Durch Den Monsun - Tudo O Que Restou escrita por seethehalo


Capítulo 7
Meet Me Halfway


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde (pra vcs porque eu tô podre)!
Já que é sexta, novo capítulo pras tracinhas roerem.
Acreditam que essa era pra ser a música do segundo capítulo? Ma aí não deu e eu passei pro terceiro, depois pro quarto e olha onde veio parar. HAHAHA
Hoje vamos desvendar o "mistério" dos sonhos que Lucas anda tendo com Bill. E é, isso vai alavancar alguns fatos do resto da história.
Enjoy!



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Você pode me encontrar no meio do caminho?
Lá na borda
É onde eu estarei esperando por você
Eu estarei procurando
Noite e dia
Você levou meu coração ao limite
E é lá que eu permanecerei
Eu não posso ir mais longe que isso
Eu te quero tanto, é o meu único desejo
Meet Me Halfway - Black Eyes Peas

*-*-*-*-*

     - Teu irmão morreu, não morreu? Se ele quer que a minha mãe vá pra junto dele, ela tem que morrer também, não tem? Você também quer que a minha mãe morra?!

     O tom da voz indicava que ele estava chorando. O choque da informação levou a minha voz e devolveu depois de cinco segundos:

     - O QUÊ?! É claro que não! De onde tirou essa ideia?!

     - Eu sou criança, mas não sou burro!

     - Lucas... se acalma, isso foi só um sonho. Tá bom? Conta isso pra sua mãe e conversa com ela, outra hora eu falo com você. Foi só um sonho.

     - Nenhum sonho é só um sonho. Sonhos significam coisas. E eles podem ser avisos de coisas bem reais. E eu não quero contar isso pra minha mãe.

     - Isso que você falou é só mais um motivo pra contar pra ela.

     - Mas eu não quero! Eu tô com medo.

     - Ou conta você ou conto eu. Continuo achando que foi só um sonho, mas é o melhor a fazer se você se preocupa. Volta pra cama, tá? E fale com ela. Depois a gente conversa.

     - Tá. Tchau.

     - Tchau, garoto.

     Desliguei o telefone. Confesso que o que ele disse me deixou com a pulga atrás da orelha. Será que aquele sonho queria mesmo dizer alguma coisa?

     Falei com a Maria no mesmo dia – o garoto realmente não contou.

     - Enfim, o que você acha? – perguntei.

     - Não sei, Tom. Claro que pode ser só um sonho, mas isso pode significar alguma coisa sim.

     - Como assim?

     - O Lucas pode ser sensitivo, Tom. Pode ter um dom de ver alguma cena real ou se comunicar com outros planos por meio dos sonhos. Não é comum isso se manifestar na infância, mas é a idade em que essa sensibilidade é mais aguçada.

     - Você não ajudou muito.

     - Eu sei! Acha que estou confortável com isso? Ainda mais se tratando do Bill...

     - Tsc... Fale com ele. Me ligou cedinho pra falar isso e não quis contar pra você de jeito nenhum. Obrigado pelo almoço.

     - Vou falar. Obrigado? Deixamos o meu filho e a tua mãe ao Deus-dará pra vir aqui conversar. O que vamos dizer a eles?

     - Fala que tinha coisas a resolver.

     - Que seja. Até mais. Vou pedir pra colocarem na conta do hotel.

     - Tá certo. Tchau.

     Voltei pra casa com a minha mãe e o garoto voltou pra junto da Maria.

     Voltamos a nos ver já no domingo. Maria e o filho vieram cá pra casa pra almoçar e eu estou uma pilha de nervos.

     - E aí, tá pronto? – ela perguntou.

     - Mais ou menos. Tô ansioso. Me disseram que colação de grau é entediante.

     - Eu não acho. É emocionante. Entedia quem está assistindo, já no final, quando chamam todos os formandos um por um pelo nome pra receber o canudo. Vem cá, vou te ensinar a dançar valsa.

     - Por que eu tenho que dançar valsa?

     - Porque em bailes de formatura se dança valsa. É uma coisa tão tradicional. Tive que aprender valsa pra dançar na minha formatura. Dá a mão aqui. O outro braço você põe nas minhas costas, mas não deixa caído. Isso.

     - Quem te ensinou a dançar valsa?

     - O namorado da minha prima. E ele aprendeu com a mãe dele. Agora presta atenção no passo, pra lá... e pra cá. Pra lá... e pra cá. Isso. Lá na hora não vai poder ficar olhando pro chão, então cuidado pra não pisar nos meu pés nem nos da sua mãe. Não tem uma música?

     - Sei lá, na sei que valsa vão tocar.

     - Na minha formatura tocou Spring. E teve tudo a ver, porque foi no fim da primavera.

     - Legal.

     Ela começou a cantarolar a valsa enquanto me levava pela sala em volta da mesa de centro.

     - Se acha capaz de lembrar pra mais tarde? É fácil.

