Encostei minha cabeça na porta e fui escorregando até sentar no chão. Eu estava tão cansada, já fazia uma hora que eu estava ali, na quele silêncio e apenas iluminada com com um raio de luz que vinha entre um vão entre as madeiras da janela.

"Pelo menos me diga seu nome." -Disse.

Ele não respondeu. E também deveria estar parado, pois não ouvi, dês da hora que ele entrou, passos ou algum barulho de movimento.

"Meu nome é Helena." -Disse tocando a porta- "Tenho dezessete anos... E moro virando a esquina."

Sem respostas.

"Minha mãe morreu quando eu tinha quatro anos e eu moro com a minha avó."

Eu me sentia uma idiota falando com o nada.

"Por favor, me responda." -Eu precisava escutar sua voz, ou de qualquer pessoa, apenas alguma coisa.

Ouvi barulho de alguém se arrastando pelo piso e se encostando na porta. Fiquei ereta e aproximei meu rosto da madeira.

"Dave." -Sua voz ficou abafada pela porta.

"Abra a porta." -Insisti.

"Eu não te entendo... Por que voltou?"

Suspirei.

"Algo nessa casa...Eu me sinto bem aqui." -Tirei uma mexa do rosto.

"Não deveria."

"Você é o garoto da história?"

Um longo minuto se passou até ele responder.

"Há uma história sobre mim?" -Ele riu.

"Não é bem isso... Mas eu sei o que aconteceu."

"Você não sabe de nada." -Ele parecia bravo.

"Me conte então." -Me virei para a porta, ficando de frente.

Ouvi passos como se ele tivesse se levantado.

"Vá embora!" -Ele gritou batendo na porta.

"Não! Não antes de..." -Percebi que eu começará a chorar.

Me levantei e forcei a maçaneta, mas como antes, estava trancada.

"Por que você não sai? Eu não vou te fazer mal." -Gritei

Ele riu, uma risada irônica.

"Você que deveria ter medo de mim." -Ele disse.

"Medo do que, que eu nunca vi?"

Ele não respondeu.

"Eu só quero te entender." -Sussurrei encostando minha testa na porta. Uma lágrima desceu pelo meu rosto.

"Entender?" -Ele perguntou- "Entender o que?"

"Por que esta se escondendo de mim? Eu sei que nos vimos a... algumas horas, mas.. Eu penso em você." -Me virei, ficando de costas para a parede- "Penso em como deve se sentir aqui... Sozinho sem ninguém para conversar."

Segurei na maçaneta.

"Abra, por favor." -Implorei.

Aos poucos, ouvi a chave sendo virada bem devagar e com um cleck, estava destrancada. Pelo som, ele foi se afastando e eu respeitei isso. Quando os passos pararam eu abri a porta.

No canto do quarto havia uma vela, e eu podia ver sua sombra no chão. Eu estava com tanto medo que minhas mãos estavam geladas e suadas; eu, até certo ponto, não sabia o que podia encontrar ali. Fui até ele devagar, respirei fundo e parei numa distancia.

"Eu não vou te machucar, nem contar para ninguém sobre isso." -Sussurrei. Me abaixei e peguei a vela no chão.

"Esta nervosa?" -Ele perguntou- "Suas mãos estão tremendo."

E estavam, mas eu não liguei. A vela foi o iluminando de cima para baixo. Ele usava um sapato velho, mas não estava rasgado nem nada. A calça jeans rasgada nos joelhos e o suspensório estavam largados. Sua camisa era branca e meio manchada e os dois primeiros botões estavam abertos. Se eu o visse na rua, pareceria um mecânico ou algo do tipo. Mas as marcas nas mãos e nos braços mudavam totalmente a imagem.

Hesitei um pouco para subir a vela, eu estava com um pouco de receio do que iria ver.

"Esta com medo? Vamos, suba e veja meu rosto." -Ele disse num tom ameaçador.

Subi a vela e com o susto a derrubei no chão.

O rosto que eu vi na porta não se comparava a esse. Não sei como explicar, mas seu rosto tinha várias cicatrizes, tanto de cortes como de queimaduras. Uma que vinha da esta e passava pelo olho; que não estava nada danificado. Outro pequeno corte no lábio e outra no pescoço. Seu cabelo era liso, mas do lado direito começará a crescer depois o deixando meio repicado

Mas, tirando essas imperfeições, ele não era feio. Chegava até a ser bonito. Tinha olhos lindos e escondia um lindo sorriso debaixo do rosto triste e solitário.

"Satisfeita?" -Ele perguntou.

"Você..."

"Sou um mostro. Aquele que vive na casa mal assombrada. Aquele que as mães contam para os filhos quando passam pela rua. A criança que sobrevivei ao incêndio e se esconde desde então na casa."

Percebi que ele se ajoelhou e acendeu a vela. Me ajoelhei no seu lado mas não me atrevi a olhar para ele.

"Você não é um monstro. Pode viver como um nessa casa... Mas eu não o vejo assim."

Olhei para ele que encarava a vela. Percebi um leve sorriso no canto da sua boca, mas ele logo ficou serio de novo.

"Sabe por que me escondo aqui?" -Ele perguntou- "Porque se eu sair na rua, todos vão me olhar como você."

Ele se sentou encostado na parede.

"Eu não sou como os outros." -Tentei encostar no seu joelho, mas ele desviou se sentando no canto.

"Por que é tão mau?" -Me levantei- "Por que tem que me tratar assim? Eu não te fiz nada."

Ele me olhou serio.

"Eu não tenho medo de você, não me olhe assim."

Olhei para a vela e a chutei, a fazendo apagar de novo. Me virei e saí do quarto. Desci as escadas pesadamente, eu estava brava agora. Ele não podia falar de mim assim, eu só queria ajuda-lo e ele me tata como uma criança?

Percebi que ele me seguia. Fui até a porta, mas quando segurei na maçaneta, ele puxou minha mão me forçando a virar para ele.

"Esqueceu seu casaco."

Peguei meu casaco suspenso pela sua mão e amarrei na cintura.

"Eu só queria ajudar. Não precisa me tratar assim." -Soltei meu braço da sua mão.

"Me desculpe."

"Se você quer ficar sozinho, não tem problema. Era só você me dizer."

"Você esta chorando?"

Percebi que minha voz estava melosa.

"Não." -Disse limpando meu rosto.

"Não chore." -Ele disse pondo a mão no meu ombro.

"Não estou chorando!" -Gritei.

"Então me prometa que voltará amanha?"