Hesitate To Fall escrita por Anna C


Capítulo 14
Hesitate To Fall


Notas iniciais do capítulo

Bom, acho que neste capítulo acabou rolando um epílogo... Sendo assim... Pois é. Este é o último, pessoal.
Espero sinceramente que gostem *-* Nos veremos nas notas finais.



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Eu estava um pouco nervosa, o suficiente para que ele reparasse e apertasse minha mão com mais força.

– Está tudo bem, Rose – Scorpius dizia em seu tom mais tranquilizante. – Eu não vou sair do seu lado.

– E esse não é justamente o problema?

Ele riu.

– Verdade, não devo estar ajudando muito dizendo essas coisas... – senti seu aperto em minha mão se afrouxar.

Arregalei os olhos, desesperada.

– Não! Não solte, por favor! É que eu não imaginei que seria assim... Mas tem que ser feito, me recuso a ficar escondendo.

– Talvez nem seja tão surpreendente assim, quem sabe eles nem liguem?

– É, quem sabe... – eu duvidava muito, mas não queria deixa-lo mais preocupado comigo.

Lancei um último olhar para a esfinge que guardava a entrada da minha sala comunal e inspirei fundo. Eu podia fazer aquilo.

Era o primeiro fim de semana desde a volta das aulas, aliás, o primeiro fim de semana do ano. Havíamos retornado na quarta-feira, porém, fomos discretos naqueles últimos dias e talvez nem Albus tivesse reparado na nossa conduta fora do comum. Certo, ele provavelmente já estava sabendo, mas não havíamos oficialmente contado. Seria uma espécie de surpresa para ele, visto que meu primo era o fã número um do nosso relacionamento. Estranho pensar naquilo de tal maneira, mas bom, era verdade.

– Então, repassando os planos – Scorpius falava enquanto caminhávamos. Nossos dedos entrelaçados, nossa proximidade, algo já começava a roubar olhares dos que passavam por nós. “Fique calma. Relaxe.” Eu tentava controlar o ritmo da minha respiração e focar minha atenção em meu par. – Nós almoçaremos cada um em sua mesa para dar tempo de te bombardearem com perguntas...

– Scorpius... – falei seu nome num tom ameaçador, causando-lhe risos. Foi-se o tempo em que eu ainda provocava algum medo em alguém.

– Depois iremos para Hogsmeade e... Só planejei até aí.

– Mesmo? Eu achei que tivesse feito um cronograma para a tarde inteira.

– Não, passei a maior parte do tempo pensando numa forma de chama-la para sair.

– Mas você apenas veio até mim ontem à noite e pediu. Sério que foi tão complicado?

O loiro ergueu as sobrancelhas e assentiu.

– Eu devo passar mais confiança do que realmente sinto, porque foi difícil.

Eu ri, sentindo o rosto esquentar. Meu Deus, ele era tão adorável. Eu o teria beijado ali naquele momento se a vontade de desaparecer não fosse maior.

“Inspire e expire.”

Tudo bem, estávamos de mãos dadas, rindo e conversando civilizadamente nos corredores. Grande coisa! Com certeza, Pirraça estaria fazendo alguma confusão muito mais interessante em algum canto, ou...

Desisti de tentar parecer relaxada.

– Eles não param de encarar – sussurrei.

– E? – Scorpius questionou, arqueando uma sobrancelha.

Ele tinha razão. E? E o que eu devia àqueles desocupados?

– O que vocês têm com isso? Pois é, estamos juntos! – levantei nossas mãos unidas e as balancei no ar. – Há muita coisa mais estranha para olhar por aí, caiam fora!

Bufei, zangada e apertei o passo, arrastando o sonserino junto.

Quando olhei de novo para Scorpius, ele estava se segurando para não rir.

– O que é? – indaguei nada simpática.

– Ah nada, só que você sabe mesmo como lidar com uma situação de pressão.

Rolei os olhos.

– Não sou exatamente a pessoa mais tolerante do mundo.

– Disso eu sei.

Rosnei para ele. É, aquilo deve ter sido um rosnar.

O loiro largou minha mão e passou o braço por cima dos meus ombros, puxando-me para mais perto. Não sei por quê, mas acabei por ficar mais calma.

Por Merlin, como ele conseguia controlar meus nervos daquela forma?

Descemos a enorme escadaria principal e enfim chegamos ao Salão Principal. Quando Penny me avistou, fez sinal para que eu fosse me juntar a ela e eu dei um aceno de entendimento com a cabeça. Contudo, Scorpius me forçou a enfrentar o momento.

– Nos vemos daqui a pouco, ok? – ele disse, sorrindo.

– Ok – fiz que sim, esforçando-me para retribuir seu gentil sorriso, mas provavelmente fazendo uma careta.

Scorpius repousou a mão em meu ombro e se inclinou em minha direção. Não havia volta agora.

Senti seus lábios cobrirem os meus e um choque elétrico pareceu percorrer todos os centímetros do meu corpo. Em parte, devia ser a ansiedade, mas eu sabia que o seu simples toque tinha um poder especial, um efeito que encantamento algum era capaz de produzir. Então, eu lembrei por que estava encarando meus temores: para que eu sempre pudesse beija-lo após aquele dia sem que arrependimento algum me assombrasse.

Assim que nos separamos, Scorpius depositou um leve beijo sobre minha testa e seguiu seu próprio caminho. Senti-me um pouco atordoada nos primeiros segundos, tentando me reorganizar. Olhei ao redor e o vi distante, sentando-se ao lado de um Albus eufórico com as novidades. Meu primo me viu e deu uma piscadela de aprovação.

Oh Deus, eu já podia morrer?

Com a coragem que eu não tinha, obriguei-me a ir para a minha mesa. Evitei ao máximo os olhares chocados de todos e ocupei um lugar ao lado de Penny.

Quando comecei a me servir da comida como se nada tivesse acontecido, ouvi alguém pigarrear. Era Penny.

– Sério mesmo, Rose? Você vai simplesmente comer e fingir que está tudo na maior paz? – ela perguntou.

Ainda sem olhá-la, dei de ombros.

– Você sabe, meu estômago me comanda.

Então, uma faca transpassou o ar bem a minha frente e penetrou um centímetro da mesa. Arregalei os olhos, prendendo a respiração por causa do susto.

– Mas que droga é essa, Longbottom!? Ficou louca?

– Você acabou de beijar o Malfoy e eu sou a louca por aqui?

– Rose, o que foi aquilo? – Lily aparecia com Hugo em seu encalço. Deviam ter visto tudo da mesa da Grifinória.

– Você não detestava o garoto? – Hugo perguntou, desconfiado.

– Não, quer dizer, sim, mas isso já faz... – eu me embolava com explicações, porém fui interrompida mais uma vez, desta vez por Fred. Roxanne estava logo atrás do irmão, muito curiosa.

– Ele te obrigou a isso, Rose? Quer que eu bata nele? – meu primo arregaçava as mangas e eu fiquei ainda mais transtornada, se é que era possível.

– Como é!? Não! O que deu em vocês?

Hugo deu um passo à frente de braços cruzados.

– Eu acho, maninha, que você precisa esclarecer algumas coisas.

Dei um lamento, exasperada.

– É, eu acho que você está certo...

Pedir por privacidade seria demais, então apenas comecei a explicar resumidamente sem rodeios. Conforme eu ia narrando a história, Lily e Roxanne compartilhavam de um ou outro suspiro sonhador, Penny sorria mal podendo crer em minhas palavras, e Fred e Hugo pareciam ter experimentando algo muito azedo.

– E é isso! Obrigada por comparecerem ao “Humilhando a Rose Publicamente”, já terminei de almoçar, tchau! – fui me levantando, mas Fred me empurrou de volta no assento.

Droga.

– Não tão rápido, priminha.

– Eu já falei tudo que tinha para falar, expliquei tudo que tinha para ser explicado. O que mais querem de mim?

– Por que a pressa? Não me diga que vai sair com ele?

Meu olhar me entregou, é claro.

– Ei, Fred. Deixe-a, tá legal? – Penny se pronunciou e me deu um sorriso de compreensão. – Pode ir, Rose. Bom encontro.

– O quê? Hugo, você concorda com isso? – Fred virou-se inconformado para meu irmão.

– Estamos falando da Rose. Concordar ou não é inútil – disse Hugo, apesar de não estar muito contente com a situação.

– Ai Rose, vocês dois ficam tão lindos juntos! – Lily exclamou olhando para Scorpius, que já me esperava à porta.

