Help Insane escrita por Wanko Hasegawa


Capítulo 5
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Por que eu estou aqui arrancando urtigas mesmo? Ah sim, minha mãe. Aquela desgraçada podia ao menos ter me dado um par de luvas, sacolas plásticas não são lá muito confortáveis.

– Até que enfim, acabei.

– Acabou o quê?

– Meu senhor Santo Cristo que estais no céu e que vos guarda minha vida!

– Você anda meio religioso ultimamente...

– É. Eu já percebi isso. Sabia que você pode me matar por enfarte qualquer dia desses?

– Você é muito novo pra morrer de enfarte.

– O que você tá fazendo aqui? Não ia limpar o sótão?

– Já limpei, sou uma mãe muito eficiente. – é, não é toda mãe que sabe juntar duas fatias de pão e dizer que é um alimento nutritivo. – Então resolvi ver se precisava de ajuda. – que sorriso macabro é esse? Espera, ajuda? Ela tá me oferecendo ajuda?!

– Fala logo o que você quer. – outro sorriso macabro. Semicerrei os olhos.

– Hehehe... – puta que pariu. Por que ela tá rindo desse jeito? – Então, estava eu indo limpar o porão quando vi algo desagradável. Por isso eu preciso que meu filho querido, o mais gentil, educado, lindo e forte desse mundo... – lá vem. – Tire o rato morto de lá.

– O quê?

– O quê?

– Desde quando você tem medo de ratos? Quero dizer, às vezes eu chego a duvidar se você é homem ou mulher.

– Não tenho medo de ratos, só dos ratos mortos. E como assim duvida se sou mulher?! Por acaso existe alguém mais bonita e feminina do que eu nesse mundo?

– ...

– Ora, vamos lá, não precisa se segurar, é natural garotos na sua idade fantasiarem com suas próprias mães.

– Desde quando isso é natural?! Você é retardada por acaso?! Pelos céus!


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Isso não é um rato, não tem como ser um rato. Deve ser algum tipo de gambá com problemas genéticos em decomposição. Com certeza, só pode ser isso.

– Então, pegou ele?

– Puta que pariu! Para de aparecer atrás de mim desse jeito!

– Então, pegou?

– Tá dentro da sacola.

– Eca! Você viu o jeito que ele tava? Parece que foi comido. E aquelas tripas pra fora? Que nojo!

– Sim, tirando o cheiro insuportável, foi uma das coisas mais legais que já presenciei. – mentira, tem o Ghost também, mas ele não é real, então não conta.

– Enterra ele lá fora.

– Enterrar?! Quer que eu faça uma lápide pra ele também? Podemos escrever assim “aqui jaz fofucho, o rato gambá”, que tal?

– Enterra ele lá fora.

– Eu já entendi essa parte. E enterrar aqui dentro seria meio complicado não acha?

– Vai logo menino!

– To indo!

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– Um minuto de silêncio!

– Mas o quê? – Essa mulher precisa mesmo parar de aparecer assim.

–Fofucho era um bom rato, devemos honrar a curta vida dele com um minuto de silêncio, pobrezinho, teve uma morte tão trágica.

– Você não deveria brincar com essas coisas, os espíritos podem ficar zangados.

– Ora vamos lá, deixe de ser chato. – por que ela me deu um tapa na cabeça? – Como será que ele morreu?

– Canibais!

– Quê?

– Ele veio de uma longa tribo de ratos canibais! Então ele se apaixonou por um gato negro da tribo dos catcat, é claro que era um amor proibido! Mas então os seus irmãos descobriram sobre sua paixão e bolaram um plano maquiavélico para ele. Escreveram uma carta dizendo para ele encontrar o amado no reino subterrâneo, mas era uma armadilha! Quando o rei camundongo descobriu sobre isso, não teve escolha a não ser matar o próprio filho por traição! Black, o gato negro, ao descobrir o acontecido, jurou morte a toda a tribo dos mousemouse.

– Você tem noção de quantos contras existem nessa história? Aliás, você acabou de criar um casal gay.

– É claro que existem contras, é um amor amaldiçoado pelos deuses.

