Ponto de vista de Helena:

Acordei com o barulho do sinal. Estiquei meu pescoço só para constatar que estava com câimbra. Aos poucos fui movendo meus músculos e fazendo minha circulação voltar ao normal enquanto esperava a sala esvaziar. Quanto tempo será que dormi? A sala estava uma zona. As meninas da frente não paravam de gritar e dar pulinhos. Tudo bem, hoje é sexta feira, precisa disso tudo? Se eu fosse retardada tanto o quanto, também estaria comemorando a chegada do final de semana, pra me ver livre daquela escola por pelo menos dois dias. Peguei minha mochila e avancei em direção a porta, revirando o olho quando passei por elas e vi o motivo da agitação. É claro, como pude me esquecer. Aparentemente é hoje que One Direction virá distribuir autógrafos em nossa cidade. Coloquei meu fone e aumentei o volume ao máximo aproveitando que estava tocando metal. Não vou ser hipócrita e falar que odeio eles, ou que eles não tem talento, porque obviamente tem. Só não gosto do fato da fama ter-lhes subido à cabeça. Eu acompanhava a banda desde a época do X-Factor, quando poucos os conheciam. Mas depois da fama eu simplesmente parei de acompanhar. Não gosto de modinha. Não gosto de nada que me ponha em comum com garotas parecidas com as da minha sala.

Cheguei em casa e o aroma de sopa de ervilha invadiu minhas narinas. Tirei meus fones e larguei minha mochila no canto do sofá e fui direto para a cozinha. Encontrei uma panela com a sopa fervendo e em cima da mesa havia um xarope. Subi a escada preocupada, procurando por minha mãe, porém a encontrei no quarto de minha irmã. Minha irmã, no entanto estava dormindo, com uma toalha quente em sua testa e o termômetro debaixo do braço. Minha mãe virou-se para mim, fazendo sinal de silêncio.

- O que aconteceu? – Sussurrei.

- Ela pegou uma virose, está com febre alta, vai ter que ficar de cama. – Disse ela, me puxando para fora do quarto.

- Mas está tudo bem? Ela vai ficar bem? – Perguntei, preocupada. Sarah era uma das poucas pessoas da terra que me faziam sentir bem, me faziam me importar realmente.

- Sim, meu amor, não há porquê se preocupar. Logo, logo ela estará boa. Mas ela vai ter que ficar de cama por alguns dias. - Disse ela, assenti e virei para ir para o meu quarto. – Mas ah... – Virei para encará-la. – É que... não, deixa pra lá. Sarah fala com você quando acordar. – Disse ela, e desceu as escadas rapidamente.

Dei de ombros e fui para o meu quarto. Apenas tirei meu tênis e me joguei debaixo do edredom. Novamente não sei quanto tempo dormi. O frio do inverno combinado com o tempo nublado deixou minha cama simplesmente irresistível. Provavelmente teria dormido até à noite se não fosse por Sarah. Abri os olhos e dei de cara com ela me sacudindo pelos pés.

- Argh, o que foi Sarah? Não viu que eu estava dormindo? – Perguntei, mas logo depois me arrependi, quando lembrei que ela estava doente. – Aconteceu alguma coisa? Você ta melhor? – Sentei na cama puxando ela para cima e colocando minha mão na sua testa.

- Não, eu estou bem. – Disse ela, se esquivando. – Vim te pedir uma coisa. – Ela falou, me olhando com olhos de gato.

- Desembucha. – Falei, revirando os olhos. Ela sabia que não há nada que eu não faria por ela.

- É que... você sabe. Hoje é o dia que o One Direction vai estar aqui. – Ah, isso. Ótimo. Já imagino o que ela irá me pedir. Minha irmã, apesar de ter apenas 12 anos é fanática por eles. Tudo bem, não tanto quanto aquelas loucas da minha escola, mas ela realmente os ama. Sendo assim, minha mãe comprou o ingresso que dava acesso ao estande onde a banda vai distribuir os autógrafos. Se não fosse por Sarah juro que fazia minha mãe mudar de ideia na mesma hora. Acho um absurdo o valor que ela deu para simplesmente conseguir um papel rabiscado. Mas me contive porque sei que é o sonho dela. – Então, acho que você já sabe o que vou te pedir.

- Não. – Tentei ser severa, talvez eu tenha uma chance.

- Mas Helena, eu não posso ir. Nem mamãe, ela tem trabalho para fazer, e ela não vai me deixar ir desse jeito nunca. Eu não posso desperdiçar aqueles ingressos.

