precisasse que alguém me apontasse, para então começar a me analisar.

Só não conseguia entender como, após ter me compreendido, ele ainda quisesse algo comigo. Malfoy era esperto demais para se contentar com um prêmio de consolação.

"Aquele garoto precisa de algo melhor, não minta para si."

E ele estava de volta. Aparentemente, estava tudo silencioso, a não ser pelo leve rangido que a porta fez.

– Resolvido – Malfoy declarou, sorrindo de maneira tranquilizante e depois se sentando numa poltrona próxima a mim. - Desculpe por isso, não acontece sempre.

– Tudo bem. - Eu disse, dando um fraco sorriso em retorno.

Eu devia saber que ele perceberia.

– Tem algo a incomodando – foi uma afirmação, não uma pergunta.

– Será que muda alguma coisa?

– Isso depende.

Fiquei calada, sabendo que as palavras sairiam desorganizadas se eu as dissesse naquela hora.

– Eu não te mostrei meu quarto hoje.

Franzi o cenho com aquele seu comentário.

– É mesmo, mas não sei se é prudente fazer isso num horário tão inconveniente – falei, um temor se sobressaindo na minha voz.

– Acho que fez um julgamento errado sobre mim, então. Ou, quem sabe, não tenha confiança suficiente sobre si – a última frase dele saiu como uma provocação.

O rebuliço em meu estômago nunca fora tão violento.

– Eu tenho pleno controle sobre mim, viu Malfoy? - ah, e como aquilo era mentira.

Pus-me de pé, sem encará-lo.

– Vamos logo, daqui a pouco o sono me alcança de novo.

E ele era rápido. Agarrou minha mão e me levou de volta para os sombrios corredores. Ninguém se lembrou de acender a varinha, porém eu estava absorta demais no momento para me preocupar com claridade. Ele sabia para onde estava indo e isso bastava por enquanto.

Não trocamos nenhuma palavra durante o trajeto. A ausência de som me levava mais uma vez aos meus pensamentos conflitantes.

– É este daqui.

Foi quando adentramos num cômodo totalmente novo para mim. As luzes se acenderam no momento em que nossos pés tocaram o piso do quarto.

O lugar era impecavelmente arrumado. Malfoy possuía sua própria estante de livros com um acervo dos mais variados, apesar de já haver uma grande biblioteca na mansão. Em uma das paredes, havia várias fotos e rascunhos pendurados. Fiquei tentada a observar mais de perto, porém, a majestosa cama ali ao lado roubou minha atenção. Era quase do dobro do tamanho da que meus pais tinham em casa e era coberta por uma colcha verde escura. As paredes também não eram muito claras, mas bom, todo o resto da residência era meio sombria. Apesar disso, aquele quarto especificamente era até que aconchegante.

Ou talvez, fosse a presença dele que me desse aquela segurança.

– Espero que não se importe – Malfoy falou, indo até o amontoado de papéis na parede.

– Com o quê, exatamente? - me juntei a ele.

Então, entendi. Eu tinha minha parcela de participação naquele mural e era até que considerável. Podia me localizar em alguns dos esboços, seu traçado sempre demarcando bem minhas feições. Eles se moviam e, na maioria deles, eu sorria. Eu aparecia em umas duas fotos para as quais não me lembrava de ter posado.

– Tem me espionado, é? - perguntei, com Pandora invadindo meus pensamentos.

Ele riu.

– Não cheguei a esse ponto. Mas bom, você estava lá, a câmera estava na minha mão...

– Certo, certo...

Havia uma outra foto, uma em especial, que estava rasgada de forma que só aparecia nós dois e as cabeças cortadas de dois alunos da Lufa-Lufa. Era daquele jantar do Slugue. Eu também tinha uma cópia daquela fotografia ainda intacta, mas estava perdida em algum canto do meu baú em Hogwarts.

Virei-me para o loiro, momentaneamente comovida. Pelo meu olhar, ele soube o que eu vira.

– Então... Você se importa se eu deixar isso aí?

Aquela incerteza na sua voz era adorável.

– De forma alguma.

