Fantasiverden escrita por Lirium-chan


Capítulo 5
Hukommelse


Notas iniciais do capítulo

Hello.
Eu sinto muito pela demora. Foi metade bloqueio, metade preguiça. Nos primeiros dias eu escrevia um pouquinho, e depois saia. Por causa do clima eufórico de férias, por parte dos meus amigos, porque eu não gosto de sol e prefiro me enfurnar no quarto. E depois, quando tinha tempo, eu escrevia um bocado, depois não gostava e apagava tudo. Felizmente hoje eu acordei de bom-humor e cantei com os pássaros (só se for do meio-dia) e vim escrever drama -q
Ah, muito obrigada quem acompanha e manda reviews, vocês me motivam á continuar, suas lindas♥ (ou seus lindos, sei lá se tem algum garoto fantasma aí-q)
A palavra "Hukommelse" significa "memória" em norueguês. Como sempre, segundo google tradutor -q
Enfim, sem mais delongas,aproveitem o capítulo. Nos encontramos nas notas finais.



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Na noite anterior ao acidente, houve o sinal. Era quase como se ele soubesse, de alguma forma, o que estava prestes a acontecer. Lukas abriu os olhos vagarosamente e os sentiu queimar de sono. O frio era expressivo e ele só queria se encolher mais em suas cobertas e voltar a dormir pesadamente, como estava fazendo antes. Mas os gemidos angustiantes vindos da cama ao lado não deixariam fazê-lo. Levantou da sua própria cama com sacrifício, pisando vagarosamente até a outra cama. Estava escuro, ele semicerrou os olhos para perceber, muito vagamente, um corpo magricela encolhido debaixo do cobertor; choramingando, parecia estar sentado. Cena um pouco estranha para se encontrar um adolescente. Lukas empurrou de leve o que imaginou ser o ombro do seu “irmão”. Silêncio.

– Hey... – Ele esfregou um dos olhos, sonolento – Você está tendo um pesadelo sentado ou o que?

Embora nem seu tom ou suas palavras sugerissem tal coisa, Lukas verdadeiramente se preocupava com seu irmão. A cena lhe trazia memórias ruins. Quando menor, ele às vezes acordava no meio da noite e encontrava o irmão chorando, enrolado nos cobertores. Saudades de casa, na Islândia.

– Eu não sei. – Emil admitiu, se revelando por debaixo dos cobertores e olhando para o mais velho – Estou com um mau-pressentimento. Como se algo ruim fosse acontecer em breve... Tenho isso de vez em quando. Desculpe se te acordei.

– Você mais parecia estar sofrendo de alguma desilusão amorosa. – Lukas observou, cruzando os braços e completou a própria fala – Da forma que estava fazendo barulho.

O menor apertou os dedos no tecido do cobertor, olhando para a gaiola aonde seu papagaio-do-mar dormia ruidosamente. Soltou um suspiro cansado.

– Estou bem. De verdade. Pode voltar a dormir... – Ele disse, se apressando em murmurar – se quiser, claro.

Lukas sabia que o irmão não estava nada bem. E que não, não poderia voltar a dormir enquanto a questão não fosse resolvida. Ele bem conhecia o sentimento de não dormir por más impressões; assombrações, por assim dizer. Acendeu o abajur entre as duas camas. Fez um gesto indicando para que o irmão lhe desse espaço, se sentando ao lado dele no leito e o olhando seriamente por longos segundos. Ele então pressionou a polegar contra a testa do mais novo, fazendo com que Emil ficasse vesgo na tentativa de fitar o dedo em sua testa. Tirou o dedo e ficou admirando sua obra-prima: Uma manchinha vermelha na testa branca do garoto.

– O que foi isso? – O islandês cobriu a testa com a franja, subitamente se sentindo estúpido por ter tido tanto interesse nas ações sem sentido do irmão – Você faz coisas estranhas, Lukas.

– Foi um feitiço – O loiro garantiu, ele tinha uma expressão tão segura que parecia impossível discordar. – Você agora pode agora dormir em silêncio. De nada.

Emil queria protestar. Dizer que aquilo não era feitiço porcaria nenhuma e que ele só havia apertado o dedo contra a sua cabeça até fazer uma marca, como se ele fosse uma criança burra e coisas do gênero. Não falou nenhuma dessas coisas, permanecendo em silêncio enquanto assistia Lukas se distanciar e retornar aos braços de Morfeu. O islandês sentiu as pálpebras pesarem, se virando e caindo no sono imediatamente. Ele dormia serenamente. Talvez tenha sido um pouco de mágica afinal.

