"O bom é que ela esta bem." -Disse minha tia.

  "Aham." -Respondi distraidamente olhando para o vidro do carro.

  "Esta me ouvindo Helena."

  "É..." -Murmurei.

  "Helena!" 

 Olhei para ela.

  "Desculpa, eu... Posso ir andando para casa? Preciso falar com um amigo."

  "Aquele de hoje atarde?"

 Corei.

  "É... eu acho. Posso?"

  "Sim. Mas volte antes do jantar." 

  "Esta bem." -Abri a porta e saí quando o carro parou. 

 Acenei para minha tia, que buzinou e foi embora. Suspirei e fechei meu casaco. Segui pela rua sozinha, virei a esquina e andei diretamente para a grande casa velha. Passei reto pela porta; com Paul por ai, não era muito seguro entrar pela frente. 

 Olhei em volta e, como não tinha ninguém a vista, tirei meu chapéu e joguei do outro lado da cerca.

  "Droga, agora terei que pegar." -Falei forçadamente.

 Passei pelos arbustos velhos e pulei a cerca pegando meu chapéu. Corri até a porta e bati, entrando logo em seguida.

  "Dave?" -Chamei, sem resposta.

 Subi as escadas e entrei no quarto vazio.

  "Dave." -Disse, puxando a cordinha.

 Subi a escada. O sótão estava apenas iluminado com o fogo do aquecedor. Dave estava sentado de costas para ele, olhando pela janela.

  "Acabei de ir ver minha avó." -Disse tirando o casaco. Fui até seu lado e ajoelhei- "A boa noticia e que ela esta bem."

 Ele me olhou e voltou a encarar o vidro.

  "E eu convenci minha tia de que Paul é um bêbado, talvez ela não o leve mais em casa." -Sorri.

 Olhei para a janela, talvez o motivo dele me ignorar fosse por ter algo interessante nela.

  "O que foi?" -Perguntei.

  "Estou normal." -Ele se levantou e foi até a estante, pegou um livro e sentou na cama. Me levantei e sentei do sei lado.

  "Podíamos ir na biblioteca depois. Minha tia vai trabalhar e..."

 Ele fechou o livro o deixando de lado. Se levantou e foi até o aquecer por mais madeira.

  "Estou achando que você esta me evitando." -Eu ri.

 Ele me olhou.

  "Achando?"

 Meu sorriso sumiu do rosto.

  "Eu fiz alguma coisa errada?" -Perguntei.

  "Deveria saber." -Ele disse limpando as mãos atras da calça.

  "Não entendo." -Me levantei.

  "Pergunte para seu amiguinho." -Ele disse apontando para a janela.

  "Eu não sei o que você tem, mas se eu vim em péssima hora, tudo bem eu volto mais tarde." -Forcei um sorriso.

  "Não seja tonta Helena."

 Uma lágrima escorreu do meu rosto. Seu tom de voz me deixou preocupada.

  "Por favor eu não sei do que você esta falando." -Limpei o canto do meu olho.

 Ele chutou o monte de madeira me fazendo recuar.

  "O que eu fiz?" -Percebi que agora eu estava chorando.

 Ele passou a mão no cabelo frustrado.

  "Eu vi você com aquele...Rapaz." -Ele disse.

 Tudo fazia sentido.

  "Aquilo foi um erro." -Sussurrei.

  "Erros não cometemos duas vezes." -Ele disse me olhando.

  "Me desculpe." 

  "Eu estava lá sabia..." -Ele disse- "Eu estava lá!" 

  "Eu não te vi! E se tivesse visto... Apenas aconteceu." -Agora eu gritava.

  "Por que tem que fazer isso comigo Helena? Se você...Eu não sei... Se cansou de mim, era só dizer."

  "Foi um acidente!" -Joguei o livro nele.

  "Então por que você fez de novo?" -Ele perguntou.

 Olhei para ele.

  "Eu só quero saber o porque." -Ele encostou na parede.

  "Eu não sei." -Dei de ombros- "Mas eu peço desculpa."

  "E por que eu faria isso? Para você ir lá e beija-lo de novo?"

  "Quer saber...? Você esta certo." -Peguei meu casaco.

  "Para onde vai?" -Ele disse.

  "Você esta certo... Eu não devo mais ficar aqui." 

 Peguei meu chapéu no chão e abri a porta da escada.

  "Não faça isso!" 

 Olhei para ele.

  "Não vá..." -Ele suspirou pesadamente.

  "Achei que..." 

  "Eu não consigo...Não consigo ver você ir embora por minha causa."

  "Mas a culpa e minha." -Supliquei.

  "Eu sei... Mas eu te amo e apensas não consigo."

 Desviei o olhar. Lágrimas escorriam pelo meu rosto.

  "Ótimo, agora você me fez me sentir culpada." -Sorri com o rosto molhado.