Minhas mãos tremiam e suavam frio diante da situação.

Examinar Bella.

Eu fazia isso todos os dias, examinava pessoas a todo tempo, mas agora era diferente.

Era Ela.

Forcei-me a não pensar demais na situação, e refletindo o quanto seu abandono havia me feito sofrer, assumi uma postura fria e iniciei o processo evitando seus olhos.

–Preciso que se levante. - disse e observei seu corpo tencionar perante a ordem.

–Eu prometi a Nessie que a examinaria, então facilite o meu trabalho, tire essa manta e se levante! - ordenei áspero.

Não fraquejaria mais. Eu tinha o meu orgulho ferido e a faria pagar por ter me iludido.

Ela levantou-se devagar, tirando a manta e eu observei em choque seu corpo. O corpo em que tantas vezes havia me afogado em prazer, só me fazia sentir repulsa no momento. Me recordava no que ela havia se tornado.

Uma prostituta barata.

Seu pequeno corpo estava decorado com manchas azuis, quase roxas. Hematomas gigantescos cobriam sua pele. Marcas de mordidas. Arranhões. Um corpo mutilado, que levava as marcas de tantos homens.

Senti pena, e desprezo...

Toquei seu braço me escandalizando com a corrente elétrica que transpassou meu corpo. A mesma vibração.

Meu corpo agradecendo o contato, mas minha razão se recusando á sentir coisa alguma. Naquele momento senti verdadeiramente a batalha interna que criava dentro de mim. Apesar do meu ódio, meu corpo não a havia esquecido e por isso implorava por mais contato. Lutando bravamente prossegui na inspeção.

Me preparei para a ordem a seguir.

–Preciso que retire a blusa para examinar os outros.

Ela levantou timidamente a blusa revelando uma pele desconhecida. Aquela não era a Bella. Eu olhava sem realmente ver a monstruosidade que ela sofrera. Consequências de ser uma prostituta.

O sutiã rosa de aspecto infantil em nada diminua a sensualidade dos seios pequenos, mas perfeitos. Meu cérebro disponibilizou imagens de um tempo em que eu adorava os mesmos.

Um tempo que jamais voltaria.

Mais mordidas. Mais hematomas. Meu estômago parecia se deslocar do meu abdômen em uma tentativa vã de sair.

Meus olhos não conseguiam acreditar no que estava vendo.

Bella passava as pequenas mãos nervosamente pelos cabelos e olhava para longe de mim, nunca encontrando meus olhos. Eu estava agradecido por isso.

Ela virou-se de costas retirando o cabelo do caminho.

A visão de suas costas seminuas mesmo cheias de marcas turvou meus olhos. Eu sentia vontade de chorar. Seu cheiro ainda me atingia com a mesma força de antes. Eu era verdadeiramente um fraco, por deixar essa mulher dominar meus sentidos.

Terminei o exame prometendo mandar no dia seguinte uma pomada pra aliviar as dores musculares e ajudar a desaparecer todo aquele horror.

–Fique em repouso alguns dias, vai ajudar. -ordenei.

–Repouso? Mas eu não posso... Preciso trabalhar... - contestou.

–Isso não é trabalho. Dê um jeito. -retruquei indo em direção ao quarto em que Nessie estava pra me despedir. Ela já havia adormecido.

A Sra. Agnes passava as mãos suavemente no seu cabelo marrom, ninando-a.

–Vim me despedir de Nessie - disse sorrindo suavemente

Depositei um beijo cálido na testinha dela e me despedi da Sra. Agnes, mas parei ao ouvi-la.

–Não faça isso com ela. Ela não merece.

–O que?

–Ela nunca me disse quem era, mas agora eu sei que é você... Ela sofreu demais nessa vida, e não merece seu ódio ou desprezo. Ela te ama. -disse duramente.

–Ela não merece nada de mim. A senhora não sabe de nada. Fui eu que sofri! E ela nunca me amou. -sibilei furiosamente.

–Sou velha, mas não cega Edward. Eu vi o clima intenso da sala e aquilo tudo não era ódio.

–Eu nunca amaria uma prostituta.

–Ela não escolheu essa vida, foi forçada. Já parou pra pensar nisso?

–Eu não penso nada. - disse alcançando a porta rumo á saída.

Eu precisava sair dali. Aquela conversa estava me sufocando!

Antes de alcançar a porta a ouvi.

–Edward espere...

Aquela maldita voz! Que atormentava a minha vida desde que a ouvi pela primeira vez. A voz que me trouxe alegria, mas também é a quem tem sido a fonte de meus pesadelos. Era como uma erva daninha que se infiltrava dentro de mim, impossibilitando-me de viver.

Sim! Bella, era essa erva.

Forte.

Mortífera.

Virei-me e olhei em seu rosto encontrando seus olhos pela primeira vez desde que cheguei.

Olhos que expressavam medo, talvez? Apreensão, amor... Amor? Não! Minha mente tentava me pregar peças, mas eu não seria enganado outra vez!

–O que você quer?

Seus olhos arregalaram-se perante minha aspereza.

–Eu só queria agradecer por ter cuidado de Nessie quando ela teve febre, eu...