Um chiado bem audível provocado pelo vento nos interrompeu. Malfoy correu para fechar as janelas e as venezianas que balançavam. Após algum esforço e de ter seu cabelo bagunçado, o loiro conseguiu resolver o problema.

Logo, estávamos nos encarando novamente. Por Merlin, eu era tão mentirosa!

Eu não possuía o menor controle sobre mim.

Quando vi, meus pés se moviam por vontade própria até o garoto descabelado – tal visão quase me tirava o ar, de tanto charme –, e eu, sem mais poder me conter, uni nossos lábios com sofreguidão.

Havia tanto reprimido em mim, que seria difícil não liberar tudo de uma só vez. Minhas mãos imploravam para desalinhar seus cabelos um pouco mais, minha boca almejava sentir o gosto da sua. Quando Malfoy correspondeu, envolvendo meu corpo em seu abraço, perdi-me em seu toque e, enfim, entreguei-me as sensações. Como eu amava aquele aroma que ele exalava ou o perfeito ritmo de nosso beijo... "Você não o merece." E isso era provavelmente verdade, mas de uma coisa eu estava certa: eu precisava dele. E precisava mais do que jamais poderia admitir.

Como era possível que alguém tivesse se tornado tão essencial em tão pouco tempo? Se ele se fosse agora... Eu honestamente não sabia o que seria de mim. Malfoy despertava meu melhor e instigava meu progresso. E não era exatamente isso o que ele deveria fazer? Eu apenas podia rezar para que eu provocasse o mesmo efeito naquele rapaz, pois já era tarde demais para libertá-lo.

Eu podia não ser merecedora de seu afeto, mas me tornara significativamente dependente dele.

x-x-x-x-x

Por um momento, pensei ainda estar sonhando. Eu havia revivido inúmeras vezes meu momento com Malfoy enquanto dormia e, agora que ainda sentia seu calor, acreditei que ainda estivesse dormindo. Porém, lembrei-me de que havia adormecido ali em seu quarto na noite passada.

Seria impossível me recordar de quantas vezes nos beijamos ou quais foram as últimas palavras que trocamos, mas eu me lembrava de que em meio aquela conversa sem rumo e dos carinhos, o sono me venceu.

Não demorou para que eu ficasse aflita. Se alguém entrasse ali poderia ter a ideia errada, afinal, a frase "dormimos na mesma cama" podia ter significados bem sugestivos.

Estava para me mover, contudo, fiquei com um pouco de dó de acordar Malfoy. Espiando-o pelo canto do olho, percebi que ele estava mais que tranquilo. Eu sentia seu peito subir e descer lentamente, e temia que qualquer movimento meu quebrasse aquele seu momento de paz.

Suspirei, encantada com o que presenciava.

Droga. Eu não poderia ficar naquela posição por mais nem um segundo.

Consegui me sentar na cama sem acordá-lo e comemorei internamente por isso. Mas, foi ao me virar para constatar como ele estava, que me vi hipnotizada pela cena. Só mais alguns instantes o observando não fariam mal, fariam?

Comecei a ajeitar seus cabelos para o lado e a cantarolar baixo a música que ele tocara no piano na noite anterior distraidamente. Como eu era descuidada.

– Está me encarando, não é? - Malfoy entreabriu os lábios para dizer.

Recolhi a mão, assustada. Ele sorriu, ainda de olhos fechados.

– É, você está.

– Quer me matar? Eu achei que estava dormindo!

– Não, eu fiquei com pena de te despertar.

Corei, notando como nossos pensamentos eram parecidos.

– Ah...

Então, vi seus olhos cinzas pela primeira vez naquela manhã e eu soube que as lembranças de algumas horas atrás o haviam atingido também.

Malfoy se endireitou e segurou minha mão. Ao se certificar de que eu não recuaria, aproximou-se um pouco mais e depositou um beijo no canto dos meus lábios. Só pude sorrir com tal ação.

– Eu precisava saber se foi real – Malfoy disse.

– Estou aqui no seu quarto, não estou?

– Quem me garantiria que não tinha sido só fruto da minha imaginação?

