Garasu No Namida escrita por MayonakaTV


Capítulo 4
III- He was like frozen sky in october night...


Notas iniciais do capítulo

Mais um trecho de October&April (The Rasmus ft. DesafinadAnette Olzon) dando nome ao capítulo.
Participação mínima da Kanon-san aqui e. qq



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– Eu ainda não consigo acreditar! – Hizaki andava de um lado para o outro no pouco espaço ainda visível do piso do quarto. As mãos agarrando os cabelos tingidos como se quisesse arrancá-los e uma visível indignação estampada em seu rosto oriental. – Onde está o papel com a música? Quero arrancar um pedaço dele pra ver se me dá um pouco dessa sorte!


– Deixe de ser besta, Hizaki! – Ralhou um Kaya entre risos que o amigo lhe causara com aquela reação exagerada ao saber do ocorrido entre Mana e ele, desviando-lhe o foco da montanha de aparelhos de som que tentava desconectar do computador. – Foi só uma coincidência. Não o vi mais depois disso.


– Achei que não acreditasse nessa coisa de coincidência!


– Pare de usar minhas próprias palavras contra mim! – O mais novo se levantou, atravessando o emaranhado de cabos soltos no chão trazendo consigo a mídia recém-ejetada do gabinete, balançando-a frente ao rosto do loiro. – A última gravação está pronta.


– Oh, ótimo, mas depois a gente vê isso... – Empolgado, Hizaki puxou o amigo para a cama, obrigando-o a sentar-se na beira do colchão e ficou a encará-lo de forma inquisidora, tendo nos lábios finos um sorriso adolescente. – Me conta, como ele era?


Kaya desandou a rir.


– Já lhe contei isso três vezes!


– Conte tudo de novo, conte!


– Certo... Bem, eu estava tentando escrever algo na praça quando o vento levou minha folha... – Começou o moreno a quarta narração daquela manhã, tentando esconder as bochechas avermelhadas do olhar atento do amigo.





O escritório dava a impressão de ser um local afastado do resto do mundo. Mana não sabia se era pelo isolamento acústico das salas nos andares de baixo que fazia com que o prédio em si parecesse mais silencioso do que realmente era, mas tinha certeza de que acabaria enlouquecendo se tivesse que passar mais um dia sozinho naquela sala vazia. Devido ao trabalho acumulado com a carreira em ascensão da jovem Kanon Wakeshima, a quem produzia no momento, via-se perdido entre as várias composições que havia feito especialmente para ela e as datas de shows ainda não confirmados. O rosto cansado fora erguido em direção ao relógio de parede, o olhar vítreo fuzilando a posição dos ponteiros que pareciam mal ter se movido.


– O tempo não passa... – Murmurou, batendo a ponta da caneta na mesa. Já tinha perdido a conta de quantas vezes havia repetido aquela frase.


Contava-se uma semana desde que Mana havia salvado o rascunho do rapaz dos olhos de sol nascente. Não que houvesse esquecido seu nome, mas só de lembrar daquele olhar brilhante e do sorriso reluzente, decidiu que fazia mais sentido continuar se referindo a ele daquela forma. Queria saber por que sentia-se mudado desde aquele encontro. Não era possível que estivesse com saudades de alguém que mal conhecia e que não teria chance alguma de encontrar novamente. Poderia ter sido menos apressado e deixado no mínimo o número de telefone.


Talvez Kaya fosse uma grande aquisição para o mundo da música. Se tinha tanto talento para escrever, poderia ter igual talento para interpretar suas composições.


Sim, era apenas isso. Interesse no carisma de um possível grande músico.


Voltou a si com o irritante alerta do celular avisando de seu compromisso das onze. De acordo com a secretária, alguém viria lhe entregar uma gravação. Levantando-se, deu um suspiro desanimado e saiu da sala caminhando de encontro à recepção. Odiava ter que deixar as coisas ao cargo de sua desorganizada assistente, uma vez que ela e nada davam praticamente no mesmo.





– Hizaki, estou com medo – Resmungava Kaya, trêmulo e agarrado ao braço do amigo como se fosse o último bote salva-vidas em uma inundação. A visão do assustador prédio da gravadora Midi:Nette o deixava mais nervoso, perguntava-se de onde Hizaki tirava aqueles lugares tenebrosos. Se algo o deixava feliz era o fato de, depois de passar a manhã toda entregando CDs em gravadoras, ser aquela a última da lista.


– Medo de quê?


– De ser rejeitado.


– Mas é assim que a gente aprende. E se você não passar aqui, talvez seja porque tem algo bem melhor te esperando. E também porque o produtor é burro, rejeitar sua voz é um crime!


Contagiado pelo entusiasmo do outro, o moreno riu com gosto permitindo que uma parte daquela pressão desaparecesse. Tinha de confiar um pouco mais em si mesmo. Tudo o que tinha a fazer era entregar o CD à secretária e torcer para que o produtor do lugar gostasse pelo menos um pouco de seu trabalho.


– Com licença – Disse Hizaki polidamente à moça na recepção. – Marquei um horário para entregar uma gravação ao produtor.


– Só um minuto, ele já deve estar descendo!


– Obrigado!


Kaya, ainda grudado ao braço do mais alto (concedendo a este um peso extra), não sabia onde se esconder de tanto nervosismo. Esperava que o homem apenas pegasse seu CD e fosse embora, entretanto, ao reconhecer Mana descendo a escadaria, sentiu o rosto empalidecer e pensou em se esconder no vaso de plantas mais próximo.