Corei com aquele comentário e dei um sorriso sem graça.

– Er, posso ir agora?

Fred ia dizer alguma coisa, mas Penny lhe deu um nem-tão-discreto beliscão no braço.

– Pode sim, Rose.

Aliviada, sumi de suas vistas rapidamente.

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Havia neve por todo vilarejo, fazendo com que deixássemos rastros por onde pisávamos. Para me manter mais aquecida, eu havia enlaçado meu braço ao do sonserino firmemente.

Ainda bem que Scorpius não gostava do Café Madame Puddifoot. Era muito cheio dos corações e dos frufrus para mim, francamente não sei como atraía tantos casais. Em vez daquilo, optamos por apenas andar por aí até que ficássemos cansados e decidíssemos beber algo.

– É verdade que você fala quatro línguas, incluindo o inglês? – perguntei por curiosidade.

Ele revirou os olhos.

– Foi o Albus que disse isso, não?

– Nossa! Então, você é poliglota e vidente?

Scorpius riu com a minha tolice.

– Eu não falo quatro línguas... Só três.

– Há! E eu mal domino meu próprio idioma. Isso é muito injusto, pegar todas as habilidades do mundo e colocar numa pessoa só...

– Eu não sou fluente da maneira que o Al diz, não tenho com quem praticar. Você não devia escutar o seu primo sempre, o cara é meio exagerado...

– Scorpius, não tem nada de errado em ser bom em algo, seja menos modesto – fingi brigar com ele, empurrando-o com o ombro. – Estou começando a ficar com sede, podemos dar um pulo no Três Vassouras?

– Tem certeza? Se tiver muita gente de Hogwarts...

– Está tudo bem, o pior já passou. E nem foi tão terrível, pra ser sincera. Que se dane se olharem, não é?

Scorpius sorriu satisfeito.

– É, que se dane.

Era um pouco estranho ouvi-lo falar daquela maneira, mas estranhamente empolgante.

Pelas janelas um tanto sujas, era possível ver que o lugar estava cheio e agitado. Agarrei Scorpius pelo pulso e fui andando em direção à porta, quando repentinamente alguém a abriu e foi de encontrão comigo. Felizmente, Scorpius estava logo atrás para impedir a iminente queda.

– Você está bem? – ele me perguntou um pouco preocupado.

– Sim, sim, estou... – assenti. Então, percebi Dominique sentada no chão, sendo ajudada por Lysander.

– Merda! Quando derreter, vou ficar encharcada... – ela resmungava tentando se livrar da neve das calças. Foi quando me notou.

Ficamos nos encarando por algum tempo, sem saber ao certo como reagir.

Eu estava muito impressionada por encontra-la na companhia de Lysander, digo, em público. Afinal, sabia que eles haviam se tornado “amigos” havia alguns meses, mas minha prima ainda não tinha superado completamente seus velhos hábitos para assumir aquilo.

Contudo, as coisas pareciam mudadas.

– Oi – ela foi a primeira a falar.

– Oi – respondi com um meio sorriso.

– E aí, Cupcake? – Lysander disse com entusiasmo.

– Ei, Red – dei um leve aceno com a mão.

Scorpius me olhou com estranheza e eu lembrei que ele devia estar completamente perdido.

– Ah vocês conhecem o Scorpius Malfoy, certo? – apresentei-o mesmo sabendo que ambos já o tinham visto antes.

– Sim, temos Astronomia juntos – disse Lysander.

– Claro, o melhor amigo do Albus – disse Dominique.

Scorpius segurou minha mão de repente. Vi os olhos de Dominique se arregalarem ligeiramente.

– E pelo jeito algo mais para você – minha prima completou mais baixo, porém de forma audível.

Eu sabia que estava enrubescendo, mas o toque do loiro me reconfortava.

– Vamos, Scamander – Dominque passou por nós. – Quero ir ao Corujal mandar uma carta para a Victoire.

– Até mais tarde – Lysander disse para nós e seguiu a loira.

Scorpius me lançou um olhar como se suspeitasse de algo.

– Devo perguntar?

– Depois eu explico com calma.

Teríamos muito tempo para falar sobre velhos dramas familiares, era melhor que nos focássemos apenas em nosso encontro por ora.

Coincidência? A única mesa vaga era aquela mesma que ocupamos meses antes, ao lado da janela. Nós trocamos olhares e sorrisos de entendimento.

– Desta vez, você me deixa pagar ou tem alguma objeção? – Scorpius perguntou ocupando uma cadeira.

– Uma cerveja amanteigada não vai fazer mal – eu disse, sentando-me também.

Ele fez um sinal para a garçonete e retomou nossa conversa.

– Para completar a cena, devia estar com aquele gorro rosa. Lembra? Aquele que sua avó fez pra você.

– Verdade, mas só estaria perfeito mesmo se eu te insultasse no mínimo quinze vezes nos próximos minutos, o que eu não estou muito inclinada a fazer.

– Tem isso também – Scorpius falou, fingindo cansar-se. – Vai ser difícil refazer a cena com tantos detalhes faltando...

– Eu pessoalmente prefiro bem mais essa versão sem insultos e sem gorro. Ah sim, e com você pagando.

Ele fez uma careta de desdém.

– Muito engraçado.

Ri com gosto segurando sua mão por cima da mesa.

– Você acha que teremos mais momentos bobos como este? – perguntei.

– Tantos que você vai até enjoar de mim.

– Disso eu tenho dúvidas.

E esperava de todo coração que tivesse razão.

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Sete Anos Depois













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– Está tudo belíssimo – Roxanne disse, observando os arredores.



– Acha que demorará muito agora? – perguntou Tio Percy, ajeitando os óculos.

– Isso vai depender da noiva – falou Tio George, rindo. – Alguém já foi vê-la?

– Ah, eu acabei de voltar lá do quarto – eu dizia. – Ela já deve estar vindo.

– Nesse caso, acho melhor irmos para os nossos lugares – meu pai sugeriu.

– Rosie, poderia ir buscar seu irmão no jardim de trás? – pediu minha mãe.

Balancei a cabeça positivamente e fui procurar por Hugo.

Casamentos podiam ser bem monótonos, mas este em especial prometia o oposto. Eu me lembrava do casamento de Victoire e Teddy alguns anos antes, e de como a ocasião havia sido muito animada. Bom, era isso que acontecia quando se juntava muitos Weasley num lugar só.

Como se descontrair ainda fosse um problema, desta vez, o noivo em questão havia deixado claro que não era um momento “formal” e que devíamos ficar o mais à vontade quanto possível. Não levei aquilo tão a sério e escolhi um vestido semi-formal. Nem todos eram tão sensatos. Eu havia até escondido o rosto sentindo a vergonha alheia quando vi James de bermuda e camisa simples estampada próximo ao altar. Belo padrinho ele era, não?

– Hugo – eu comecei a chama-lo, dando a volta na casa. – Hugo, será que você poderia...

Hora errada. Ou melhor, pontualíssima.

O casal se separou abruptamente quando me viu. Eles estavam sentados num banco de pedra perto demais para estarem apenas conversando (especialmente com tal proximidade entre suas bocas).

– Meu Deus, finalmente! – exclamei, pondo as mãos na cintura. – E o Tio Harry ainda diz que nosso pai demorou a enfim ficar com a mamãe. Vocês levaram quanto tempo? Hã... Uma década?

– Não foi tudo isso… E fique quieta, Rose! Alguém pode nos ouvir. – Hugo olhou preocupado para os lados, levantando-se prontamente.

– Não se preocupe quanto a isso, todos já estão em seus lugares, preparados para a cerimônia. Cerimônia que, aliás, vocês quase perdem.

– Mas ainda bem que você apareceu, Rosita – disse Lily, sorrindo. – Mas por favor, não comente nada sobre o que viu. O “Sr. Neura” aqui ainda não está pronto pra contar – ela sussurrou, parecendo brincalhona mas com um fundo de seriedade na voz.

– Eu ouvi isso – disse Hugo franzindo a testa.

– E é bom que ouça mesmo! Eu bem que queria ser aquela andando até o altar hoje – Lily falou mergulhando em devaneios e caminhando a nossa frente.

Hugo pareceu estremecer ao meu lado.

– É por isso que não é saudável ficar dando ideia, ela começa com essas histórias...

Um pouco aborrecida, semicerrei os olhos para ele.

– Eu não acredito que não sabia! Como vocês puderam me esconder uma coisa dessas? Logo eu que sempre apoiei...

