QUEM SOU EU? COMO ASSIM ELE NÃO SABIA QUEM EU ERA?

–Ahn... Meu nome é Alice... Nós... Nós fomos... Namo... - me interrompi. Namorados? Não. -Fomos amigos desde crianças.

–Ah sim. Alice...

–Alice Calder.

–Calder...Certo. - e fechou os olhos para tentar se lembrar.

Ah. Ele ficava lindo com os olhos fechados. Eu queria... Queria que ele se lembrasse de mim e fosse meu de novo. Ah, como eu queria.

–Ah! Uma menina baixota, cabelos mel...? - ele falou com um sorriso.

–Sim, sim. - Ele não merecia méritos.Ele apenas me descreveu.

–Acho que lembro de você.

–Sério? - fiquei com esperanças.

–Sim... - disse ele com a voz rouca. Um passo mais perto de mim. -Fomos namorados por um tempo, não? - Agora ele realmente estava perto. Podia sentir sua respiração acima de meu rosto, podia sentir o cheiro de seus cabelos, morango.

–S-sim, nós... É. Nós fomos namorados por dois anos... Até... Até o acidente. -falei insegura.

–Ah sim.. O acidente. Vamos esquece-lo um pouco, sim? - falou segurando meu queixo e olhando nos meus olhos. Ah... Como eu havia sentido falta daqueles olhos verdes.

–OK... - e vendo que havia concordado e estava hipnotizada pelos seus lindos e brilhantes olhos verdes, me beijou.

Como eu tinha sentido falta daquele beijo, daqueles lábios! Suaves, delicados... Apaixonados. Não demorou muito para estarmos se beijando com paixão o que deve ter demorado alguns muitos minutos. Mas, foi uma voz conhecida que nos separou.

–Imaginei que estaria aqui. -disse Alexandre, com os braços cruzados sobre o peito, rosto sério, os seus grandes olhos dourados estavam me encarando, iam de meu rosto, para o de Marcos, confuso.

–Imaginei que estaria aqui. -Disse ele novamente. - Veio visitar seu "amigo" - ele enfatizou a palavra AMIGO com aspas no ar - não foi? Ah, estou vendo...

Simplesmente as palavras não saiam da minha boca. Olhava para Alexandre e Marcos do mesmo modo que Alex havia olhado alguns segundo antes para mim e Marcos. Marcos encarava Alexandre completamente atordoado, quando ele levou seu olhar para o meu, senti a dor e a interrogação que havia em sua mente. Queria apresentar Alexandre para ele, mas os únicos sons que saíram da minha boca foram mais ou menos esses:

– Am, eas é maid bodn.

Alex se apoiou a cômoda do seu lado e suspirou.

– Você não o esqueceu – foram as primeiras palavras que saíram da boca dele, palavras frias e doloridas. Ultimamente ele só tem falado isso.

–Podia ter me contado Alice. Doeria menos.

–Alexandre... – tentei dizer.

–Ele é seu namorado? – perguntou Marcos, quebrando seu silêncio. Tinha até me esquecido que ele estava ali.

– Ex-namorado. – murmurou Alexandre.

Virei-me para ele quase instantaneamente.

– Alice... É o certo. Desde que ele acordou – disse apontando Marcos com a cabeça, como se não suportasse falar seu nome. – Você mudou. Fiquem juntos, se amem. Mas não me convidem para o casamento.

Ele se virou e foi embora, me deixando sem alguma oportunidade de tentar rebater a situação. Mas ele estava certo, nunca amaria alguém como amei – ou melhor, amo – Marcos. Isso é verdade.‎

–Alice...

–Hã? - estava confusa. Quer dizer, em menos de cinco minutos havia estragado um relacionamento de seis anos. O maior que havia tido até então.

–Alice... -Marcos chamou novamente.

–Eu. Meu nome! Diga. - respondi FINALMENTE saindo de transe e falando todas as respostas possíveis.

–Desculpe... A culpa foi minha. EU te beijei.

–Mas... Eu retribui.

–Não interessa o que você fez. A culpa é minha. Fim da história.

Eu suspirei.

–Mas... - comecei a ensaiar um protesto, mas, ele me cortou.

–Alice... Acho melhor você ir embora.

Ele estava certo.

–Ok. - disse simplesmente. Ele puxou meu braço, para se despedir e me surpreendendo, me abraçou, lágrimas escorrendo dos olhos.

–Eu queria que você fosse minha de novo. Que esse cara não existisse, que... Que ainda fossemos namorados. - ele fungou. - Mas... Agora vai. - disse, ainda triste me expulsando do quarto tão bem arrumado. Assim que coloquei os pés fora, Marcos fechou a porta do quarto.

Eu precisava ir para a casa. Precisava mesmo.

Então, dando adeus ao quarto do Marcos, sai da casa, sem nem me despedir do pai de meu ex-namorado. "Ex-ex-namorado. Alex terminou com você, lembra?" me corrigi.

Sim, eu lembrava. Infelizmente eu lembrava. eu lembrava dos dias em que Marcos esteve em coma, lembrava do dia em que havia saido correndo do trabalho, apenas para ve-lo, lembrava do dia em que Alex me pediu em namoro... E lembrava de como o Alex tinha falado comigo. Até com desprezo...

Eu lembrava, infelizmente eu lembrava, lembrava de tudo, mesmo quando tudo que eu queria era esquecer. Esquecer meu nome, minha idade, minha profissão. Esquecer o nome dos meus dois amados, esquecer até onde ficava minha casa. Queria esquecer.