Sorri mais uma vez, apertando sua mão com mais força.

– Deve estar com fome.

– Eu estou sempre com fome – falei, dando de ombros. Bom, era apenas um fato.

Malfoy riu.

– Vamos lá embaixo, então – ele se levantava e me puxava junto.

– Espere! É melhor eu me trocar, estou usando as mesmas roupas de ontem. Eu te encontro à mesa.

Dito isso, voltei para o meu quarto. Acabei por me perder por alguns minutos naqueles vastos corredores, afinal, não vi o trajeto que fiz para chegar ao quarto de Malfoy, havíamos esquecido de iluminar o caminho à noite. Felizmente, consegui chegar ao meu destino sem ser interceptada por ninguém.

O que havia acabado de acontecer? Era no mínimo... Inusitado. E por que eu não conseguia tirar aquele sorriso petulante da cara?

"Acho que Albus está fazendo um péssimo trabalho nos vigiando..." pensei, lembrando-me dos galeões que meu pai prometera a meu primo para ficar de olho em mim e Malfoy. Bom, a intenção dele nunca foi realmente essa, eu acabava por supor.

Quando enfim me juntei a todos para o café da manhã, não pude conter alguns olhares furtivos para Malfoy. Eu tinha uma vontade quase incontrolável de rir e ele, apesar de ser muito melhor ator que eu, também parecia estar tendo dificuldades em se segurar. Os demais pareciam ignorar nosso comportamento incomum, a não ser talvez por Albus e Sr. Malfoy. Albus parecia ter consciência de que havia algo acontecendo, porém estava incerto demais para arriscar um palpite. Já o Sr. Malfoy era observador como o filho e tinha uma expressão indecifrável no rosto.

x-x-x-x-x

Durante o dia, não tive oportunidade de ficar a sós com Malfoy, porém, pudemos aproveitar bem o tempo com meu primo. Eles eram as melhores companhias que eu poderia pedir para o último dia do ano.

Ao entardecer, após um banho numa banheira vitoriana – estava quase me sentindo da realeza, tudo ali era tão sofisticado -, vesti-me com minhas melhores roupas, afinal, a virada do ano seria em poucas horas. Minha mãe havia preparado uma poção alisadora para os meus cabelos que veio muito a calhar. Fiz um penteado elaborado e passei uma leve camada de maquiagem, apenas para dar um "quê" a mais na aparência.

Como havia sido combinado, fui encontrar os garotos na sala de estar. Já estava nos últimos degraus da escada, quando comecei a ouvi-los.

– Você devia contar para ela – dizia Albus, sério.

– O quê? Nem pensar! - Malfoy respondia. Nunca havia escutado uma nota de medo em sua voz antes, mas estava bastante nítida agora.

– Vai fazer bem para você tirar esse peso das costas, Scorpius.

– Essa história vai muito além disso. E se ela nunca mais quiser olhar para mim? Não há perdão para o que eu fiz...

– Eu já disse um milhão de vezes, essa culpa que você sente não existe!

– Você não estava lá, não sabe o que aconteceu...

– Sei pelo que me contou, e é muito óbvio que...

Tomei coragem e deixei as sombras, enfim encarando os dois sonserinos. Eles pararam abruptamente sua conversa ao terem consciência da minha presença.

No primeiro momento, pareceram preocupados, mas algo fez com que suas feições fossem aliviadas da tensão.

– Você está incrível – disse Malfoy, uma pitada de admiração em seu tom.

Minhas bochechas e orelhas ficaram quentes, sinal de que eu havia corado.

– De fato – concordou Albus dando um longo assobio. Olhei ameaçadoramente para ele.

– Tudo bem, eu entendi o recado. – Respondi, azeda. Detestava quando tantos olhares ficavam sobre mim.

Analisei-os melhor.

– Vocês estão ótimos também – comentei, esforçando-me para dar um sorriso gentil. Estava intrigada demais com o que acabara de escutar acidentalmente.

– Ah, Rose, você não viu os jardins! - Albus agarrou meu braço e começou a me puxar para porta da frente. - Anda, Scorpius, vamos mostrar para ela. Acho que vai gostar, prima... Está tudo coberto de neve.