– Primeiro, você é péssima em guardar segredos dos outros e sabe disso. Segundo, é tudo até que recente e...

– Tão recente que Lily já está praticamente escrevendo os votos!

– Você a conhece – ele revirou os olhos, impaciente. – E eu não sei como todos vão reagir. Olha, será que não podemos deixar essa discussão para depois? Você mesma disse que estamos atrasados.

– Está bem, você escapou dessa vez. Mas não pense que eu não vou querer todos os detalhes mais tarde, maninho – não contive um sorriso de empolgação. Eu estava mais que contente com aquela novidade.

O que Hugo sentia por Lily era muito evidente – ainda que eu só tenha percebido após Penny me apontar aquele fato. Pouco depois que ele completou quinze anos, eu o “persuadi” a confessar a mim (sabem como é, persuasão de irmã mais velha). Então, resolvi ajudar e... Aconteceu aquilo que sempre acontecia quando eu me intrometia em assuntos dos outros. Algo como um acidente envolvendo quilos de coraçõezinhos de papel e uma desastrosa declaração de Dia dos Namorados que Lily pensou ser apenas uma festa surpresa regada a muito confete. Ou isso foi o que meu irmão contou através das cartas.

“Você sempre diz que eu sou chato e sem graça, mas quando tento ser espontâneo e romântico, ela não consegue me levar a sério!” Pedi as devidas desculpas e jurei nunca mais me meter. Claro que quebrei minha promessa em no máximo um mês, quando notei os primeiros indícios de sentimento vindos da minha prima.

Eu não dava nada por parte da Lily, pois mesmo que os dois fossem muito unidos, não via diferencial em seu comportamento para com ele. Até aquele feriado de Páscoa.

“Estávamos todos à mesa d’A Toca almoçando mais uma refeição digna da realeza cozinhada pela minha avó. Eu já estava formada tinha quase um ano e havia começado um estágio no Ministério da Magia na mesma área que a minha mãe trabalhava. Ela estava muito orgulhosa, é claro, mas talvez não tanto quanto meu pai, que falava para quem quisesse ouvir sobre os grandes feitos dos seus filhos.

– Exatamente como a Hermione! Minha pequena Rose, motivo de grande orgulho.

Torci o nariz para o adjetivo ‘pequena’.

– Devo lembrar que, apesar de pouco passar de um metro e meio, eu tenho dezenove anos, papai querido? – falei, servindo-me de mais peixe.

– Bom, seria difícil me esquecer disso para falar a verdade. Vocês estão crescendo tão rápido... Até ontem Hugo nem conseguia usar o banheiro sozinho e agora soube que até uma namoradinha arranjou.

Lily engasgou violentamente com seu suco de abóbora, porém, quase ninguém lhe deu bola. A maior parte dos olhares estava sobre um Hugo muito corado.

– Ela não é minha namorada... – falou Hugo defendendo-se com a habilidade de uma criança de sete anos.

– Ah, então tem mesmo alguém nessa história? – provocou Tio George trocando um olhar divertido com meu pai.

– Denise Finnigan não é minha namorada! Nós só tomamos um hidromel juntos.

– Poxa, vi o Seamus ontem mesmo. Eu o teria convidado para o almoço de hoje se soubesse que seríamos parentes em breve... – brincou papai, arrancando alguns risos.

Então, a risada geral foi interrompida por soluços e gemidos. Lily estava chorando sobre seu prato, mas escondia o rosto com as mãos.

– Filha, você está bem? – perguntou Tia Ginny, colocando uma mão sobre o ombro da mais nova.

Lily enxugou a face de qualquer maneira e olhou vagamente para os ocupantes da mesa. Quando seu olhar bateu em meu irmão, ela recomeçou o choro com mais intensidade e deixou a sala aos tropeços.

– O que diabos foi isso? – perguntou Dominique.

– Eu sempre disse que aquela pestinha era meio ruim das ideias... – comentou Fred, recebendo um tapa na cabeça dado pela própria mãe. – Ei! É só um fato!

– Bem, e como vão as coisas no hospital, Molly? – perguntou meu avô para minha prima, que era curandeira-chefe no Saint Mungus.

A conversa voltou a fluir normalmente e o episódio incomum pareceu ser esquecido, entretanto, não por mim. Lily era meio chorosa por motivos bobos demais com uma grande frequência, mas desta vez captei algo diferente. Milagre, visto que eu não era exatamente a mais perceptiva por ali.

Após o almoço, mandei uma coruja para Scorpius dizendo que me atrasaria um pouco para encontra-lo como havíamos combinado. Ele precisara comparecer à casa dos Greengrass naquela tarde, então teve que recusar meu convite para o almoço de Páscoa. Porém, fez a promessa de que nos veríamos logo a seguir e passaríamos o restante do dia juntos.

Quando a coruja zarpou, fui à procura de Lily. Engraçado contar isso agora, pois ela estava naquele mesmo jardim dos fundos em que eu havia flagrado ela e meu irmão muitos anos depois, um tanto mais íntimos.

Ela estava desgnomizando o jardim, ainda que geralmente nossa avó tivesse que obrigar-nos a isso.

– Oi, Lily – eu disse, aproximando-me.

A ruiva arremessou um gnomo a uns bons quinze metros de distância de nós e voltou-se para mim.

– Olá, Rose – ela deu um sorriso para mim menor que seus habituais.

Eu ainda estava um pouco chocada com sua demonstração de força, mas logo retomei o foco.

– Er, você está legal, prima?

– Eu estou ótima! Tão bem que me veio essa vontade de atirar gnomos para bem longe! A vovó vai ficar agradecida depois...

– Bom, eu acho que sim, mas... – sentei-me no banco de pedra que havia ali. – Foi repentina essa sua vontade, não acha? Bem depois daquilo que falaram lá na mesa...

O já pequeno sorriso dela sumiu.

– Ah isso... – ela começou a encarar o chão. – Desculpe, nem sei por que fiz aquilo.

– Não?

– Não mesmo – Lily balançou a cabeça e eu notava sinceridade na sua voz. – Eu apenas senti uma angustia tão grande que tive que chorar.

– Você sabia que Hugo havia saído com a tal Denise? – perguntei.

Ela apenas agitou a cabeça novamente, olhando-me agora.

– Denise é minha colega de quarto, mas não conversamos muito. E eu não sabia que Hugo pudesse ter uma namorada.

Estranhei sua resposta.

– Como assim? Ele é um garoto normal como qualquer outro, não é?

– Não, ele é o Hugo e... Não é um pouco cedo?

– Lily, com a sua idade eu já estava namorando. É perfeitamente normal, sabe.

– É? Eu acho que não percebi quando as coisas mudaram. Namoro parece uma coisa tão adulta.

– E você é tecnicamente adulta!

– Ah é mesmo... Será que há algo de errado comigo, Rosie?

Eu sabia que, cedo ou tarde, aquele momento chegaria. O momento em que Lily começaria a amadurecer. Ela conseguira viver em sua ingenuidade por muito tempo, mas agora outras questões começavam a lhe chamar a atenção. Se realmente havia algo de errado com ela? Eu chegara à conclusão de que não, ela era apenas o lírio que demorou a florescer na primavera.

Percebi que, ainda que minha prima não conseguisse ligar os pontos, ela estava apenas no início das descobertas sobre aquele tão complicado e torturante sentimento que aflige a todo mundo ao menos uma vez na vida.

– Não se preocupe, você é total e tediosamente normal. Bom, não exatamente tediosa, mas ah, você é normal.

Ela deu um de seus singelos sorrisos.

– Obrigada, Rosie.

Sorri em retorno e comecei a andar de volta para a casa, porém parei.

– Ah, Lily – eu a chamei. – Você não acha que o Hugo ficou bem bonito nesse último verão? E olha que eu não sou de puxar o saco dele. – Ele nem estava ali para ouvir, afinal.

Minha prima pendeu a cabeça levemente para o lado, confusa.

– Como assim?

Dei de ombros.

– Só fiz uma observação.

– Eu não sei se entendi, mas... É, ele ficou bem diferente depois do verão. Diferente como, hã, bem... – ela encontrava dificuldades em ordenar seus pensamentos.

Lily mordera a isca.

Então, eu soube: ela quem estava diferente. E por dentro, quero dizer.

– Relaxa, Lily. Já saquei. Até depois então.

E a deixei com algumas questões para refletir a respeito.”

