As Cem Melhores Historias Da Mitologia escrita por Allan


Capítulo 48
Belerofonte e Pégaso




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/227690/chapter/48

Ninguém cavalgou Pégaso com mais virilidade e destreza do que Belerofonte, um jovem e

valente guerreiro que ousou enfrentar com ele uma temível criatura chamada Quimera.

Tendo vivido durante algum tempo sob a proteção do rei Proeto, Belerofonte acabou por

se envolver involuntariamente com a esposa deste, a bela e sedutora Antéia.

— Belo jovem, deixe-me amá-lo — dizia a toda hora a insistente rainha. Belerofonte, no

entanto, temendo um atrito com o rei, fugia o tempo todo.

Antéia, vendo que suas investidas não davam em nada, decidiu punir o seu objeto de

desejo.

— Pagará caro por me rejeitar — disse a rainha, um dia, farta de se oferecer em vão.

E tratou de intrigar o jovem com seu desavisado esposo:

— Proeto, querido, esse rapaz é muito abusado...

— Abusado? O que está dizendo, querida? — disse o rei, intrigado.

— Esse insolente não tem feito outra coisa desde que chegou ao nosso reino senão me

cercar com propostas indecentes — disse a rainha, fingindo indignação.

O rei, sentindo-se ultrajado com tamanha afronta, decidiu enviar o ex-protegido à corte

de seu sogro, na Lídia. Junto, remeteu uma carta, na qual pedia que ele se encarregasse de dar um

fim a Belerofonte.

Lobates — tal era o nome do rei da Lídia -, a princípio, ficou aborrecido ao receber a

incumbência. "Por Júpiter! Genros só trazem problemas!", resmungou, e foi receber o jovem

visitante com mostras de simpatia.

Durante muito tempo Lobates imaginou um meio de acabar com Belerofonte sem que

isso acarretasse problemas para si, até que um dia chegou a notícia de que a Quimera — um

monstro terrível que assolava seu reino — havia feito mais uma vítima.

— É isto! — exclamou o monarca, dando uma palmada na testa e mandando chamar

imediatamente o rapaz.

— Belerofonte, somente você, montado em seu cavalo alado, poderá fazer frente à

horrível criatura que vem há tanto tempo aterrorizando o meu reino! -disse ao herói.

— Mas que monstro é este que vocês chamam de Quimera?

— É uma besta que expele chamas pela boca e pelo nariz. Seu corpo é uma mistura

grotesca de vários seres: tem cabeça de leão, corpo de cabra e sua parte posterior é em tudo

idêntica à de um dragão.

Belerofonte — que ficara mais intrigado do que assustado com a descrição da estranha

criatura — dispôs-se imediatamente a partir com seu cavalo alado, a fim de retribuir a acolhida

que tivera do rei.

Na ampla estrebaria do palácio estava acomodado Pégaso, o cavalo que Belerofonte havia

domado graças ao freio dourado que Minerva lhe havia dado durante um sonho. Ao enxergar o

dono por entre as frestas da madeira, o animal começou a relinchar suave e melodicamente,

muito diferente dos outros cavalos.

Tão logo Pégaso viu-se livre de sua prisão temporária, começou a voar em círculos em

torno de Belerofonte, que tentava inutilmente lhe alcançar as rédeas douradas.

— Por favor, Pégaso, deixe de brincadeiras!

O cavalo, descendo das nuvens, foi pousar aos pés do herói, curvando docilmente a

cabeça, enquanto Belerofonte, num salto ágil, montou sobre o seu dorso.

— Vamos embora, pois temos uma missão a cumprir! — disse o cavaleiro, afrouxando as

rédeas do maravilhoso cavalo, que se lançou ao espaço num galope veloz.

Belerofonte cruzou os céus, sentindo um pouco do prazer que um dia também sentira,

ainda que de maneira diferente e fugaz, o infeliz Ícaro das asas de cera.

O herói estava entregue aos seus pensamentos quando divisou, afinal, a temível fera, que

o observava expelindo fogo pela boca. Cercada por montanhas, a Quimera escalou rapidamente a

encosta de uma delas; Pégaso, abrindo bem as asas, voejava em torno da presa, na tentativa de

torná-la um alvo fácil para os dardos afiados de Belerofonte. Mas a fera sumiu, abruptamente,

ocultando-se numa das inúmeras grutas.

