Corações Partidos escrita por yarabastoss


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa Noite Meninas!



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O toque estridente do despertador alertou-me que era hora de acordar.
Levantei-me da cama abrindo as cortinas constatando que o sol estava nascendo.
Um lindo dia...
Aquela visão parecia aplacar aquelas as quais eu veria o dia inteiro de trabalho no hospital. Pessoas acidentadas, infectadas e outros muitos males. Ao aceitar o desafio de trabalhar no único hospital existente no bairro, não esperava que a pobreza afetasse tanto um lugar de um país classificado como desenvolvido.
Fui acolhido com extrema hospitalidade pelo povo local, então me sentia ainda mais motivado a ajudar a reestabelecer a saúde dos moradores. Sentia falta de minha família, mas eu sabia que eles estavam orgulhosos de mim. O Edward adolescente enclausurado no quarto, havia superado a dor da primeira paixão e saíra para viver. Eu me orgulhava por isso também.
Amadurecimento.
Eu não era mais aquele jovem tolo e apaixonado, agora eu era um médico importante e dono de minha própria vida.
Após o café da manhã dirigi-me ao hospital sabendo que seria mais um dia árduo. Exercer medicina requer força tanto física quanto emocional, é inevitável não se envolver com algum paciente. Muitos vinham até mim, não só para consultas, ou para sanar suas dores, eles vinham atrás de alguém em quem confiar. Pessoas carentes. Pobres e carentes.
Uma gente de sorriso aberto para camuflar a dor de uma vida dura.
Uma triste realidade. Que agora eu fazia parte também.
Mas como ajuda, conforto. Eu me esforçava dia após dia para proporcionar o bem para aquelas pessoas.
No fundo eu fazia isso para me sentir melhor, para tentar apagar a minha dor. Porque sim! Ainda doía, mas eu havia prometido a mim mesmo que nunca mais admitiria.
Hora de vida nova!
E eu estava amando essa vida.

xxx

Confusão.
Caos.
Gritaria.
O hospital estava estranhamente lotado. Uma onda de febre amarela havia atingido os moradores locais por conta do ambiente sempre sujo e cheio de riscos á saúde.
Estava no final do meu plantão quando recebi o chamado para atender uma garotinha febril.
Eu a encontrei deitada no colo de uma senhora que mexia em seus cabelos e cantava suavemente. Enquanto a olhava percebi que deveria ter cerca de 3 anos.
Um bebê.
Ela tinha sua mãozinha direita sobre a cabecinha de cachos castanhos e balançava os pezinhos no colo da senhora.
–Olá, sou o Dr.Cullen, muito prazer. - disse enquanto cumprimentava a senhora.
–Muito prazer Dr.Cullen, eu sou Agnes. Que bom que pode nos atender. Nessie está com febre alta. - disse aflita.
A menininha, Nessie, que até então estava deitada, levantou a cabecinha para me olhar. Fiquei fascinado por sua beleza.
Ela possuía um rostinho de anjo. A franja caía na testa lhe dando um aspecto ainda mais pudico. Os lábios pequeninos e vermelhos se movimentaram num sorriso tímido. Mas o que me impressionou foram seus olhos. Olhos castanhos. Marrons e profundos. Iguais aos dela. Minha mente alertou-me de que não era hora de pensar no passado. Havia por ai muitas crianças bonitas de olhos castanhos...
Empurrei tais pensamentos e me concentrei na garotinha á minha frente.
–Olá Nessie, como se sente?
–Minha cabeça tá doeno... - reclamou suavemente
–Sua cabeça dói? Deixa o tio examinar... - disse enquanto a avaliava.
Após o exame constatei que era somente uma gripe forte, proveniente dos dias chuvosos que já duravam uma semana.
–Bom, Sra. Agnes, Nessie está somente com uma gripe forte. Antibióticos e repouso a farão se sentir melhor em alguns dias.
–Oh muito obrigada Dr.Cullen... Tive tanto medo de ser febre amarela. A mãe dela também. - disse visivelmente aliviada a senhora á minha frente.
–Diga á mãe dela para não se preocupar, qualquer outro sintoma a traga imediatamente para mim - sorri complacente.
Fui pego de surpresa ao olhar para garotinha linda ao meu lado e notar que ela sorria para mim. Um sorriso tímido. Mas encantador.
Daqueles que parecem sair mil faíscas de luzes brilhantes, um clarão de alegria para o seu dia. O sorriso de uma criança.
Ao ir embora,ela mesmo acanhada, me abraçou.
Um estalo.
Lembranças.
Eu parecia aquele menino de olhos verdes e cabelo estranho, eu mesmo com seis anos quando recebi o abraço da garotinha das pernas moles. A garotinha... Minha amiga durante tanto tempo.
Meu amor.
E minha ruína.
Afinal, foi aquela garotinha de olhos castanhos, que levou meu coração.
Aquele abraço parecia durar anos, que se desenrolavam como um filme em minha memória. Abraço familiar. Como voltar para casa. Me desesperei ao notar o que estava sentindo.
Saudades...
Eu jamais sentiria isso de novo! Havia jurado á mim mesmo, que jamais pensaria nela. E agora estava eu como um bobo abraçado á uma garotinha inocente de três anos, pensando numa mulher tão miserável como aquela.
Encerrei o abraço sorrindo docemente para Nessie.
–Bligado pu cuidá de mim Tio Ed - disse ao beijar minha bochecha e ir embora deixando-me com a sensação de que eu conhecia sim, aquele abraço.