Ainda que eu não soubesse se aquele meu comentário inocente daria em alguma coisa, ao menos eu tinha a sensação de que talvez Lily pudesse retribuir o que meu irmão sentia por ela. Pode ter levado algum tempo, mas aparentemente aquilo havia acontecido.

Quando voltamos ao local da cerimônia, tratei de me posicionar ao lado de James perto do altar. Dei um suspiro cansado ao ver novamente como ele estava vestido.

– Eu não acredito que você veio desse jeito, muito menos que Ariana permitiu esse absurdo – comentei.

– Ela não tinha visto, meus pais a trouxeram de carro. Você sabe, grávidas não podem aparatar e eu tinha que ajudar o Fred com alguns preparativos antes de vir...

Procurei Ariana em meio a todos os convidados por parte do noivo e a achei na terceira fileira de cadeiras, encarando James com desaprovação. A morena notou que eu a observava e lançou-me um olhar aflito como se implorasse que eu de alguma forma impedisse aquele constrangimento.

– James, você não tem mesmo solução – falei por fim.

James e Ariana estavam esperando o primeiro filho, que deveria nascer dali algumas semanas. Os dois nunca se casaram, porque consideravam a tradição do casamento algo superestimado e antiquado. No fim, não fazia muita diferença, pois estavam vivendo juntos tinha quase três anos agora.

A viagem na qual James havia partido no Natal de 2022 realmente ocorreu e deve ter sido a melhor decisão que ele já tomou. Ele voltou um pouco mais cabeludo e definitivamente mais certo do que queria. Acabou tomando jeito e fez um curso para se tornar auror. Mostrou-se bastante competente e, atualmente, podia dizer com orgulho que fazia parte dos aurores do Ministério junto ao seu pai e o meu.

– Eu odeio essa coisa de “a noiva sempre se atrasa”. Por que no meu casamento isso precisava acontecer?

Virei-me para encontrar um impaciente Fred que checava o relógio de pulso.

Fred também mudara consideravelmente. Continuava um pouco displicente em alguns aspectos, verdade, entretanto era um novo garoto. Melhor dizendo, um novo homem.

No momento, jogava para o Puddlemere United e havia agendado o casamento estrategicamente para poder retornar a tempo do início do campeonato da Liga Britânica. Ariana também fazia parte da equipe até entrar de licença por causa da gravidez, assim como fizera Tia Ginny quando estava esperando por James. A diferença é que Ariana ainda tinha intenção de voltar, pois haviam lhe garantido a vaga.

A música se iniciou. Aí vinha a noiva.

– Mais calmo? – sussurrei para Fred.

Ele acenou vagamente com a cabeça, seu olhar fixo no fim do corredor entre as cadeiras.

O Professor, quer dizer, Neville Longbottom acompanhava a filha, seu sorriso sem dúvida um dos maiores do local. Sua filha, Penelope Alice Longbottom, nunca esteve tão radiante – ainda bem que eu a ajudei a escolher o vestido – e eu nunca estive tão orgulhosa dela.

Sim, estávamos no casamento de Fred e Penny. É, isso mesmo, os dois estavam se casando. Como isso aconteceu, vocês me perguntam? Bom, digamos que sete anos é tempo suficiente para que certas coisas mudem.

Eu pedi a Fred que a deixasse em paz naquele Natal e ele fez aquilo. Pelo menos, por algum tempo.

“Penny e Wally Thomas já não estavam mais namorando. Os dois decidiram terminar ao fim do sétimo ano, ainda que não tivesse ficado bem claro por quê. Ela me disse que eles precisavam tomar rumos distintos, rumos que não se coincidiriam. Francamente? Acho que as coisas apenas esfriaram. Penny passara a maior parte do último ano estudando para os N.I.E.M.s e Wally não tinha tanta paciência para ficar sentado por horas, concentrando-se em matérias, para ele, monótonas. No início do namoro deles, fora aquilo que os unira. Porém, no fim, pareceu separa-los.

E Penny estava bem com aquilo. Não era o que exatamente se esperaria de alguém pós-término, mas ela estava reagindo de forma perfeitamente madura e calma. Bom, ela sempre foi mais controlada e sensata que eu, não posso negar.

– Como eu posso anima-la se você sequer parece chateada? – eu falava para Penny, enquanto andávamos pelo Beco Diagonal.

Havíamos tomado cervejas amanteigadas no Caldeirão Furado – por conta da casa, visto que Hannah Longbottom, mãe de Penny, era a dona do local – e passamos na Floreios e Borrões para conferir os lançamentos do mês. Durante todo o tempo, minha amiga pareceu tranquila e conversou com a maior naturalidade. Eu não conseguia me conformar com aquilo, pois, seguindo a lógica, ela deveria estar arrasada ou, ao menos, um pouquinho indisposta.

– Desculpe, Rose. Na verdade, eu me sinto mal por não estar mal... Dá para entender? – Penny disse com um tom de incerteza.

– Não mesmo – neguei com a cabeça para enfatizar, mas dei um pequeno sorriso. – Olha, apesar de eu achar meio estranho, prefiro que esteja bem. Não tem nada pior que sofrer por causa de um garoto.

A loira deu um suspiro, perdendo-se em algum pensamento.

– Certamente não – ela disse por fim.

O Beco Diagonal não era tão grande, logo, uma caminhada distraída como a nossa podia nos levar de uma ponta à outra num instante. Havia uma loja em particular naquela parte da rua, ocupando o número 93, que fora cenário de algumas das minhas lembranças de infância e provavelmente certas lembranças de Penny: as Gemialidades Weasley.

– Já está aberta a essa hora? – perguntou Penny.

– Mas é claro! As crianças estão de férias, melhor momento para eles lucrarem não há.

– É aniversário do meu primo semana que vem. Você sabe, aquele garotinho insuportável. Minha mãe pediu que eu comprasse alguma coisinha para ele, mas eu estive adiando até agora... Talvez haja algo aí, não é?

– Ah, com certeza – falei, lembrando-me do primo de nove anos de Penny.

Ela não se referiria a qualquer criança como insuportável. Na realidade, Penny possuía um instinto maternal com crianças menores e adorava passar um tempo com elas. Mas aquele primo... Era um peste. Só o vira duas vezes na vida até então em visitas à casa de Penny e ainda tentava me esquecer daquelas ocasiões... Bom, definitivamente ele gostaria dos artigos das Gemialidades.

Entrei na frente, já procurando alguma coisa que minha amiga pudesse comprar. Eu até que conhecia bem os itens da loja, mas já fazia pelo menos dois verões que eu não a visitava. Havia várias novidades nas prateleiras, então comecei a analisa-las.

– Olá, cara cliente! – alguém atrás de mim disse e eu me virei rapidamente, sobressaltada. Era Fred. – Ei, é você, priminha!

– Oi, Fred! Ah sim, eu estou só... Espere, você está trabalhando na loja?

– Apenas dando uma força para o velho. Os treinos só recomeçam no mês que vem, então estou com tempo livre e, bom, esse é o meu lugar favorito no mundo. Com certeza acabaria trabalhando aqui se não tivesse sido chamado pelo Puddlemere. Mas o que está procurando? Chegou um novo estoque de Penas Auto-Revisoras com durabilidade maior. Seu namorado não trabalha no Profeta? Poderia ser útil pra ele, ou talvez, um Telescópio Esmurrador. Sei lá, nunca se sabe quando pode aparecer um intrometido que mereça uma lição e...

– Rose, o que você acha disso? – Penny surgiu atrás de mim, usando um Chapéu Sem Cabeça, que era um acessório cônico que fazia a cabeça de quem o usasse sumir. Então, ela o tirou, revelando seu rosto.

Eu estava para responder, mas Fred foi mais rápido.

– Penny! – ele exclamou surpreso. – O-o quê você faz aqui?

A loira parecia igualmente perplexa, mas conseguiu formular uma resposta. Quase.

– Oh, e-eu vim com a Rose escolher um presente para o... O...

– Seu primo. – Completei.

– Isso! Meu primo! – ela concordou mais entusiasticamente que necessário.

– Entendi... – Fred balançou a cabeça. – E onde está o Wally? Achei que vocês fossem inseparáveis... – só eu que senti um tom queixoso naquela frase?

Penny encolheu os ombros, um pouco sem graça.

– Bom, nós terminamos quando as aulas acabaram.

Vi o sorriso que teimou em eclodir nos lábios de Fred, mas que ele conseguiu retrair pigarreando.

– Puxa, sério? Nossa, mas que chato... – sua entonação era um pouco forçada, mas a intenção era boa.