- Não. – Droga, ela ta quase conseguindo.

- Você sabe que é o sonho da minha vida. Se eu não vou poder ta lá pra conhecê-los, pelo menos um autógrafo eu mereço. – Disse ela, cruzando os braços no peito. – Por favor, Lena... – Seus olhos começaram a encher de lágrima.

- Tudo bem, tudo bem. Eu vou. – Eu não aguentava quando ela me chamava assim. E muito menos queria fazer ela chorar enquanto estava doente. Não tinha como eu negar isso pra ela, por mais absurda que me fosse à ideia. – Agora pare de ser um bebe e não chore mais. – Tentei falar sério, mas ela pulou no meu colo, me abraçando e me fazendo rir.

- Oh Lena, obrigado. Isso significa tudo para mim. – Agradeceu ela, enquanto me puxava para o andar de baixo me dizendo que o evento começaria as 20:00 horas e que nós só tínhamos duas horas para me produzir. Enquanto ela enfiava comida na minha goela eu parei de prestar atenção no que ela falava, e comecei a pensar no que realmente eu iria fazer. Tudo bem Helena, não deve ser tão difícil assim. Você vai lá, vai encarar todas aquelas garotas de que tanto fala mal enquanto esta na verdade fazendo a mesma coisa que elas, e depois vai pegar o autógrafo. Você consegue. – Helena? Ta ouvindo o que eu to falando? – Escutei vagamente minha irmã me chamando, irritada. Pelo visto ela já havia melhorado quase cem por cento eu diria.

- O que? – Perguntei, distraída.

- Lena, você não pode esquecer-se disso, é o mais importante. Niall. Niall Horan. Quero que entregue isto para ele. – Ela esticou suas mãos e me entregou um pequeno envelope branco. Sorri para ela enquanto imaginava o que estaria escrito ali. – Você vai saber quem é. É o que tem o sorriso mais bonito.

- Tudo bem, não vou esquecer. – Coloquei o envelope no bolso e subi novamente, para tomar um banho e me preparar.

Queria poder ficar debaixo do chuveiro o resto da noite. A água fervendo relaxavam os meus músculos congelados. Fiquei por um bom tempo, na verdade. Até Sarah me apressar novamente falando que já eram 19:20. Saí do banheiro com a toalha enrolada no corpo, indo para o meu armário e dei de cara com minha irmã, em cima da cama, com uma roupa cuidadosamente preparada ao lado dela.

- Ah não. – Forcei minha risada. – Aí você já quer demais.

- Helena, fique quieta. Está é a minha noite, tudo bem? Finge que estou alugando seu corpo, por tanto, posso fazer com ele o que eu quiser. – Disse ela, vindo para o meu lado e me empurrando a roupa. – Agora vista.

- Esse aluguel está me saindo caro demais. – Resmunguei e voltei para o banheiro para colocar a roupa. Tenho que dar crédito á ela. Para quem tem 12 anos minha irmã se sairia muito bem como estilista. A verdade é que se ela quisesse ela poderia ter me empurrado uma roupa bem pior, e eu teria aceitado. Um vestido, por exemplo. Até que aquela roupa não fugia muito do meu padrão. Tirando o moletom e a calça desbotada que geralmente uso. Ela me entregou uma calça boyfriend preta, uma camisa regata marrom-escuro e uma jaqueta de couro feminino, acompanhado de uma bota do mesmo tecido. Quando finalmente estava pronta, veio a pior parte. A maquiagem.

- Sério mesmo Sarah? Pra que tudo isso? – Reclamei, enquanto ela me colocava sentada na cama e pegava seu estojo de maquiagens.

- Porque primeiro você esta me representando essa noite. E eu não quero passar a noite dos meus sonhos de qualquer forma. Além do mais, se eu não tenho a chance de conquistar os meninos hoje, quem sabe você não tem. – Disse ela, rindo baixinho enquanto eu revirava os olhos. – E segundo – Falou, virando minha cadeira para o espelho. – eu quero te mostrar como você pode ficar ainda mais linda do que já é.