xxx

Os dias passavam.
Ou melhor, os dias voavam.
Minha rotina continuava a mesma loucura e eu na verdade estava agradecido por isso, pois assim eu ficava sem tempo pra pensar no passado. Em coisas erradas, em coisas dolorosas. Na verdade eu fingia que havia superado a rejeição. Mas não havia, eu só não admitia isso á ninguém.
A verdade é que eu não queria transparecer o quanto eu havia sofrido.
O quanto eu ainda sofria.
Isso era tolo demais,eu sabia,mas era a realidade.
Por trás daquele médico forte e independente,ainda existia o adolescente que chorava todas as noites na janela esperando a volta da garota que era dona do seu coração.
Voltei á realidade com um suspiro que demonstrava minha frustração.
E me joguei no trabalho. Plantão atrás de plantão até meu corpo sucumbir exausto. Meu tempo era gasto somente para salvar vidas.
Eu já me preparava para ir embora quando fui solicitado á atender outra chamada. Surpresa tomou conta de mim ao notar a senhora com uma criança no colo que falava e gesticulava com as mãozinhas e ao me ver gritou:
–Tio Eeeeeeeeeeeed!
Nessie.
Uma doce surpresa.
Sempre que podia, a Sra. Agnes a trazia até o hospital para me ver. E sem eu perceber eu passei a esperar todos os dias as visitas de Nessie. Me faziam tão bem! Acabamos construindo silenciosamente um laço de afeto entre nós.
Mas já havia duas semanas que elas não vinham e eu já estava a ponto de sair perguntando a todo mundo onde Nessie morava.
Sorri, porque não precisaria mais.
–Oi gatinha, o que faz aqui?- perguntei me fazendo de desentendido.
Agachei-me e a peguei em meus braços.
–Eu vim te vêe! - cantarolou
–Nessie fale a verdade - insistiu a Sra. Agnes
–Tá bom... Mas eu vim vê o Tio Ed... - suspirou
–O que aconteceu?- perguntei com preocupação.
–A mãe dela precisa ser examinada.
–Mamãe tá cheia de roxo... - Nessie me confidenciou seriamente.
–Hematomas?- Adivinhei
–Sim... Ela apanhou de novo! – Sra. Agnes disse indignada.
–Ela precisa denunciar! - devolvi igualmente indignado.
–Quem vai se preocupar com uma prostituta Dr.? È uma consequência do que ela faz. Eu gostaria de te pedir para examiná-la... Ela não quer, mas não posso deixá-la sofrer e não ajudar de alguma forma.
Após aquela confissão, percebi em como a Sra. Agnes gostava da mãe de Nessie. Ela as amava.
Como uma mãe e avó.
–Vai dá remédinho pa mamãe? Pu favor Tio Ed... - Nessie disse chorosa.
Meu coração se apertou. É claro que eu faria isso. Ajudaria no que fosse preciso. Mas mal eu sabia que a minha ajuda oferecida seria também a minha própria destruição.