– Está sendo sincero? – Penny perguntou desconfiada.

– Mas é claro! Wally é um cara legal e... Vocês estavam juntos tinha o quê? Um ano?

– Um ano e meio.

– É bastante tempo, realmente uma pena. Mas você está bem? Sei que você não é do tipo dramática, mas faz pouco tempo que aconteceu, então...

– Eu estou bem. Estranhamente bem. Alguns diriam que eu sou uma megera sem coração por não estar chateada...

– Eu não disse isso! – falei sentindo uma leve provocação para o meu lado.

Penny riu ligeiramente, como se estivesse se desculpando pela brincadeira.

– Mas sinceramente, eu não estou mal com isso... Tá! Talvez eu seja mesmo uma megera sem coração – ela disse, corando.

– É claro que não. – Ele respondeu prontamente. Nós duas o olhamos com expressões interrogativas. – Digo, nem sempre um término é uma coisa ruim. Talvez você lá no fundo saiba que fez a coisa certa e que não há motivo para ficar se lamentando.

Penny ficou um pouco mais vermelha, contudo, sorriu.

– Quem sabe, não é? Obrigada pelo apoio, Fred.

– Pra que mais eu sirvo? Bom, além de deixar o ambiente muito mais atraente, é claro...

Ela revirou os olhos, ainda sorrindo.

– Como quiser, Weasley. Bom, acho que vou passar isso lá no caixa, já falo com vocês – e, com isso, Penny saiu junto ao chapéu cônico enfeitiçado.

Fred deu um longo assobio, acompanhando-a com o olhar.

– Aquela garota é demais.

– O que disse? – perguntei, não entendo aonde ele queria chegar.

– Essa é a minha deixa.

– Você não está pensando em...

– Eu sei que disse que não faria, sei que ela é boa demais para mim, mas... Eu não consigo evitar.

– Fred, ela acabou de terminar com o namorado!

– Rose, você me pediu que não interferisse e eu não interferi. Agora, ela está solteira. Que mal pode haver?

Relutante, eu vasculhava minha mente atrás de argumentos.

– Mas... Mas como vou saber que você não vai machuca-la? Você é meu primo, eu o adoro, mas Penny é praticamente uma irmãzinha para mim. E você sabe que meu instinto protetor pode me tornar agressiva se preciso.

– Eu não cometo um erro duas vezes, ok?

– Sim, mas ainda que ela esteja mais forte e confiante que antes, se há alguém que pode acabar com o que ela construiu, é você. Tem noção da responsabilidade?

– Rose, eu não tenho mais dezessete anos. Sei que era inconsequente na época e não pensava muito nos sentimentos dos outros... Só que isso mudou. E, bom, eu sei o que estou fazendo, quer dizer, Penny é o tipo de garota para se casar, não é?

Aquilo ela realmente era. Certo, eu apostaria minhas fichas no meu primo – que ele não me decepcionasse.

E, com a minha benção, Fred a chamou para sair na semana seguinte.”

E a pediu em casamento alguns anos depois. Ah sim, a vida era engraçada. Cheia das reviravoltas.

A cerimônia prosseguiu pacificamente. Havia gente soluçando, limpando os olhos com lencinhos, mas absolutamente todos sorriam.

Então, estava feito. Eles selaram aquele compromisso com um rápido beijo, e aplausos e vivas tomaram conta do lugar. Havia confete e luzes coloridas saindo de varinhas de todos os cantos e rapidamente eu fui absorvida por aquela confusão toda.

A balbúrdia só aumentou agora que todos seguiam para a festa. Espichei o pescoço, tentando ver entre as várias cabeças (grande parte ruivas), mas meu um metro e cinquenta e três de altura em nada ajudava. Comecei a ser empurrada e perder o controle de para onde ia. Ok, eu também estava faminta àquela altura, mas aquele pessoal estava desesperado.

“Acho que vou ser sufocada.” Pensei, até que alguém segurou meu braço.

– Aí está você! – ele disse, sorrindo para mim com, vocês sabem, aquele sorriso.

– Scorpius! – joguei-me sobre o loiro, abraçando-o. Causei um pequeno tumulto com tal movimento, mas que logo se dissolveu.

– Que caos...

– Eu que o diga.

Tivemos que acompanhar o fluxo até o ponto em que a multidão se dispersava. Só então pude respirar aliviada e tirar o pequeno objeto circunferencial e reluzente que guardara na bolsa horas atrás.

Tradicionalmente, a festa seria dada pelos pais da noiva, mas Vovó Molly insistira em sedia-la.

– Me faz me lembrar da festa de casamento do Bill e da Fleur – ouvi Tia Ginny comentar em algum canto.

– Só que provavelmente sem a interrupção indesejada daquela noite – respondeu Vovô Arthur.

– Ei, vocês aí! – desta vez, alguém falava conosco.

– Pai! Mãe! – sorri para eles enquanto se aproximavam. – Que milagre que nos encontraram no meio de tanta gente.

– Acho que nunca vi esse lugar tão lotado – adicionou minha mãe. – Ah, Scorpius, muito obrigada pelo livro que me deu de aniversário. Acho fascinante os estudos sobre os quintípedes da Ilha de Drear e...

Antes que ela finalizasse ou Scorpius respondesse, meu pai interveio.

– Na próxima vez que for em casa, garoto, você vai perder. Olha, eu não estou acostumado com derrotas no xadrez de bruxo, mas tenho que admitir que aquela vitória da última vez foi realmente digna. Porém, vim treinando algumas novas jogadas que irão te surpreender. Não vai me negar uma revanche, vai?

– De forma alguma, senhor – ele respondeu firmemente.

– Esse é o espírito! Ah, me acompanhe um instante, você precisa ouvir as insanidades que aquele Rolf Scamander está dizendo... – papai falava, apoiando uma mão no ombro de Scorpius e o puxando para o lado oposto. – E eu pensava que Xenophilius tinha problemas... Rolf é um cara decente, com todo respeito à Luna, mas francamente, que porcaria é um coiote azul celeste de pelo longo...?

Mamãe pôs-se ao meu lado, olhando os dois sumirem festa adentro.

– Eu não acredito que você realmente conseguiu um namorado de que seu pai gostasse. E ele é um Malfoy.

– Bom, na verdade...

Antes que eu pudesse falar, gritos histéricos começaram a alguns passos de nós.

– Eu vou jogar! – Penny preparava-se para o arremesso de buquê, enquanto moças e senhoras enfurecidas praticamente se estapeavam para pega-lo.

– Rose, vai lá! – minha mãe disse entusiasmada. – Sei que não está solteira, mas quem sabe isso não incentive Scorpius a tomar o próximo passo...

– Como eu dizia, na verdade, não preciso disso – sorri marotamente.

– Espere, mas isso significaria que...

Ergui a mão direita, expondo um discreto anel com brilhantes no dedo anelar. Hermione Weasley gritou de animação.

– Ah meu Deus! Ah meu Deus! Por favor, me diga que sou a primeira a saber.

– Você é.

Ela deu um gritinho ainda mais estridente, abraçando-me com força.

– Eu não acredito! Não acredito!

Tentei acompanha-la em sua euforia, apesar de ficar um pouco atordoada com o abraço.

– Eu estou tão feliz, mãe! Estava sem o anel durante a cerimônia e só o coloquei faz uns minutos, depois que consegui sair da multidão. O pessoal nem reparou. Apenas não espalhe para muita gente, afinal, é o casamento da Penny e eu quero que as atenções sejam todas voltadas a ela.

Minha mãe respirou bem fundo, recompondo-se.

– Eu compreendo perfeitamente. Você tem toda a razão. Mas meus parabéns, filha!

– Obrigada, mãe.

– É ISSO AÍ! – Lily apareceu na nossa frente descabelada e com a barra do vestido rasgada. Ah sim, e segurando um buquê de flores se desmanchando. – DESTA VEZ, ELE NÃO ESCAPA! – então, ela seguiu seu caminho, deixando-nos com expressões de espanto.

– “Ele”? Lily está saindo com alguém? – mamãe questionou.

– Mais ou menos...

Ela riu.

– Bom, seja quem for, melhor estar preparado. Afinal, aquela que agarra o buquê tem que ser a próxima a se casar... A não ser que você quebre a tradição, não é?

– Mãe, Scorpius me pediu ontem à noite! Melhor não nos precipitarmos. O noivado pode durar muitos meses, talvez anos!

