O Garoto Da Casa 918. escrita por Greensleeves
"Onde estava?" -Minha vó perguntou seriamente quando entrei.
"No parque." -Dei de ombros.
"Não, não estava." -Ela disse vindo até mim.
"Er... Eu fui na biblioteca também."
Ela me olhou desconfiada.
"Biblioteca? Não minta para mim Helena."
"Estou falando a verdade." -Eu odiava mentira para ela.
"E onde estão os livros?"
"Eu fui devolver." -Sorri- "Não se preocupe vovó, esta tudo bem."
"Eu me preocupo com você." -Ela disse.
"Eu sei, e eu te amo." -A abracei.
"Vou fazer o jantar."
"Vou estar lá em cima."
Subi as escadas e fui até meu quarto. Olhei para a janela e fui até ela, me debrucei no parapeito e olhei para a rua. Eu consegui ver a casa de Dave daqui, pelo menso a varanda.
Suspirei e deitei na cama. O que a quele garoto tinha que me deixava tão estranha? Ele não tinha nada de especial, e nem era perfeito. Por que eu pensava tanto nele?
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"Vai sair hoje?" -Minha vó perguntou.
"Sim." -Sorri. Peguei uma torrada e mordi.
"Vai para onde?"
"Pegar alguns livros." -Dei de ombros- "Volto aqui no almoço."
Fui até e porta e peguei meu casaco. Andei pela rua normalmente, mas quando virei a esquina, percebi que eu não devia entrar pela frente. Olhei em volta e percebi que tinha uma pequena passagem que dava por trás da casa.
Era cheia de galhos e bem fechada, enrosquei duas vezes meu casaco num galho. Mas acabei conseguindo chegar até os fundos da casa. Felizmente o vizinho do lado era uma senhora de idade e raramente saía para fora. Então eu poderia fazer a quele caminho sempre.
Pulei a cerca e percebi que o fundo da casa dava para a parede de outra, isso fazia com que ficasse fechado sem muito acesso a rua. Fui até a porta e bati. Esperei ofegante do lado de fora e quando ouvi passos do lado de dentro, não pude deixar de sorrir.
A porta abriu só uns dez centímetros, fazendo com que eu não vissem quem estava lá.
"Dave, sou eu." -Disse.
Ele abriu a porta por inteiro. Seus olhos se estreitaram com a claridade, mas o dia estava nublado.
"Entre logo." -Ele disse pegando meu braço e me puxando.
A casa estava escura e fria como sempre. Mas algumas janelas estavam sem madeira, fazendo com que a luz entrasse e iluminasse algumas partes. Subimos para o primeiro andar e entramos no quarto no final do corredor. Algumas velas iluminavam o local, mas nada muito claro.
"O que você faz aqui?" -Perguntei.
"O que quer dizer com isso?" -Ele disse se sentando no chão.
"Você fica o dia inteiro aqui sozinho e não faz nada?" -Me sentei na sua frente.
"Eu leio as vezes."
Suspirei. Como ele poderia ler nessa escuridão? Olhei e volta mas não vi nenhum livro, nem jornal, nada. Abotoei meu casaco, estava muito frio apesar das velas. Percebi que ele também sentia frio, pois esfregava as mãos.
"Como aconteceu?" -Perguntei.
Ele me olhou.
"Aconteceu o que?"
"Esses ferimentos."
Ele desviou o olhar, parecia não querer lembrar.
"Eu não queria..." -Me desculpei.
"Tudo bem." -Ele deu de ombros- "Eu nunca gostei do meu pai mesmo."
"Ele que te fez isso?" -Me arrastei e sentei do seu lado.
"A maioria. O fogo ajudou bastante."
"Eu sinto muito." -Olhei para ele.
"Mas eu não me importo, acho que prefiro ficar aqui, sozinho, do que com ele."
"Não diga isso."
"Você não conheceu meu pai." -Ele me olhou serio.
"Não mesmo, mas eu sei que...No fundo, ele não queria."
Ele revirou os olhos.
"Por que sempre acha que as pessoas querem o bem?"
"Talvez por esperança que isso aconteça." -Sussurrei, deitando minha cabeça no meu joelho.
"Você é uma garota muito boa Helena, deve ter cuidado para não se desapontar."
Olhei para ele.
"Diz isso por você?"
"Digo isso por todos." -Ele murmurou.
Olhei para a vela queimando no outro canto.
"Eu poderia trazer alguns livros para você, se quiser." -Levantei a cabeça.
Ele parecia distante, e isso era uma das coisas que eu mais gostava nele: O fato dele não ser de falar muito, apenas pensava e escutava.
"Ou poderíamos ir junto na biblioteca."
Ele me olhou.
"Quer que eu saía?"
"Eu sei que não vai ser fácil, mas só tente um dia."
"Como?"
Levantei a cabeça e a encostei na parede, meu machucado começou a doer e eu tive que me afastar um pouco.
"Esta doendo muito?"
Olhei para ele.
"Sua batida."
Puis a mão na cabeça.
"As vezes."
"Eu não queria."
"A culpa não foi sua."
Ele me olhou, seus olhos refletiam a luz da vela.
"O que foi?" -Ele perguntou.
"Seus olhos... São lindos."
Ele deu um rápido e tímido sorriso. Eu ri, ele consegui ser tão fofo debaixo das cicatrizes.
"Eu acho que tenho que ir." -Disse.
"Por que?"
"Minha avó, ela não quer que eu me atrase."
Descemos junto as escadas e eu parei na porta dos fundos.
"Pegarei alguns livros." -Disse.
Ele assentiu.
"Não fique triste, eu volto." -Sorri.
"Eu esperarei." -Ele disse dando um leve sorriso.
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aah Davi! Me da um abraço? e.e/