Capítulo IX

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O cabelo de Jun batia nas suas costas e se mexia conforme ela corria. Kakashi se viu fascinado por aquele movimento do cabelo dela. E, em algum momento, ele esticou sua mão para poder tocá-lo. Ficou perplexo consigo próprio pelo ato, recolheu a mão e apressou o passo, dessa vez ficando na frente da jovem.

Correram sem pausas pela próxima meia hora, parando quando chegaram numa praça que havia ali por perto.

Jun se adiantou e se jogou num dos bancos da praça, estava morta.

- Cansada? – Kakashi perguntou, se sentando ao lado da jovem.

- Morta!

Ele riu.

- Aposto que quer água.

- Acertou em cheio!

- Vou ali comprar, quer com ou sem gás? – Se pôs de pé.

- Sem gás, onegai.

Kakashi deu-lhe as costas e seguiu para uma pequena barraca de bebidas que estava alguns metros dali. Jun o acompanhou com o olhar. Ele era realmente muito bonito, e os cabelos prematuramente grisalhos lhe davam um ar misterioso. Sem contar os olhos de diferentes cores e aquela pequena cicatriz que havia percebido pela primeira vez hoje.

A jovem suspirou. Estava apaixonada. Estava muito apaixonada na verdade.

Continuou a olhar para as costas do grisalho à frente.

Ele era alto, bem alto, pelo menos para ela, que só tinha 1m65cm. Ele deveria ter em torno de 1m80cm, no máximo 1m85cm. Era magro, e como ela vira naquele mesmo dia, tinha uma barriga perfeita. Suspirou novamente. Estava muito apaixonada.

Jun estava ainda estava presa em seus devaneios quando Kakashi retornou com duas garrafas de água. E ela levou um pequeno sobressalto quando ele enconstou a garrafa gelada em seu pesçoco.

- AAAAH! – Jun deu um pequeno grito assustado, se voltando para ver Kakashi sufocar o riso.

- Você estava tão distraida que eu não resisti.

Ela teve um pequeno espasmo irritado na sobrancelha. Se Kakashi não fosse o Kakashi, ela teria lhe dado um soco.

- Isso terá vingança – ela pegou a garrava assassina e a segurou, sem ainda abri-la.

- Ok, ok... – ele disse, ainda rindo e se sentou, virando-se para a jovem – Ah, tem alguns fios de cabelo na sua boca.

- Eh? – Jun levantou a mão para tirar os fios, mas Kakashi foi mais rápido, ele se aproximou e removeu os fios, os pondo atrás da orelha da jovem. Jun enrubresceu, e foi quando olhou para o rosto da jovem que Kakashi percebeu o que havia feito. Havia agido no automático – Kakas- – começou a jovem, mas foi interrompida pelo Hatake, que já havia recolhido a mãe e se xingava mentalmente.

- Que sede! – Disse e abriu a garrafa, deixando a água jorrar para dentro da sua boca, só que ele foi com muita sede ao pote, literalmente. Se engasgou com tanta água e começou a tossir.

- Kakashi? – A menina arregalou os olhos. Kakashi estava ficando vermelho por causa da tosse. Ele se prostou e ela começou a dar pequenas batidas em suas costas – Está melhor? – Ela havia ficado preocupada.

- Sim, estou – ele falou pesadamente, ainda prostrado e sentindo o calor da mão da jovem nas suas costas. A vergonha estampada na face. Nem mesmo para disfarçar a situação ele prestava.

- Tem certeza? Você parecia que ia morrer! – Ficara tão preocupada que seus olhos haviam se enchido de lágrimas.

- Ei – ele se ajeitou e a mão de Jun escorreu das suas costas – eu estou bem- – se interrompeu ao ver as lágrimas da menina – ei Jun, eu estou bem – assegurou, mas isso só fez com que as lágrimas aumentassem.

- Gomen – ela escondeu o rosto nas mãos, tentando secar as lágrimas que saiam de forma involuntária.

- Porque você está se desculpando? – Agora era Kakashi que estava ficando preocupado – Fui eu quem lhe deu um tremendo susto, eu é quem devo me desculpar.