– Está bem, está bem. Ainda que eu esteja muito animada com as notícias, melhor mesmo deixarmos isso para mais tarde.

De fato, visto que Scorpius havia feito questão em pedir permissão ao meu pai antes de anunciar publicamente a todos. Primeiramente, falei que era bobagem e não precisávamos disso. Então ele retrucou, dizendo que queria fazer tudo dentro dos conformes. Acabei me acostumando à ideia e agora a achava extremamente romântica.

Até o momento em que meu pai deixasse de lado as gentilezas e tentasse azarar meu pobre noivo, é claro.

Por enquanto, eu apenas apreciaria à distância a fisionomia aflita de Hugo vendo Lily desfilar com o buquê de flores vermelhas aos pedaços.

– Se incomoda se eu for falar com a sua tia Angelina e a Hannah? Faz sentido que eu me junte a elas, já que serei a próxima mãe da noiva, não? – mamãe piscou um olho para mim.

– Discrição, mãe. Discrição. – Eu disse um pouco severa.

– Minha boca é um túmulo – ela respondeu com ar de divertimento e foi falar com as duas senhoras.

Eu precisava contar a ela antes de todos. Penny iria querer me estrangular mais tarde, mas a honra ainda era da minha mãe. E, bom, eu teria muito tempo para contar à minha amiga depois que ela voltasse da lua-de-mel.

– Hey, Rosie! Venha tirar uma foto com a gente! – Penny estava com uma mão segurando o braço de Fred e a outra acenando para mim. Corri para lá e tentei me encaixar entre os convidados que queriam a todo custo estar na fotografia. – Ei, ei, privilégios de melhor amiga! Deem espaço para a Rose, ouviram?

Enrubesci um pouco devido à pequena culpa que sentia, mas ao mesmo tempo fiquei satisfeita.

– Vocês deviam ficar gratos que eu estou dando a graça da minha presença – Bryce Banks resmungou, tendo que ceder seu lugar a mim.

– Dominique, você também! – Fred a chamou.

Logo vi a loira se aproximando, usando um vestido talvez elegante demais para um casamento de dia e ao ar livre, mas certamente maravilhoso. Ela sequer precisou pedir licença. Todos lhe deram passagem e ela pôde se fixar ao meu lado com sucesso. Trocamos sorrisos, nos cumprimentando.

O homem atrás da câmera começou a contagem.

– Três... Dois... Um...

Click. A foto foi tirada.

Arregalei os olhos depois, só para constatar se ainda podia enxergar. Não estava esperando por aquele flash cegante.

– Eu estava procurando por você – disse Dominique se voltando para mim e pegando um drinque da bandeja de um garçom que passava.

– É mesmo?

– Uhum – ela deu um gole na bebida. – Queria saber o que vai fazer no próximo fim de semana. O Lysander tem quatro ingressos para um lance em Paris. Algo a ver com um recital de duendes ou sei lá. Você e o seu namorado que curtem essas coisas com música, não é? Imaginei que seria menos chato se vocês viessem.

– Sei que você está se esforçando para tornar o convite simpático, por isso, vou até levar a parte do “menos chato” como elogio – nos encaramos por alguns segundos e começamos a rir. - É claro, Domi, vou falar com o Scorpius e ver se ele quer ir.

– Legal. E cadê o loiro?

– Sendo arrastado pelo salão pelo meu pai.

– Ao menos com você não é oposto.

– Que quer dizer?

– Lysander está por aí brindando meu pai com alguma daquelas suas histórias que ninguém acredita. Nem eu acredito. Por favor, me lembre de por que o namoro?

– Porque se não fosse por ele você ainda seria uma chata?

– Ah, isso mesmo. E ele beija bem. E faz outras coisas bem.

– Por Merlin, pode parar por aí.

– O que foi, não se pode mais ser franca? Ainda estou aperfeiçoando essa coisa de sinceridade... Ei, aquele ali não é o Albus?

Virei-me, seguindo seu olhar e me deparando com o rapaz de cabelos negros despenteados e olhos muito verdes. Estava ofegante, usando roupas quaisquer de sair, como se fossem as primeiras peças que encontrou no armário, e com a barba por fazer.

– Com licença, Dominique, preciso falar com ele... ALBUS!

– O quê...?

Infelizmente, ele não estava preparado para o abraço que eu lhe daria e perdeu o equilíbrio, fazendo com que caíssemos no chão. Ouch.

Alguns nos olharam estranhando a cena, mas depois nos ignoraram.

– Você está muito atrasado, mocinho! – ralhei com o rapaz, cruzando os braços.

– E você está... Em cima... De mim...

– Oh.

Tratei de me levantar e depois o ajudei.

– Desculpe pelo tombo... Mas agora é sério! Você não tem relógio, Albus Severus? Que ideia é essa de chegar só depois da cerimônia? Pensa que casamento é só comer os docinhos e o bolo, é?

– Claro que não! Ouça, aconteceu a coisa mais absurda do mundo comigo, você vai até pensar que estou inventando, mas...

– Al, você chegou! – Lily veio ao nosso encontro, Hugo ainda inquieto atrás dela. – Adivinha? Eu peguei o buquê!

– Oi, Lily, Hugo. Isso é ótimo, Lily, mas eu preciso contar o que aconteceu comigo. Eu acordei essa manhã e...

– Eu acho que a tradição do buquê deve ser preservada, sabem? – dizia Lily, sem escutar o moreno. – Por isso, caso alguém resolva pedir minha mão até o fim do dia, eu estou disposta a aceitar.

Hugo rolou os olhos.

– Não vai acontecer, Lily.

– Por que não? – ela indagou, sua voz levemente chorosa.

– Vinte e dois anos, Lily, vinte e dois anos! É tudo que posso dizer dadas as... – meu irmão olhou para Albus e engoliu a seco. – circunstâncias.

– Não é nada demais, Hugo. Meus avós tiveram meu pai quando mal tinham vinte anos e já eram casados. Eu já estou é quase velha demais, começo a achar que estou perdendo meu tempo com certas pessoas...

– Por que você... Argh! Lily, você complica tudo falando assim! – Hugo quase arrancava os cabelos em conflito.

– Certo, isso tudo está muito esquisito, mas voltando ao que dizia, o que aconteceu comigo foi que...

– Ei segurança, temos um penetra!

E Albus foi interrompido de novo. Suspirou, cansado.

– Oi, James... – falou em tom de tédio.

– Nossa, valeu mesmo! A gente não se vê há semanas e é assim que me recepciona? Estou vendo como são as coisas.

– Jimmy, deixa de ser chato – Ariana abria caminho com sua imponente barriga de oito meses. – Ah, minhas costas estão me matando... Olá, Al – ela o cumprimentou com um beijo no rosto.

– Oi, Aria. Como está o mini Potter?

– Você sabe, dando-me trabalho que nem o pai dele. É só ouvir a voz do Jimmy que começa a maratona de chutar costelas. Os dois querem acabar comigo...

– Bom, você que escolheu isso, Ariana – James disse, ressentido.

– Ai, Jimmy, você leva as coisas muito a sério... – Ariana segurou o rosto de James e começou a distribuir um monte beijos. Aquilo o amoleceu um pouco.

– Isso é muito adorável, mas será que agora eu posso falar e...

Sem chance, Al.

– Vejam quem resolveu aparecer! – e agora eram os noivos.

– Querem saber? Desisto de contar! – Albus ficou emburrado.

Fred veio expondo seu sorriso zombeteiro.

– Primo, não ouviu dizer que é falta de educação...

– Chegar atrasado, eu sei!

– Que é falta de educação não cumprimentar os noivos primeiro? Desse jeito, alguém pode duvidar da boa educação que a Tia Ginny te deu...

– Ei! – Lily, Albus e James exclamaram em uníssono.

– Ah vem cá, Al! - Penny o puxou para um abraço.

– Ow, ow, a mulher é minha! Pode ir desencostando – Fred falou.

– Fred, trate bem os convidados – Penny disse, autoritária.

– Sim, senhora – ele respondeu, contrariado. – Bem vindo, Albus. Devo oferecer uma bebida? Gostaria de alguma coisa?

– Nossa, Penny... Você o mantém na rédea curta, hein – comentou James, falhando miseravelmente na tentativa de conter o riso.

– Vai rindo, Jimmy. Vai rindo... – Ariana sorriu perversamente, fazendo-o ficar imediatamente quieto.

– Na verdade, Albus – Fred retomou a atenção para si. –, eu estava esperando você chegar. Tem alguém que quero que conheça.