Tivemos que contornar a grande construção antes de enfim chegarmos aos jardins. Realmente, era muito belo.

Possuía uma fraca iluminação por lampiões à gás. Era um jardim quase todo branco, contrastando com a negritude que tomava conta do céu. Os pavões albinos se camuflavam entre os arbustos, mas eu conseguia escutar seu som característico. No centro, havia uma fonte congelada, para complementar aquela adorável visão invernal.

Senti uma brisa gelada e cobri os braços instintivamente. Ficar de vestido ao ar livre num dia tão frio quanto aquele não era a mais sábia das decisões.

Os garotos notaram e bem que percebi a cotovelada que Albus deu no estômago de Malfoy antes do loiro cobrir-me com seu sobretudo. Revirei os olhos, mas mesmo assim sorri.

– Obrigada.

Começamos a nos fitar. Desliguei-me do que acontecia ao meu redor quando a lembrança da primeira neve do ano voltou à minha mente. Eu estava ao seu lado. E foi naquele mesmo dia de outubro que dei-me conta do quanto Malfoy combinava com aquele pôr-do-sol.

A meia luz daquele jardim nevado também lhe caía muito bem.

– Acho que preciso ir ao banheiro.

Viramo-nos para Albus, que por sinal, ainda estava lá. Nossa, pareceu terem se passado tantos minutos...

– Al... - Malfoy falou como se fosse uma advertência.

– Ei, relaxa, eu já volto! - meu primo ergueu as mãos na altura da cabeça, afastando-se de nós.

Vi um sorriso travesso brincar em seus lábios antes que ele sumisse de vista.

– Ele é impossível – comentei, balançando a cabeça.

– Está na cara que era o plano o tempo todo.

– Agora que você disse, faz todo o sentido. Ah, e você sabia que ele estava tramando isso há bem mais tempo?

Malfoy franziu a testa.

– O que quer dizer?

O rubor preenchia meu rosto mais uma vez, porém prossegui de toda forma. Acreditava que já tivéssemos passado daquela fase de negação.

– Albus esteve fazendo seus esquemas para nos juntar nos últimos meses. Não creio que tenha sido tão ingênua por tanto tempo...

– Ah, é isso? Eu já sabia – falou, nada impressionado.

– Como é!? - arregalei os olhos.

– Deu para sacar após o trigésimo elogio às suas qualidades em um mesmo dia. Bom, não foi exatamente o que ele disse que despertou meu interesse, mas...

– Então, o que foi? - indaguei antes de medir a pergunta.

– Foi quando me devolveu o livro que eu esqueci na casa dos seus avós. Pra falar a verdade, eu fiquei um pouco irritado com o jeito que você falou comigo, mas bom, não era nenhuma grande novidade. Pensando melhor, acho que o que me irritou mesmo foi que você arremessou o seu cabelo na minha cara.

Ah sim, eu estava com o rosto escarlate agora. Ele riu.

– Mas então, percebi que você talvez tivesse lido o que havia ali. Fiquei imaginando o que você teria pensado sobre o livro, sobre os meus versos favoritos. Albus andava falando tanto de você que era difícil te tirar dos meus pensamentos.

"Então ele disse, pouco antes do jantar do Slughorn:

– Você viu? A Rose foi convidada...

– É, e ela não pareceu muito feliz quando viu que eu também fui... Acho que não vou.

– Ah, cara, sem essa! Ela só gosta de fazer uma cena, não leve isso tão a sério.

– Aquela garota me detesta, todos sabem disso, Al. Não entendo por que anda tentando me convencer do contrário.

Albus sorriu para mim misteriosamente.

– E por que você não tenta convencê-la?"

– E foi o que eu fiz.

– M-mas por quê? Você deveria me detestar de volta!

– Rose, eu nunca te detestei. Houve mais de uma ocasião em que eu fiquei no meu limite para não dar uma resposta, afinal, eu não sou de ferro, mas detestá-la seria extremo demais.