– Hiza... – Cutucou o ombro do loiro, aproximando os lábios e seu ouvido. – É ele... O cara da praça...


– Como assim o cara da praça? – A exclamação empolgada de Hizaki atraiu imediatamente o olhar de Mana que, como de costume, não reagiu com afobação. Apenas arqueou uma das sobrancelhas - como já lhe era habitual - ao ver Kaya estapear o ombro do outro e se aproximou de ambos tendo a mão direita estendida.


– Manabu Satou, prazer. Sou o produtor musical. Foi você que marcou horário, senhor...


– Kawamura Masaya, mas pode me chamar de Hizaki – Respondeu o loiro com um profissionalismo invejável, apertando a mão do homem à frente. – Viemos apresentar o trabalho do meu amigo aqui.


Dito isto, puxou o mais novo "para a luz". Kaya quase teve um colapso nervoso, estendendo a mão com tanta timidez que sua tremedeira não passou despercebia aos olhos e muito menos ao toque de Mana, que apertou a mão do rapaz como se cumprimentasse a um manequim de loja, morrendo de medo de quebrar o braço da peça.


– Eu geralmente fico de ligar para informar o resultado de minha avaliação, mas uma vez que já tive acesso a uma parte do trabalho do rapaz, sinto que gostarei de conferir isso logo. Por favor, queiram me acompanhar.


Apertando a mídia junto ao peito com um sorriso triunfante, Hizaki se apressou a seguir o mais velho até notar que Kaya ainda estava parado junto ao balcão da recepção.


– Kaya-chan...?


– A sala dele... Fica lá em cima? – Apontou aflito para o fim da escadaria, sentindo o salão rodar só de se imaginar subindo aquilo tudo.





– Sua voz é maravilhosa, Kaya-san – Elogiou o produtor, sentado na ponta da mesa. Apertava os headphones nos ouvidos como se não quisesse deixar uma única vírgula daquela composição escapar, e realmente não queria. A sonoridade da música de Kaya, apesar da gravação simplista feita em casa, era simplesmente perfeita para sua linha de trabalho. – E não só a voz! A letra da música, a sonoridade... Não posso acreditar que fez tudo isso em casa. Claro que ainda precisa de ajustes próprios de uma gravação feita em estúdio, mas quanto ao restante... Totalmente desnecessário que procure outras gravadoras. Se os representantes ligarem, digam e eu oferecerei um contrato maior.


– Isso quer dizer que...?


– Exatamente. Podem passar aqui amanhã para acertarmos os papéis do Kaya-san.


Kaya não pôde conter as lágrimas ao ser abraçado pelo amigo que, por não estar incomodado com a presença de Mana, parecia ter no mínimo o dobro de empolgação que ele. Sentindo que o moreno poderia desmaiar de emoção a qualquer segundo, Hizaki pediu licença para que fosse buscar um copo d'água para o mesmo, deixando o mais jovem desnorteado em uma cadeira avulsa que ali havia. Afastando-se aos poucos da mesa Mana foi se aproximando do mais novo tal qual um animal esperando para atacar.


– Kaya-san...


O pescoço tenso se moveu vagarosamente, fazendo com que um arrepio lhe subisse pela espinha ao encontrar as penetrantes lentes azuis presas a seu rosto como no dia em que aquelas mesmas lentes liam o rascunho da música.


– Sim...?


As mãos se apoiaram nos braços da cadeira e o tronco foi levado à frente, aproximando os rostos de ambos. Os olhos de Kaya ficaram ainda maiores que o normal. Engoliu em seco, afundando as costas na cadeira e retraindo os ombros, visivelmente assustado.


– Podia ter cantado pra mim naquela noite... – Sussurrou Mana.


A porta foi aberta de súbito. O produtor, já acostumado a situações do gênero, prontamente afastou-se do rapaz grudado à cadeira como se nada tivesse acontecido, adiantando-se a guardar a gravação junto de alguns outros materiais.


– Kaya-chan, sua água – Sorriu Hizaki, estendendo-lhe o copinho descartável.


O moreno nem ouviu. Sua atenção pertencia unica e exclusivamente ao homem na outra extremidade da sala.



[ Kaya's POV ]


Curioso. Não acho adjetivo melhor para o Mana que vi naquela sala.



A rapidez com a qual se afastou de mim foi como em uma cena de filme. Surreal demais para que eu acreditasse, e envolvente o suficiente para que eu quisesse uma repetição. Ora, ele ia apenas me ajudar com o que eu ainda não podia chamar de trabalho, então por que eu sentia um misto de atração e repulsa por aquele homem?


Ele havia praticamente fugido de mim na outra noite, e poucos segundos atrás tinha se jogado em cima de mim como se eu fosse um... Não sei, não sei mesmo!


Do canto da sala, ele me encarava. Suas mãos mexiam nas coisas sobre a mesa sem ao menos ver o que eram, pois seu olhar gélido estava fixo em mim... E mais uma vez eu me perdi naquele azul oceano. Seria aquilo que chamavam de olhos de ressaca? Não importava... Eu estava pronto para adentrar aquele mar e ser tragado por ele.


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Notas finais do capítulo

N.T. (Notas de Tobi): Todo mundo sabe que Mana-Sama foi produtor e compositor principal da Kanon-san, então eu me aproveitei do fato pra tornar o trabalho dele mais realista. 8D
E esse Mana super entediado foi inspirado no meu pai Cazuza aos contrários que fica encarando o relógio e dizendo "o tempo não passa..." Obrigada, pai. É sério. HDUASIODUAOSIUD



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