– Ah não, de novo não – eu disse, levando a mão à testa. Tomei o cuidado para que fosse a mão esquerda.

Sério que ninguém havia notado o anel no meu dedo?

– Calma, eu nem mostrei a garota ainda!

– Rose tem razão. Fred, você é o pior cupido que eu conheço – falava James. – Se lembra daquela vez que tentou me juntar com a Carmen Boot? Pior. Encontro. Da história.

– Você já saiu com a Carmen Boot? – um resquício de ciúmes se sobressaiu na voz de Ariana.

– É, faz mais ou menos um milhão de anos. Você não está mesmo com ciúmes, está?

– Ciúmes, eu? Não, não... – ela começou a checar as unhas das mãos.

– Mas desta vez é sério, Al. Ela é super gata, inteligente e é detetive.

– Ooh! – os garotos do grupo exclamaram.

– Detetive? Isso é quente – disse Hugo. Só eu reparei que Lily começou a fuzila-lo com os olhos.

– É, cara, mulheres detetives são como as aurores, só que bem mais sexys e... ARIANA!

A grávida começou a puxar James pela gola da camisa para longe de nós.

– Você está morto, James! Morto!

Apesar de estar sendo arrastado pela namorada enfurecida e cheia de hormônios, James insistiu em gesticular com os lábios frases como “Vai nessa, irmão” para Albus. Meu primo era um idiota.

– Fred está exagerando. Ela não é detetive, é jornalista investigativa – corrigiu Penny.

– E quem é a tal misteriosa? – perguntei, cansada de tanta intriga.

– Acho que você a conhece. O Scorpius com certeza, já que ele trabalha no Profeta.

– Verdade, quem sabe você não a conheça, Rose. Venham, vocês dois.

Fred e Penny nos guiaram entre os convidados, enquanto Albus e eu trocávamos olhares preocupados. Vai saber o que mais Fred não havia exagerado?

– Ei, Nott! – Fred berrou.

Uma garota morena de cabelos bem curtos que se servia do buffet se assustou, derrubando um prato que estava cheio.

– Ela também é conhecida como a detetive mais desastrada da Inglaterra. – Acrescentou Fred entredentes.

– Jornalista, Fred, não detetive – retificou Penny mais uma vez, exasperada.

Com um rápido feitiço, a moça consertou o estrago e se voltou para nós.

Por Morgana, por Merlin, por tudo que é bruxo lendário!

– Minha nossa – Albus deixou escapar.

Apenas assenti, meus olhos se arregalando como os da convidada.

– Então, essa é a Pandora Nott. Nott, esses são meus primos Albus Potter e Rose...

– Rose Weasley! – Pandora exclamou, adquirindo um sorriso que quase não cabia no rosto. – Meu Deus, não vejo vocês há uns cinco anos!

– É – foi tudo que consegui dizer, ainda agitando a cabeça debilmente.

Pandora estava tão mudada! Eu sabia que era ela, mas suas feições haviam abandonado todos os vestígios de adolescência. Seu corte de cabelo era agora curto e moderno, diferente das longas madeixas onduladas que cultivava na época de Hogwarts. E ainda havia essa estranha aura que a rodeava, que não era mais sinistra, mas sim incrivelmente carismática.

É verdade que Pandora havia superado seus hábitos de perseguir meu primo após aquele acidente do jogo de Quadribol. Porém, ela manteve-se afastada após o episódio, então perdi totalmente a noção do que acontecera com ela.

Pelo visto, muito havia acontecido.

– Mas, espera, você está casada? – perguntou Albus, confuso. – Não era Zabini?

– Ah sim, nem me lembre disso – Pandora dizia. – Alexander Nott, o maior arrependimento da minha vida. Cinco semanas de uma paixão tórrida, três meses tentando fazer a droga do divórcio sair. Fiquei com a maior preguiça depois para trocar meu nome em todos os documentos de novo, então deixei Nott mesmo. Não ligo de ser chamada por esse nome. Você devia ver como aqueles engomadinhos do Ministério gostam de complicar nessas questões...

– Então, você não está casada? – Albus tornou a perguntar. Seu interesse na questão acabou chamando a atenção, é claro.

Pandora deu um tímido sorriso.

– Não, não estou.

Albus também se permitiu sorrir e os dois ficaram se fitando.

– Er, e como vocês se conheceram? – eu perguntei a Fred, que também já sentia o clima pairar no ar.

– A Nott estava investigando o escândalo na Copa Internacional de Quadribol faz uns meses. Eu e a Penny a conhecemos num dos jogos e nos demos bem.

– Quer dizer que você quem escreveu aquela matéria de primeira página sobre as vassouras adulteradas dos irlandeses? Aquela reportagem foi brilhante! Eu devia prestar mais atenção nos créditos. – Falou Albus.

Pandora corou levemente.

– Obrigada, mas ah, chega de falar de mim! E você, Potter? Não acredito que não ingressou em nenhum time. Você era o melhor jogador da nossa casa!

– Eu recebi algumas ofertas, mas recusei...

– Albus está no campo de pesquisa de Herbologia agora – fui falando rapidamente. – Ele tem essa tese muito boa que está em progresso, acho que será uma grande contribuição para o mundo bruxo.

– Jura? – Pandora parecia verdadeiramente deslumbrada. – Isso é impressionante!

E eles recomeçaram a se encarar com aqueles sorrisos de antes. Olhei para Fred e Penny, e eles entenderam.

– Amor, acho que meu pai está nos chamando ali. Vamos ver o que ele quer – disse Penny, Fred envolvendo-a pelos ombros com um braço. Os dois saíram e só restamos nós três.

– E eu, hã... – fui dizendo, recuando. – Vou procurar o Scorpius. A gente se fala mais tarde, ok?

Acho que eles nem me escutaram.

Eu não previa aquilo, porém me deixara com um sorriso bobo no rosto.

Quem sabe aquele não tenha sido sempre o destino deles, afinal? Para que as coisas funcionassem, os dois precisavam de um bom tempo para se organizar. Então, seus caminhos poderiam se cruzar novamente.

Vendo dessa maneira, muitos tinham uma história semelhante.

James e Ariana, por exemplo, ficaram separados por dois anos inteiros apenas se correspondendo por cartas, enquanto James decidia o que queria da vida. Ao fim desse tempo, os dois ficaram juntos e nunca mais se separaram.

Aliás, Fred e Penny também. Só depois de Penny superar seus medos e encontrar confiança em si, e de Fred baixar a crista e começar a prestar atenção nas coisas que deixava passar, os dois puderam construir um relacionamento.

Bom, talvez eu pudesse até acrescentar Lily e Hugo à lista. Seria impossível os dois namorarem na época em que eu ainda frequentava a escola. Eles tinham muito que resolver, principalmente Lily, que vivia em uma guerra contra o tempo, recusando-se a amadurecer. Não que ela tenha algum dia deixado totalmente a infância para trás e certamente jamais iria, entretanto, ela cresceu o suficiente para que pudesse notar Hugo sem que perdesse a essência pela qual eu sabia que ele era apaixonado. Ela era a mesma garotinha pura e inocente lá no fundo, só que agora queria um anel no dedo de qualquer jeito.

– Acha que conseguiremos algum segundo só para nós dois? – sentei-me à mesa que Scorpius ocupava sozinho observando os casais dançando a um par de metros de nós.

– Nossa, é você? Eu achei que tinha se perdido no mar de parentes.

Eu ri levemente, encaixando o rosto entre seu pescoço e seu ombro.

– Estou cansada – falei.

– Já?

– Não é fácil ser a madrinha, está bem? Sequer visitei o buffet ainda. Quer dizer, não para comer.

– É, isso é grave – ele disse. – Quase uma emergência de Estado.

– Pega leve na ironia, Malfoy – falei, ranzinza.

Foi a vez dele de rir.

– Está mesmo tão cansada assim? – perguntou, seus dedos fazendo contornos indistintos enquanto acariciavam meu rosto.

– Talvez. Por quê?

Ele ficou em silêncio e eu pude ouvir melhor a música que tocava. Era uma das favoritas dele.

– Você quer dançar, não é? – indaguei e eu senti que ele sorria.

– Estou dizendo, você é muito boa em Legilimência.

– Não leio sua mente, apenas te conheço há tempo suficiente.

– E o que acha? Só uma dança.

– Está bem – falei, pondo-me de pé. – Mas é melhor não pisar nos meus pés.