— Se tiver de procurá-la de caverna em caverna, estarei bem arranjado -exclamou o

guerreiro, aborrecido.

O cavalo alado pousou sobre o solo acidentado. Grandes pedras espalhadas por todo o

lado dificultavam os passos do animal.

— Pégaso, fique aqui, enquanto vou verificar — disse Belerofonte ao animal.

Desmontando, Belerofonte entrou numa das grutas. De dentro escapava-se um calor suspeito,

que fazia crer que a fera houvesse buscado ali um refúgio. Enquanto o herói avançava cada vez

mais para dentro da caverna, escutou um relincho agudo de seu cavalo.

— Silêncio, Pégaso, não me tire a concentração! — disse Belerofonte, fazendo um gesto

com a mão, sem voltar os olhos para o cavalo.

Pégaso, no entanto, prosseguia no seu relincho de alerta, pois de outra entrada lateral o

monstro seguia os passos do destemido guerreiro.

Erguendo vôo, o cavalo alado veio pelas costas da Quimera e a acertou com um golpe

dos cascos, lançando-a ao chão e despertando a atenção do seu dono.

— Obrigado, Pégaso — disse Belerofonte, mirando a seta bem em direção ao coração do

monstro abatido, que se rojava no pó, lançando jatos de fogo em todas as direções.

Alguns instantes após haver disparado o mortífero dardo, Belerofonte teve o prazer de

ver a temida Quimera estirar as pernas no último espasmo que precedeu sua morte.

— Vencemos!

Após derrotar o flagelo do reino, Belerofonte e Pégaso retornaram para a corte. O rei

Lobates, vendo que nada conseguira ao expor o visitante à mais terrível das feras, resolveu

envolvê-lo numa guerra com as amazonas, na vã esperança de ver sua ruína.

Apesar de toda a fúria e combatividade das cavaleiras, não foram elas páreo, tampouco,

para a força e a coragem do herói grego, que as derrotou sem maiores dificuldades. O rei, então,

vendo que seus artifícios jamais poriam fim à vida do herói — e agradado já, a esta altura, do

valor do guerreiro —, decidiu fazer dele o marido de sua filha.

— Meu genro que se dane... — disse ele à sua esposa, que estava, também, encantada

com as qualidades de Belerofonte.

— Ele é realmente fantástico! — concordou ela, num enlevo.

A princesa Filonoé, perfeitamente de acordo com a idéia, pediu logo a seu pai que

marcasse para o mais breve possível a data do seu casamento. Belerofonte e sua nova esposa

viveram felizes durante algum tempo, até que o herói, sentindo-se envaidecido com tamanhos

triunfos, acabou por cair no erro fatal da soberba.

Tomando um dia as rédeas de seu cavalo alado, disse baixinho ao ouvido do seu cavalo de

estimação:

— Venha, vamos conhecer a morada dos deuses!

Pégaso, diante da ordem, pela primeira vez na vida refugou; suas asas permaneciam

comprimidas enquanto seus dentes mastigavam relutantemente o freio.

— Vamos, garoto, o que foi?

O cavalo, a contragosto, distendeu as asas e lançou-se ao espaço. Belerofonte, montado

em seu dorso, não via a hora de ver-se entre os deuses — pois ele próprio já se considerava um

deles. "Por que razão não terei direito também à imortalidade, como tantos outros heróis?",

pensava, enquanto as nuvens rasgavam-se diante de seus olhos.

Passando muito além do sol, Belerofonte começou a divisar uma luz muito mais

ofuscante que a do poderoso astro.

— Estamos chegando, Pégaso!

Júpiter, porém, sabedor da audácia do herói de invadir os seus domínios, já havia tomado

providências. Metamorfoseando-se numa mosca, começou a atormentar Pégaso, picando seus

flancos sem descanso, até que ele começou a corcovear, derrubando, por fim, Belerofonte.

O herói escapou milagrosamente da morte, mas acabou tornando-se coxo e miserável,

vivendo como um mendigo o resto da sua vida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Cem Melhores Historias Da Mitologia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.