Epílogo.

Finais felizes.

"Ei!" gritou um cara, apontando para Quinn Fabray e Rachel Berry. "Vocês não são as garotas do programa da Ellen?"

Quinn bufou. Para ela, era incrível que mesmo depois de um ano as pessoas ainda se lembrassem daquelas malditas entrevistas. A primeira, em que Santana fez questão de inventar descaradamente uma linda história de amor em que Quinn Fabray estava caindo de quatro por Rachel Berry, e que Rachel Berry também caía de quatro por Quinn Fabray. Tudo bem, as duas realmente estavam loucas uma pela outra, mas isso não significava que Santana podia inventar coisas em um programa de circulação internacional. Quinn abriu um largo sorriso. Pelo menos ela e Rachel puderam se vingar. A suposta história de amor das duas se tornou tão famosa, que a própria Ellen DeGeneres procurou as meninas e as convidou para ir ao seu programa e contar um pouco sobre elas mesmas e sobre o relacionamento. É bem verdade que as garotas manteram a versão de Santana, mas só porque não quiseram que Santana se passasse por mentirosa. Além disso, elas tinham uma ideia melhor ainda de como dar o troco.

E então, Quinn e Rachel contaram a Ellen sobre outra linda história de amor entre uma certa latina com uma loirinha de olhos azuis. Quinn fez questão de contar como Santana era marrenta para todos, mas quando se tratava de Brittany, a latina abaixava a cabeça, colocava o rabinho entre as pernas, e obedecia sem que a loirinha precisasse pedir duas vezes. E Rachel fez questão de dizer o quanto Santana era atormentada na época do colegial por causa de sua sexualidade, e por esconder o que realmente sentia, Santana se tornou uma pessoa amargurada que só sabia reclamar da vida, xingar seus doces e inocentes colegas do clube do coral que queriam solos, e chorava pelos cantos do colégio ouvindo músicas do Simple Plan e do Evanascence. E digamos que Santana não tenha ficado nada feliz de ter sido tachada como a latina emo.

"Sim, somos nós" concordou Rachel, mexendo no seu celular.

"Vocês ainda estão juntas?" perguntou o cara.

"Há um ano" disse Rachel, erguendo a cabeça e abrindo seu sorriso largo. "E estamos muito felizes juntas, obrigada"

"Incrível!" disse o cara. "Sabe, minha irmã acabou de sair do armário. Aí eu mostrei a entrevista de vocês para ela, e ela disse que vocês são super corajosas de assumir para o mundo todo"

"Como se tivéssemos escolha" resmungou Quinn, para depois acrescentar em voz alta. "Sim, não foi fácil no começo, mas depois melhora. Diga a sua irmã para não se preocupar, porque quando ela encontrar a garota certa, tudo vai valer a pena"

O cara cumprimentou Rachel e Quinn e depois deixou as duas em paz. Rachel guardou o celular na bolsa e observou a namorada com um grande sorriso no rosto. Ainda parecia surreal que as duas estivessem juntas, e Rachel amava quando Quinn tinha seus momentos de romantismo. Como agora, com ela dizendo que tudo o que elas passaram tinha valido a pena só porque ela tinha Rachel ao seu lado.

"Eu te amo, sabia?" disse Rachel, ficando na ponta do pé e dando um selinho em Quinn.

"Eu também te amo, Estrelinha" disse Quinn, abrindo um largo sorriso. Rachel gemeu.

"Eu não devia ter te contado"

"Qual é, Rach! É um lindo apelido" comentou Quinn, contendo-se para não começar a rir.

"Não, não é, Barbie" disse Rachel, fazendo bico. Quinn revirou os olhos e passou o braço pelo ombro da namorada.

"Sua Barbie" disse Quinn. "O que significa que você pode fazer o que quiser comigo"

"Não me dê ideias, Fabray" disse Rachel, abrindo um sorriso malicioso.

Quinn riu e beijou a testa da namorada. Ela adorava passar um tempo com Rachel, ainda mais porque ele era muito curto. As duas só se viam um final de semana por mês, nas férias de verão ou em feriados. Não era fácil manter uma relação a distância, e exigia cada grão de confiança que as garotas carregavam dentro de si. Mas no final, o que realmente importava é que uma pertencia a outra.

"Eu nem acredito que Santana vai casar" resmungou Rachel. "Santana e casar. Um substantivo e um verbo que eu nunca imaginei ouvir na mesma frase"

"Você sabe que ela faz tudo o que a 'Britt-Britt' manda" disse Quinn.

"Assim como você faz tudo o que eu mando?" perguntou Rachel divertida.

"Eu sou mesmo o homem da relação" resmungou Quinn, balançando a cabeça.

"Oh, Q., acredite, você não é. Até porque se fosse, eu não estaria com você, não é mesmo?" perguntou Rachel, caindo na risada.

"Boba" disse Quinn, mas rindo também. "Você quer mesmo ver esse filme?"