– Eu ainda não entendo... - virei-me de costas, tentando endireitar os pensamentos. - Não há como você gostar de mim. Eu fui absolutamente cruel com você e, mesmo descontando isso, não tenho nada de esplêndido em mim. Você sabe que é verdade. Se alguém tivesse que ser a personificação de "medíocre", teria que ser eu.

– O quê!? Você ficou louca? - Malfoy ficou de frente para mim, segurando-me pelos ombros. - Você não tem nada de medíocre! Por Merlin, como você não consegue enxergar isso? Quando olho para você, vejo exatamente o oposto. Rose, você é única em todos os aspectos possíveis.

Ele falava com tanta seriedade que eu até receava contestar.

– Bom, era pra ser um elogio – o loiro disse, ficando sem graça e coçando a nuca.

– Ah, claro! - eu dei um tapa na própria testa como reprovação pela minha falta de jeito. - É que soa tão estranho quando você diz dessa forma, é como se fosse totalmente inquestionável e... Desculpe, eu ainda não sei bem o que estamos fazendo.

Malfoy deu uma risada que me contagiou.

– Eu também não. É meio esquisito, não acha? Sei o que deve estar pensando sobre tudo isso e, sinceramente? Estou na mesma.

De certa forma, até que me aliviava um pouco. Porém, eu ainda estava curiosa com outro assunto...

O que ele poderia esconder de tão terrível? O que ele teria feito no passado para que meus sentimentos pudessem simplesmente sumir caso eu descobrisse? Só agora eu começava a me acostumar com a ideia de estar apaixonada por ele, não seria arriscado que me contasse qual era o tal segredo? Ele devia ter seus motivos, afinal.

"Não! É melhor eu saber logo, antes que tenha uma grande decepção mais tarde..."

Verdade, e se ele odiasse o Chuddley Cannons, por exemplo? Será que eu poderia namorar alguém que odiava o meu time do coração?

Certo, eu estava sendo patética. Isso não era motivo para acabar um relacionamento, ainda que eu não soubesse bem como classificar o que tínhamos.

"Fala sério, nada que ele diga pode ser tão ruim assim..."

Era isso. Eu ia perguntar. Mesmo que soasse muito brusco, eu tinha que saber.

– Malfoy.

O garoto até enrijeceu o corpo graças ao meu tom grave.

– O que foi? Está tudo bem?

– Bom, mais ou menos. Há uma coisa... Uma coisa que... Malfoy, tem algo que você talvez queira me dizer? Ou talvez não queira, mas sente que precisa?

Sua fisionomia mudou imediatamente. Com certeza, ali tinha coisa.

– Rose...

– Eu realmente não faço ideia do que pode ser, mas... Acho que você sim.

Ele entrou em pânico.

– Eu não posso! Não posso dizer! - começou a ficar inquieto, andando de um lado para o outro, deixando marcas na neve.

– Malfoy, se acalme!

– Não dá, Rose, não posso. Se você me detestava, vai passar a me odiar! Eu não posso simplesmente deletar isso, mas você não precisa saber, é melhor assim.

– Mentiras não são solução para nada.

– Não é uma mentira, apenas... uma omissão.

– Que seja! Não pode haver algo de tão horrível que você tenha feito que destrua tudo que construímos. Pode ser recente, mas sinto como se fosse o sentimento mais verdadeiro, mais forte que... Escute, Malfoy, você é um cara bom demais, gentil demais para cometer um pecado tão grande.

Então, ele me olhou diretamente nos olhos. Seu olhar se corroía de arrependimento antes mesmo de dizer uma só palavra.

– Eu...

Continuei a encará-lo, esperando impulsionar sua resposta.

– Eu matei o meu avô.

Pisquei algumas vezes, tentando assimilar o que ouvira.

– Desculpe, o que disse? - devia haver algum engano, não era possível que...

– Eu o matei.

As palavras ficaram presas na minha garganta e eu apenas consegui produzir alguns ruídos ininteligíveis.

– É verdade.

– Não! Não pode ser! Você não faria mal a ninguém, é mais inofensivo que um gnomo de jardim... Isso é incabível!