     - Realmente. Lembro sim. Obrigada por essa aulinha. Agora eu tenho que me aprontar antes que eu me atrase.

     - Que horas são?

     - Mais de quatro.

     - Nossa. Vá se arrumar mesmo. Que horas você tem que estar lá?

     - No máximo cinco e meia.

     - Então corra. Não fique meia hora no chuveiro. Lucas e eu vamos voltar pro hotel e fazer o mesmo.

     - Ok, na hora em que sairmos daqui, eu passo lá pra buscar vocês.

     - Certo. E não use smoking, é formal demais e você vai ficar se sentindo um pinguim. Coloque um terno, de preferência com uma camisa que não seja branca; e não precisa ficar muito alinhado, já que você detestaria imitar um manequim de loja.

     - Ótimo, eu odiaria usar uma gravata.

     - Até mais tarde.

     Fiz o que ela mandou. Peguei uma camisa risca-de-giz verde clara e coloquei o meu único terno (que por sinal, passou a semana na lavanderia). Achei que, fazendo as coisas sem pressa, não ficaria tão nervoso. Engano. Saí de casa a mesma pilha que estava na hora do almoço.

     A colação de grau e depois o baile – onde a valsa que tocou foi Danúbio Azul – foram algo tão marcante que eu quase não consegui registrar na memória. Georg e Gustav também estavam lá e conversaram um pouco com a Maria, sobre a vida que cada um decidiu levar depois de tudo (até porque não há muitos outros assuntos).

     Gustav foi fiel à teoria do “se nada der certo” e abriu uma empresa de seguros. E Georg comprou ações numa empresa de planos de saúde, já que, segundo o próprio, não teve mais ânimo pra estudar medicina como queria quando era criança – ficou feliz em ter uma ponta na área que queria.

     O que realmente me surpreendeu aconteceu dois dias depois. O Ibis Hotel é um lugar conhecido não só por ser um ótimo hotel, mas também pela culinária de primeira do restaurante, cujo funcionamento não se restringe aos hóspedes. Como já estava para ir embora, Maria chamou-me para um almoço no hotel – e eu, é claro, concordei. Conversamos despreocupadamente e liquidamos uma garrafa de vinho (Lucas do lado tomando suco de uva). Ainda estávamos à mesa, espiando a tevê de sessenta polegadas e tentando pinçar uma continuidade para o assunto quando ela começou a ter um acesso de tosse. Quando, com a ajuda de alguns tapas que Lucas e eu lhe damos nas costas, ela parou de tossir, estava sem ar. Tentava encher os pulmões cada vez mais mas o ar não entrava nem saía. Tentando não entrar em desespero, pedi a alguém que buscasse ajuda.

     Quando a ajuda chegou, foi preciso chamar uma ambulância. Ela já estava ficando roxa e inconsciente. A ambulância chegou e a levou para o hospital. Eu fui em seguida no meu carro, levando o garoto no banco de trás.

     POV MARIA

     Acordei numa cama de hospital, de repente. Eu só me lembrava da tosse, dos sonhos e... só podia estar delirando: do Bill. Sim, aquilo não fora só um sonho. E os sonhos, agora eu via, não foram coincidência.

     Lembrei de todos os sonhos. Eu estivera com Bill, num lugar que era só nosso. E no último ele dissera que eu ficaria lá com ele pra sempre. Dissera que jamais amara alguém como a mim e eu respondi que era recíproco. Convidara-me a permanecer para sempre com ele, apenas nós dois, e ninguém nunca nos separaria. Eu ia cada vez mais fundo e Bill ficava cada vez mais perto. E no último, estivemos finalmente juntos.

     Ele perguntou se eu não queria ficar ali com ele. Disse que só dependia de mim. Que poderíamos permanecer juntos para sempre...

     Bill me envolvia, me levava numa sensação indescritível, me trazia de volta e repetia que queria que eu ficasse ali com ele. Apenas nós dois... Eternamente... Fora da fronteira do Tempo que nos impedira de nos amar...

     Lucas. Meu coração e meus pensamentos, até então completamente envoltos e tomados pela figura de Bill, foram invadidos pelo lampejo do meu filho e me impediram de continuar cedendo. Por mais que eu quisesse, que eu queria Bill de volta, não posso escolher entre ele e o meu filho... E foi isso que me fez acordar.

     - Bom dia. – Tom cumprimentou encostado no vão da porta.

     - Cadê o meu filho? – perguntei, logo depois vendo Lucas aparecer por trás dele. – Vem cá, meu amor...

     Lucas veio até mim e eu o abracei.

     - Precisamos fazer as malas.

     - Sem tanta pressa, Maria. Houve uma mudança de planos.

     - Como assim...?

     - Você está desmaiada há três das. Cuidei de adiar o seu voo e acertar a sua conta no hotel. Depois você me paga. Lucas ficou comigo e minha mãe, não precisa se preocupar com nada.

     - Obrigada, Tom. Não acredito que dei esse trabalho pra vocês. Tenho que conversar contigo.