Tentei não demonstrar o quão surpresa eu estava. Eu não me via assim diante do espelho havia dois anos. Deste minha festa de 15 anos, quando meu pai nos abandonou. Depois daquele dia não consigo enxergar nenhum garoto da mesma forma. Fui me distanciando de todos os meus amigos, de todos na escola. Deixei de me produzir, de ir para as festas. Simplesmente deixei de me importar com minha vida social. Olhando para o espelho agora me vejo exatamente como há dois anos atrás. Mas vejo que alguma coisa mudou. Mesmo de baixo de toda aquela maquiagem eu sinto que não sou mais aquela garota fútil, que só saia com os garotos mais populares e era invejada pelo resto da escola. Tenho que admitir que Sarah fez um ótimo trabalho. A maquiagem realçava cada ponto do meu rosto de uma forma natural. Ela destacou completamente o meu olhar de forma que até mesmo eu fiquei vidrada no meu reflexo. A cor de bronze da sombra combinava perfeitamente com a cor dos meus olhos. Enquanto o rímel levantava o meu olhar, o lápis preto esfumaçava e dava um tom mais sério. Por fim, ela colocou um par de brincos e um cordão grande de prata caindo sobre a blusa.

- Você está perfeita! – Disse ela, pronunciando cada palavra separadamente.

Levantei-me da cadeira e dei uma última olhada no espelho. Realmente, eu estava impecável. Apesar do estilo um pouco roqueiro, a roupa estava elegante. Meu cabelo, depois de seco, foi cuidadosamente encaracolado pelas mãos de Sarah, deixando um toque de ondulação natural. Olhei no relógio notando que faltavam apenas 20 minutos para o evento começar. Era o tempo da minha caminhada até lá. Suspirei e beijei a testa de minha irmã, falando para ela me desejar sorte enquanto saia.

Ponto de vista de Harry:

Ainda tínhamos meia hora antes de entrarmos para a seção de autógrafos. De dentro do camarim já dava para ouvir a histeria das fãs no lado de fora. Confesso que não estava animado para o evento hoje. A turnê tem me deixado exausto e minha cabeça parecia que ia explodir. De qualquer forma, tenho que dar o meu melhor para todos que estão me esperando. Louis pareceu perceber que eu não estava bem, pois veio me perguntar por que estava quieto. De todos os garotos, ele é o que melhor me conhece. Provavelmente é a convivência, nem quando estamos em Londres nos desgrudamos. Acho engraçado o modo como algumas fãs pensam que nós estamos juntos. Doentio, na verdade, mas engraçado. Louis é como um irmão pra mim, como se tivéssemos sido criados juntos desde sempre. Olho no relógio mais uma vez, mas ainda faltavam vinte minutos. Resolvo pegar meu celular e responder algumas fãs no twitter. Quando finalmente somos chamados, nos encaminham por um estreito corredor que dá direto na ala da mesa onde vamos sentar para distribuir os autógrafos. É a mesma gritaria de sempre. Algumas meninas choram, outras berram. É assustador às vezes, mas acho que tenho me acostumado com isso. Sentamos nas nossas respectivas cadeiras, fazemos a introdução de sempre, um rápido agradecimento, e começamos a assinar. Dou o melhor que posso, agradeço, sorrio, sou gentil. Até brinco de vez em quando. Iríamos ficar ali cerca de 40 minutos, era um bom tempo assinando. Depois de um tempo, as brincadeiras de Liam, que estava ao meu lado, acabaram me animando.

A fila finalmente tinha começado a diminuir. Dou uma rápida olhada para o final dela, me perguntando quantos autógrafos ainda faltavam, mas meu olhar congela um pouco antes. Ela era linda. A menina que chamou minha atenção. Seus cabelos eram de um tom suave de castanho, e desciam em ondas perfeitas até suas costas. Sua pele não era pálida e branca como as das outras tantas garotas daqui, era bronzeada, como se absorvesse um pouco de sol todos os dias. Como se houvesse realmente algum sol por aqui. Seu olhos... Não conseguia me desviar deles. Eles destacavam seu rosto, iluminando-o. Era de um tom caramelo que combinavam perfeitamente com as mechas de seu cabelo. Mas algo mais me chamava atenção nela. Algo no seu jeito. Ela não estava chorando, berrando, ou tirando fotos como todas as outras daqui. Na verdade, ela nem se quer se deu o trabalho de nos olhar. Não sei por quanto tempo fiquei encarando-a até que Liam me deu um chute por debaixo da mesa e pigarreou.

- Ah, me desculpe. – Falei, me dirigindo à menina que estava na minha frente, com um pôster da banda. Depois de assiná-lo e passá-lo para Liam, voltei meu olhar para a garota, só para ter certeza de que ela realmente estava ali. Não só estava como estava me encarando dessa vez. Rapidamente baixei meu olhar a tempo de ver o olhar de Liam indo de minha cara para a dela. Senti meu rosto ficando vermelho enquanto ele começava as piadas.