Jun apenas assentiu. Gostaria de sair correndo dali e se esconder para chorar sozinha. Aquilo tinha feito aflorar uma antiga e dolorosa lembrança.

- E-Eu... – não conseguiu continuar a falar, as lágrimas jorravam, e estava sendo inútil tentar reprimí-las.

- Jun! – Kakashi puxou as mãos da menina, deixando seu rosto livre. Ele estava vermelho, e seu nariz mais ainda. As lágrimas lhe banhavam todo o rosto e a jovem tinha uma expressão de dor no rosto – Me fale o que está acontecendo, senão, não poderia ajudá-la!

- Foi... – ela engoliu em seco – Foi dessa forma que meu otouto morreu. Engasgado com uma peça de um brinquedo.

Aquilo foi um soco no estomago de Kakashi. Ele sabia que o irmão mais novo da jovem havia morrido anos atrás, mas não sabia que havia sido dessa forma. E o idiota que ele era, fizera a menina reviver lembraças do passado.

- Perdão – Kakashi disse, realmente arrempedido, ele sabia o quão dolorosas podiam ser lembranças do passado – Perdão – repetiu e soltou as mãos da jovem, para em seguida passá-las em volta de seus ombros, a abraçando – Perdão.

- Hm – ela murmurou e deixou-se ser abraçada, chorando no peito de Kakashi.

- Perdão... – ele continuava a repetir.

O jovem Hatake deixou que seu queixo encostasse na cabeça da jovem e suspirou. Ele era mesmo um idiota. Tudo o que ele fazia, fazia de maneira atrapalhada, que só resultava em desconcertamento, e agora, em lágrimas também. Suspirou novamente.

Se passaram alguns minutos até que Jun se acalmasse e quebrasse o abraço. Quando ela fez isso, suas lágrimas já haviam secado e seu rosto já voltara a cor natural, apenas o nariz ainda estava um pouco vermelho.

- Obrigada Kakashi – ela falou sem fitá-lo.

- Não me agradeça – ele passou as mãos pelos cabelos, deixando-os mais bagunçados do que já estavam – você deveria me xingar. Mais uma vez eu lhe peço perdão.

- Ok – ela disse simplesmente e finalmente abriu sua garrafa de água, tendo cuidado ao beber.

- Bem, agora vou pegar o meu carro e lhe levar para casa, pois já está tarde...

- Não precisa – ela o cortou.

- Como? – Perguntou confuso.

- Eu não vou para casa hoje – ela brincava com a tampa da garrafa.

- Não vai para casa? – Ele enrrugou a testa pensando. Se ela não ia para casa, para onde mais ela iria?

- Não.

- Então, para on- – Ele mordeu a lingua. Por um segundo ele pensara me lhe perguntar para onde iria. Mais isso não era da conta dele.

- So... – ela disse e se levantou – Eu já vou indo.

- Não quer uma carona? – Ele não iria desistir assim tão fácil.

- Não, obrigada.

Suspirou. Não sabia quem era mais teimoso, se era ele ou ela.

- Já que você tem certeza, eu também já vou indo.

Kakashi também se levantou, a garrafa apertada no seu punho.

- Saionará – ela disse e sorriu, um fraco sorriso.

Kakashi não respondeu ao sorriso. Ele a havia magoado, a havia magoado muito. Havia trago a tona lembranças que ela não queria lembrar. Se xingou por isso.

Ela, que era uma menina tão doce e alegre. Lhe partia o coração lhe ver com aquela expressão.

- Ja nee – respondeu ele.

Jun lhe deu as costas e caminhou a passos rápidos na direção contrária da qual eles haviam vindo. Abraçou ao próprio corpo e as imagens da sua infância voltaram. Seu irmão morrendo bem na sua frente, seu padrasto bêbado, sua mãe desesperada. Apertou os olhos e sentiu lágrimas quentes descerem por eles. As lágrimas eram tão abundantes que ela mal enchergava o caminho. Fungou e limpou algumas das lágrimas, seguindo em frente e passando por um lugar onde a lampada do poste havia queimado.

Foi enquanto estava passando por aquele lugar escuro que ela escutou uma voz. A voz dele.

- Espere! – Kakashi gritou e correu em direção a jovem.

Continua...