Mensagem mogadoriana escrita por Marília Kane
As horas seguintes passaram-se lentamente. Nenhum de nós falava, comentava os acontecimentos anteriores ou cogitava a possibilidade de ter mogadorianos nos seguindo. Revezamos o volante o dia todo e no entardecer, assumo o lugar de Seis. Enquanto a loriena cochila, observo Sam, vidrado no horizonte. O amarelo se desmancha em tons de laranja e rosa claro e entendo porque seus olhos nem piscam.
É o sol de Paradise. Tenho saudades de casa, de Sarah, de Henri. Nem sei se posso chamar de casa. Me mudei tantas vezes que já deveria ter me acostumado a me desfazer tão facilmente de boas lembranças. Não foi dessa vez.
- Não agüento mais dirigir. – digo quando vejo que são já são uma da manhã. Sam abre a boca para falar, mas o interrompo. – Nem você! Seis muito menos, ela apagou.
- Vamos parar no próximo posto que tiver um restaurante. – ele abraça a barriga com força. Pelo visto não sou só eu prestes a morrer de fome.
- Seis, acorda. Seis. Vamos parar. – balanço-a com cuidado.
- Que horas são? – ela levantou com um salto e com tanto desespero em seu rosto que não pude deixar de abraçá-la.
- Calma, tudo bem. São duas e meia, achamos um lugar para passar a noite. – suavizo minha voz o máximo possível, mas confesso que a idéia de que fomos seguidos não sai de minha cabeça.
Me encarrego das mochilas enquanto Sam conversa com o frentista. Ele aponta para o restaurante sem fazer menção de que entendeu algo que Sam perguntou. Lá dentro ficamos confortados com o ar condicionado. Devemos estar bem a sul, pois a temperatura aumentou significativamente. Chego a conclusão que passamos pelo limite do país. E com passar eu quero dizer, mais perto de achar Cinco ou Oito. Às vezes tenho que me lembrar de que ainda há esperanças de vencer a guerra.
O cheiro de comida faz com que eu delire. Observo Sam e o vejo com as mãos grudadas no vidro que protege uma pilha de panquecas. Parece que no México as pessoas gostam de comida americana.
- Quero a pilha toda, por favor. E três hamburguers. – escuto-o falando com a garçonete. Seis grita para que peça refrigerantes mas sabemos que em questão refeição Sam escolhe como ninguém.
- Pelo menos ela fala inglês. – ele fala entre mordidas. – Perguntei sobre os quartos e funciona como um albergue. Estão acostumados a receber imigrantes que tentam atravessar a fronteira.
Terminado o lanche levamos a bagagem pro quarto. Volto no carro para pegar Bernie Kosar e depois que entro na estalagem com o cão no colo, a garçonete nos leva pra outro cômodo.
- Vocês ficarão mais confortáveis aqui. Ele vai poder ficar solto. – aponta com a cabeça para Bernie. Por seus olhos percebo o carinho por animais.
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- Isso Bernie! Conseguiu um quarto só pra gente. – Seis acaricia sua cabeça. – Deveríamos dormir. Não sei quando teremos a oportunidade denovo.
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