- Você não consegue se segurar mesmo não é? – Disse ele, rindo para mim. – Cada vez uma diferente. – Ele não parava de encará-la agora. – Até que dessa vez o seu apetite mudou Harry. Ela não é loira, e aparentemente também não é velha. – Disse ele, se segurando para não soltar uma gargalhada.

- Cala a boca. – Rosnei, voltando minha atenção para os autógrafos.

Ponto de vista de Helena:

Tudo bem, não era coisa da minha cabeça. Os dois primeiros meninos estavam me encarando, e isto estava me deixando nervosa. Não tanto o primeiro, que depois que comecei a encará-lo também, abaixou a cabeça e não me olhou novamente. Mas o garoto que estava do seu lado continuava me olhando e sustentando o meu olhar a todo tempo, enquanto ria e comentava alguma coisa com o primeiro. Mas que droga Helena, você podia ter pelo menos visto no computador o nome deles antes de vir para cá. E agora, como diabos você vai saber quem é Niall? “Você vai saber quem é. É o que tem o sorriso mais bonito.” Lembrei de minha irmã falando. Tudo bem, essa era fácil de responder. Apesar de não ter reparado muito em nenhum deles, encarei o suficiente o menino que estava me olhando para saber que ele tinha um sorriso lindo. Enquanto ele autografava vários e vários papéis ele me olhava, mas desviava rapidamente o olhar quando via que eu estava encarando-o, e sorria enquanto escrevia. Suas covinhas combinadas com suas bochechas corando faziam com que ele tivesse ainda mais a aparecia de uma criança. Mas definitivamente ele tinha o sorriso mais bonito. Provavelmente era esse o tal do Niall então.

Me distraí quando notei a presença das meninas da minha sala logo à minha frente, me encarando e cochichando a todo tempo. Ótimo, era só disso que eu precisava. Katie me olhava de cima em baixo enquanto ria com suas amiguinhas. Argh, como eu odeio essa menina. Em pensar que há menos de dois anos atrás eu era uma delas. Retardada, fútil e sem escrúpulos. Respirei fundo quando percebi que estava a um passo de pular no pescoço de uma delas e procurei me distrair com outras coisas. Antes que pudesse dar conta a fila já havia andado e havia somente uma mulher na minha frente. Assim que os meninos terminaram de autografar a camisa dela, um segurança fez um movimento com a mão, indicando para mim prosseguir. Andei com passos firmes em direção ao primeiro garoto. Quando ele levantou o rosto e seus olhos me encontraram ele ficou com uma expressão mais séria, porém não desviou o olhar nem por um segundo. Não sei por que, mais isso me incomodou. Senti meus batimentos acelerando e mentalmente me repreendi. Estiquei o braço e entregue-lhe o CD de Sarah.

- E então? – Perguntou ele, com a caneta na mão. – Qual o seu nome?

- Helena. – Respondi, no automático. – Mas na verdade esse CD não é meu. – Falei rapidamente antes dele começar a assinar. – É para minha irmã, Sarah. Ela não pôde vir porque ficou doente, então tive que vir no lugar dela. – Expliquei.

- Ah, tudo bem. – Disse ele, um pouco perplexo, e terminou de assinar. – Fale com ela que desejo melhoras.

- Obrigado – Disse, esticando meu braço para pegar o CD. Foi quando sua mão encostou na minha que eu lembrei do que Sarah havia me pedido. – Ah... - Comecei a dizer, enquanto pegava o papel dentro de minha jaqueta. – Isto é para você.

Por um momento pude jurar que seus olhos brilharam. Ele pegou o pequeno envelope e guardou, agradecendo-me. Segui em frente então, passando por todos os meninos. Somente quando cheguei ao último, o loiro, que fui prestar atenção na assinatura deles. Assim que ele terminou de escrever e me devolveu o CD, um segurança me apressou, acompanhando-me até a porta. Somente do lado de fora que pude ler o nome dele. Niall Horan. Tinha certeza que essa era a última assinatura. Droga. Além de tudo eu ainda entrego a carta de minha irmã ao garoto errado. Para quem será que eu entreguei então? Passei meus olhos por entre as assinaturas, tentando lembrar qual foi a do primeiro. “Melhoras. Com carinho, Harry.” Essa era a dele, com certeza. Foi o único que eu falei sobre Sarah estar doente. Harry era o seu nome então.