– Não, a questão não é essa... Filho, eu acho que essa é uma boa hora para lhe contar a verdade. Você bebeu água do parto.

– Miau! – um gato negro surgiu por de trás das árvores.

– Santo Cristo, Black! Ele veio em busca de vingança! Salve-se quem puder!

– Oh, que graçinha. Vem cá gatinho, vem. – o gato começou a se esfregar nas pernas de minha mãe. – Já que você surgiu da história do Eric, vamos chamá-lo de Black.

– Mas o quê?! Não, não, sem chance. Nada de gatos!

– Deixe de ser chato! Né bebê? Ele é um chato né? – oh céus, me ajudem. – Pense pelo lado bom querido, agora Black pode voltar a casa e concluir sua vingança! Hahahaha! – que risada diabólica é essa? – De qualquer modo, deve ter sigo essa gracinha aqui que acabou com esse rato, melhor que um exterminador. – rá, eu sabia, aí está a verdadeira intenção dela.


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Por um milagre divino, minha mãe resolveu fazer panquecas paras o jantar, deve ser para comemorar a chegada do novo membro da família, aquele maldito felino. Ela sempre gostou de coisas fofas, mas isso não faz sentido, gatos não são fofos. Quero dizer, eles são coisas diabólicas, possuem garras, dentes afiados e são ágeis, sem contar a personalidade egoísta. São demônios disfarçados tentando conquistar o mundo, e estão progredindo. Vejo pessoas que tratam seus animais como se eles é que fossem os donos.

– Mas então querido, Black vai dormir no seu quarto. – me engasguei com a comida.

– Mas o quê?

– Não podemos deixá-lo sozinho pela casa a noite, ele pode estragar alguma coisa.

– Então o coloque dormir com você!

– Tenho medo de que ele me degole. – ah, mas se eu for não importa né? – Olhe pelo lado positivo, você tem um amiguinho agora. – ela tá brincando comigo? – De qualquer forma, espero que vocês se deem bem, serão companheiros a partir de hoje.

– Claro, claro. Vou dar o meu melhor. – pra não matá-lo.


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Larguei o maldito gato num canto do quarto, em cima de um pufe negro. Coloquei uma vasilha com água pra ele e me deitei. Cinco minutos depois senti um peso na cama. Eu não mereço isso, não mereço mesmo.

– Qual é a tua? – encarei o gato de olhos negros, ele miou em resposta a mim. O atirei de volta ao pufe. – Você dorme no chão! Entendeu? Chão!

Dez minutos depois, ele pulou em cima da cama de novo. O ronronar se aproximando de mim. Até que senti os pelos dele em cima do meu rosto e o rabo balançando em meu nariz.

– ...Chão! Meu Deus! Você fica no chão! – o larguei de volta ao piso e me virei pra dormir.

Vinte minutos. As cobertas se mexem, algo começa a subir pelo edredom. Virei-me, preparado para soca-lo até a morte, mas não se pode matar o que não existe.

– Ghost.

Fechei os olhos com força. Ele não podia tocar em mim, nunca tocava, nem falava. O máximo que conseguia era me fazer sentir sua respiração. Coloquei o travesseiro por sobre minha cabeça.

“Tudo bem, tá tudo bem. Já estou me acostumando a ele, não me assusta mais tanto quanto antes. Talvez... Talvez, se eu conseguir encará-lo, isso me ajude a superá-lo. No que diabos eu estou pensando? Mas... Não quero ser um verme medroso pelo resto da vida.”

Retirei o travesseiro, abri os olhos para encarar meu outro eu. Ele estava por cima de mim, literalmente. O rosto a centímetros do meu, os fios brancos se misturando com os meus castanhos, a respiração se confundindo com a minha.

“Não vou fechar os olhos, não vou.”

Não sei quanto tempo fiquei fitando o rosto dele, mas já estava me acostumando, não era tão assustador quanto eu julgava. Na verdade, pode-se dizer que era até normal. Exceto pelos olhos negros que pareciam me hipnotizar. Foi olhando para aquelas íris que adormeci.



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