– Eu achei que quem não dançava aqui era você – Scorpius dizia, me conduzindo até a pista com um sorriso travesso.

– E achou certo. Mas você sabe que tenho essa capacidade sobre-humana de fazer os outros pisarem nos meus pés enquanto danço.

– Bom, é um talento diferente e menosprezado.

– Pois é – dei de ombros, sentindo suas mãos pousarem em minha cintura e segurando-o pela nuca.

Será que eu já mencionei que ele era quase trinta centímetros mais alto que eu? Só para constar.

– Eu contei para minha mãe – confessei.

– E ela? – ergueu uma sobrancelha, curioso.

– Está nas nuvens. Quando planeja falar com meu pai?

– Se possível, assim que a festa acabar.

– Tem certeza? – perguntei, ele me rodopiava devagar. – Festas de casamento têm muito firewhisky, sabe como é. Não posso me responsabilizar pelos atos do meu pai assim.

– Ah que nada, ele me adora.

– É, mas eu não estou usando seu sobrenome ainda.

– Já faz sete anos, era só uma questão de meses agora.

– Ele nunca admitirá isso.

O loiro aproximou seu corpo do meu e nossos passos diminuíram o já lento ritmo no qual se moviam.

– Eu tenho um dom com as palavras – Scorpius disse usando um tom convencido.

– É mesmo? Conte-me mais sobre isso.

– Posso convencer o mais raivoso dos pais a dar a mão de sua filha em casamento sem que haja a menor discussão. Eu sei ser persuasivo, entende?

– Será que me daria uma amostra? Quero ter certeza de que não estarei casando com um amador.

– Bom, é justo.

Eu dei uma risada, mas logo me calei para que ele prosseguisse.

– Veja bem, Sr. Weasley – ele incorporou uma entonação que me forçou a revirar os olhos, ainda que eu continuasse a sorrir. – Eu e a sua filha temos um compromisso firme há praticamente uma década. Ela é uma ruiva geniosa, é verdade, mas que Weasley não é? Bom, como sabe, eu a amo. E acredito que ela me ame com a mesma intensidade.

– Mas é claro que sim! Talvez mais!

– Shh – ele fingiu irritação por tê-lo interrompido.

– Ok, vá em frente.

– Por isso, venho até o senhor humildemente pedir que conceda a mão de sua adorável filha em casamento. Oh espere, não precisa se exaltar, senhor. Minhas intenções são as mais dignas!

– Isso está ficando ridículo, Scorpius.

– Me deixa terminar?

– Certo.

– Porque, Sr. Weasley, não poderia haver algo no mundo que pudesse me tornar mais completo que ter Rose como minha esposa. Ela é a mulher mais bela, mais inteligente e mais teimosa que eu conheço.

– Ei!

– E mesmo quando ela tem vontade de me socar, e mesmo quando ela realmente o faz, eu não gostaria de outro jeito. Porque sem a Rose e o temperamento dela, eu sou só um cara sem graça que escreve colunas semanais para um jornal qualquer. Ah, e que tem a pele excepcionalmente pálida.

– Isso porque você quase não sai de casa, fica enfurnado nos livros.

– De qualquer forma, é por essa e outras razões que quero me casar com a Rose. Isso, é claro, se o senhor der sua permissão. – Um silêncio se seguiu. – Então, o que me diz?

– Olha, vou ser sincera porque gosto de você... Ele vai te mandar uma azaração mesmo assim.

– Você acha?

– É.

– Droga – ele bufou.

– Mas a boa notícia é que sua declaração lhe rendeu pontos comigo.

– Ah, sinto que estamos começando a nos entender...

– E acho que me apaixonei por você de novo – admiti, fazendo expressão de derrota.

– Que infortúnio, Rose.

– Eu sei.

– Estamos presos um ao outro, eu sinto dizer.

– Meu maior medo se tornou realidade. Bom, não tem muito que fazer, né? Vamos ter que viver com isso e...

– Será que eu posso beijá-la agora? – Scorpius perguntou, mirando minha boca.

– Francamente, Malfoy, já devia ter feito isso.

E finalmente nos beijamos.

Havia sete anos que estávamos juntos, porém, quem nos conhecia há tempo o bastante sabia que nem sempre tudo fora um mar de rosas. A maior parcela da culpa é minha, não vou negar. Tudo bem, eu sou totalmente culpada.

Afinal, não teria demorado tanto se eu não tivesse “hesitado” em conhecê-lo. É, ele gostava de se referir à minha teimosia daquela forma.

– Hesitante? Eu era completamente idiota! – respondi a Scorpius certa vez, enquanto discutíamos sobre o passado.

– Prefiro interpretar de outra maneira.

– Você sabe que é verdade, eu não conseguia tirar aquelas opiniões antigas e equivocadas da cabeça. Quem acabou sofrendo com isso foi você.

– Para mim, no fundo, você estava só com receio do que poderia encontrar. E com receio de que pudesse gostar.

Bom, talvez tivesse razão. Talvez eu tivesse apenas hesitado em me apaixonar por Scorpius Malfoy.

Felizmente para nós dois, eu já não necessitava de tais hesitações.


FIM.



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Notas finais do capítulo

N/B: Ok, minha querida Aninha, Ana, e Anada (nao sei por que disse isso), vamos por partes. Sim, isso aqui ficou enorme hahahahaha. Mas em minha humilde, talvez nem tao humilde, opiniao, ficou maravilhoso. Sério mesmo, você sabe que nao minto sobre essas coisas. O que mais adorei, é o fato de que todos os casais que queriamos que funcionassem ( e com "queriamos" em plural, me refiro eu e seus leitores), tiveram a oportunidade de ficarem juntos sem parecer caricaturado, em outras palavras, foi até realista o que aconteceu. E eu fiquei mega satisfeita com Hugo e Lily, apesar de achar a choradeira de Lily ao descobrir o caso de Hugo com Finnigan meio exagerado, maaaas, é Lily, entao faz sentido... Eu secretamente estava torcendo para Penny/Fred, apesar que nao teria ficado chateada se você optasse por Penny/Wally. Fiquei interessado em saber o que diabos aconteceu com ALbus que nunca teve a oportunidade de esclarecer o por que de chegar atrasado hahahahahahahaha. Ta certo que provavelmente você nao pensou em uma situacao e era somente para dar um toque de humor, o que ficou genial. Eu acho que você parou com os detalhes na hora certa. Adorei os flashbacks, mas se tivessem ficado mais longos ou ainda mais detalhados teriam perdido sua essencia e com isso teriam ficado um pouco monótonos. Mas nao se preocupe, porque no modo que você escreveu, ficaram perfeitos. Você ofereceu a quantia exata de informacoes sem que se acumulassem demais e com isso, estraga-se o epilogo incrivel que você criou.
Bem, é isso entao.
Essa é minha opiniao final e eu só posso ficar de pé e bater palmas.
Muito bem, Ana, você mais uma vez me surpreendeu com seu dom da escrita. Sério mesmo.
Beijos e te dou meus parábens.
♥ ;)
N/a: É isso aí, a fic chegou ao fim. Espero que este final tenha atingido suas expectativas, pois é basicamente como eu imagino tudo acontecendo.
Bom, eu preciso agradecer a todos vocês que acompanharam Hesitate to Fall até aqui, quem é autor sabe como o apoio é essencial! Todo o carinho e a atenção de vocês que me possibilitaram chegar aonde eu cheguei e me rendeu a inspiração que às vezes pensei ter perdido. Muito, muito obrigada! Obrigada a quem comentou, recomendou e também a quem leu sem se manifestar. Bem, deu pra ver que eu sou péssima com agradecimentos, mas juro que são de coração ^^ Agradeço também a Dreamy por ter sido minha beta nos últimos capítulos e me ajudado tanto com a história!
Então, acho que é isso. Eu poderia falar um pouco mais sobre esse último capítulo, mas acho que ele fala tudo por si. Contudo, é claro que sempre responderei aos comentários caso queiram fazer alguma pergunta :)
Ai, tô deprimida agora. Acho que deu pra notar, queria fazer uma nota mais animada, mas está difícil. Logo terei que me despedir. Não sei quando ou se postarei uma nova fic. Vocês sabem que eu amo o mundo das fanfics e que escrever é um prazer, mas não tenho nenhum projeto em planejamento no momento.
Ah gente, valeu mais uma vez. Vocês são incríveis! E não estou escrevendo isso só do teclado pra tela, vocês realmente são. Sério.
Mil beijos! :**
Até uma próxima. Com sorte, será em breve!