–É o meu trabalho e eu gosto muito da sua filha. Não precisa me agradecer de nada. - cortei-a

–Como você está? E sua família?-indagou baixinho.

–Eu estou bem e minha família também.

–Quando vê-los de novo pode mandar um beijo por mim? Sinto falta deles...

–Não.

–O que?

–Não quero uma prostituta em contato com minha família. E se você ama tanto Nessie como diz, poupe-a de constrangimentos futuros e saia dessa vida. - disse indo em direção a porta. Embora daquela casa.

Mas não pude evitar de ver as lágrimas de Bella assim que entrei no carro.

A ferida aberta latejava.

Faltava-me ar.

Achei que iria morrer.

Parti aquela noite sentindo deixar um pedaço de mim para trás.

Mas eu não voltaria pra pegá-lo.

XXX

Dias. Dias. E mais dias.

Horas intermináveis pensando nela.

Eu me sentia cada vez mais frustrado por não consegui-la tirar de meu pensamento. Passava horas remoendo a imagem de seu corpo mutilado e fervia de ódio. Como eu pude algum dia amá-la?

Mas eu não a deixaria impune. Eu me vingaria. A faria sofrer todo o inferno que eu passei quando ela me deixou sem nem ao menos dizer o porque.

Minha mente traçava idéias.

Eu pensava nela com ódio, mas também com desejo. A falta de uma mulher manifestou-se forte após eu vê-la. Mesmo toda machucada ela ainda continuava excitante. O rosto inocente em conjunto ao corpo pequeno de curvas delirantes, ainda me deixava fervendo.

Levantei-me decidido e com o corpo em expectativa.

Eu me vingaria.

A vingança não era o caminho correto para sanar minha dor, mas seria para o meu orgulho ferido.

Eu sabia que estava correndo o risco de sair ainda mais ferido.

Mas nada me importava no momento.

Somente a vontade insana de vingança me conduzia ao meu destino aquela noite.

XXX

Observei o lugar e as pessoas enquanto entrava. Escuro, apertado e barulhento. Uma camada branca de fumaça pairava no ar. Cheiro forte. Álcool, drogas.

Homens. Muitos homens. Bêbados, drogados, falidos... Insatisfeitos. De todo o tipo.

As garotas que dançavam sensualmente eram apenas meninas. Lascivas. Libidinosas. Um negócio ilegal, mas lucrativo.

Parei no balcão enquanto observava uma morena de cabelos cor de mogno que dançava e era aplaudida ferozmente. Os homens estavam malucos. Batiam os copos de bebida na mesa, gargalhavam estrondosamente gritando palavras obscenas. Ela os agradava.

Após o show a segui rumo ao quarto escolhido. Eu havia acabado de pagar por uma noite de prazer com ela, e já me sentia excitado. Entrei atrás dela trancando a porta.

–Edward? O que faz aqui?- Bella perguntou confusa.

–Paguei por uma noite.

–O que?

–Está surda ou o que? Eu disse que paguei por uma noite. Vamos! Tire a roupa e me satisfaça. - Ordenei impaciente.

–Não pode estar falando sério... Edward eu não...

–Você vai ou reclamarei com o dono da casa, e tenho certeza que isso não será bom pra você. -ameacei-a

Bella tinha os olhos carregados de maquiagem, mas úmidos. As mãos tremiam em frente ao corpo.

Um lampejo de compaixão me atingiu, mas afastei-o. Não deveria ser difícil para ela.

Ela era prostituta afinal. Eu estava louco, mas precisava disso. Eu usaria seu corpo assim como ela havia usado meu coração. Pagaria na mesma moeda. Não me deixaria levar por sentimentos, mas sim pelo desejo. Eu a desejava insanamente. Eu a queria.

Agora.

Aproximei-me dela enlaçando sua cintura sentindo todo o pequeno corpo colado ao meu.

No mesmo instante me senti sufocado pelas lembranças de nosso tempo juntos.

Nossos momentos.

Reprimi tais memórias e me esforcei a me concentrar no presente.

O peito arfante, os lábios separados só me excitavam ainda mais. Minhas mãos pareciam queimar.

–Eu não posso Edward, não faça isso comigo... -implorou ela suavemente.

–Pode e vai fazer. -ameacei-a. - Seu corpo todo está arrepiado e eu tenho certeza que não é por causa da temperatura. Afinal, aqui está bem quente. Senti isso?- perguntei enquanto traçava seus lábios com a ponta de meus dedos.

Uma verdadeira feiticeira.

Mesmo vestindo roupas vulgares e cheirando a perfume barato, ela ainda conseguia me encantar.

A beleza suave, como uma boneca de porcelana.

Aproximei meu rosto de seus cabelos, inalando seu cheiro natural.

No mesmo instante o sangue em minhas veias ferveu, enviando vida ao meu sexo, já enrijecido.

O desejo como uma névoa pairando sobre nós.

Cheiro de decepção, vingança e amargura infestava o ar.

Meu coração vacilante, mas minha mente firme na promessa de revidar.

Razão tomando conta de meus sentidos.

Sorri maliciosamente, enquanto minhas mãos percorriam seu pequeno corpo.

Mesmo sendo um ato vingativo, ela seria minha esta noite.

Um sorriso brotou em meus lábios.

A noite estava só começando