O Garoto Da Casa 918. escrita por Greensleeves


Capítulo 9
Capítulo 9




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"Onde estava?" -Minha vó perguntou seriamente quando entrei.

"No parque." -Dei de ombros.

"Não, não estava." -Ela disse vindo até mim.

"Er... Eu fui na biblioteca também."

Ela me olhou desconfiada.

"Biblioteca? Não minta para mim Helena."

"Estou falando a verdade." -Eu odiava mentira para ela.

"E onde estão os livros?"

"Eu fui devolver." -Sorri- "Não se preocupe vovó, esta tudo bem."

"Eu me preocupo com você." -Ela disse.

"Eu sei, e eu te amo." -A abracei.

"Vou fazer o jantar."

"Vou estar lá em cima."

Subi as escadas e fui até meu quarto. Olhei para a janela e fui até ela, me debrucei no parapeito e olhei para a rua. Eu consegui ver a casa de Dave daqui, pelo menso a varanda.

Suspirei e deitei na cama. O que a quele garoto tinha que me deixava tão estranha? Ele não tinha nada de especial, e nem era perfeito. Por que eu pensava tanto nele?


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"Vai sair hoje?" -Minha vó perguntou.

"Sim." -Sorri. Peguei uma torrada e mordi.

"Vai para onde?"

"Pegar alguns livros." -Dei de ombros- "Volto aqui no almoço."

Fui até e porta e peguei meu casaco. Andei pela rua normalmente, mas quando virei a esquina, percebi que eu não devia entrar pela frente. Olhei em volta e percebi que tinha uma pequena passagem que dava por trás da casa.

Era cheia de galhos e bem fechada, enrosquei duas vezes meu casaco num galho. Mas acabei conseguindo chegar até os fundos da casa. Felizmente o vizinho do lado era uma senhora de idade e raramente saía para fora. Então eu poderia fazer a quele caminho sempre.

Pulei a cerca e percebi que o fundo da casa dava para a parede de outra, isso fazia com que ficasse fechado sem muito acesso a rua. Fui até a porta e bati. Esperei ofegante do lado de fora e quando ouvi passos do lado de dentro, não pude deixar de sorrir.

A porta abriu só uns dez centímetros, fazendo com que eu não vissem quem estava lá.

"Dave, sou eu." -Disse.

Ele abriu a porta por inteiro. Seus olhos se estreitaram com a claridade, mas o dia estava nublado.

"Entre logo." -Ele disse pegando meu braço e me puxando.

A casa estava escura e fria como sempre. Mas algumas janelas estavam sem madeira, fazendo com que a luz entrasse e iluminasse algumas partes. Subimos para o primeiro andar e entramos no quarto no final do corredor. Algumas velas iluminavam o local, mas nada muito claro.

"O que você faz aqui?" -Perguntei.

"O que quer dizer com isso?" -Ele disse se sentando no chão.

"Você fica o dia inteiro aqui sozinho e não faz nada?" -Me sentei na sua frente.

"Eu leio as vezes."

Suspirei. Como ele poderia ler nessa escuridão? Olhei e volta mas não vi nenhum livro, nem jornal, nada. Abotoei meu casaco, estava muito frio apesar das velas. Percebi que ele também sentia frio, pois esfregava as mãos.

"Como aconteceu?" -Perguntei.

Ele me olhou.

"Aconteceu o que?"

"Esses ferimentos."

Ele desviou o olhar, parecia não querer lembrar.

"Eu não queria..." -Me desculpei.

"Tudo bem." -Ele deu de ombros- "Eu nunca gostei do meu pai mesmo."

"Ele que te fez isso?" -Me arrastei e sentei do seu lado.

"A maioria. O fogo ajudou bastante."

"Eu sinto muito." -Olhei para ele.

"Mas eu não me importo, acho que prefiro ficar aqui, sozinho, do que com ele."

"Não diga isso."

"Você não conheceu meu pai." -Ele me olhou serio.

"Não mesmo, mas eu sei que...No fundo, ele não queria."

Ele revirou os olhos.

"Por que sempre acha que as pessoas querem o bem?"

"Talvez por esperança que isso aconteça." -Sussurrei, deitando minha cabeça no meu joelho.

"Você é uma garota muito boa Helena, deve ter cuidado para não se desapontar."

Olhei para ele.

"Diz isso por você?"

"Digo isso por todos." -Ele murmurou.

Olhei para a vela queimando no outro canto.

"Eu poderia trazer alguns livros para você, se quiser." -Levantei a cabeça.

Ele parecia distante, e isso era uma das coisas que eu mais gostava nele: O fato dele não ser de falar muito, apenas pensava e escutava.

"Ou poderíamos ir junto na biblioteca."

Ele me olhou.

"Quer que eu saía?"

"Eu sei que não vai ser fácil, mas só tente um dia."

"Como?"

Levantei a cabeça e a encostei na parede, meu machucado começou a doer e eu tive que me afastar um pouco.

"Esta doendo muito?"

Olhei para ele.

"Sua batida."

Puis a mão na cabeça.

"As vezes."

"Eu não queria."

"A culpa não foi sua."

Ele me olhou, seus olhos refletiam a luz da vela.

"O que foi?" -Ele perguntou.

"Seus olhos... São lindos."

Ele deu um rápido e tímido sorriso. Eu ri, ele consegui ser tão fofo debaixo das cicatrizes.

"Eu acho que tenho que ir." -Disse.

"Por que?"

"Minha avó, ela não quer que eu me atrase."

Descemos junto as escadas e eu parei na porta dos fundos.

"Pegarei alguns livros." -Disse.

Ele assentiu.

"Não fique triste, eu volto." -Sorri.

"Eu esperarei." -Ele disse dando um leve sorriso.




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Notas finais do capítulo

aah Davi! Me da um abraço? e.e/