Xxx

Eu observava as ruas enquanto dirigia até a casa de Nessie. Ruas fétidas, habitadas por pessoas sem qualquer expectativa de vida. Um bairro pobre.
Miserável.
A compaixão ia se apoderando de mim quando percebi em como estava sendo tolo ao achar que estava sofrendo. Aquilo que eu via á minha frente era um verdadeiro sofrimento. Eu podia sentir a angústia daquelas mães obrigadas a vender o próprio corpo para alimentar os filhos. A aflição dos pais de família que se preocupavam se teria algo de comer no dia seguinte. Doenças, violência e mais nada.
Que assolavam a essa gente que precisava de ajuda. Urgentemente.
Parei em frente a uma casinha de portões baixos demais e porta amarela. Uma grama escassa tomava conta do pequeno espaço,seu crescimento interrompido pelas pedras existentes.
A tintura descascada denunciava a idade daquela construção.As janelas revestidas por cortinas brancas com desenhos florais,que mesmo desgastadas cumpriam sua missão de trazer uma beleza singela para aquela casinha.
Enquanto caminhava até a porta, meu coração até agora repleto de compaixão e bondade para com o próximo, começava a bater desenfreadamente. Eu não entendia aquela sensação. Nessie me puxava pela mão em direção ao interior da casa para examinar a mãe. Mesmo sendo tão pequena ela demonstrava uma inteligência fora do comum para sua idade. Ela estava com a testa franzida e as sobrancelhas juntas em sinal de apreensão. Estava preocupada com a mãe. Ao chegar à sala, ela soltou de minha mão e correu até o sofá, onde havia uma jovem mulher deitada.
Meu corpo inteiro se arrepiou.
–Mamãe, o Ti Ed veio! Ele vai cuidá do massucado... Ele é bom... E dá remédinho...
As palavras entusiasmadas de Nessie se perderam no instante em que olhei para a mulher a quem ela chamava de mãe. Meus olhos custaram a acreditar no que viam... Era ela.
Isabella.
Bella.
Bella.
O nome em que eu lutei por anos para apagar de minha memória voltava com força total. Como mil mariposas voando ao mesmo tempo em um recipiente fechado. Zumbido. Sensação de torpor. Meu espírito parecia abandonar meu corpo e se teletransportar para um lugar desconhecido.
Dor.
Vazio.
Abandono.
Ódio.
Mais Dor.
Tudo isso voltava de maneira brutal para dentro de mim. Como um punhal sendo passado em uma ferida recente.
Fogo.
Aquilo queimava dentro do meu peito. Meus olhos começavam a embaçar anunciando as lágrimas. Eu não podia chorar. Teria que ser frio.
Frieza se apoderava de mim.
Meu orgulho ferido auxiliando nessa tarefa.
Bella,sentada no sofá me olhava com os olhos arregalados como se não acreditasse que eu estava ali diante dela. Olhos grandes e castanhos. Olhos de quem eu amei. Mas que agora odiava.
Nenhum resquício de compaixão sentido há pouco habitava em mim naquele momento.
Eu estava ali para examiná-la, meu corpo alegrando-se com a iminência do toque. Minha mente lutando bravamente para distribuir frieza para os meus poros. Por mais que eu estivesse um turbilhão pelo reencontro inesperado, não demonstraria nenhuma reação.
A Sra. Agnes, sentindo a tensão no ambiente, puxou Nessie para um pequeno quarto no fim do corredor me deixando a sós com ela.
–Edward... – a voz dela saiu baixa demais e rouca.
–Isabella. – fiquei surpreso ao constatar que, realmente, minha voz não tinha nenhuma emoção. Eu estava frio como gelo.
–Então você é o Tio Ed que a Nessie gosta tanto... - disse baixinho não olhando em meus olhos.
–Sim. Eu vim para examiná-la. A Sra. Agnes disse que você está com vários hematomas. Preciso que se levante. - Disse assumindo a minha postura de médico e falando rapidamente.
Ainda sem me olhar, e aparentando sentir muita dor, Bella levantou-se do sofá.
Naquele momento percebi que aquela não seria somente uma consulta longa. Seria aquela que traria meus fantasmas de volta. Meu passado. Minha dor.


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Notas finais do capítulo

Notas da Autora:Olá garotas!
Eu amei os reviews recebidos! Vocês são demais!
Um acontecimento mal resolvido marcou a vida dos dois, haverá perdão? Esse enredo não saiu da minha cabeça e eu resolvi escrever! Obrigada mais uma vez a minha beta lindona Juh - que sempre tem me ajudado. Sua pupila tá escrevendo de novo! Rs.
A todas que incentivaram,mais uma vez obrigado!Espero que gostem dessa minha nova loucura!
Bjosssss
Yara ~~~~~@yarabastoss
~~~~~~
Notas da beta:
Olá meninas! Como estão? Espero que bem!
A Yara voltou! Quem mais ai está feliz da vida por isso? Ela decidiu se aventurar em uma short-fic, então estou aqui desejando toda sorte do mundo pra ela!
E esse enredo? Até onde uma história mal resolvida pode atrapalhar as nossas vidas? Até onde conseguimos fugir dos fantasmas do nosso passado? Até onde conseguimos esconder e camuflar sentimentos? E se tudo que você acreditasse ter superado, fosse por água abaixo sempre que aquela pessoa aparecesse em sua vida? Respirem fundo! Já deu pra ver que vem uma história de tirar o fôlego por ai!
Então vamos comentar muito e recomendar a short-fic!