No dia seguinte, ninguém falou nada á respeito da noite anterior. E, mesmo assim, Emil ainda se sentia levemente angustiado. O céu era cinzento, como de costume, a cor de gris se espalhava pelo teto melancólico da Noruega. O frio parecia envolver a todos e causar aquela sensação de estar longe demais de alguém, provocando o desejo de se aproximar das pessoas. A neve caia gentilmente e o dia daria adeus por muito tempo, era novembro e as intermináveis noites de inverno chegariam para ficar. O norueguês acariciava uma enorme pedra fria e coberta de neve, sob o olhar curioso do irmão menor. Emil se perguntava o motivo de seu irmão ter parado a “exploração” da floresta para admirar uma rocha que havia brotado entre os pinheiros inesperadamente.

– Você sabe o que é isso? – O mais velho se virou, recebendo uma resposta negativa. – É um troll descuidado, sabe. Eles se transformam em rochas se ficarem muito expostos aos raios de luz.

– Isso não é só um mito? – Lukas negou com a cabeça. – Ora, então se é assim, acho que eles não ficam brincando abertamente por aí, em junho e julho principalmente.

– Eles não ficam. Essa é uma rocha antiga, vê? – O loiro deu algumas batidinhas gentis na pedra, como se não quisesse incomodar o troll e aquilo fosse capaz de provar a idade da pedra. – Os mais astutos aprenderam com os erros dos antepassados, e agora eles vivem longe da luz.

– Deve ser chato.

– Nem tanto. Todos sabem que os trolls chamam crianças para brincar com eles nas sombras, então acredito que eles tenham sua dose de diversão. Eu já fui convidado por um, quando era pequeno, mas infelizmente pappa não me deixou ir.

– Ah.

Emil não conseguiu dizer nada mais. Nunca levava a sério quando escutava o irmão falar sobre mitologia local ou magia. Mas às vezes isso o assustava um pouco, mesmo que não admitisse. Naquela hora, ele estava mais preocupado em encontrar um jeito de dizer, polidamente, para o seu irmão que ele não deveria, em hipótese alguma, aceitar o convite de seja-lá-quem-for para brincar nas sombras.

– Bem... – Ele deu uma última olhada na rocha, espalmando as mãos no casaco. – Acho melhor irmos em frente, já estamos quase chegando ao lago.

O menor assentiu silenciosamente. Não se falaram muito durante o caminho, como era de praxe. Às vezes Emil soltava algum comentário, ao que Lukas apenas fazia um gesto confirmando e vice-versa.

– Será que tudo bem vir aqui sem o faðir? Quero dizer, o deixamos armando a barraca.

Ele fez uma careta quando percebeu que havia deixado escapar a palavra em islandês, tentava evitar usar a língua mãe pela questão da pronúncia complicada e do sotaque carregado. O norueguês fingiu não notar seu desconforto.

– Está tudo bem – Respondeu o mais velho. – Oferecemos nossa ajuda, mas não há o que fazer se o orgulho faz com que ele queira montar tudo sozinho.

– Tenho a impressão de que ele não vai conseguir armá-la e vamos ter que voltar para casa ás pressas depois que escurecer. De novo.

– É provável... Chegamos.

Ele anunciou, e logo se viram na beira de um lago. Mas como era inverno, estava congelado. Era amplo e estava parcialmente coberto de neve, em certos pontos não se poderia distinguir o lago do chão. Não havia ninguém ali, e Lukas sentiu-se a vontade para sentar na neve, afastado do lago. Emil se juntou a ele silenciosamente e os dois passaram a olhar para aquela fina camada de gelo sem motivo aparente, como se suas mentes estivessem em outro tempo, em outro lugar. Ali, olhando para o lago, o menor voltou a ter a sensação ruim. Tentou fazer com que sua mente voltasse para os pensamentos distantes.

– Por que você não me chama de irmão?

O outro se surpreendeu, fitando o maior na tentativa de ler sua expressão. Mas ele não estava transparecendo emoção nenhuma, assim como sua voz. Podia estar parecendo não sentir nada em relação ao assunto, mas Emil sabia que no fundo era um tópico importante, e delicado, para ele.

– Você vai começar com isso de novo, não é? – Voltou o olhar para sua frente, visualizando um ponto qualquer entre as árvores do outro lado. – Eu simplesmente não me sinto confortável fazendo isso... É embaraçoso. Eu reconheço que você é meu irmão. Isso é o suficiente. Você vir com esse tipo de atitude não vai consertar nada, Lukas.