Malfoy parecia já não ouvir o que eu dizia. Observava o céu, ficando imerso em suas memórias.

– Já faz muito tempo... - ele iniciou. - Uma família de ex-comensais da morte não era exatamente querida no mundo bruxo. Estávamos em uma fase bem ruim e, mesmo assim, ainda tínhamos um nome a zelar. Será que isso faz sentido? Bom, talvez não para você que estava do outro lado da moeda. Era complicado, e, de certa forma, ainda é... Acho que cheguei a te dizer que sempre fui assim, meio... Diferente, não é?

Eu assenti, incapaz de gerar um som.

– É, eu sempre fui essa decepção. É claro que tentei me encaixar no início, fazer aquilo que um Malfoy deve fazer... Basicamente, eu era muito ruim nisso. Entendo completamente o que se passava pela mente do meu avô. Devia ser muito frustrante ter um neto tão inadequado. Minha mãe e minha avó não me censuravam pelos meus gostos, me protegiam até demais. Meu pai não necessariamente aprovava o que eu fazia, mas no fim das contas, eu era seu filho. Porém, meu avô...

"Pouco antes de eu ir para Hogwarts, nós tivemos essa discussão. Havia berros e insultos, não foi uma cena bonita. Estávamos na sala de música, por isso, ninguém conseguia escutar. Foi então que, no meio daquela exaltação toda, o rosto dele ficou extremamente vermelho e ele desabou na minha frente. Eu estava muito assustado, não estava entendendo nada! Ele balbuciou um pedido de ajuda e sabe o que eu fiz?"

Malfoy finalmente voltou-se para mim e ergueu as sobrancelhas.

– Nada. Eu não movi um músculo. Simplesmente não consegui sequer piscar. Poucos instantes depois, meu avô já não se movia mais.

Dei um grito abafado, levando as mãos à boca.

– Disseram que foi um ataque cardíaco fulminante, mas sei que fui eu. O motivo de sua raiva e vergonha... O mínimo que eu podia fazer era ir para a Sonserina. Naquele momento, desejei com tanta vontade que ele parasse de falar, não importava o meio, apenas quis que ele se calasse. E foi o que aconteceu. A culpa foi minha.

Sentindo as lágrimas escorrerem pelos cantos dos olhos, mordi o lábio inferior com força.

– NÃO!

Ele arregalou os olhos na minha direção.

– Não, não e não! Cale a boca! - eu gritava. Imagino que tenha ficado ainda mais espantado, mas não pude ver sua expressão, porque logo me atirei sobre ele. Eu o apertava em meu abraço com toda a firmeza que tinha nos braços. - Não foi você, só estava em choque! A culpa não foi sua! Você não fez nada, ele quem não aceitava o fato de você ser quem é! Nunca mais diga uma coisa dessas, ou arrancarei suas cordas vocais! - afundei o rosto em seu peito, aos poucos me acalmando. - Esqueça isso... Nunca houve nada de errado em você, entendeu? Eu estava enganada o tempo todo, eu... Eu sinto...

– Não diga que sente muito.

Olhei para cima, mirando seu rosto. Malfoy continuou:

– Não diga que sente muito, pois não teria um porquê. Não haveria razão para se desculpar por algo que não sabia. Mas, em parte, você sempre teve o direito de me desprezar.

Fui acometida por um grande soluço.

– Não é justo, nada disso é justo...

– Como consegue se comover com alguém tão miserável?

– Pare já! Será que não percebe? Você foi a vítima o tempo todo! E eu o maltratei por tantos anos...

– Rose, você precisa entender...

Foi quando percebi que ficaríamos competindo para saber de quem era a maior culpa e aquilo seria absolutamente inútil. Eu continuaria a me sentir mal por minhas ações por algum tempo e ele não se perdoaria tão cedo mesmo que eu acreditasse fortemente em sua inocência. Essas eram duas coisas nas quais teríamos que trabalhar duro, porém, não agora.

– Chega – eu disse. - É melhor não falarmos mais nada.