     - Tudo bem. Não tem problema. Mas vai ter que ser depois, porque agora você precisa ser examinada.

     Passei pelos exames e exigências médicas calmamente, tentando manter a paciência. Três dias inconsciente. Sinto que alguma coisa está errada.

     - O que queria conversar comigo? – perguntou Tom sentando-se à mesa da lanchonete do hospital.

     - Presta atenção. Lembra quando você me disse que o Lucas te contou que estava tendo sonhos com o Bill?

     - Claro.

     - Eu conversei com ele. Ele não sonhou mais com o Bill.

     - E...?

     - E quem começou a sonhar com o Bill fui eu. No começo eu achei que fosse coincidência, até porque eu estou aqui... Mas eu comecei a achar estranho, porque nos meus sonhos o Bill também dizia que... que queria que eu ficasse junto dele. O que aconteceu comigo, Tom?

     - Você quase teve uma convulsão. Ataque fulminante de bronquite asmática.

     - Que coisa estranha, eu não deixei de tomar os remédios nenhum dia. Estava controlado desde que chegamos aqui.

     - Você acredita em vida após a morte, reencarnação e essas coisas?

     - Sim. Por quê?

     - De acordo com o que você acredita, é possível que nós, vivos, nos comuniquemos com quem já se foi?

     - Possível é, mas há muitas restrições. Só que... Tom, você está achando que o Bill fez contato e tentou, de algum jeito... cortar o meu elo?

     - Fala minha língua.

     - Cortar o elo é separar o corpo do espírito. Desencarnar. Bater as botas. Passar desta para a próxima.

     - Entendi. E isso é possível?

     - Eu não sei. Eu preciso saber como eu estou. Quais foram as últimas notícias sobre o meu estado?

     - Estabilidade. Me disseram que de madrugada você ficou agitada e o seu ritmo cardíaco caiu a mais da metade. Mas bom, agora você acordou e está aqui.

     Pendi a cabeça e fechei a cara, pedindo para que desse detalhes sérios. Ele entendeu o recado:

     - Você quase morreu.

     - Ok... De madrugada, certo? Sabe que nos sonhos o tempo corre mais rápido, não sabe? A cada camada do plano dos sonhos que você desce, é mais rápido ainda. Que horas são?

     - Duas da tarde.

     - E que hora eu acordei?

     - Nove e pouquinho.

     - Você diz que eu tive um tique de madrugada. Não sei precisar um cálculo, Tom, mas de acordo com os acontecimentos reais e das circunstâncias dos meus sonhos; acho que esta noite eu desci umas cinco camadas pra estar com o Bill.

     - Peraí, então você confirma que...

     - Exatamente. Bill fez contato com o Lucas para chegar a mim e tentou cortar o meu elo.

     - Mas...

     - Sim, é o que você entendeu. O Bill está de volta, Tom.


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Notas finais do capítulo

MAOOOOOOOOOOE O BILL VAI VOLTAR! Quem esperava por essa? hein hein hein :B
Antes que me perguntem, NÃO, não tive medo nem apreensão de "trazê-lo de volta". E sanando a provável curiosidade, SIM, ele vai dar umas sérias aparições por aqui ainda. Não estamos nem na metade, gente, tem muita coisa pra acontecer ainda! HAHA
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Curi #01: Eu adooooro Meet Me Halfway. Mas enfim, falando da valsa... Só achei engraçado imaginar o Tom tentando valsar. IUSHUSHUSHISHSHUSH corre/
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Curi #02: Mas sério, tem uma coisa muito interessante a respeito desse capítulo. Essas duas valsas que eu coloquei, Spring e Danúbio Azul, eu só as conhecia de nome - ou pelo menos achava isso, porque quando eu fui pesquisar quais eram, pra colocar na fic mesmo, eram ~exatamente~ as que eu imaginei que fossem! Se der curiosidade, aqui estão os links: Spring é de Vivaldi (http://www.youtube.com/watch?v=-4kTei0XrCs) e Danúbio Azul é de Strauss (http://www.youtube.com/watch?v=foQpms3L9gU). São duas músicas muito bonitas (é, eu curto música clássica u-u).
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Curi #03: Como eu não presto pra inventar nomes pra locais, coloquei no hotel um nome que eu sabia. O Ibis é uma rede mundial de hotéis, tem vários em São Paulo; mas eu não tenho absoluta certeza de que tem um na Alemanha, especificamente em Berlin. #failme
.
Curi #04: Lembram no capítulo passado, que eu mandei vocês assistirem "A Origem"? Essa parte em que a Maria conta sobre os sonhos sussessivos com o Bill pode ser bem melhor compreendida depois de ver o filme. Descer vários níveis de sonho ou algo do gênero, aconselho ver mais de uma vez (eu só pude ver uma, mas depois de fritar um pouquinho os miolos, consegui fazer meus esquemas de entendimento pessoal) (e ôh filme booooooooooom!).