– Essa é sua forme de me chamar de arrogante? – O mais velho deixou a pergunta pairar por algum tempo. – Eu só acho que isso nos faria agir mais como uma família.

Emil voltou a olhá-lo, dessa vez franzindo o cenho em pura irritação.

– Nós nunca seriamos conectados como uma família de verdade. Por mais que eu seja seu irmão biologicamente falando, não tem como criar laços assim, depois de tanto tempo afastados.

– Mas isso é apenas porque mor foi embora e te levou junto com ela.

– Ela não sabia que estava grávida. – Emil desviou o olhar - A culpa não é dela!

– Não estou colocando a culpa em ninguém.

Lukas respondeu, embora quisesse acrescentar que ela poderia ter avisado que estava grávida antes de voltar para a Islândia. Mesmo que tivesse seus motivos, sua mãe havia deixado o marido sem o conhecimento de um filho. Ainda teve a coragem de registrá-lo como prole de outro homem. Por isso era chamado Emil Steilsson. Emil não quis abrir mão do sobrenome mesmo depois de descoberta a verdade. Nunca iria entender.

– Mas foi o que pareceu.

O mais novo se levantou, ainda sem olhar o irmão nos olhos. Iria voltar para o carro, na melhor das hipóteses o pai já teria desistido de armar a barraca e iriam voltar para casa. Ia virar de costas quando notou algo diferente na paisagem, semicerrou os olhos para enxergar melhor, percebendo uma figura familiar.

– Mr. Puffin? – Ele se perguntou, incrédulo. O pássaro estava, de fato, andando calmamente sobre o lago congelado. – Mas eu pensei que havia o mandado ficar com nosso pai.... esse pássaro idiota!

O islandês começou a gritar. Exigindo que o papagaio-do-mar voltasse imediatamente e o chamando insistentemente, ao que o pássaro respondeu com vários insultos. Francamente, o dono se perguntava aonde ele aprendera aquele palavreado. Pelo visto não iria obedecê-lo. Ele suspirou, pisando com o pé esquerdo na neve em cima da camada de gelo. Precisava ir buscar aquela criatura mal-educada de qualquer jeito.

– Para onde você pensa que vai? Eu acho você pode cair, é perigoso.

“Escute o Senhor Sarcasmo!” Ouviu-se Mr. Puffin zombar, balançando as asas como uma ameaça. Emil estava perdendo a paciência.

– Não se preocupe, eu estou acostumado com isso. – Ele assegurou, apesar do tom incerto. – Só vou lá pegá-lo de volta... E talvez depenar um pouco as asas dele.

Lukas não tirou os olhos do irmão, com a expressão fechada. O máximo que podia acontecer seria que aqueles dois não conseguissem sair sozinhos, então ele teria que ir resgatá-los. Emil pisava vagarosamente, e já tinha avançado alguns passos quando vacilou um pouco, precisando se agachar para manter o equilíbrio. O islandês olhou para frente. E agora, parado ali no centro do lago, o seu mascote parecia mais afastado do que nunca. Só que também não poderia desistir. Andou mais uns vinte passos, fitando o chão meticulosamente, evitar as rachaduras era crucial, por menores que fossem. Ele tropeçou e, por instinto, se segurou no gelo com a palma das mãos – e, mesmo com as luvas, ele pode senti-las arder. Abafou um gemido de dor. Tudo estava bem, na medida do possível - Era o que precisava manter em sua cabeça. Naquela altura, até mesmo Mr. Puffin parecia preocupado, se aproximando dele o mais rápido que podia com seus passinhos pequenos.

Lukas tentou ir até eles também, irrequieto, se aproximando vacilante atrás do irmão. “Tão perto!” Pensou, visualizando as costas dele. O norueguês assistiu o outro tentar se por de pé da melhor forma que podia, e avistar o pássaro se aproximando. Emil deu alguns poucos passos em direção ao papagaio-do-mar, desatento e provavelmente agradecido por ele estar tão próximo agora. Ninguém percebeu a enorme rachadura no gelo, ninguém percebeu quando Emil pisou exatamente no meio dela. O islandês sentiu o gelo quebrar sob seus pés e seu corpo afundou. Ele foi engolido pela água gelada em um grito mudo de terror. Lukas estagnou, em choque. Ele murmurou o nome do irmão, suas mãos começaram a tremer. Percebeu que precisava fazer alguma coisa, aquilo era fatal. Ele correu aos tropeços até onde vira o irmão ser dragado, sem nem ao menos se preocupar com qualquer fenda ou o perigo de sofrer o mesmo destino de Emil.

