Passara uma semana desde o ocorrido. Minha vida estava uma porcaria, Alexandre fingia que eu não existia igual a Marcos.

– Alice, o que estou falando é serio. – disse meu chefe.

Nesse momento estava na sala do Ronald Horan, meu chefe, um grande advogado de nossa cidade. Sua barba loira estava aparada igual aos seus cabelos. Ele era um senhor de meia idade que na maioria das vezes ficava repousando-se em sua cadeira de balanço. Sua voz era grossa e engraçada.

– Eu sei senhor.

–Você é extremamente inteligente. Uma boa advogada... Não sei o que está acontecendo que do nada você despencou do pódio. Não consegue mais nenhum caso, falta para caramba. – ele me olhava por cima de seus óculos redondos. Ajeitou-se na cadeira e terminou a frase dizendo –Tem alguma coisa acontecendo, gostaria de falar sobre isso?

Fiz de não com a cabeça e pedi desculpas. Ele me deixou voltar para minha mesa dando tapinhas em meus ombros.

Ele saiu da sala, com um pequeno clic da porta. Não esperei, assim que o sonoro clic estalou coloquei meus cotovelos na mesa e segurei meu rosto. Suspirei. Eu não queria chorar, não queria mesmo. Não ali. Não agora. Horan tinha razão, eu não estava ganhando nenhum caso, tinha faltado quatro vezes apenas nessa última semana. O motivo? Não estava bem. Eu não menti. Eu não estava bem. Mais um suspiro. Me ajeitei na confortável cadeira e soltei meu rosto. Olhei para cima. O que estava acontecendo? O que havia acontecido ali?

O que havia acontecido nesses últimos tempos? Será verdade que por causa de uma única pessoa, minha vida despencou? Marcos... A última vez que eu o vi... Seus lábios tocando nos meus, suas mãos segurando minha nuca com toda a delicadeza, como se segurasse seu próprio mundo.

Não consegui segurar. As lágrimas caiam delicadamente, não tinha forças para conter. Sequei-as rapidamente, tentando esquecer a vontade de simplesmente acabar com tudo aquilo, todo o ódio, a dor. “Não. Pare de pensar nisso.” Gritava em minha mente, mas o pensamento de acabar com o sofrimento não parava.

Pastas caíram em minha frente, desligando-me por um instante do pensamento.

– Novos casos, Alice. – sussurrou Josh, meu colega de trabalho. Ele olhava freneticamente para os lados – Sr.Horan não pode saber que estou te ajudando... Mas boa sorte.

Ele sorriu para mim, antes de se virar e voltar a sua mesa. Devia agradecê-lo, mas fui analisar os casos.

‎-Entediante... Entediante. - falava enquanto passava os olhos nos casos. -Ninguém chama um advogado porque tropeçou no mercado...! - falei irritada, mas, ao mesmo tempo, pela primeira vez em bastante tempo-um tempo um tanto quanto triste- me divertindo.

–Acho que fico com esse. - disse para mim. - Josh! Vem cá!

–Alice?

–Escolhi um.

Ele sorriu.

–Ótimo. Qual?

–O do Sr. Grogan...

–Ah! Parece ser interessante?

–Não. Mas, é o “menos pior”.

Ele sorriu de novo, desta vez mais aberto. Ele tinha um lindo sorriso.

–O que está olhando Josh?

–Você.

E de repente, não mais que de repente Josh me deu um selinho. Delicado, sincero...

–Josh...?

–Quando... Quando ele deixar de ser uma opção... Eu estarei aqui... Ok?

–Quem sabe um dia, Josh, quem sabe um dia...

E deixei meu escritório.