"É claro que sim"

Mas não foi Rachel quem respondeu. Quinn revirou os olhos ao ver Santana Lopez e Brittany Pierce paradas ao seu lado, as duas com largos sorrisos no rosto. E pela mancha de batom na mandíbula da Santana, Quinn nem precisava perguntar qual o motivo do atraso. Brittany soltou-se da namorada e abraçou Quinn e Rachel com força. Era incrível que mesmo morando na mesma cidade, Rachel mal podia ver suas amigas. As aulas em NYADA estavam exigindo 23 horas diárias do seu tempo. Só não as vinte e quatro porque Rachel é humana e precisa dormir.

"Como está Julliard, Brittany?" perguntou Rachel sorrindo.

"Está ótimo" disse Brittany animada. "Eu nem acredito que consegui entrar!"

E nem Rachel. Ou Quinn. Ou Santana. Para elas, o fato de Brittany ter entrado em Julliard era um verdadeiro milagre. Assim como foi um milagre a média da loirinha subir de zero para oito, e de suas atividades extracurriculares serem tão interessantes que chamou a atenção dos recrutadores da Universidade. Além disso, Brittany era uma excelente dançarinha, e se alguém merecia estar em Julliard, esse alguém era ela.

"Você é incrível" disse Rachel. "Merece estar lá"

"Eu concordo" disse Santana, encarando a noiva com admiração.

Santana não tinha desistido da ideia de se tornar famosa, mas para a surpresa das amigas, ela tinha mudado de rumo. Santana queria ser uma escritora. O que exatamente ela pretendia escrever era um mistério para Quinn, mas o título do livro de Santana –– Eu, você e um copo de raspadinhas –– era uma boa indicação para que o casal Faberry soubesse que ainda teria mais humilhação num futuro próximo. Mas a verdade é que elas não se importavam. Se Santana estava feliz, fazendo alguma coisa que a transformasse em alguém não tão incoveniente e insuportável, então elas estavam felizes.

"Vamos logo, suas lerdas" disse Santana, dando um empurrão em Quinn e fazendo-a esbarrar no cara que estava na frente dela. "Eu ainda quero ver esse maldito filme"

Quinn bufou, Rachel suspiro e Brittany revirou os olhos. Porque afinal de contas, Santana Lopez sempre seria Santana Lopez.

_________________________

Dez anos depois.

"Oh meu Deus!" exclamou Quinn Fabray irritada. "Cadê a Santana pra controlar esse capeta que ela chama de filho?"

"Quinn!" protestou Rachel, caindo na risada. "Não fale assim do Tyler. Ele é um bom garoto"

"Bom garoto?" perguntou Quinn incrédula. "Por favor, querida. Ethan e Jason são bons garotos. Tyler, por outro lado, é o diabo na forma de gente. Eu juro que esse demônio escapou do Inferno só para nos perturbar"

"De quem vocês estão falando?" perguntou Brittany, aparecendo com um pratinho de salgados na mão e entregando-o para o filho.

"Nada" apressou-se a dizer Rachel. "Onde está a Santana, Britt?"

"A última vez que eu a vi, ela estava conversando com o John"

"John, o filho do Finn?" perguntou Quinn.

"Sim" concordou Brittany. "Vocês me dão licença, garotas? Eu preciso ir falar com a minha sócia do estúdio"

"Claro" disse Rachel. "Até depois"

"O corpo do garoto nunca vai ser encontrado" sussurrou Quinn. "Ela vai se livrar dele disfarçadamente"

"Não seja má" disse Rachel, embora contesse uma risada. "Aproveite a festa do Tyler. Graças a Deus que a dos meninos já passou"

"Ainda bem" concordou Quinn. "Fazer festa para os gêmeos é quase impossível"

"Nem dá para acreditar que eles já têm cinco anos" disse Rachel, soltando um pequeno suspiro. "Parece que foi ontem que eu estava grávida"

"E parece que foi ontem que eu doei meus óvulos" disse Quinn, fazendo Rachel rir. "Por que você quis engravidar? Atrapalhou a sua carreira"

"Não muito" disse Rachel sorrindo. "Ainda ganhei um Tony, lembra? Além disso, queria que meus filhos fossem tão perfeitos quanto a mãe"

Quinn corou e Rachel riu. Elas estavam casadas há oito anos, mas parecia que tinha sido ontem que elas estavam no casamento do senhor Schuester anunciando um relacionamento verdadeiro na frente dos amigos. Às vezes, as garotas ainda assistiam a entrevista de Santana no programa da Ellen. Os pais de Rachel haviam gravado uma das reprises e dado de presente para as garotas, que pretendiam guardá-las até ficarem velhinhas e passarem para seus filhos como uma herança de família. Afinal, querendo ou não, foi ali que tudo começou. Rachel era uma grande estrela da Broadway. Quinn, embora não tivesse ganhado nenhum Oscar –– ainda, segundo Rachel –– era uma atriz mundialmente reconhecida, principalmente pelo seu papel na adaptação do filme "Eu, você e um copo de raspadinhas" escrito por Santana Lopez e dirigido por ninguém mais, ninguém menos que Artie. E seu par romântico no filme tinha sido ironicamente Finn Hudson. O garoto finalmente tinha desistido de sua carreira no Exército e decidira correr novamente atrás do seu sonho. É claro que houve muitos boatos dizendo que tanto Quinn quanto Finn só tinham ganhado os papéis porque eram amigos do diretor, mas os rumores foram logo silenciados quando o filme ganhou um Globo de Ouro e foi campeão de bilheterias do ano, fazendo com que o livro vendesse ainda mais e se tornasse um dos maiores Best-Seller da literatura americana. Finn tinha conseguido esquecer Rachel e se casara com uma amável atriz de televisão, Johanna Mason. Juntos, eles tiveram um lindo filho chamado John, o qual Santana insistia em dizer que era fruto de uma traição e aconselhava Finn a pedir um exame de DNA, porque segundo a mesma, o garoto era bonito demais para ser filho de uma orca.