Alcançou a cratera irregular, notando, com pavor, que o gelo tampava a saída majoritariamente, e o garoto não conseguiria voltar sozinho. Percebeu o a bruxuleante imagem do irmão espancando violentamente o gelo, em completo desespero pelo frio absurdo e falta de oxigênio. Ele lembrava vagamente de ter gritado, desesperado, tentando mover a passagem para o irmão. Uma pequena parte do seu cérebro se concentrava em se amaldiçoar, porque ele podia ter impedido. Foi estúpido ao ponto de deixar Emil pisar ali de forma tão desleixada, como se fosse a coisa mais comum do mundo e como se não houvesse nenhum perigo. Aquilo era uma armadilha mortal. Sempre se esquecia como o irmão podia ser cabeça de vento ás vezes, e isso até mesmo valia para si. Não sabia quantos segundos, minutos, horas ou séculos haviam se passado até que finalmente conseguiu abrir a fenda novamente, isso porque o irmão havia deixado de empurrar de volta com seus murros desesperados.

Pescou a mão de Emil, sentindo o braço quase paralisar com o frio. O garoto submergiu. Ele ainda respirava, mas muito rapído, seu corpo tremia compulsivamente e ele tinha múltiplos arrepios. Parecia lutar para deixar os olhos violetas abertos. A pele estava tão mais pálida que Lukas sentia a garganta apertar e os lábios dele estavam azuis. O islandês ficou encharcado dos pés a cabeça e murmurava coisas completamente incompreensíveis. A respiração começou a cessar, assim como os arrepios. Lukas sabia o que fazer em um caso de hiportemia, mas não via como cumprir com as medidas de primeiros socorros. Ele passou a mão pelos ombros do irmão com cuidado, estremecendo um pouco com a temperatura baixa, erguendo-o e implorando para que ficasse acordado. Checou o pulso do outro, percebendo que o ritmo diminuía perigosamente. Os órgãos vitais falhariam em breve se ele não conseguisse chegar em um hospital, e rápido. Mas só o pai deles estava á vários metros de distância, tentando montar uma barraca estúpida.

Ele tentou arrastar o irmão para fora daquela armadilha congelada, sendo seguido pelo pássaro mais atônito e aterrorizado que já vira em sua vida – apesar de que não devia estar diferente da ave. Ele ofegou, vendo a sua respiração evaporar no ar e finalmente alcançando o chão firme e seguro, pisando na neve. Emil arquejou longamente, fazendo com o que mais velho parasse e apertasse os olhos em dor. Não podia ser. O garoto finalmente cedeu a vontade dos olhos, fechando os orbes violeta lentamente. Lukas caiu sob os joelhos, ainda segurando o irmão em seu abraço desajeitado. O comprimiu contra si mesmo, numa tentativa desesperada, e ineficaz, de fazer com que a temperatura de seu corpo subisse. Sentiu o coração falhando gradativamente. Emil gaguejou suas últimas palavras, inconscientes e soltas, antes de puxar os cantos dos lábios azulados, esboçando um sorriso. E então ele partiu. E Lukas berrou, um grito seco, de angústia e tormento. O norueguês deitou o irmão no chão, pressionando violentas pancadas no peito do menor, criando intervalos para instituir uma respiração boca-boca e depois voltando a espancar seu peito com vigor. E continuou berrando. Longos minutos depois o pai apareceu por entre as árvores, tropeçando nos próprios pés e correndo para os filhos, tirando o mais novo dos braços do mais velho e o agitando desesperadamente, como se aquilo fosse capaz acordá-lo de um sono muito profundo. E, quando ele não acordou e o homem caiu choroso e derrotado, mesmo assim Lukas não parou de gritar. E no fundo, ele nunca mais parou de gritar.

“Quando... te ver... do outro lado... como uma família... vou te chamar...irmãozinho”.


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Notas finais do capítulo

Glossário:
faðir= Pai, em islandês.
mor= Mãe, em norueguês.
(duas palavras que vocês com certeza deduziram, mas ok)
Como vocês podem ver, e eu avisei no capítulo passado(não sei se todo mundo leu -q), esse capítulo foi todo um grande flashback sobre a morte do Emil. Eu espero que não tenha sido um fail total. Tem coisas sobre o passado dos irmãos aí que ainda serão reveladas ao longo da fic ;)
Então, pra quem gosta de sempre fangirlar sobre o Mathias (sim, Srta. Poteto, estou falando com você) infelizmente ele não aparece aqui, mas capítulo que vem tem bastante do nosso querido Den.
Não se esqueçam de me avisar qualquer errinho, porque, de boas, eu sou meio avoada quando á isso.
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