O dia estava meio nublado, como quase todos os dias de Londres, mas havia um pequeno raio de esperança escapando do céu; e isso animava a todos. Sempre gostei de ficar sozinha, mais tempo para pensar e refletir sobre as coisas, conversar com o vento e dizer coisas bobas para o nada. 

 Dei uma volta no meu cachecol e voltei a andar pela rua. Como as coisas parecem estranhas quando olhamos bem. Eu morava na quele bairro a mais de quatro anos e ver a quelas casas era como assistir um filme no cinema.

  "Devia prestar mais atenção no que faz, garotinha." 

 Quando me virei, Paul estava encostado no muro com um palito na boca. Ele me olhou de cima para baixo e assentiu.

  "O que quer dizer com isso?"

  "Estou proibido de ir na sua casa, mas não de te ver andando por ai."

  "Me deixe em paz." -Apertei meus livros no peito.

  "Só estou avisando..." -Ele tirou o palito da boca- "Eu não sei o quê e nem por que, mas eu sei que tem algo na quela casa que ocupa seu tempo."

 Olhei em volta.

  "Não se faça de boba. Eu sei que você fica lá todos os dias por um logo tempo. E o que você diz para sua tia?" 

 Não respondi. Eu não podia falar nada, qualquer coisa ele poderia usar contra ou a favor.

  "Eu sei que tem algo lá...E quando eu descobrir..." -Ele riu.

  "Você é um idiota." -Disse.

 Ele me olhou serio.

  "Só quero que saiba que eu sei...A mim você não engana." 

 Dei as costas e continuei a andar.

  "A mim você não engana, Helena." -Ele gritou- "Não engana!"

x

 Abri a porta e entrei me apoiando nela. Minha respiração estava acelerada. Olhei em volta, mas a casa estava silenciosa de mais.

  "Tia?" -Chamei.

 Coloquei minhas coisas no chão e fui até a cozinha.

  "Tia Sarah?" 

 Suspirei, voltei para a sala. No caminho para a escada, dei uma rápida olhada pela janela da frente. Paul não me era confiável. Subi os dois primeiros degraus, mas a campainha tocou e eu voltei para a porta. Quando abri não tinha ninguém, apenas um bilhete no tapete.

  Me encontre nos fundos.

Olhei em volta, mas ninguém passava na rua. Fechei a porta e fui até os fundos, olhei para o papel e guardei no bolso.

 Dave estava encostado numa antiga arvore que minha avó plantará a muito tempo. Quando me viu, sorriu.

  "Eu já ia subir..."

  "O que esta fazendo aqui?" -Perguntei indo até ele.

  "Eu pensei que estava lá em cima."

  "Eu disse pára você tomar cuidado." -Parei ele no caminho- "Paul suspeita de você e esta louco para te ver."

  "Calma." -Ele pois a mão no canto do meu rosto.

  "Não, Dave... Você não entende..." -Minhas mãos estavam suadas, eu estava nervosa de mais- "Eu acabei de ver ele  no caminho para cá."

  "Ele te fez alguma coisa?" -Ele olhou para mim.

  "Não..Mas ele disse... Ele disse que vai ficar de olho na casa. Pelo amor de deus tome cuidado."

  "Eu sai pelos fundos. Helena, você precisa de acalmar." -Ele disse.

 Respirei fundo.

  "É...Eu estou pensando de mais nesse homem." -Limpei minha testa.

 Dave olhou para o lado e segurou minha mão, ao mesmo tempo me forçando ir para trás. Um arbusto perto do muro se mexia, mas suspirei aliviada quando Jack saiu entre eles; menos mal do que se fosse Paul.

  "Jack?" -Perguntei saindo de trás de Dave.

  "É... Eu mandei um bilhete... Será que ele voou?"

  "Não eu recebi." -Mostrei indo até ele- "O que faz aqui?"

 Ele olhou para Dave desconfiado.

  "O que você faz aqui." 

 Olhei para trás, Dave estava encostado na arvore com a cabeça baixa; mas eu sabia que ele olhava para mim.

  "Eu... Não é da sua conta." -Disse.

 Ele ainda olhava para Dave.

  "Bem, eu queria conversar." -Ele passou a mão na nuca.

  "Agora não é uma boa hora..." -Mordi o lábio.  

  "Tudo bem, eu volto depois." -Ele sorriu.

  "Esta tudo bem." -Sussurrei.

 Ele assentiu e se inclinou para me beijar, mas eu desviei. Ele me olhou e depois para Dave.

  "Eu volto depois." -Ele se virou e saiu.

  "Pode sair pela frente?" -Perguntei.

 Ele deu meia volta e entrou na casa. Suspirei e coloquei uma mexa de cabelo atras da orelha.

  "Você deveria fazer o mesmo." -Disse voltando para Dave.

  "Esse é seu amigo?"

  "Não comece." 

  "Eu não disse nada." -Ele levantou os braços.

  "Por favor, ele é meu melhor amigo... Mas eu amo você." -Arrumei a gola da sua camisa.

  "Só me preocupo." -Ele disse segurando minha cintura.

  "Se preocupa de mais, quando deveria cuidar de você."

 Ele levantou meu rosto com os dedos.

  "Eu sei o que eu faço."

 Me ergui nas pontas dos pés e o beijei, um beijo rápido.

  "Vai." -Fechei seu casaco.

  "Eu volto." -Ele sorriu.

 Assenti.

 Ele passou por mim e sumiu entre os arbustos.