Santana também tinha alcançado um grande sucesso, não só pelo seu primeiro livro –– que impressionantemente não narrava sua vida no colegial, embora fosse inspirada nela ––, mas também pela trilogia de ficção científica que fez o maior sucesso entre o público infanto-juvenil, e o qual já estava sendo cogitado para também se tornar uma adaptação. Brittany, por outro lado, formara-se em dança na Julliard e abrira seu próprio estúdio. Mike Chang, amigo das garotas da época de escola, ajudou Brittany no projeto, e embora ainda se envolvesse e apoiasse completamente o estúdio, ele não dava mais aulas. Mike se casara com Tina e tivera lindos bebês asiáticos. Atualmente ele estava em turnê pelos Estados Unidos com uma famosa cantora pop.

"Deveriamos ter outro" disse Quinn. "Eu podia engravidar e você podia doar os óvulos"

"Outro filho?" perguntou Rachel. "Bem... Não me leve a mal, querida, mas eu acho que chega de homens na nossa vida. Poderíamos ter uma menina"

"Eu adoraria" disse Quinn, beijando a esposa.

"Pelo amor de Deus!" exclamou Santana, revirando os olhos. "Nada de se comerem no meio da festinha de aniversário del mi angel"

"El diablo, você quer dizer" sussurrou Quinn.

"O que você disse, Polly Pocket?" perguntou Santana, arqueando uma sobrancelha.

"Nada" apressou-se a dizer Quinn. "A Brittany foi atrás da Amanda"

Aquilo sempre funcionava. Amanda era a sócia de Brittany nos negócios. Ela é quem geralmente cuidava da parte administrativa, enquanto Brittany entrava com a parte criativa. As duas se davam muito bem, o que não agradava em nada Santana. É claro que a Brittany jamais trairia sua mulher, mas quem disse que Santana se importava? Ela gostava de ficar grudada na loirinha, e às vezes usava Amanda apenas como uma desculpa para ficar perto da loirinha.

"Oi garotas" disse Finn, aproximando-se de Quinn e Rachel ao lado de Johanna.

"Oi Q, oi Rach" disse Jo, abrindo um largo sorriso e abraçando as duas. "Como estão?"

"Bem, obrigada" disse Rachel, retribuindo o sorriso. "E vocês?"

"Incrível" disse Finn, passando o braço pelo ombro da esposa. "Eu contei? Johanna está grávida do nosso segundo filho"

"Parabéns!" exclaram Quinn e Rachel juntas, dando sorrisos genuínos para Finn.

"Obrigado" disse ele. "E como estão os gêmeos? Ainda não os vi"

"Incrivelmente danados" resmungou Quinn. "Mas não tanto quanto o Tyler"

"Puxou a personalidade da Santana" disse Finn, balançando a cabeça em negação. "Tenho pena das pessoas quando esse daí crescer"

"Vai ser o terror das garotas" disse Jo, rindo.

"Ou dos garotos" disse Finn, dando de ombros. "Seja como for, ele vai tocar o terror"

"Concordo" disse Quinn caindo na risada.

"Pessoal, hora dos parabéns!" gritou Brittany, enquanto segurava Tyler por um braço. O garoto tinha um olhar sapeca no rosto, e Quinn tinha certeza que ele não via a hora de virar aquela mesa com o bolo em cima de alguém. "Melhor ficarmos um pouco longe"

"Você tem razão" disse Rachel. "Não estou com uma boa sensação sobre isso"

As pessoas se reuniram em volta da mesa e começaram a cantar o parabéns. Brittany soltou o braço de Tyler apenas para puxar Santana para mais perto, mas quando ela quis pegá-lo novamente, foi tarde demais. E então, todos que estavam perto da mesa do bolo se sujaram consideravelmente de glacê. Finn, Johanna, Rachel e Quinn riam, enquanto Santana proferia mil insultos em espanhol e Brittany corria atrás do filho tentando impedi-lo de jogar os docinhos em cima das pessoas.

"Nada melhor do que uma tarde agradável com os amigos" comentou Rachel.

Todos riram. Sim, dez anos tinham se passado, mas nada entre eles mudara. E se tinha alguma coisa da qual aqueles homens e mulheres estavam certos, é que quando mais dez anos se passassem, tudo continuaria o mesmo. Porque eles se conheceram no colegial, tornaram-se amigos, e fizeram parte de algo muito especial. E isso os marcou pelo resto de suas vidas.