Malfoy aquietou-se obedientemente. Tentei limpar minha mente naqueles segundos de paz, mas não fui capaz. Era informação demais.

Contudo, apesar de tantas novas incertezas, eu nunca havia compreendido Malfoy tão a fundo. Agora tudo fazia sentido. Tudo tinha seu porquê.

E eu nunca estive tão certa sobre o que sentia.

Malfoy e eu ficamos nos encarando, a nossa proximidade excessiva não permitindo que olhássemos nada além dos rostos um do outro. Sem problemas. A distância não era desejada no momento.

Em uma notável sintonia, nossos lábios se encontraram. Sua boca estava fria, porém a minha estava morna, causando uma perfeita combinação. A sensação de urgência era menor que na noite anterior. Aquele beijo era uma espécie de consolo, estávamos confortando um ao outro e, realmente, o seu toque me deixava mais tranquila. Sentia que tudo ficaria bem enquanto eu estivesse envolta em seus braços.

– Eu nunca poderia odiá-lo – e então, pela primeira vez, eu falei: -, Scorpius.


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Notas finais do capítulo

N/B: Oi pessoas maravilhosas, estarei fora por um tempo, maaas antes de eu ir, precisava betar esse capitulo incrivel! ( duh!? Foi Anna que escreveu, entao óbvio que ia ser fabuloso!)
Os sentimentos de Rose estao mais do que claros agora, a nossa autora maravilhosa retratou muito bem os pensamentos da nossa protagonista e o passado de Scorpius. Eu entendo a culpa que ele sente, apesar dele nao ser o culpado. É compreensivel que ele acredita ser a causa da morte de nosso Lucius, mas todos sabemos que ele nao poderia ter feito nada para salvá-lo naquela situacao, afinal era só um garotinho de 11 anos. Muito fofo ver Rose e Scorpius finalmente agindo como um casal hehehe. Agora eles finalmente estao juntos. Só falta finalizar outros casais que tanto amamos (*cof* Palbus *cof* Huly *cof*). Bem, eles nao precisam terminar juntos, mas pelo menos finalizar o enredo! Estou com a sensacao que a historia já está no fim mimimi. De qualquer forma, adorei ser beta. ( apesar que acho que pego duro com os autores. Tenho a tendencia de esclarecer coisas que na minha opiniao nao foram bem executadas ou simplesmente nao sao meu gosto, maaaas, faco isso com todo amor possivel hahahaha). Beijos e queijos pessoal!
N/a: Agora fiquei encabulada com esses comentários da Dreamy! ^^' Mas só tenho a agradecer a ela, pois vocês não tem noção de como ela tem me ajudado com essa fic... Espere, vocês também, mas é claro! Esse apoio todo tem sido essencial, saibam disso. Só com ele poderia ter chegado neste ponto em que estamos... Podem esperar por mais dois capítulos, três no máximo (já incluindo o epílogo). Fico um pouco triste, pois em breve não estarei mais contando essa história para vocês... Com sorte, terá um fim digno e que vocês vão gostar!
Falando em fim, mais alguém aí ficou frustrado com o não-fim-do-mundo? Ahh, me prometeram o apocalipse e nem sombra do julgamento final... HSUAHSAUH' Brincadeirinha, gente (vai que alguém pensa que estou falando sério). A vida continua e é isso aí, terão que me aguentar por mais tempo ;P
A música inserida no capítulo não é uma canção de ninar de verdade, e sim uma das originais da série e que está nos extras do DVD do Enigma do Príncipe. E sou absolutamente apaixonada pelo poema que coloquei aí, escolhi minha tradução favorita dele *-*
Não nos veremos até o próximo ano, por isso, já adianto meus desejos de Feliz Natal/Hanukkah/Kwanza e Feliz Ano Novo. Que o próximo ano de vocês seja o melhor. Grandes expectativas para 2013!
Um enorme beijo, meus amores, até o ano que vem! :*
Update: Eu estava tirando o maior sarro com essa coisa do fim do mundo, porque acabei de ver um documentário e tal... Então, dois dos sites que eu sempre acesso saíram do ar lol Se eu me assustei? Sim ou com certeza?



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